Ferramentas Pessoais
Seções

Ir para o conteúdo. | Ir para a navegação





Página Inicial Navegação Nossas Histórias Rosana de Freitas

Rosana de Freitas

rosana_de_freitasHistória temática

Identificação
 

Meu nome é Rosana de Freitas. Nasci em Santo André, São Paulo, dia 13 de Junho de 1965.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Sou bibliotecária e fiz uma especialização em Ciência da Informação. Fiz tabmém uma especialização na área de emprego e relações de trabalho, na PUC [Pontífice Universidade Católica], mas não cheguei a terminar o curso.

Formei-me em 85. A primeira especialização fiz em 90, 91 e a segunda em 2000, 2001. Eu nasci em Santo André, fiz a faculdade lá também, na FATEA. Eu não tive a participação política que muitas pessoas tiveram nesse período. Eu era nova, tinha 17 anos quando eu entrei na faculdade. O curso tinha duração de três anos. Quando eu entrei, foi o último ano que ainda existia nível universitário com três anos; depois passou para quatro anos. Com 19 anos, eu estava formada. Eu tinha pouca experiência, pouco envolvimento político, morava com meus pais, em Santo André e não tenho grandes lembranças dessa época.

Minha opção pelo curso se deu por influência da namorada do meu irmão mais velho que cursava Biblioteconomia. Ela é apaixonada pela área e acabei me interessando. Mas estava bem indecisa naquela época. Prestei vestibular para Fonoaudiologia numa faculdade; na outra, Comércio Exterior; na outra, Biblioteconomia. Acabei escolhendo Biblioteconomia. Não me arrependo da escolha, é uma coisa que eu gosto de fazer. Não me refiro à parte técnica, mas à parte de pesquisa, de atendimento, de consultas, de busca por informações.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

Eu fiz estágio numa biblioteca escolar perto da minha casa. Foi logo que eu entrei na faculdade, precisava de grana e fui fazer estágio nessa biblioteca. Uma escola pública, estadual, que como quase todas têm uma biblioteca e não tem bibliotecária. Fui fazer o estágio, mas não tinha ninguém para supervisionar. Foi um estágio meio curto. Eu fiquei três meses e saí. Depois fui procurar outros estágios. Fui ao CIEE [Centro de Integração Empresa Escola], em São Paulo, e à Fundap [Fundação do Desenvolvimento Administrativo]. Comecei a fazer estágio em duas bibliotecas, em São Paulo: na Biblioteca Municipal Monteiro Lobato e numa Biblioteca Jurídica de uma Secretaria do Governo do Estado de São Paulo. Pela manhã, eu estava num lugar; à tarde, em outro e voltava para a Santo André à noite, para a faculdade. Era uma vida totalmente corrida. Fiquei um ano, mais ou menos, nesses dois estágios.

 

Trajetória no Dieese
 

Uma professora da faculdade me falou que estavam precisando de um estagiário no DIEESE. Ela era amiga de uma pessoa no DIEESE. Eu nunca tinha ouvido falar e nem sabia o que era DIEESE, mas resolvi olhar porque o estágio era de oito horas. Eu teria a possibilidade de ficar em um só lugar e eles ofereciam uma bolsa maior do do que as que eu ganhava nos dois estágios. Eu ganhava um salário mínimo em cada um; fui para o DIEESE, para ganhar três salários mínimos. Era muito melhor.

Tem uma história engraçada. Eu cheguei ao DIEESE, que ficava na Rua das Carmelitas, no centro de São Paulo. Ficava no terceiro andar do prédio do Sindicato dos Marceneiros. Não tinha elevador. Subi, achando aquele lugar horrível. Quem me entrevistou foi o César Concone. Entrei e no caminho havia várias caixas, jornais, uma bagunça, o lugar era feio e desorganizado. Enquanto conversávamos, o César saiu da sala umas 6 vezes - era algum dia em que o DIEESE estava divulgando alguma pesquisa; havia várias televisões, jornais, ligando para o DIEESE e era o César que dava as entrevistas – e ele parava o tempo todo para atender alguém: “Ah, Rede Globo quer falar com você” “A rádio eldorado quer falar com você.” E assim foi nossa conversa. Eu fiquei encantada. Pensei: “Não é possível que num lugar desses tenha um monte de televisão ligando.” Veja só, quanto desconhecimento não! Foi super engraçado.

Acho que fiquei umas três horas lá para ele me atender - entre ir e voltar, ir e voltar – e havia a questão do salário, que pesava. Eu saí de lá e fui procurar saber o que era DIEESE, tentar ver se era uma instituição séria. Conversei com a minha professora. Ela falou: “É um instituto assim, que faz pesquisa, existe a muitos anos.” Pedi demissão dos outros empregos e fui para o DIEESE. Em uma semana, estava trabalhando lá.

Também não tinha bibliotecário no DIEESE, tinha uma pessoa que trabalhava lá, que era o Helinho. Mas nessa época eu já estava no segundo ano, tinha noção do que fazer. Fiquei dois anos como estagiária. Me formei e aí fui construindo toda uma história.

O Helinho, era uma figura. Ele estava a bastante tempo no DIEESE e tinha fama de ser uma pessoa que não gostava muito de trabalhar; ficou meio encostado. Tipo, “já que você não faz nada mesmo, fica na biblioteca”. Isso é um problema de biblioteca até hoje. Escolas, principalmente: professora se aposenta, tá estressada, não tem o que fazer, manda para a biblioteca.

O DIEESE sempre foi um lugar muito gostoso de trabalhar. O Helinho brincava muito comigo, não deixava ninguém entrar na biblioteca: “O que vocês querem?” “Quero falar com a Rosana.” “Não, não. Eu atendo, a Rosana não vai atender ninguém.” Ficava tomando conta de mim. Ninguém podia pedir nada prá mim, só com ele. Era muito engraçado.

Fiquei dois anos como estagiária – mesmo depois de formada – até o DIEESE me contratar como auxiliar de biblioteca. Fiquei dois anos como auxiliar e aí então me tornei bibliotecária (na carteira). Não existia essa função no DIEESE. Eu fui registrada como Técnico Júnior. Fiquei na biblioteca de 84 até 95, 96, uns 12 anos. Nesse período, conseguimos através de um projeto com financiamento da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos], um grande avanço de informatização da biblioteca, de organização. Contratamos uma grande equipe de restauradores de documentos, profissionais para fazer toda a classificação, processamento técnico e informatização do acervo. Foi um período, se não me engano foi 89 ou 90, em que a biblioteca teve um avanço muito grande. Deixou de ser um depósito de livros para virar, realmente, um centro de pesquisa em negociação, salário, educação etc. O projeto acabou, mas conseguimos manter parte da equipe. Eu comecei a fazer outras coisas no DIEESE porque ficaram duas bibliotecárias e um auxiliar.

Quando eu entrei, a biblioteca quase não era usada. Era um depósito de livros. Até porque ninguém sabia o que tinha lá, ou quando sabia não conseguia recuperar. O que você recuperava era pela memória do Helinho. Ele sabia muita coisa de cabeça: “Está em tal prateleira.” As pessoas contavam, cada uma, com seus arquivos pessoais, particulares, reproduzindo o que tinha na biblioteca. Quando a pessoa precisava de alguma coisa, sabia achava em seu arquivo, porque se fosse à biblioteca, dificilmente encontraria. Esse processo de convencer as pessoas de que eles poderiam abrir mão de seus arquivos pessoais, que quando eles precisassem de alguma coisa, o material estaria disponível, foi longo. Acho que até hoje tem pessoas no DIEESE que continuam mantendo arquivos paralelos porque acham que se mandar para a biblioteca vai sumir. São poucas pessoas que pensam assim, a maioria passou a confiar na biblioteca.

A biblioteca fazia muito atendimento para estudantes, principalmente universitários, pesquisadores de outros países. Hoje, o atendimento é mais restrito, mas, naquela época, atendíamos muito ao público externo. Naquele período, muitas faculdades e universidades não contavam com biblioteca e isso mudou. O MEC [Ministério da Educação] passou a exigir que toda faculdade possua biblioteca para a abertura de novos cursos. Há 10, 15 anos atrás, isso não era uma realidade. Mesmo os estudantes da PUC, da USP [Universidade de São Paulo], procuravam a nossa biblioteca para fazer pesquisas sobre movimento sindical. Era o DIEESE que tinha todos os documentos sobre isso. Nós tínhamos um grande arquivo de jornais sindicais, que acabou sendo doado para o Arquivo do Edgar Leuenroth, na UNICAMP [Universidade de Campinas].

Quando saí da bibliotoca, antes de ir para a Secretaria de Projetos, eu passei um ano, mais ou menos, tentando estruturar a Secretaria Geral do DIEESE. O que era a Secretaria Geral? Era o apoio à direção técnica. Toda a parte de correspondência geral do DIEESE ficava sob os cuidados das secretárias da direção técnica. Tanto a documentação como o funcionamento do setor não era muito organização, então fui tentar organizar esta área.

Foi uma demanda da Direção Técnica e a idéia era de organizar o fluxo de documentos e treinar as secretárias para melhorar o atendimento. Reestruturei o setor e me tornei meio assessora da direção, uam espécie de chefe de gabinete do diretor técnico, que na época era o Serginho [Sérgio Eduardo Arbulu Mendonça]. Não deu muito certo porque, nesta época, eu era casada com ele. Cheguei a exercer essa função de assessoria durante uns quatro, cinco anos, mas avaliamos que o trabalho não estava sendo bom para nenhum de nós dois. Após esse período, fui para a Secretaria de Projetos.

 

Secretaria de Projetos
 

Foi uma época em que a receita sindical do DIEESE havia diminuído muito e começamos a buscar recursos fora do movimento sindical. Resolveram estruturar uma Secretaria de Projetos, que era formada por mim e pela Solange Sanches. Nosso trabalho era de buscar projetos que pudessem financiar atividades do DIEESE gerando produtos que fossem de interesse do movimento sindical. Alguns projetos, além da sua elaboração, acabávamos executando e prestação de contas. Fazíamos de tudo.

Creio que a Secretaria de Projetos foi montada em 1996. Um dos primeiros projetos aprovados foi o do Fundo de Equidade de Gênero. Tivemos três ou quatro projetos com esse financiador. Foi um sucesso. A partir destes projetos foi produzida uma publicação que foi traduzida em três línguas: português, inglês e espanhol. Foi um dos primeiros produtos que a gente fez com base no nosso Banco de Acordos e Negociações Coletivas. Resumidamente, a pesquisa levantou nos acordos que estavam na base de dados do Banco de Acordos do DIEESE, as cláusulas que tratavam das questões de gênero. Nessa época, a questão de gênero e raça, começou a entrar na pauta das negociações coletivas. Foi um grande sucesso.

Eu e a Solange não tínhamos muita experiência na elaboração de projetos. Aprendemos fazendo, foi uma construção. Nós desenvolvemos um manual de como elaborar projetos para toda a equipe. Dávamos cursos de elaboração de projetos. Eu cheguei até a dar uma aula na PUC num curso, sobre isso. Foi um grande aprendizado.

Foi a época em que se criou o FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador]. Vários sindicatos começaram a apresentar projetos para obter recursos do FAT, para os cursos de qualificação profissional. Havia uma grande procura. Inclusive eles procuravam o DIEESE para nós elaborarmos este tipo de projetos. Mas isso foi uma coisa que o DIEESE nunca fez. Nós dissemos: “Podemos avaliar, dizer se está bom ou não está, onde melhorar, mas o DIEESE não faz este tipo de trabalho.” Até porque é complicado. Você faz para um sindicato e não faz para outro? Poderia haver idéia de favorecimento. Essas coisas sempre foram complicadas no DIEESE.

Eu e a Solange tínhamos uma boa sintonia. Eu tinha uma característica mais de organização, a parte de fazer orçamento, administração, prestação de contas. Isso é uma coisa que eu sempre gostei de fazer. E a Solange, ficava com a parte técnica de elabor as justificativas, marco teórico, objetivos; até porque a formação dela é em Sociologia e a minha - que apesar de eu ser bibliotecária - sempre gostei da gestão administrativa.

O DIEESE continuou seu trabalho de assessoria ao atendimento sindical, independente dos projetos. O que aconteceu naquela época foi uma redução do número de sócios do DIEESE. Foi um momento em que o movimento sindical entrou numa grande crise. Muitos sindicatos se desfiliaram do DIEESE.

Mesmo com uma grande quantidade de projetos em execução,nossa equipe técnica continuava a mesma. Tínhamos trabalho dobrado. Por outro lado, estes projetos proporcionaram uma grande qualificação dos nossos técnicos em assuntos importantes para nossa área de atuação.

No começo, nos extraviamos um pouco o foco dos nossos projetos, em razão da necessidade de buscar recursos; mas logo percebemos que isso não estava correto. Então, só fazemos projetos que tenham a ver com a atividade do DIEESE e que seja também de interesse do movimento sindical. Que o produto desse projeto possa, de alguma forma, contribuir para as atividades do movimento sindical. Muitas vezes, nem eles percebem. Porque a gente, de repente, produz estudos como esse trabalho dos Acordos que levam à questão de gênero, raça. Nem os próprios dirigentes sindicais, na época, se davam conta disso. Esse projeto, por exemplo, além do livro, proporcionou a promoção de vários seminários, principalmente com as lideranças de mulheres das centrais sindicais e dos sindicatos, para capacitá-las na negociação. Como, na negociação, são incluídas cláusulas que defendem o direito das mulheres e a questão de raça, nos acordos coletivos. São projetos que, de alguma forma, atendem, nem sempre, uma demanda. Ás vezes, o movimento sindical não percebe que é importante. O DIEESE acaba se colocando na frente de uma questão que vai ser importante para o sindicato.

 

Educação/PCDA
 

No primeiro PCDA, participei da organização, do apoio. Foi em 94, o primeiro curso. Até tem uma história engraçada. Esse primeiro curso foi feito num hotel em Atibaia. Vários depois continuaram sendo feitos lá. O primeiro, a gente não sabia direito. Eram cem dirigentes sindicais de vários lugares. Marcamos como ponto de encontro a Praça da República [centro de São Paulo], para eu chegar lá, com o ônibus e pegar as pessoas que chegassem de avião. Naquela época, a gente não tinha dinheiro para pegar táxi; eles iam pegar um ônibus do aeroporto até a República e eu ia pegá-los para ir até Atibaia. Lógico que atrasou, o ônibus ficou uma hora lá, parado, aí passou pelo aeroporto, mais duas horas no aeroporto para pegar pessoas que tinham se atrasado... Quando chegamos a Atibaia e abrimos o porta-malas, descobrimos que havíamos sido roubados; não tínhamos percebido isso. Alguém abriu o porta-malas na Praça da República e roubaram umas três caixas de material que iríamos distribuir no curso e uma mala, que era a minha, claro! A única mala roubada foi a minha. Eu fiquei lá uma semana sem mala, pedindo roupa emprestada para todo mundo. Eu fui a pessoa de toda organização, de infraestrutura, passagens aéreas, material. Eu com uma equipe, mas eu coordenava essa primeira turma que eram três: a amarela, a vermelha e a azul.

 

 

Educação/Formação Sindical

 

 

Deste curso, fizemos uma viagem internacional que foi, acho que, a única que também fazia parte do programa. As pessoas, durante os 45 dias conheciam tudo o que tinha com relação à questão da qualidade e produtividade e depois havia as viagens para conhecer como era o que eles tinham aprendido, em outros países. Foram quatro delegações: uma foi para os Estados Unidos, duas para a Europa, países diferentes, e uma para o Japão. Eu fui coordenando a delegação que foi para o Japão. Coordenando os trinta dirigentes sindicais. Grande experiência. Foi muito bom. Foram 15 dias de viagem, de visitas, num país totalmente diferente, com dirigentes sindicais que nunca tinham saído do Brasil, muitos deles. Ninguém falava inglês e descobrimos que isso não fazia a menor diferença porque ninguém fala em inglês no Japão. Só os grandes dirigentes de empresa, na universidade e nos hotéis quatro estrelas. No resto, ninguém fala inglês. As estações, tudo escrito em japonês. Era uma loucura. A sorte é que tinha um técnico do DIEESE, o Tadashi, da subseção do DIEESE, de São Bernardo do Campo, que é japonês. Ele fala alguma coisa e entende.

Antes de cada visita, eu, o Tadashi e o Prado – que também foi – saíamos para descobrir como se chegava ao lugar, porque tinha que ser tudo de trem, de ônibus, não tinha carro à disposição. No Japão, não tem endereço, não têm número; tem o nome da rua, mas não tem numeração. Era uma loucura. Na hora em que todos iam jantar, descansar, íamos pegar metrô, trem, para descobrir como se chegava ao lugar, no dia seguinte. Eram 30 dirigentes sindicais.

No primeiro dia em que fizemos isso, conseguimos achar e resolvemos comprar os bilhetes do trem: “Vamos comprar os bilhetes para não ter que ficar na fila amanhã de manhã.” Compramos os 30 bilhetes. Chegamos ao hotel, de manhã, distribuímos e fomos. Aí, passa o bilhete e apita. Nenhum passava (risos). Não acredito! Vou falar com um guarda, não consegui entender nada; nem o Tadashi entendia. Bom, conseguimos descobrir que os bilhetes só têm validade para o dia. Perdemos os 30 bilhetes e tivemos que ir para a fila comprar de novo. Mas deu tudo certo, não chegamos atrasados em nenhuma reunião, conseguimos levar todo mundo. Foi uma grande viagem.

Muitos não conseguiam comer com o ohashi, o palitinho. Não tem garfo: ou você come, ou você come. O Tadashi dava o treinamento, colocava o elastiquinho para ensinar a comer porque, como as visitas eram sempre muito corridas, acabávamos almoçando no próprio local, tipo um marmitex que eles traziam. Não havia opção; tinha que comer desse jeito e, no fim, comia. Á noite, a diária era muito pequena, não dava para fazer grandes coisas. Mas alguns dirigentes tinham dinheiro e iam a restaurantes brasileiros, uma churrascaria, que era caro, para o padrão da nossa diária. Mesmo sem falar inglês ou japonês, eles sabiam chegar ao restaurante, em outros lugares para se divertir muito bem.

Ficamos em Tóquio e fomos até Nagoya, onde visitamos a Toyota. Acho que foi a única fábrica que visitamos. As visitas eram nas centrais sindicais, institutos, universidades. Era o DIEESE que estava levando um grupo de dirigentes sindicais, com apoio do Governo brasileiro. Era um financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, para que eles conhecessem outras realidades. Aliás, foi um impacto muito grande porque o movimento sindical no Japão é uma coisa, enfim... Não existe movimento sindical. O movimento sindical está na própria estrutura da empresa. Os dirigentes sindicais são funcionários da empresa. Isso era uma coisa que eles questionavam muito, mas que é a realidade deles.

 

Educação/PCDA
 

No final de 2005, fizemos um novo seminário, o fechamento desse ciclo. Foram mais três dias, concluímos a troca de experiências e fechamos. A partir desse módulo do PCDA, fomos adaptando, estruturando e fizemos outros. Ao mesmo tempo em que eu dava apoio, eu também fazia os cursos. Tinha a turma em que eu era apoio e tinha a turma em que eu era aluna, participava. Eu ficava fazendo um pedaço em cada uma das turmas, mas eu acabei fazendo o PCDA.

Qualquer curso que você fique isolado no local e que você não tenha opção do que fazer durante uma semana, já é um absurdo. Imagine 15 dias?!. Tem uma brincadeira, que no primeiro dia, os caras falam: “Mas só tem mulher feia aqui”. No segundo dia, “Nossa, até que aquela é bonitinha”. No terceiro dia, todas são lindas, maravilhosas (risos).

No primeiro dia, a Força Sindical não quer nem ver a CUT: “Que absurdo, os caras não tem nada a ver”. No segundo dia, vão jogar uma bola, joga junto. No terceiro dia, estão tomando cerveja. No último dia, os caras estão chorando, se abraçando, porque você esquece a questão de trabalho, de ideologia, de tudo. Cria uma relação pessoal; é uma coisa muito impressionante. Foi uma coisa muito legal.

 

 

Grêmio Recreativo

 

 

Eu sempre fui esportista, até hoje eu jogo voleibol, sempre gostei. Havia muita gente jovem, no DIEESE; até hoje tem essa característica. Resolvemos organizar jogo de futebol, jogo de voleibol, participar de campeonato do SESC. A idéia do Grêmio foi de uma pessoa que trabalhou no DIEESE, que se chama Osvaldo, Osvaldão, que falou: “Ah, vamos montar um grêmio recreativo, organizar as festas, a gente arrecada recurso.” Acabamos formando esse grêmio, acho que em 86. Eu era presidente, mas a concepção de tudo foi do Osvaldo.

Participávamos dos campeonatos, organizávamos a Festa Junina, Festa de Fim de Ano, Olimpíadas, Gincanas, entre as pessoas do DIEESE, os funcionários. Não deu muito certo, as pessoas não se envolveram. Foi legal, mas não durou muito. Existem tentativas de montar time de futebol no DIEESE. Nunca dá certo. Eles têm até um time de basquete, que não é um time, são pessoas que jogam basquete, às quartas-feiras, no SESC.

Colocaram-me para correr 3 mil metros. Esse tanto! Quase morri! Foi muito engraçado porque, tinha acabado a corrida e eu continuava correndo, correndo, correndo (risos). Mas eu fui, terminei os 3 mil metros, em último lugar, mas corri. Ganhei medalha de tênis de mesa; nem me lembro mais porque entramos em várias categorias. Foi muito engraçado. Desde criança eu fiz esporte. Acho que é uma coisa importante na formação. Não a questão da competição em si, mas da responsabilidade, da atividade física que é uma coisa legal. Você acaba evitando outras coisas - álcool, fumo - numa época de adolescente, jovem. Realmente é uma coisa importante, que eu acho legal.

 

Trajetória Profissional
 

Em 2001, quando a Marta [Suplicy – do Partido dos Trabalhadores] ganhou a Prefeitura de São Paulo, o Márcio Pochmann - que é um professor da Unicamp, foi técnico do DIEESE, entrou junto comigo no DIEESE - foi convidado para ser Secretário do Trabalho. Ele foi procurar o Serginho porque estava montando uma equipe, pedir indicações, se ele tinha alguém do DIEESE, porque estava precisando de uma pessoa para ser o chefe de gabinete. O Serginho falou: “Ah, eu acho que a Rosana. A Rosana é boa nessas coisas de gestão.” E ele veio falar comigo, o que eu achava. Eu estava no DIEESE há muito tempo; havia essa questão de ser casada com o Serginho e trabalhar dentro da mesma instituição. Isso estava num ponto de me incomodar, porque as pessoas misturam um pouco; a sua competência fica abaixo da questão de você ser mulher do Diretor Técnico. Isso estava pegando e eu já estava um pouco cansada dessa história. E aí falei: “Ah, acho que é uma oportunidade para sair, para aprender novas coisas”. Foi uma surpresa. Acho que o Serginho me indicou, achando que eu não fosse topar. Fui. Pedi uma licença sem remuneração e foi uma grande experiência. Foi um trabalho super importante que fizemos na prefeitura. No DIEESE, você está meio protegido; é um órgão do movimento sindical. Quando você vai para o Poder Executivo, você está exposto. É uma outra realidade; foi uma experiência interessante.

Chefe de Gabinete faz tudo: toda parte de gestão de pessoal, parte administrativa, representação da Secretaria; um trabalho intenso. Foi um período que não foi legal para o meu filho, por exemplo, porque o trabalho demandava muito tempo. O DIEESE era mais tranqüilo, tinha uma jornada de seis horas, era perto de casa. Mas enfim, a gente se adapta.

 

 

Avaliação/Dieese

 

 

As pessoas sempre avaliaram bem o DIEESE, uma entidade respeitável, séria. Você dizer que você é do DIEESE é uma coisa que normalmente que pega bem. Todo mundo: “Ah, você é do DIEESE, legal”. As pessoas conhecem, enfim, credibilidade, a impressão que eu tenho, de fora, é essa.

 

 

Crises

 

 

Quando eu saí teve um outro fator. O DIEESE vinha de crises financeiras há muito tempo e, em 2001, passava por uma outra crise em que se discutia corte de funcionário. Foi uma outra coisa que pesou. Eu seria uma pessoa a menos na folha de pagamento. Eu pensei: “Já que vai ter que cortar funcionário...“ Isso também ajudou a decidir, porque era uma decisão difícil. Estava no DIEESE desde 84, fazia 17 anos.

Na época da crise, houve muitas discussões. Pensamos em formar uma cooperativa para reduzir o custo do DIEESE. Todas as alternativas, você acaba não podendo viabilizar judicialmente, juridicamente. Poderíamos reduzir salário, mas o sindicato não iria concordar; a cooperativa também era uma coisa que não dava para fazer. Sempre tentamos alternativas que evitassem corte de pessoal. Era uma coisa que ninguém queria que acontecesse, mas, infelizmente, não teve jeito. Teve corte.

 

Trajetória no Dieese
 

O governo da Marta acabou, no final de 2004, e eu ainda fiquei seis meses trabalhando com ela, num instituto que ela montou, de Políticas Públicas. Ela convidou algumas pessoas do governo para trabalhar e eu fiquei sete meses lá. O instituto acabou não conseguindo se segurar financeiramente e teve de desmontar essa equipe. Aí eu voltei, fui conversar com o Clemente [Ganz Lúcio]. O Clemente me chamou dizendo que o DIEESE ia fazer 50 anos e que estavam querendo contratar alguém para organizar, montar um projeto para conseguir recursos, tocar o projeto e organizar as atividades. Eu sempre organizei a parte festiva. O instituto já estava meio cambaleando e propus para o Clemente ficar meio período: “Eu fico meio período no DIEESE, meio período no instituto.” Ele topou. Mas depois de um mês, o instituto acabou fechando, voltei a falar com o Clemente e ele propôs que eu ficasse integralmente no DIEESE.

Eu fui muito bem recebida de volta no DIEESE. Acho que isso faz muito bem. Todo mundo fala: “Você fez falta, que bom que você está de volta.” As pessoas, acho, confiam um pouco nas coisas que eu faço. Foi muito legal, faz bem para a gente ouvir isso.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Fui ao Museu da Pessoa, uma das primeiras instituições que eu fui procurar, dizer o que estávamos querendo e foi a partir da proposta do Museu que me ajudou a montar o projeto para conseguir o financiamento na Petrobras.

Paralelamente ao Projeto de Memória, estávamos organizando vários seminários regionais sobre distribuição de renda; desenvolvimento com distribuição de renda. Foi antes disso, antes do projeto de memória, tínhamos feito esses projetos para conseguir financiamento para a realização dos seminários, para poder fazer a comemoração dos 50 anos em todos os 16 estados em que o DIEESE tem escritório regional. Eu fiz esses projetos, consegui os financiamentos, organizei todos os eventos que culminaram depois, agora em abril [de 2007], com o seminário internacional, a festa dos 50 anos, várias seções solenes em Câmaras Municipais, Assembléias Estaduais, Câmara Federal, Senado. Todas essas atividades dos 50 anos foram organizadas por mim. Acabaram as atividades e eu estou, nesse momento, com esse Projeto Memória e também fazendo outros.

Eu estou agora fechando um projeto para a biblioteca, de novo. Estou voltando para a biblioteca, tentando financiamento para a biblioteca.

 

Avaliação/Dieese
 

Ah, eu acho que o DIEESE é a minha vida. O DIEESE foi importante para minha formação, apesar de eu sempre dizer que o DIEESE é uma péssima formação para quem está aí começando a trabalhar com questões de regras, de rotinas. No DIEESE é tudo muito solto. A coisa da chefia, da cobrança. Se a pessoa não tem uma responsabilidade com o que faz é um prato cheio para desvirtuar e não dá certo. Por outro lado é muito bom você trabalhar numa instituição em que você não tem um horário rígido, que você tem suas responsabilidades, mas que você tem uma flexibilidade, que as pessoas te respeitam, um ambiente gostoso. É uma coisa muito boa trabalhar no DIEESE.

Eu tenho 22 anos no DIEESE, é metade da minha vida. Eu acho que uma grande parte da minha formação se deveu a ter estado no DIEESE desde jovem, muito jovem. Eu tenho grandes amigos no DIEESE. Tenho amigos fora também, mas eu acho que tenho importantes amigos dentro do DIEESE. Acho que a solidariedade é muito grande no DIEESE. Quando tem alguém precisando, você tem sempre um grupo de pessoas que se cotiza e ajuda, o tempo todo. E é uma coisa bem legal.

 

 

Futuro do Dieese

 

 

Eu não consigo ver um DIEESE diferente, apesar de achar que o DIEESE vai ter que mudar para poder continuar por mais tempo. Mas eu acho que a questão financeira do DIEESE é uma realidade que está imposta. O DIEESE custa muito caro e não consegue arrecadar a receita necessária para esse custo. Ele tem uma equipe muito grande, uma equipe muito antiga. Viver de projetos é uma coisa muito instável. Então, cinqüenta por cento da receita do DIEESE vem de projetos. Isso é uma coisa muito complicada porque projetos são finitos: acabou um projeto, até você conseguir ou substituir por outro, ou renovar aquele, você sempre tem um intervalo, que são os grandes momentos de crise do DIEESE. Eu acho que nós estamos passando por uma maré muito boa esse ano, com muitos convênios que a gente conseguiu firmar. Eu acho que o Governo Lula [Luis Inácio Lula da Silva] foi um fator positivo, quer dizer, o fato de provavelmente o Lula ser reeleito no segundo turno dá uma perspectiva boa para o DIEESE, para os próximos quatro anos. Acho que vamos ter que achar uma solução porque não dá para você manter essa estrutura que temos, de despesa, com a estrutura de receita. É algo que a gente está tentando mudar.

Dentro do Projeto Memória, inclusive, tem uma parte que não está com o Museu [da Pessoa], que é do DIEESE: criar um novo plano de relacionamento com os sócios. Porque temos que reverter essa estrutura de receita; temos que arrecadar mais recurso sindical do que recurso de projeto. E passa também aí a parte mais difícil, que é para uma reestruturação interna mesmo, de pessoal, de formas de contratação, de salários, são discussões que têm que ser feitas e que são difíceis de se fazer.

Então, pensar o DIEESE no futuro é pensar que a gente vai ter que mexer em coisas que são muito sólidas. Eu acho que vão ser coisas que vão se abalar aí na frente. E se tem alguém que pode fazer isso, eu acho que é o Clemente. O Serginho, provavelmente, não faria, tanto que não fez e saiu do DIEESE tendo consciência disso. Mas eu acho que o Clemente teria condição de fazer.

É a forma de gestão mesmo. O Clemente é um gerente. Por isso que eu me identifico um pouco com ele. O Serginho também é gerente, mas ele leva mais para o emocional, para o pessoal. A gente até brinca: o DIEESE não pode ser filantropia; tem coisas que a gente não consegue mexer; é muito difícil. Eu tenho consciência disso, parece crueldade, mas eu acho que, tem que ser mais pragmático.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Eu acho que a gente demorou a fazer isso. Tanto que uma grande parte da história, por mais competência que vocês tenham, e esforço que a gente esteja fazendo, a gente vai perder. Já perdeu. Não tem jeito. 50 anos. Pessoas que morreram, que você deixou de ter esse registro. Mesmo a parte documental, acho que tem muita coisa que se perdeu. E inclusive quando a gente pensa para frente - já fiz essa conversa com o Clemente – temos que, sei lá, a cada cinco anos, no máximo, parar e fazer um esforço de resgate. Primeiro que eu acho que daqui para frente você muda um pouco; as pessoas passam a se preocupar com a questão da memória. Eu acho que esse projeto é importante para isso. Coisas que não eram levadas como importantes para armazenamento, como forma de guardar. Acho que as pessoas começam a se preocupar com isso. Isso nunca aconteceu. Porque nunca ninguém parou para buscar: “Ah, vamos ver o que é importante, o que é importante registrar”. Então acho que sempre para frente você muda a postura. Mas de qualquer forma não dá para esperar mais 50 anos para fazer isso, de novo. Tem que ser uma coisa mais curta.

 

Avaliação/Dieese
 

Eu acho que a saída do Barelli [Walter Barelli], marcou, para mim. O Barelli saiu em 90. Em 89, nós fizemos um congresso dos trabalhadores do DIEESE. Foi um momento onde havia uma crise entre movimentos e dirigentes sindicais do DIEESE e a Direção Técnica, que era a crise do Barelli com a Direção Sindical. Todos sabiam que o Barelli ia sair. Nesse congresso havia uma insatisfação muito grande dos trabalhadores do DIEESE quanto à forma como o Barelli conduzia as relações internas de trabalho. Houve uma eleição, entre aspas, de possíveis candidatos à Direção Técnica. Havia pessoas que estavam querendo ocupar o lugar do Barelli. Eu acho que uns três nomes foram colocados ali. Isso não deu em nada. Foi importante a retirada de uma comissão que se chamava “Perestroika”, que teve uns encaminhamentos interessantes na forma de trabalho, coisas que eram importantes mudar e que foram mudadas.

A sucessão do Barelli não se deu a partir desse congresso. Foi um consenso. O nome do Serginho saiu de um acordo. Outro fato marcante foi em 93. Teve um grande seminário dos trabalhadores de PBPQ, que daí surgiu o PCDA. Acho que daí, para mim, no que eu trabalhei e foi importante. E depois a minha saída e a minha volta. É que no DIEESE as coisas duram muito, as pessoas são as mesmas, você não tem grandes mudanças. Eu voltei para o DIEESE como se eu não tivesse saído, é impressionante.

 

 

Avaliação/Trajetória de Vida

 

 

Trabalhar no DIEESE é uma coisa importante e legal porque você trabalha para os trabalhadores. A coisa de fazer bem é importante para mim. Saber que eu estou trabalhando para ajudar as pessoas. Os trabalhadores e as pessoas menos favorecidas, para que eles melhorem as condições de vida é uma coisa muito gratificante. A minha experiência quando eu saí do DIEESE foi no mesmo sentido. Eu trabalhei na Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade. Era ajudar aos pobres da cidade de São Paulo a sair da condição de pobreza. Na verdade, eu me aproximei mais ainda, porque não era nem mais classe trabalhadora, mas os desempregados e excluídos. Então, para mim essa coisa de ajudar a quem precisa, me faz bem. Faço isso com prazer. Trabalhar no DIEESE me dá prazer; trabalhar na Prefeitura me dava prazer. E acho que aqui aprendi esses grandes princípios da solidariedade. O DIEESE ensina isso muito bem. Também o princípio da responsabilidade; o DIEESE delega muitas coisas para as pessoas, independente da idade. Eles confiam nas pessoas, independente da idade, e acho que isso também é legal. Então te jogam uma responsabilidade e confiam que você vai dar conta daquilo. Acho que isso é importante para as pessoas crescerem dentro do DIEESE. Acredito que eu tenha crescido muito com isso.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Acho que a história do DIEESE é uma coisa muito importante para a vida de todos que estão envolvidos, para o movimento sindical. A gente sempre acha que não pode contribuir. Você não consegue perceber a sua história fazendo parte da história de uma instituição dessas. Mas acho que, na verdade, cada um tem um pedacinho dela. Foi bom contar, gostei.

Ações do documento