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Ademir Figueiredo

Ademir Figueiredoademir_figueiredo



Formação Acadêmica B

História temática 

 

Identificação

 

 

 

Meu nome é Ademir Figueiredo, nasci em Bom Jesus do Norte, uma cidade no Espírito Santo, próxima à divisa com o Rio de Janeiro e fui registrado em Bom Jesus de Tabapuã. Sou capixaba de coração e fluminense de registro, no dia 23 de novembro de 1948.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Fiz graduação em Economia e o curso de mestrado em Antropologia Social.A escolha da área de Economia foi a possibilidade de ser uma alternativa à formação tradicional no Brasil. Na minha geração, as pessoas ou iam ser advogados, ou iam ser médicos ou engenheiros. E como eu vinha de uma participação no movimento estudantil secundarista, quando chegou na época de fazer a escolha, vi que a Economia tinha muito a ver com as questões que me angustiavam. Fiz Economia na Universidade Federal Fluminense, em 1970, e durante um tempo eu trabalhei na área quantitativa da economia, projeção de mercado, na época, numa empresa estatal, Companhia Telefônica Brasileira [CTB]. Fiquei três anos mexendo com tantos números e com tanta técnica que eu vi que eu estava me afastando daquilo que era mais social. Naquele momento, conhecia alguns economistas, professores. José Sergio Leite Lopes, um amigo, o Luis Antonio Machado da Silva, que é um grande sociólogo e fez o mestrado de Economia também, enfim, a partir de algumas relações pessoais, eu vi que a discussão da antropologia econômica me ajudaria a pensar melhor sobre a economia brasileira e fui fazer o mestrado em Antropologia.

 

 

Trajetória profissional

 

 

Fui ser professor, nos anos 80. Tinha passado por alguns outros trabalhos. Eu tinha feito o mestrado, trabalhei num projeto da Prefeitura Municipal de Niterói, onde eu morava nessa época. Estudei na Fluminense, que era em Niterói e acabei indo dar aula na Universidade de Maringá, no Paraná. Quando estava nesta universidade, comecei a fazer parte da Associação dos Docentes, havia aquela política das escalas salariais que pegavam os salários médios e jogavam para baixo. Nós [da Associação dos Docentes] entramos numa movimentação e fiquei encarregado de fazer os estudos da parte salarial dos professores e dos funcionários da universidade. Vim de Maringá para o DIEESE em São Paulo, para pegar a base técnica, instrumentos para fazer esse cálculo. Eu já conhecia os trabalhos do DIEESE. Conhecia aquele estudo “Dez anos de política salarial”. Fiquei três anos no Paraná por questões familiares e depois resolvi voltar para Niterói. Comecei a dar aula no Instituto Metodista Bennett, no Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo fiz algumas assessorias para a Fase, que é a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional. Cheguei até a começar a trabalhar no corpo de técnicos da Fase quando surgiu uma vaga no DIEESE.

 

Trajetória no Dieese
 

Um colega que era da minha época da faculdade lá de Niterói me ligou dizendo: “Olha, tem um lugar que eu sei que que você vai gostar de trabalhar que é o DIEESE.” Eu falei: “Eu conheço o DIEESE.” E ele: “Eu tenho uma vaga aqui no Rio, você não quer fazer uma prova?” Fui aprovado e, até me lembro da entrevista com o [Walter] Barelli, então diretor Técnico. Eu fui selecionado e optei por ficar no DIEESE. Acho que escolhi certo, porque estou há quase 20 anos e não tenho vontade de sair. Depois, eu fui ser técnico do escritório do Rio de Janeiro. A diferença do técnico do escritório é que ele atende a um conjunto de categorias associadas ao DIEESE. Fui para o escritório, atender o conjunto do movimento sindical filiado ao DIEESE no Rio de Janeiro. Trabalhei em muitas campanhas: da Petrobras, Vale do Rio Doce, campanhas de grandes categorias, que tinham como sede o Rio de Janeiro, sobretudo, as empresas estatais. Também o setor têxtil, que nessa época ainda tinha um peso relativo na economia do Rio, pois juntava Paracambi, Petrópolis, Teresópolis, Vassouras. Eu atendia o conjunto de sócios do DIEESE, fazia os estudos setoriais e representava o DIEESE em debates, palestras. Participava dessas atividades em nome do escritório no Rio de Janeiro. Acho que por volta de 96 para 97, até 2003, fiquei na supervisão do escritório do Rio. Em 2003, quando o Clemente [Ganz Lúcio] assume a direção técnica do DIEESE, me convida para fazer parte dessa nova direção e eu estou em São Paulo desde então.

 

 

Assessoria

 

 

Eu entrei no DIEESE em 1987, para uma vaga específica. Era para assessorar os Sindicatos dos Aeroviários, no Brasil, através da Federação Nacional dos Trabalhadores de Transporte Aéreo, no Rio de Janeiro. Eu cuidava dos estudos da aviação no que dizia respeito ao pessoal de terra, porque tinha o Sindicato dos Aeronautas, onde também tínhamos uma subseção, que cuidava da parte do pessoal do ar, dos comissários, pilotos. Trabalhávamos [as duas subseções] em conjunto. Entrei no DIEESE pós-Plano Cruzado e na seqüência de vários planos que tomavam como ponto de partida para o combate à inflação e estabilização da economia um vetor salarial. Como se a culpa das questões fosse exclusivamente do salário. Foi um período de muita discussão. Nós tínhamos, no nosso trabalho, o que chamávamos de um seminário de planejamento das campanhas salariais. A data-base da aviação era dezembro, mas a gente já fazia isso em julho, e fazia toda uma programação de negociação, de mobilização da categoria, planejava a campanha e com vistas à recuperação das perdas provocadas pelo plano econômico. Isso acabou resultando, no fim do ano, na maior greve da aviação no Brasil, até então, porque me lembro que 96% dos pilotos pararam por convencimento frente aquela situação. Foi uma campanha muito forte, que durou uns oito, nove meses. Foi um momento [de edição dos planos econômicos] de muita ação para o DIEESE, em que havia uma discussão, tanto da categoria, como em nível nacional. Dávamos suporte tanto para aquelas categoria que a gente trabalhava especificamente, quanto para um conjunto de categorias. Eu acho que o DIEESE tem um trabalho que é quase que subterrâneo, que não aparece muito, que é o trabalho do cotidiano. O trabalho da assessoria sindical. São os estudos que o DIEESE faz, as campanhas, a participação do DIEESE nas mesas de negociação pelo Brasil afora. Isso é um trabalho rotineiro que quase não aparece. O DIEESE está sempre presente nas mesas de negociação pelo Brasil afora, tanto do setor privado como do setor público. Isso é uma marca do DIEESE, uma marca permanente do trabalho do DIEESE.

 

 

Assessoria /Negociação/RAN

 

 

No decorrer nos anos 90, tivemos a experiência de constituir um banco de acordos que consolidou as informações sobre as negociações no Brasil. Nesse momento, criamos um instrumento interno que chamávamos de Pregão das Negociações. O que era esse Pregão das Negociações? Em vez de eu ligar para todos os técnicos do DIEESE, para saber como estavam as negociações, abrimos um espaço, informávamos por meio eletrônico o que ocorria e as tendências de cada negociação no Brasil. Dada a dimensão continental do país, e dado também que todos os sindicatos se informatizaram, vimos que era uma boa oportunidade de criar um instrumento de apoio à negociação, uma rede de apoio ao negociador ou à negociação, onde através de um meio eletrônico, você cria possibilidades. Tem lá uma base de dados para negociação, um sistema de cálculo que o dirigente pode fazer e também uma troca de informações entre os dirigentes sindicais do Brasil. É um grande banco de dados de apoio à negociação, mas, sobretudo, de apoio aos sindicatos filiados do DIEESE. Eles têm uma senha que possibilita o acesso a uma série de informações e onde podem registrar suas negociações. É um instrumento que esperamos que, cada vez mais, o movimento sindical venha a usar.

 

Assessoria/Reforma Sindical
 

Havia, em algumas centrais, uma visão da necessidade de se discutir uma reforma e essa era uma plataforma do governo anterior. Essas centrais foram chamadas pelo governo para fazer essa discussão e nos convocaram, enquanto órgão do movimento sindical, para ajudar na organização desse debate. O DIEESE não só assessorou as centrais dentro do próprio fórum, como nas comissões e no pleno. Eu, por exemplo, participei da comissão de organização sindical, e de negociação; um outro participou da solução de conflito, enfim,eles também nos atribuíram um papel de secretaria geral das centrais. Éramos nós que organizávamos previamente os debates nas centrais em cima da pauta que seria discutida no fórum. Eles chegavam aqui, nós convocávamos e secretariávamos a reunião, fazíamos os boletins. Demos uma estrutura para eles, além de dar uma assessoria durante um ano e pouco que foi o debate da reforma sindical.

 

 

Pesquisa

 

 

À Assessoria, o DIEESE sempre associou uma face mais pública, que é a do embate com a macro-economia, do embate mais social de temas que atravessam a sociedade. Então tem algumas pesquisas do DIEESE que são marcantes, por exemplo, o Índice do Custo de Vida, a Cesta Básica, que davam todo um suporte à discussão da estabilização, da perda salarial decorrente do processo inflacionário que vivemos durante muito tempo. Isso predomina nos anos 60, anos 70. No início dos anos 80, com a criação de uma Pesquisa do Emprego e Desemprego [PED], o DIEESE passa a ter uma outra face pública. É uma pesquisa que vai gradativamente sendo instalada em outros Estados. Hoje existe em seis regiões metropolitanas e teve um papel fundamental na sociedade por sua inovação metodológica. Até então, as pesquisas existentes no Brasil só tratavam do tema do desemprego aberto que é uma metodologia quase que transposta dos países centrais. E aí, o DIEESE cria essa metodologia que, além de medir o desemprego aberto, passa a medir também o desemprego disfarçado pelo trabalho precário e uma outra avaliação de desemprego que é o desemprego pelo desalento. É um desemprego que está lá, sobretudo, na população de menor escolaridade, que desanima em relação ao mercado de trabalho. Desanima, se desalenta, porque ele procura e passa a não ter nem recursos para procurar mais. O DIEESE nos anos 80, anos 90, tem esse forte papel de discutir o desemprego. Com as mudanças ocorridas - desestruturação do mercado de trabalho, queda do emprego - além da luta pelo emprego, achamos que nessa década precisávamos debater a questão da concentração de renda. Só para se ter idéia, o que os economistas chamam de distribuição funcional da renda (que é quanto vai para o Trabalho, quanto vai para o Capital, de tudo o que foi criado) entre 1994 e 2003, houve uma mudança na estrutura. Com essa mudança o Trabalho perdeu 13 pontos na sua participação e o Capital ganhou 14. Estamos falando que 13 pontos do PIB brasileiro deixaram de ir para a mão do Trabalho e foram para a mão do Capital. Na verdade, é um processo de exclusão, porque o que é criado é apropriado cada vez mais por uma minoria. Ele amplia a exclusão. Ao mesmo tempo, no Brasil, se você olhar pelo lado da distribuição pessoal da renda - e aí não tem a ver com o Trabalho, o Capital, o Governo, mas com quanto cada um ganha - aí o Brasil também tem uma alta concentração de renda. Tanto que os 10% do limite, o último decil da distribuição de renda no Brasil, ganha o equivalente ao que 50% [os de menor poder aquisitivo] ganham. O Brasil tem um índice de Gini [medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, em 1912. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda, mas pode ser usada para qualquer distribuição] dos mais altos do mundo, só perdendo para alguns países africanos. Então, colocamos como um elemento fundamental para o DIEESE, nessa nova conjuntura, tentar um debate mais organizado com o movimento sindical e com a sociedade sobre o tema da distribuição de renda.

 

 

Pesquisa/Observatório do Trabalho

 

 

O Observatório do Trabalho é um outro instrumento que está na pauta do DIEESE e tem várias demandas. É uma experiência que começa aqui em São Paulo, no Governo Estadual de São Paulo, quando o Walter Barelli foi Secretário do Trabalho. A idéia do Observatório era produzir instrumentos técnicos para uma política pública no debate da questão do emprego e da renda. A partir dos anos 90, com a desestruturação do mercado de trabalho, cada vez mais cresceu o papel do Estado na política pública relacionada ao mercado de trabalho, tanto na questão da intermediação da mão-de-obra através do SINE [Sistema Nacional de Empregos], quanto numa perspectiva de qualificação e numa perspectiva também do seguro desemprego. O desemprego é cada vez mais duradouro. Você leva mais tempo para arranjar emprego, você tem que ter políticas de compensação para a população que está perdendo emprego, como o seguro desemprego e, ao mesmo tempo, qualificação. Nessa época, estudos foram desenvolvidos sobretudo pensando em novas ocupações que poderiam surgir em função da reestruturação produtiva. Só para exemplificar, quando você começa a mudar o padrão telefônico, você requer uma série de outras qualificações que a tecnologia anterior não estava requerendo. A idéia do Observatório era fazer estudos prospectivos para as políticas públicas desse ponto de vista, de para onde vai a necessidade de qualificação, onde tem vaga sendo criada e de mencionar qual é efetivamente o problema do mercado de trabalho, às vezes, mais locais. E a idéia do Observatório tem se expandido. No caso da experiência do DIEESE, tivemos essa iniciada em São Paulo, depois teve no Rio Grande do Sul uma primeira experiência com a Prefeitura de Porto Alegre. No início dos anos 90, tivemos uma experiência na cidade do Recife, uma experiência particular de um observatório. Eles estavam discutindo o orçamento participativo e precisavam ter uma idéia clara para onde direcionar os recursos da prefeitura. Esse observatório mapeou a cidade de Recife por área, por rua e, a partir dos dados censitários estruturados, levantou o que cada região tinha de equipamento urbano. Esse tipo de estudo permite achar bolsões de pobreza dentro de uma área que era considerada rica, dentro da Boa Viagem, por exemplo. Esse é um exemplo de outro tipo de coisa que o observatório permite. Nesse momento, há várias discussões com prefeituras. Vou para Vitória, discutir um observatório da Grande Vitória. Estamos discutindo com Osasco, com Diadema, com Santo André e estamos retomando um observatório na cidade de São Paulo. Nesse momento, também estamos discutindo em João Pessoa, em Natal, enfim, tem uma dinâmica que tende a se expandir e, aí, o DIEESE tem uma metodologia desenvolvida, uma experiência acumulada e tem a sua história que o dá credibilidade pra isso.

 

Pesquisa/Salário Mínimo
 

O DIEESE é uma instituição que tem o salário mínimo também como uma questão permanente no seu temário, na sua ação. Tradicionalmente, mesmo quando esqueceram do salário mínimo, o DIEESE, todo ano, antes do Primeiro de Maio, participou de várias iniciativas que debateram a recuperação do salário mínimo. Agora, nesse momento, ainda no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho, conversamos com as centrais sindicais mostrando que era importante terem uma ação conjunta. A partir disso, já nos solicitaram estudos e começamos uma campanha. Embora, a questão do salário mínimo como prioridade estivesse na pauta do atual governo, víamos que a coisa do ajuste fiscal estava predominando na ordem macro-econômica. Era necessário que houvesse uma movimentação forte, que fizesse com que o próprio presidente da República se sensibilizasse. Caso contrário, chegariam a ele apenas os empecilhos a uma política de salário mínimo. E, as centrais se juntaram para a campanha. Uma outra questão é que o debate acerca do salário mínimo vinha, há muitos anos, ligado ao ajuste fiscal, então ele ficou como sendo um debate do orçamento público. Vimos que teríamos que antecipar a campanha do salário mínimo, pois o salário mínimo do ano que vem está sendo discutido no Congresso Nacional e até dezembro [de 2006] eles têm que aprovar uma proposta. Já fizemos duas grandes campanhas nesses dois últimos anos, em que o salário mínimo passou de 260 para 300 e de 300 para 350. Consideramos que o salário mínimo ainda é muito baixo no Brasil. Essa campanha deve continuar e o papel do DIEESE foi e será de fornecer os estudos para as centrais. Assessorar na negociação com o governo, fazer as reuniões de debate, um pouco daquele papel de secretaria, no sentido de ajudar a organizar, executar e registrar as reuniões.

 

 

Pesquisa/Distribuição de Renda

 

 

Uma perversidade vem se aprofundando nos últimos anos, do ponto de vista da distribuição funcional. O índice Gini, embora tenha melhorado um pouquinho, ainda indica uma profunda desigualdade. Sem falar que não há estatística do que é patrimônio no Brasil; a única coisa que sabemos, por exemplo, é na concentração da terra. Se aplicarmos o índice Gini na terra, ele é 0,82. O máximo de concentração é 1. O que indica uma profunda concentração da terra. Mas sabemos que há uma profunda concentração da riqueza na mão de uma minoria, então, é uma sociedade profundamente desigual. No ano passado [2005], contamos com um apoio da Fundação Ford, financiando um projeto para estudar essa questão. E, para os 50 anos do DIEESE, preparamos como tema central de atividades, Desenvolvimento com Distribuição de Renda. No ano passado, fizemos, em todos os escritórios regionais e também no Amazonas, um debate com um movimento sindical local sobre esse tema [Distribuição de Renda], e finalizamos a programação com um seminário internacional também sobre esse tema. Na continuidade, nosso diretor técnico [Clemente Ganz Lúcio] que também é membro efetivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico Social e eu, seu suplente, colocamos na pauta deste Conselho a questão do debate da desigualdade. O Conselho acaba de criar um observatório da eqüidade social no Brasil, onde vai se aprofundar o debate sobre a questão de quais são os elementos que provocam essa desigualdade social no Brasil. Acho que o importante desse foco é que se tornou um tema das centrais sindicais. Em geral, um sindicato cuida de discutir a distribuição de renda, mas daquela parcela imediata da sua categoria. E as centrais têm que ter um papel de organização coletiva desse debate e da discussão de uma forma mais ampla. Nesse sentido, elas colocaram isso na sua pauta também, tanto é que o debate acerca da política do salário mínimo vem nesse sentido. O salário mínimo é um instrumento potente para a distribuição de renda, afinal são mais de 40 milhões de pessoas no mercado de trabalho do Brasil que estão referenciadas a um salário mínimo. Só de aposentados são 18 milhões referenciados a um salário mínimo. Há uma comissão que foi criada no âmbito da política do salário mínimo que visa debater o planejamento de uma recuperação de médio e longo prazo. Além dessa questão, é necessário, por exemplo, priorizar investimentos que combatam a desigualdade. No Brasil, os recursos públicos sempre foram muito apropriados para o interesse privado, no sentido de resultados que interessam a meia dúzia. Precisamos de projetos que tenham compromissos mais amplos e distribuição de renda, nesse caso, do ponto de vista de política pública não quer dizer só ter mais salário. Quando se faz um belo programa habitacional popular é uma forma de distribuição de renda. Quando se investe em infra-estrutura nas áreas dos pobres, onde se cria esgoto, saneamento, você está fazendo distribuição de renda. Então, seremos porta-voz de um processo contra a desigualdade, acho que é o objeto desse tema de desenvolvimento com distribuição de renda.

 

 

Educação/Formação Sindical

 

 

O DIEESE teve vários momentos ligados à formação. Acho que o primeiro grande tema da experiência de formação do DIEESE era o dos chamados Seminários de Negociação, seminário de planejamento de campanha. Nos anos 70, anos 80, começamos a desenvolver técnicas de treinamento dos negociadores do movimento sindical, técnica de treinamento que passava por fundamentação, cálculo, argumentação, debate de conjuntura, postura em mesa. Um dirigente que sai de um chão de fábrica precisa ser treinado para essa dinâmica específica que é a negociação. Precisa conhecer os argumentos, precisa conhecer a pauta. Nós montávamos seminários que duravam, mais ou menos, uns três dias, onde uma categoria que ia entrar em negociação se organizava com essa atividade. E mais do que negociação propriamente, montamos, por exemplo, um seminário de planejamento de campanha. Por entendermos que a negociação é um momento privilegiado da ação sindical, passamos a desenvolver seminários com o dirigente sindical de como planejar a ação sindical durante um ano e dentro disso, como planejar a campanha. Aí, dentro do planejamento da campanha, tem o seminário da negociação, enfim, várias coisas foram desenvolvidas inicialmente a partir de negociação. Nos anos 90, o DIEESE teve outra experiência de formação extremamente importante, o PCDA, Programa de Capacitação de Dirigentes e Assessores. O PCDA era um curso de 360 horas com nível quase de um lato sensu. Esse programa discutia, sobretudo, as mudanças do mundo do trabalho, na virada dos anos 90: a reestruturação produtiva, tudo o que ocorria na nova ordem econômica neoliberal mundial e também as conseqüências disso no Brasil. No final dos anos 90, vimos que havia uma grande oportunidade de sistematizar essas experiências desenvolvidas pelo DIEESE, no que a gente chama de um kit. Trata-se de um instrumento para um seminário de formação, tem todo um conjunto de procedimentos experimentados para orientar o formador que é responsável por aquela atividade e tem todo um conteúdo que é o caderno do participante, do formando. Temos 18 kits de diferentes temas, como por exemplo, participação dos lucros e resultados [PLR]; negociação no setor público, negociação em geral, que são muito usados pelos os sindicatos.

 

Avaliação/Dieese
 

Ao longo da história do DIEESE, as direções e o corpo técnico tiveram uma preocupação em não confundir o papel de formulador técnico com o papel do dirigente sindical político. Isso é uma exigência que fazemos do técnico. Não quer dizer que um técnico é despolitizado na sua observação, na sua análise, não quer dizer nada disso. O que quer dizer é que a ação sindical é feita pelos dirigentes sindicais. Como a política sindical muitas vezes tem a ver com a política em geral, isso também não significa que o técnico do ponto de vista da política geral não tenha sua posição. Ele tem que ter, enquanto cidadão. O que nós evitamos é ter uma ação político-partidária. Nós temos as nossas opções individuais, temos as nossas opiniões, votamos em quem achamos que é melhor, mas não trazemos esse debate para dentro do movimento sindical. Eu costumo dizer que há diferentes visões entre os dirigentes sindicais de como fazer a política, mas há um saber que é dos trabalhadores e para os trabalhadores. O que temos como compromisso é tentar chegar nesse saber de uma forma comprometida, mais precisa.

 

 

Futuro do Dieese

 

 

Estamos nesse momento fazendo o nosso planejamento para os próximos três anos. Nós saímos, nesse momento, de uma crise em que tivemos uma dificuldade muito grande, sobretudo, nos anos 90, com a crise sindical. A base de financiamento do DIEESE era uma base estritamente sindical e ela se reduziu. Nós passamos a depender de projetos e nesse momento estamos com a situação relativamente equilibrada, mas fazendo um esforço muito grande naquilo que nós chamamos de uma política de relacionamento com movimento sindical, ou seja, de voltarmos a ampliar a nossa base de financiamento sindical. Isso é fundamental para o DIEESE e o crescimento nesses três últimos anos, ainda que não seja o crescimento desejado para a economia brasileira, já permitiu, por exemplo, uma recuperação no quadro de sócios. Se a gente continuar, a simples ativação do mercado de trabalho já dinamiza o movimento sindical. Eu vejo o DIEESE como uma instituição permanente da sociedade brasileira. Dificilmente ele não estará no horizonte dos próximos 50 anos. E dado o papel não só com o movimento sindical, mas o papel público que o DIEESE assumiu na sociedade brasileira, eu acho que com crise ou sem crise, nós vamos superar e ele ainda vai continuar existindo por muitos anos.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Esse projeto para uma instituição que tem o papel e a história que teve, é fundamental. Pois os registros não estão de forma muito sistematizada. E ainda temos muitos dirigentes, alguns já morreram, mas, enfim, temos ainda uma boa parte ainda da nossa história viva. Quando procuramos a Petrobras, sabíamos que ela tinha uma linha de financiamento para esse tipo de coisa. Procuramos através do movimento sindical, o que possibilitou o projeto. Para a gente, foi um momento de euforia. Até acho que é um papel estratégico para o movimento sindical se reconhecer numa instituição que ele criou. Enfim, no Brasil se perde, muito, as memórias. O que acabamos tendo são memórias das coisas ruins, as memórias das coisas boas acabam se perdendo. Para a instituição, queremos com esse projeto ajudar na política de relacionamento com o movimento sindical. Pretendemos que ele vire uma exposição, que esteja presente em todos os sindicatos do Brasil sempre que possível em várias regiões. Estamos muito envolvidos com esse projeto.

 

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