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Rubens Ramacciato

rubens_ramacciatoHistória temática

Identificação
 

Meu nome é Rubens Ramaciatto, nasci em 23 de junho de 1939, no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Eu só tenho o primário completo, porque meus pais tinham muitos filhos e não tivemos incentivos para estudar.

 

 

Trajetóira no Dieese

 

 

O primeiro trabalho foi no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos [DIEESE]. Antes eu cheguei a ajudar meu pai, mas não era fixo. Então comecei a trabalhar no DIEESE em 4 de janeiro de 1960. Eu tinha dois irmãos que trabalhavam de ourives em uma sala, próxima ao DIEESE que ficava no terceiro andar da Rua do Carmo, 171. O cômodo em que funcionava o DIEESE era cedido pelo Sindicato dos Metalúrgicos.

Meu irmão, que trabalhava ao lado, me apresentou ao senhor Albertino e à Lenina. Como eu era conhecido, eles me aceitaram. Um rapaz estava saindo e o senhor Albertino me deu a chance. Eu fiz um teste de datilografia, mas ele falou: “está muito fraco, mas, quem sabe?!”. Acho que ele simpatizou comigo.

 

Cotidiano de Trabalho
 

Eu comecei a trabalhar, fui melhorando um pouco na datilografia e fazia as cobranças. No princípio, o senhor Albertino telefonava para os sindicatos; depois eu passei a conhecer mais o serviço e eu que entrava em contato com os tesoureiros dos sindicatos, depois ia receber as mensalidades com um talão e fazia o recibo na hora.

Além das cobranças, eu também entregava trabalhos do DIEESE e todo mês, entregava os boletins do DIEESE. Era um serviço na rua, ficava pouco no escritório. Depois que eu fui melhorando um pouco na datilografia, cheguei, inclusiveCom o tempo comecei a datilografar também, o Boletim do DIEESE. O boletim era mensal e a gente rodava na Federação dos Metalúrgicos em uma máquina Multilet. A gente fazia o boletim num plastiplate que era um tipo de chapa, a gente datilografava numa fita especial para aquele material e quando errava tinha que passar um lápis também apropriado. Era um lápis que apagava a letra errada e rebatia de novo. Eu também datilografava o stencil e usava o mimeógrafo que era do Sindicato dos Metalúrgicos. Lembro que eu descia no primeiro andar e usava o mimeógrafo na secretaria.

Eu entrava às oito e saía ao meio-dia e depois entrava às duas e saía às seis, ou depois das seis horas, conforme o serviço. Eu ia almoçar em casa porque era perto, ia a pé. Ia da Rua do Carmo à minha casa que, na época, era na Mooca. Era mais fácil eu ir a pé do que pegar condução. Isso sem falar do eu andava para o DIEESE, eu fazia tudo a pé também. Ia pra casa e voltava do trabalho tudo a pé. Mesmo depois que mudamos lá pra Rua Maria Domitila, 254, também ia a pé porque era perto de casa.

Quase não usava condução para fazer as cobranças dos sindicatos. Tinha muitos sindicatos na Liberdade e aqui mesmo no centro, na Rua Conselheiro Furtado, tinha o Sindicato dos Calçados; já o Sindicato dos Alfaiates, lá perto da Avenida São João... Eram todos perto e eu andava bastante. Só quando, às vezes, eu ia a Osasco, no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, ou ia lá ao Sindicato de Carnes e Derivados na Lapa, perto da 12 de outubro, que eu pegava condução. Eu ia também ao ABC, no Sindicato dos Metalúrgicos, em Santo André, na Rua Dona Gertrudes de Lima; ia a São Caetano... Inclusive, fui uma vez em São Caetano para receber, se não me engano no dia 28 de julho e era feriado municipal. Puxa! Foi a única vez que eu falhei. Tinha também o Sindicato dos Têxteis, lá perto do Cine Piratininga, o Sindicato do Papel e Papelão, que era também na Rangel Pestana. Então, a maioria dos sindicatos que eu recebia era no centro, bem perto do DIEESE. Só aqueles que eram no ABC, Osasco e até teve uma vez que eu fui a Santos, aliás eu nunca tinha ido a Santos na minha vida... Fui receber lá num sindicato, o pagamento de uma publicação.

Para conseguir mais filiados, o senhor Albertino e a Lenina que entravam em contato com os sindicatos. Enquanto minha função era só fazer cobrança, entregar material, datilografar e mimeografar.

Quanto às cobranças, eu sempre fui bem atendido, graças a Deus. Sempre fui bem recebido em todos os sindicatos. Claro que, também sempre fui educado, embora tivesse pouco preparo. E eu ligava antes, não chegava de surpresa. A única falha foi aquela vez que fui, no feriado, ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano.

O ambiente de trabalho no DIEESE era bom. Tinham as pessoas que faziam a coleta de preços na feira. Eles ficavam menos tempo no escritório. Na parte da manhã, eles faziam a coleta e deixavam o material lá para um rapaz que depois fazia o cálculo do custo de vida. Esse rapaz que fazia os cálculos, tinha mais escola.

Quando a Lenina foi embora, nós contratamos um rapaz, que se não me engano era de Manaus e acho que o nome dele era Edílson. Ele passou a me ajudar nas cobranças. Uma ou outra vez eu saia, conforme a situação - se fosse uma coisa mais difícil, porque ele estava começando, era muito mocinho, mas muito correto. Ele me auxiliava nas cobranças e eu passei a ficar mais interno. Ficava mais no serviço de escritório, controlava as cobranças e fazia o pagamento dos funcionários. Para o pagamento dos funcionários, eu datilografava um comprovante e o funcionário assinava. Isso até acontecer aquele problema do fechamento em 1964.

 

Interrupção das Atividades/1964
 

Quando mudou o governo, passou para um governo militar, os sindicatos fecharam. Como a sede era no Sindicato dos Metalúrgicos, o DIEESE fechou também. Não tinha condições de entrar no prédio do sindicato, ninguém tinha acesso, nem os associados, nem os funcionários.

Com a intervenção do governo nos sindicatos, o DIEESE fechou também automaticamente e a gente ficou sem trabalhar. Eu ligava para um senhor, que foi presidente da Federação dos Metalúrgicos, Domingos Alvarez, e ele sempre dava uma notícia do DIEESE. Com esse fechamento, não houve nenhuma contribuição dos sindicatos. Só recomeçamos o contato com os sindicatos para que contribuíssem quando o DIEESE voltou a funcionar.

Era para ter começado a funcionar na Liberdade, um pouco depois que ele parou. Chegaram a arrumar uma sala grande, lá na Avenida da Liberdade, mas houve algum um atrito e nós só voltamos a funcionar em janeiro de 1965.

 

 

Retorno das Atividades/1965

 

 

O DIEESE retornou os trabalhos. O senhor Albertino, que era um idealista, gostava de ver o DIEESE funcionando. Ele e a Lenina, mas acho que ela já estava em outra atividade. O senhor Albertino esteve na minha casa e me informou que o DIEESE voltaria a funcionar. Ele conhecia toda a parte administrativa e técnica do DIEESE. Ele que deu um novo impulso para o DIEESE, colocou nos trilhos. Então, eu e o senhor Albertino voltamos com o DIEESE. Aí, foram realizadas, as novas eleições da diretoria, que é formada por dirigentes sindicais não remunerados. No meu tempo não eram remunerados, agora não sei. Os diretores de sindicatos eram eleitos: o presidente, o tesoureiro, etc. do DIEESE. Eles tinham essa função, tanto que é que o Joaquim dos Santos Andrade, que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, foi o presidente do DIEESE. O Leopoldo Brissac que era o presidente do Sindicato do Gás, também foi presidente diretor do DIEESE e foi ele que cedeu uma sala grande parao o DIEESE, em 1965. Saímos lá da Liberdade, com todo o material, e fomos lá para o Sindicato do Gás, na Rua Maria Domitila, 254. E lá eu fiquei até 30 de abril de 1967, está na minha carteira.

 

Dieese na Imprensa
 

O DIEESE é reconhecido como instrumento de utilidade pública. Então, sempre o DIEESE saia saía nos jornais, assim como também sai agora. Não sei se tem tanta divulgação agora como tinha antes. Acho que agora está tendo mais, porque aparece na televisão. Até no primeiro debate dos candidatos à presidência que eu assisti esses dias, o Joelmir Betting citou o DIEESE. Ele fez uma pergunta, não sei se foi pro Alckmin, ou para outro candidato, que ele fez se baseando em dados do DIEESE. Então, na minha época tinha divulgação, tinha a coluna do Itamaraty Feitosa Martins, que era do Jornal Última Hora. Ele fazia cobertura do DIEESE e dos sindicatos também numa coluna sindical. E, às vezes ia lá ao DIEESE, quando tinha alguma reunião, ou eleições, porque elas aconteciam de dois em dois anos.

 

 

Assessoria

 

 

Eu lembro que sempre iam funcionários de empresas lá no DIEESE obter informações. Eram da Ford ou de outras empresas. Até um conhecido meu foi lá uma vez. Ele era economista e trabalhava na Ford. Não que o DIEESE fornecesse informações para as empresas. Não! O DIEESE prestava informações apenas para o meio sindical, apenas para os sindicatos, mas o DIEESE fazia cálculo de salário médio e tinha algum cálculo através do Imposto Sindical. Lembro que para o cálculo do imposto sindical dos Metalúrgicos, eles forneciam as guias do imposto sindical de cada funcionário e nós tínhamos um funcionário que anotava todos os dados, e depois, se não me engano, parece que desse imposto sindical se obtinha o salário médio da categoria. Por que como vai saber o salário médio de uma categoria? Acho que era através do imposto sindical, que é um dia de trabalho. Lembro também de uma outra vez que, um colega advogado foi no DIEESE, lá no Sindicato do Gás, não sei que tipo de informações ele foi obter, sei que falou com senhor. Albertino. Então, eu imagino que o DIEESE é importante para a sociedade, porque o é o único órgão particular das entidades sindicais que faz o levantamento do custo de vida, porque os outros são do governo. Então, o que o DIEESE faz serve de parâmetro, serve para uma discussão, para uma orientação de uma negociação de uma categoria. E isso é muito importante.

 

 

Avaliação/Dieese

 

 

O DIEESE foi muito importante para minha vida, porque eu não conhecia São Paulo, embora tenha nascido aqui. Eu aprendi bastante coisa, melhorei meus conhecimentos através da leitura e do contato com pessoas como, por exemplo, o senhor Albertino. Ele escrevia e a gente tinha que ler, para datilografar. E tendo que ler vai adquirindo mais conhecimento.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Esse projeto é muito importante para a vida do DIEESE, porque quem sabe muito mais pessoas vão ter interesse de procurar o DIEESE, de conhecer o DIEESE. Não sei se aqui vem muita gente para pegar informações ou como é que vem, mas ele pode se tornar mais popular. Isso pode trazer mais divulgação para o DIEESE, porque sei que além do custo de vida ele tem outros trabalhos.

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