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Página Inicial Navegação Nossas Histórias Hugo Roberto Martinez Perez

Hugo Roberto Martinez Perez

hugo_roberto_martinez_perezHistória de Vida

Identificação
 

Chamo-me Hugo Roberto Martinez Perez. Ninguém me conhece por esse nome. É Hugo Perez. Eu nasci no dia 22 de fevereiro de 1941. Os documentos estão aí, 23 de fevereiro, mas o nascimento mesmo é 22. Eu nasci em Cambará. Uma cidade no norte do Paraná. E cheguei a São Paulo no dia primeiro de janeiro de 47. Desde então, eu moro em São Paulo. Portanto mais paulistano que muitos paulistas.

 

 

Família

 

 

Meu pai é Hugolino Perez Sobreira e minha mãe Iracema Martins Perez. Meu pai foi casado duas vezes. A primeira esposa faleceu, depois ele se casou com a sobrinha dela. Já criou uma coisa de irmão, primo ao mesmo tempo. No primeiro casamento, ele teve quatro filhos, três homens e uma mulher, dos quais dois estão vivos. Os dois últimos. A última é a mulher. Depois, no segundo casamento, nasci eu e uma irmã, que aos dois anos ficou doente, teve meningite tal. E ficou na cama até os 35 anos, quando ela morreu.

Eu me lembro de meus avós maternos. Aliás, da avó materna. Dos paternos não. Quando eu nasci, meu pai tinha 54 anos, mais ou menos. De modo que não cheguei a conhecer meus avós paternos. Eram espanhóis de nascimento. Meu pai também era espanhol de nascimento, da Galícia. Agora, por parte de mãe, eu conheci minha avó, convivi com ela até depois de casado, quando ela faleceu. Ela era viúva. Não conheci meu avô materno. Ela se casou pela segunda vez, com o Carlos Nogueira, que foi meu padrinho, mas que eu considero avô. Convivi muito com ele, pessoa espetacular. Aliás, tem um dado: ele foi motorista da Companhia Municipal de Transporte Coletivo [CMTC], antes de existir a CMTC. Ele foi dos primeiros motoristas dos ônibus elétricos da CMTC, fazia a linha da Aclimação. Praça João Mendes, Aclimação. E aposentou-se como tal, motorista da CMTC.

 

 

Infância

 

 

Minha família chegou, ali na Rua Perdões, na Aclimação. Você pega, sai da praça João Mendes, 1.450 metros é a Rua Conselheiro Furtado. Até hoje está lá, famosíssima. No fim dela, tem a Pires da Mota. Se você vira 20 metros para a esquerda e 5 metros para a direita, você entra na Rua Perdões, quer dizer, ela é quase em frente à Conselheiro Furtado. E ela era de terra ainda. Tudo aquilo era terra, dali para atrás, e não tinha iluminação elétrica. Então, quando eu cheguei ali, moleque, seis anos, ali embaixo, a ruazinha, é uma rua de 150, 170 metros só. E ali embaixo já tinha várzea de futebol, campo de futebol, aquela coisa toda. E isso, eu estou falando, a mil e 500 metros da Praça João Mendes.

Meu pai foi um homem muito rico. Ele foi dono de uma das maiores fazendas. Ele foi o maior plantador de café lá da zona de Ribeirão Preto. Getulista, recebeu (o que ele recebeu?) das mãos do Getúlio, como um dos maiores plantadores de café daquela região. Quando veio 29, o craque da bolsa de Nova Iorque, os cafeicultores brasileiros tocaram fogo nos cafezais e ele plantou cana; montou uma usina que fazia pinga e açúcar. Em 43, ele arrendou, nós saímos e fomos para Cambará, no Paraná. Eu já havia nascido, voltei para Cambará. Quando foi em 47, acabou o arrendamento, nós estávamos chegando a São Paulo, meu pai vendeu a fazenda. E por conta da doença da minha irmã, meu pai nunca foi de farra, de jogo, de nada, mas o dinheiro acabou. Acabou por conta de algumas coisas e da doença da minha irmã também. Não usufrui nada dessa época que meu pai tinha muito dinheiro. Quando viemos para São Paulo com minha avó, com minhas tias, com a minha mãe, na Rua Perdões, fomos para um sobrado de dois andares. Quer dizer, tinha o térreo, a garagem, tinha no meio, sala, cozinha, tal. E em cima eram os quartos. Tinha quarto de empregada, tinha quintal, muito bonita a casa. Mas, eles montaram uma pensão. Eles alugavam os quartos. Eu dormia na garagem junto com uma irmã de criação e minha prima. Com 15 anos fui dormir no quarto de empregada. Fiquei lá muito bem instalado, por sinal. Saí de lá para casar. Em que isso afetou minha vida? Infantil e jovem? Eu não tinha um lugar para levar meus amigos. Não tinha uma sala porque até a sala se transformou em quarto. Eu não tinha como levar amigos. Eu brincava na rua ou ia à casa dos outros. Não tinha como acolhê-los. Isso, claro, jovem, adolescente, dava sempre um probleminha. Essa foi a nossa vida. Dali a minha mãe montou outra pensão na Pires da Mota, outra na Conselheiro Furtado. Vende aquela, perde essa, volta para Rua Perdões e de lá eu saí casado.

 

Juventude
 

Neste primeiro momento, a vida era de relativa dificuldade. Eu percebia o esforço que a minha mãe fazia. Na verdade, a minha mãe usava uma expressão que era verídica: ela vendia feijão cozido. Tinha quarto de hóspedes e dava refeição lá. E foi com isso que ela conseguiu me ajudar, educar, tal, até quando eu entrei na escola técnica e dali eu comecei a trabalhar, passei a estudar à noite e me formei eletrotécnico. Uma coisa que me marcou muito, foi a diferença de idade muito grande entre meu pai e minha mãe. Meu pai já bem velhinho. Por outro lado, marcou também a amizade que fizemos. Tinha lá uns 15, 20 companheiros. Porque ali na Aclimação, você subindo um quarteirão dali, tinha um bar, o famoso bar Natal. Ali, a turma era muito grande, de rapazes. Mas, ali começou a primeira divisão natural que foi acontecendo. E não foi por classe social não. Porque na nossa turma tinham companheiros que tinham casa própria. E tinha amigos ali que tinham carro. Naquela época, que era dificílimo ter carro, ainda não existia nem Volkswagen. Todos os carros eram importados.. Jogávamos bola juntos. Ali nasceu a figura do playboy. Que era da turma do morro da Aclimação, que é gente de dinheiro, de posses, classe média alta. E eles desciam para o Bar Natal. Houve uma divisão da turma. De quem jogava bola e não se metia com drogas, etc. Continuamos amigos. Mas, você chegava lá, você via. Uma corriola encostada num muro aqui. E outra corriola encostada lá. Oba, oba, oba, mas aquilo não dava mais liga. Aquilo virou água e azeite.

Casei cedo, vinte quatro anos. Saí de lá para casar. Fui morar em São Caetano do Sul. Que era melhor porque eu já trabalhava na Light e ali é pertinho da Estação da Luz, na Rua Mauá. Até hoje está lá, é uma grande subestação. O melhor para mim era morar em São Caetano, perto da estação de trem. Eu peguei um apartamento novo, ótimo, porque ficava num local quase que exatamente entre onde passavam as linhas de ônibus que vinham para São Paulo, para o Parque Dom Pedro, que era o que precisava, e a estação de trem. Pegava o trem, descia na Estação da Luz, descia a Rua Mauá a pé.

 

 

Trajetória Acadêmica

 

 

Eu comecei estudando no colégio Anglo Latino, que era na Rua São Joaquim. Ali, eu aprendi a ler e a escrever. Do Anglo Latino, eu fui para o colégio Macedo Soares, ali na Loureiro da Cruz, ainda Aclimação, mas já mais próximo do Paraíso. De lá, fui para o Externato Irmã Catarina, na Rua Conselheiro Furtado, na Rua Pandiá Calógeras. E ali terminei o primário. Do primário, eu fui para o colégio Piratininga, que era na Avenida Angélica. Lá eu estudei até a segunda série e depois eu fui terminar meu curso no Colégio Santo Agostinho, que ficava na Rua Pires da Mota, lá em cima, no Paraíso. Tem a igreja Santo Agostinho e a escola que pode ser vista da hoje Rua Vergueiro. Naquele tempo, não tinha nada ali atrás. Mas, hoje tem a Avenida 23 de Maio. Ali, eu terminei o curso ginasial. Tem uma coisa que eu fui fazer, que muita gente não sabe: no ano de 58, eu fiz o curso para prestar vestibular para a Escola Preparatória de Cadetes. Eu queria ser da Aeronáutica. O meu sonho era pilotar avião. E estava preparado porque no vestibular da Aeronáutica só tinha, naquela época, português e matemática. No Exército tinha mais um monte de coisa. Quando foi na época de prestar o vestibular, a minha mãe me implorou para eu não cursar Aeronáutica. Ela não queria que eu fosse piloto de jeito nenhum. Eu fiz o vestibular. Foi na Escola Caetano de Campos, na Praça da República, que hoje é Secretaria da Educação, aquele prédio maravilhoso [no centro de São Paulo]. Já tinha perdido todo o interesse. Perdi tudo, nervoso. Eu me lembro que em uma prova, eu não sabia nem se eu sabia ou não sabia, peguei, entreguei e desisti dessa carreira. Dois anos depois, em 1960, dois companheiros daquela turma da Aclimação - eles estavam trabalhando e naquele momento eu estava sem emprego - disseram: "Vai procurar um curso técnico para a gente poder fazer." Naquela época, curso técnico conhecido mesmo, só existia um, Química Industrial. Volto à Rua Piratininga, onde tinha o curso mais famoso de Química Industrial. Quando eu vou lá, não tinha mais vaga, tinha encerrado as inscrições. Eles falaram: "Procura qualquer outro curso". Eu saí procurando e achei o curso de Eletrotécnica. Expliquei para eles que era na Escola Técnica Bandeirantes, o Colégio Bandeirantes, ali no Paraíso. Fiz a matrícula dos três. Estudamos juntos à noite, Eletrotécnica, entre 61 e 64.

Eu 72, comecei a fazer Direito. Eu mal ouvia falar de DIEESE, não sabia que tinha essa importância. O que eu ouvia falar muito era em direito dos trabalhadores; direito lesado, direito não sei o quê. Falei: "Ah, vou estudar Direito." Terminei o curso, em 76. Fui fazer estágio num grande escritório, muito respeitado aqui em São Paulo, de um advogado do meu sindicato: "Vai lá para o escritório." Fui estagiar com ele; cheguei a fazer audiências. Comecei a fazer audiências na Justiça do Trabalho. Foi quando a perseguição começou. Eu amarrei todos os livros e nunca mais abri um livro de Direito, a não ser a Consolidação das Leis do Trabalho, por obrigação. Por dever de ofício. Cheguei a advogar no comecinho, depois parei, não fiz mais nada.

 

Trajetória Profissional
 

O meu primeiro emprego foi numa indústria de borracha. Em seguida, eu fui trabalhar numa microempresa, num período em que houve uma febre; moda de saia de mulher plissada. O plissê era permanente. Plissê que não saía. Porque veio junto com o tergal, o rayon, aquelas coisas, e ficava um plissê permanente. Esse homem, o filho dele era da minha "tchurma" de garotos, estudei junto com ele no segundo, terceiro ano primário. No fundo da casa, o pai dele construiu essa microempresa, botou uma caldeira e um autoclave, que é como se fazia. Ele me chamou. Eu fui para lá. Eu riscava os desenhos na cartolina, vincava depois, dobrava tudo, que ali que você botava a saia no meio, e ela ficava entre duas cartolinas. Você enrolava num rolo de alumínio e punha na autoclave. Eu virei folguista de caldeira. O que eu ganhei lá, mesmo, foi minha primeira esposa. Casei com a filha do dono que era irmã do meu colega de bola.

Depois disso, fui direto para a Villares, na Elevadores Atlas. Tinha me formado no curso técnico. Lá, eu fazia ensaio elétrico de quadros. Porque o elevador é comandado lá em cima, se vocês vão em cima de qualquer prédio, tem aqueles armários de aço. Mas, eram todos aqueles relés. Centenas de relés e fazíamos um ensaio nisso. Aprovado. Você assinava, pendurava lá e ia para obra. Aí, já era uma outra turma a instalar os quadros e botar o elevador para funcionar. Eu fiz esses ensaios durante um tempo. Fui mandado embora, em 64. Entrei para a Vapsa. Na Vapsa, eu era encarregado da seção de relés, também. Foi sem querer. Lá fabricava dínamo, motor de arranque, regulador de voltagem. Quando eu estava lá, começaram os primeiros ensaios para fabricar os alternadores. Hoje, os carros não têm mais dínamos, é alternador. Os primeiros testes, eu participei junto, acompanhando a fabricação dos primeiros alternadores, época em que saí e fui para a Light. Um desses amigos que estudei junto disse: “Vai e presta lá um exame na Light”. Eu fui, 30 dias depois, fiz os testes e entrei. E era aquela coisa, a Light era enorme. Lá eu trabalhava na seção de proteção. O que é proteção? Relés. Tem instrumentos de medição: amperômetros, voltômetros, registradores etc., etc., etc. E tem também os relés de proteção, mas aqueles não são relezinhos de elevador, não. São bem grandes. Super sensíveis, super refinados etc., eles protegem linhas de transmissão, geradores, circuitos na rua, transformadores. Uma gama muito grande de relés. Cada um com uma finalidade de proteção de equipamentos. Comecei minha vida profissional com relés e termino com relés; aposento com relés.

 

Trajetória Sindical
 

Lá nos Elevadores Atlas eu comecei a me envolver com o movimento sindical, como ativista. Por exemplo, ia um diretor do Sindicato dos Metalúrgicos com material para distribuir e não precisava nem entrar. Eu falava: "Você quer, eu distribuo aqui dentro". E distribuía. O diretor passava por lá, já me conhecia: "Ô, chama o Hugo aí...". E pegava o pacote. Ou depois telefonava: "Olha, vou passar aí". Eu não distribuía na Villares inteira, mas no meu andar, com certeza. Porque aquilo era um monstro, um andar imenso. Eu que distribuía. Talvez por conta disso tenha sido mandado embora. Na verdade, na Light, eu fui me esconder. Por causa do golpe militar. Eu fui mandado embora da Villares. Era metalúrgico. De lá, fui para a Vapsa. Na Vapsa já peguei um cargo, porque já estava no final do curso. Mas, a Vapsa era muito pequena, naquela época, para a gente estar se escondendo. A Vapsa devia ter uns 400 operários, apenas. Um amigo me incentivou a entrar na Light. Empresa canadense, enorme. Falei: "Lá eu vou estar bem abrigado das coisas que a gente sabe que aconteciam com ativistas etc. E lá me aposentei.

Eu não tinha nada a ver com o Sindicato dos Eletricitários, mas já começava o movimento dentro da minha seção. A minha seção era muito pequena. A Light era enorme, mas a minha seção tinha 45 homens, entre engenheiro, técnico, calibrador, ajudante de calibrador e ajudante de técnico e o motorista. Eram 45, só. Começa reivindicação. Injustiça, eu via. Eu descobri que "mutretavam" a minha hora extra. O burocrata lá na hora de bater à máquina no escritório central, fraudava nossas horas extras. Quando eu comecei a pegar aquilo, já começou aquele troço. Estou falando de 1971. O nosso sindicato foi fundado em 1945. O presidente, com raras exceções, foi o mesmo: José Cabral. Até hoje o prédio tem o nome dele. Ele não foi o presidente por apenas três anos, porque a legislação proibiu a reeleição. Não havia oposição nenhuma e o pessoal já estava muito aborrecido com isso. Passa um companheiro da operação e fala: "Eu estou a fim de fazer uma chapa de oposição. Você participaria?" Falei: "Participo. Com o maior prazer, participo." "Faz uma eleição da sua seção". Eu fiz a eleição e fui eleito.

Pertinho de onde eu morava, para ir até a estação de trem, eu tinha que passar no Terminal São Caetano, que é um monstro de enorme. Lá tinha um operador, um autodidata. Todo dia que eu ia trabalhar, ele estava e eu ficava conversando com ele. Sujeito quieto. Ali, eu tive os primeiros contatos com teorias, com livros políticos. Ele não era da esquerda, não era do Partidão. Nunca passou por perto, mas era muito crítico da estrutura econômica do país, da política, etc. Principalmente nessa época da ditadura militar. Eu conversava muito com ele. Às vezes, eu chegava mais cedo e entrava em casa, mesmo, às 11 horas da noite, porque eu ficava lá conversando. Às vezes, eu jantava com ele ali. Eu adorava conversar, tinha uma sede de aprender muito grande. Um dia, ele me telefona: "Oh, Hugo, você não quer fazer parte da chapa de oposição?" Eu falei: "Claro, eu já fiz até eleição aqui." Porque a seção era pequena, estava encravada ali na Paula Souza; tinha construção de estação, operação, manutenção de estação e proteção. É o lugar politicamente estratégico. Eu falei para ele: "Olha, já fiz a eleição." "Não, mas não tem nada a ver com fulano de tal. A chapa que eu estou te falando é do Sílvio Guimarães que trabalha no Despacho da Carga." Nós, técnicos, tínhamos que nos reportar para o Despacho da Carga. Esse setor controlava o sistema. Contava com um painel enorme desenhado. Hoje é computador. Naquela época, eles controlavam o sistema todo por ali. Não podíamos fazer uma manobra, mexer com nada, sem antes falar com o Despacho da Carga. Ele que nos avisava: "O equipamento está livre, está desligado e isolado, você pode mexer." Ou, senão: "Não mexa aí que está ligado". O Sílvio Guimarães trabalhou no Despacho da Carga. Ele falou: "É do Sílvio". Falei: "Quero conhecer". "Vamos nos encontrar". Ele me apresentou e começou o trabalho da oposição. Ganhamos aquela eleição. Eu fiz parte do Conselho Fiscal. Tomei posse em novembro de 1971 nos Eletricitários de São Paulo. Eu fui eleito Secretário Geral da Federação dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas, que é energia elétrica, água e gás, no Estado todo. O meu era o maior sindicato da Federação, o mais poderoso, o Eletricitários de São Paulo. O Guimarães chegou e falou: "O presidente vai ser o Hugo". Todo mundo aquiesceu, concordou e fui eleito vice-presidente da federação para assumir a presidência. Porque o que ficou acertado entre os sete sindicatos filiados foi que o Navas, que seria eleito presidente, ia cuidar da aposentadoria dele na Light, até novembro. Novembro, ele se retiraria. Ele só participaria das reuniões mensais e quem tocaria a Federação seria eu.

É até engraçado, eu trabalhei como técnico da Light por 30 anos, tinha um bom salário. Tinha que explicar para todo mundo porque que eu estava no movimento sindical, porque eu tinha carro. Vem a luta sindical, a patrulha: "O que é isso?" Ter carro é pelego. Então, é pelego. Havia, então, dois pelegos: o Augusto, presidente dos Bancários, uma das pessoas mais inteligentes que eu conheci, era funcionário do Banespa [Banco do Estado de São Paulo], também ganhava bem, tinha carro. Nossa, o Augusto também tinha que dar explicação.

Nós éramos daquela ala chamada autêntica. Era Lula, Arnaldo Gonçalves, Jacob Bittar, João Paulo Pires Vasconcelos, de Minas, Negão, dos petroquímicos do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, aquela “tchurma” toda. Quando entra na fundação do partido, tinha que dar explicação: era pelego, pelego tem carro. Eram inevitáveis as patrulhas.

Foi nessa qualidade que eu cheguei como Secretário-Geral do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos-Socioeconômicos, DIEESE, em 77, convidado pelo que iria ser o Presidente, Augusto Lopes, diretor da Federação dos Químicos. O Augusto me convidou e eu vim como Secretário-Geral do DIEESE. Quando foi em junho de 77, aconteceu o célebre fato da história do Banco Mundial que se pegou, pela primeira vez, um órgão oficial afirmando que a inflação que o Governo havia adotado para os seus cálculos em 73 não era de 13%, e sim de 26,62%. Só que o Banco Mundial não botou 26,62. O Barelli nos chama e diz: "Agora nós temos aqui um jeito de começar a luta oficialmente." Por quê? Porque o Governo havia decretado o reajuste: 13%. A metade! A metade do que tinha sido a inflação. Foi aí que convidamos um companheiro que não era conhecido no movimento sindical como um todo - já se sabia quem era mais afeito, quem tinha militância política, ativismo, na luta contra a ditadura, aquelas coisas todas - e foi chamado um companheiro, o Luís Inácio da Silva. Ele veio ao DIEESE, o Barelli chamou e ele aceitou encabeçar, puxar essa luta do que ficou conhecido como luta pela reposição salarial.

Os sindicatos convidavam porque o Lula dizia: "Eu quero negociação direta, não quero mais saber de Justiça do Trabalho, Tribunal. Tribunal não pode, está proibido de dar reajuste maior do que o decreto". E estava mesmo. Aconteceu um fato interessantíssimo naquela época, o Delfim Netto era o ministro da Fazenda e mandou um telegrama ao Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo recomendando que não desse reajuste superior ao decreto. Isso foi em 77 e começou essa discussão. Eu me lembro bem que os sindicatos convidavam a gente; íamos fazer palestra. Por quê? Isso saía em jornal. "Luta pela Reposição Salarial, os sindicatos estão lutando." Se eu não me engano, foi no Sindicato dos Bancários. Eu acho que a oposição não tinha ganhado a eleição lá ainda. Mas o presidente nos convidou. E aquele foi um debate grande. E o Lula dizia: "Tem que ser negociação direta. Negociação direta porque aí nós vamos obter o que queremos". E eu dizia: "Pois é, e nós já fazemos negociação direta. Desde 1964, mesmo com o golpe militar, a gente sempre fez negociação direta. Nós não conhecemos o endereço, onde fica o Tribunal Regional do Trabalho. Nunca instauramos um dissídio". E tudo o que eu falava era verdade. A gente ia para negociação direta. Tinha um companheiro que perguntava: "E então, companheiro? O que vocês conquistaram na negociação direta?". “Nada” (risos) O pessoal: "Pô! Mas como?" "É, a gente negocia, negocia, mas não muda nada. É o de lei e acabou". Aí, claro, os militantes ativistas: “Mas precisa ter poder de fogo, pô! Tem que fazer greve. Se não tiver greve, também, não adianta negociar!" Era uma época muito complicada. A massa de trabalhadores e ativistas falava: "Ah, tem que fazer greve mesmo. Nós temos que fazer uma greve! Senão, não consegue nada”. Aquilo foi num crescendo.

 

Conclat
 

Nesse ano mesmo, no dia sete de novembro de 77, foi um negócio interessante. Naquela época, o governo militar bolou uns cursos para dirigentes sindicais. O Ministério do Trabalho, oficialmente, dava os cursos. Iam para lá 200, 300 dirigentes sindicais. A cada mês era um Estado diferente que mandava sindicalistas. E nós já estávamos aqui em São Paulo na luta pela reposição. O Delegado do Trabalho naquela época era Vinícius Ferraz Torres, já morto. Era um homem bom, mas tão bom, que era ingênuo. Caiu na ingenuidade. Na inocência dele, São Paulo manda lá 250 dirigentes sindicais para fazer o curso. A minha Federação não indicou ninguém. Aí, o Vinícius me chama na Delegacia do Trabalho: "Oh, Hugo, preciso que você faça uma coisa. Por mim, pela Delegacia e, porque não dizer, por São Paulo". "E o que é, doutor Vinícius?". "Não, é que tem esses cursos assim, assim, assim e quando ele acaba todos vão visitar a Presidência da República. E lá precisa um orador, e eu queria que você fosse fazer o curso". "Ah, doutor Vinícius, por favor. Eu não vou fazer esse curso". "Não, eu sei que você está nessa luta, mas faz isso. Vai no último dia, que é para você ser o orador". "Doutor Vinícius, o senhor sabe o que o senhor está pedindo para mim?” Ele respondeu: “Claro! Você vai ser o orador". Eu falei: "Está bom, eu vou." O caldeirão já estava fervendo. O homem me pediu isso. Não deu outra. Cheguei lá no último dia, de manhã, falei um pouco em nome daqueles 250 dirigentes sindicais e lancei a idéia, fiz a proposta, e mais do que isso, reivindiquei que os trabalhadores tivessem o direito de fazer o seu congresso nacional. Porque os patrões tinham acabado de realizar o seu - a CONCLAP - Congresso Nacional da Classe Produtora. Eu falei: "Ah, se patrão tem o direito de se reunir intersindicalmente, porque os trabalhadores não têm? Eu estou reivindicando essa possibilidade da gente..." Ali nasceu a idéia do Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras - CONCLAT. Eu não tinha idéia do que tinha feito. Vou falar a verdade para você. No dia seguinte, foi manchete dos jornais de Brasília, Folha de São Paulo e Estadão, aqui em São Paulo. No dia seguinte, editoriais, eu tenho todos guardados, dizendo: "Porque, afinal de contas, a classe trabalhadora tem seu direito mesmo". Daí, a mídia começa a usar a gente. Nós falávamos qualquer porcaria, virava manchete. Nós tensionando contra a ditadura e a imprensa nos ajudando.

No dia 19 de novembro, eu me casei. Meu segundo casamento. Viajei, fui para a Praia Grande, na nossa colônia de férias, para ficar uns quatro, cinco dias. Quando eu voltei, o Vinícius, Delegado do Trabalho estava me procurando. Eu liguei e ele pediu para eu ir lá pessoalmente. Fui, cheguei e falei: "Oh, doutor Vinícius, o que houve?" "O doutor Aloísio Simões [ex-delegado do Trabalho de São Paulo] esteve aqui." Ele havia se tornado o Secretário de Relações do Ministério. Era um homem aristocrata, bigodinho branco, só faltava usar um monóculo. Quando ele chegava na Delegacia, funcionários, dirigentes, todo mundo que estava no elevador tinha que descer. Ele subia sozinho no elevador. Na hora de descer, era a mesma coisa, só descia sozinho. Aristocrata, parecia aqueles alemães da Gestapo, um radical de direita. "O Doutor Aloísio Simões de Campos esteve aqui. Veio falar para o senhor parar com essas reuniões." Falei: "Não, eu vou a Brasília falar com ele". Ele me disse: “Não precisa. Imagina! É só o senhor parar com as reuniões." Eu falei: "Não. Não dá para parar." Porque a imprensa caiu em cima, querendo saber quando iria sair esse tal de Congresso da Classe Trabalhadora. E aí surge a palavra CONCLAT. O repórter Julinho de Grammont foi me entrevistar. Na época, ele trabalhava na (rádio e TV) Bandeirantes, e falou: "Vamos realizar a Conclaper?" Eu perguntei: "O que é Conclaper, Julinho?" Ele disse: "É o Congresso da Classe Realmente Produtora." (risos) Realmente produtora, que são os trabalhadores. Falei, "Não, esse nome não dá". Mas aí surge a idéia da CONCLAT, Congresso Nacional da Classe Trabalhadora.

Fui para Brasília falar com o Doutor Aloísio. Do jeito que ele estava sentado, ele ficou. Eu entrei, parei de pé na frente da mesa dele, ele nem levantou os olhos. Depois, tirou os óculos, botou a pasta de lado e falou: "Senhor Hugo, vamos direto ao ponto. O senhor anda fazendo reuniões intersindicais?” "Sim." "O senhor sabe que isso é proibido por lei?" "Ah, sim. Proibido. Nós estamos tentando organizar a CONCLAT." "Que CONCLAT?! O que é isso? É proibido por lei, reunião intersindical! Eu não admito!" Falei: "Doutor Aloísio, o senhor viu a entrevista do ministro Arnaldo Prieto dizendo que achava justo." "Isso tudo é coisa para imprensa! Nós estamos falando de lei, senhor Hugo. Ou o senhor pára com essas reuniões intersindicais ou eu vou intervir na Federação." Falei: "Doutor Aloísio, eu vou dizer para o senhor. É difícil parar. Impossível. Porque tudo quanto é sindicato agora está se reunindo. Mas eu gostaria de dizer uma coisa para o senhor. Não intervenha na Federação, o meu secretário geral é o doutor José Cabral. Foi Juiz do Trabalho, foi presidente dos Eletricitários, grande amigo seu. O meu tesoureiro, presidente do Sindicato do Gás, advogado, juiz classista, vogal na Justiça do Trabalho. Grande amigo seu. O senhor vai prejudicar muita gente. Se o senhor quiser, cassa meu mandado. Mas não intervenha na Federação, não. O senhor vai prejudicar amigos seus. É só isso, Doutor Aloísio?" "O senhor verá!" Eu falei: "Passar bem, senhor." Virei as costas e fui embora para São Paulo.

Ele não cassou meu mandato. Claro que não cassou. Àquela altura, eu já estava como presidente do DIEESE. E a coisa continuou. Quando chega dia 12 de maio, eclode a primeira greve. 12 de maio de 78, na Scania-Vabis. Aquilo vai como um rastilho de pólvora: São Paulo, interior, depois, outros Estados.

Em junho, teve o V Congresso Nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria, no Rio de Janeiro. O presidente era o decano dos pelegos do Brasil, o Ari Campista. O homem era um enólogo, um “connaisseur” de vinhos. Matérias de revistas importantes traziam entrevistas com ele falando de vinho. Esse era o grande líder operário! Nós fomos para o Rio de Janeiro, nos organizamos lá nos Metalúrgicos de São Bernardo, bolamos um estatuto mais democrático, um regimento mais democrático para o congresso, e fomos para lá. O Geisel [general Ernesto Geisel – ex-presidente da República] foi abrir o V Congresso. Foi lá, abriu e um jornal definiu muito bem numa manchete: "Geisel virou as costas." Quando o Geisel virou as costas, o pau comeu. Eu me lembro que haviam convidado para palestrante do congresso, o ministro Arnaldo Sussekind. Jurista do trabalho, reconhecido e respeitado. Coube-me a tarefa de subir no palco - e o pau comendo, aquelas coisas todas no plenário. Eu pedi desculpas a ele: "Doutor Arnaldo, eu lamento, mas o senhor não vai falar. Nada contra o senhor, como senhor está vendo. Tudo a ver contra o Congresso. Aliás, desculpa, contra a forma que o Congresso vai se realizar. Enquanto não resolvermos essa pendência, o senhor não fala."

Primeiro dia, realmente não houve Congresso. Não me lembro mais se no segundo teve. Aconteceu um fato também pitoresco. Foi no ginásio de esporte do São Cristóvão. Dentro do ginásio, o Ari Campista montou uma tenda de lona, muito bem feita, muito bonita, com ar condicionado. No dia seguinte, acho que foi no fim do dia: "Precisamos conversar", falamos para o Ari. O Ari Campista disse: "Tira uma delegação e pode vir conversar comigo." Fomos o Lula, eu, o Jacó, o Arnaldo. Chegamos, o Ari estava sentado, como sempre muito elegante, terno, gravata, piteira: "Como vão, companheiros? Por favor, sentem-se." Nós começamos: "Vamos fazer assim.” E começamos a falar. O Ari Campista olhando: "Bom, eu sugiro que os senhores..." "Não!" Aí, eu falei uma coisa, o Lula falou outra: "Não, pá-bá-bá-bá!" Uma pequena discussão entre nós. (risos) Disso o Lula se lembra até hoje. O primeiro tapinha: "Um minutinho, por favor, companheiros. Eu pediria aos colegas da imprensa que não registrassem essa distinção entre nós, que é muito desagradável." Ai, ai. Eu nunca me esqueço! Na hora, deu vontade de bater nele, mas depois a gente ria muito. Nos acertamos e fomos apresentar a nossa proposta de regimento. Falamos para o Ari: “Você apresenta a sua, mas deixa a gente colocar a nossa proposta e defendê-la; depois você põe em votação." E o Ari: "Claro, claro. O que nós estamos combinando aqui, está combinado. Está fechado." "Então, vamos para lá". Fomos para o palco. Os companheiros me indicaram para fazer a leitura do regimento, e mais dois ou três de nós, faríamos a defesa. Está bom. O Ari Campista pediu silêncio, plenário todo em silêncio. Ele virou e disse: "Companheiros, eu queria dizer que nós conversamos aqui com os companheiros fulano, fulano e fulano, grandes lideranças, e nós vamos proceder da seguinte maneira. O nosso, o meu regimento, o regimento da CNTI [Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria] vocês já têm, já conhecem. Então, o Hugo Perez vai ler o regimento deles, e em seguida eles irão defender a proposta. A votação se dará da seguinte forma. Quando for votar, quem estiver favorável ao regimento da CNTI, virá pra cá. Não vai ser levantando a mão. Os que forem favoráveis a CNTI virão para cá e os que forem contrários..." Mas não precisou nem fazer o segundo gesto, ele bateu os olhos e falou: "Ganhei! Pronto.” Eu fiquei louco, fui para cima, mas fui detido pelos seguranças. Esse era o velho Ari Campista. Isso foi em junho. No setor de energia elétrica, nós agitávamos muito. Estávamos fazendo uma agitação muito grande. O presidente do Sindicato nessa época ainda não era o Guimarães. Mas o Guimarães também começou a ver a pressão que era. Na luta pela reposição salarial, quando ela começou, se não me engano foi o Lula mesmo, foram os metalúrgicos de São Bernardo os primeiros que pediram o estudo do DIEESE pra ver qual tinha sido a perda da categoria. Se não me engano, a minha entidade, a Federação, foi a segunda que pediu. E quando pediu, ela não pediu só Eletricitário, ela pediu Eletricitário, Água e Gás. O da Água não chegou a ser feito porque eu retirei o pedido porque o presidente do Sindicato da Água, na época, da Sabesp, era do Partido Democrático Social [PDS], era malufista. Começamos a fazer trabalho na base. Pelo atropelo, não dava tempo de fazer “aquela senhora” organização de base.

Voltei do Rio de Janeiro, a base aqui em São Paulo da Light já estava razoavelmente inflamada. Ao mesmo tempo, eu fui para o interior. Eu, presidente da Federação fui junto com o presidente do Sindicato de Campinas, de Energia Elétrica de Campinas, que era o Felício. Começamos a percorrer a Cesp. E fomos até Água Vermelha, que estava em construção ainda, Ilha Solteira, Juquiá, Primavera, que naquela época estava também em construção, era uma barragem ainda. Fomos subindo pelo Paranapanema, já era o Sindicato de Pauçu, mas ali tem a usina de Capivara, a usina de Itapevi. Vem subindo. O pessoal estava muito mobilizado. Começa a abertura das negociações. Sempre tentando colocar a Light como o carro-chefe. A Light diz: "Não. Eu sou empresa privada. Se qualquer empresa estatal der, estamos juntos. Eu não vou dar. Nós já estamos na mira do Governo, por ser empresa privada. Já não temos remuneração adequada do capital. Sei lá o que querem fazer com a Light". Claro, porque nos bastidores já devia estar aquele negócio de comprar a Light. Então, "Não dou, não. Não dou, não". O representante da Light, chegou numa dessas negociações e disse: "Vocês façam o que vocês quiserem, vocês podem até mudar o nome da empresa, mas eu não dou um tostão". Quando acabou a reunião, fomos para o corredor, para o conchavo, aí já é informal, e é onde as coisas acontecem. Doutor Rui Bessoni Pinto Correia, diretor da Light, no Rio, eu falei: "Doutor Bessoni, afinal, porque vocês não dão?" "Não dou, mesmo. Claro que não dou. Faz a Cesp. A Cesp não é do governo? Ué, o governo é governo, dá o aumento para vocês. Não precisa nem vir ao Rio. Só telefonar e falar – o aumento foi de 13,1? 13,1! Foi de 12,8? 12,8! Igualzinho.” Quem mandava na Cesp? O vice-presidente executivo, Capitão Guimarães, do Exército. É o homem que mandava, era o executivo. Falavam, na época, que ele foi um dos idealizadores da operação Bandeirantes, a Oban. Dizem, mas não sei. Mas esse era o homem. Eu não batia com ele. Era só nos encontrarmos, saía faísca. Porque um dia ele disse, numa mesa de negociação: "Sindicato, para mim, é para cuidar de colônia de férias e dentista. O reajuste é decretado. Por que vocês ficam enchendo o saco?" Eu me levantei da mesa, eu não era presidente da Federação ainda, o Navas era presidente, dali começou.

Começamos a incendiar a Cesp e nada de negociação. Eu me lembrei daquele episódio da Scania-Vabis que não queria negociar. Aliás, ela queria negociar e a Volkswagen não deixava, para não abrir precedentes. O Lula falou: "Bom, então vamos parar a Volkswagen, ué." Parou a Volks. Aí sentou ela, a Scania e o que mais veio. Eu me lembrei desse episódio e falei: "Puxa vida, eu vou procurar o sindicato patronal". Nunca tivemos contato, não sabia nem o nome. O presidente do sindicato patronal era o presidente também da Associação das Empresas de Energia Elétrica, que era mais conhecida.. Ele era dono de três - na época e acho que é dono ainda - de três empresinhas de energia elétrica. A sede é na Alameda Campinas. Marquei com ele. Cheguei lá, era um moço. "O que você quer?" Eu falei "Você não me conhece,não?". "Eu tenho visto você, tenho ouvido falar." "O que você precisa?" Falei: "Negociar". "Ué, e por que não estão negociando?" Eu falei: "A empresa não quer negociar. Nem a Light, nem Cesp." "E agora?" Eu falei: "A base está conflagrada" "Sei, mas, você tem controle disso.” "Nenhum. Não tenho nenhum." "Mas como não tem?" "Não tenho. A gente sai fazendo assembléia. Você acha que dá tempo de organizar militantes bons? Eu vou te contar um episódio. Na usina de Capivara, fiz assembléia às quatro horas da tarde. Parou a usina, parou tudo. Vieram para a assembléia." "Sim. E daí?" "Eu estou lá falando com o pessoal, explicando a idéia da negociação que a gente tinha tido tal perda, tá-tá-tá. O senhor não sabe quem se levantou na primeira fila, não tendo nenhum conhecimento do que é regra de assembléia, nada, e falou: 'Dá licença, aí, companheiro!' Levantou e virou para trás: o engenheiro. E disse assim: 'Oi, turma. Lá em São Bernardo, pararam um torninho. Já imaginou aqui nós parar a máquina?' Falou desse jeito. Pô, uma máquina geradora. Eu continuei: "Doutor fulano, a água da represa até tremeu. Mesmo sem desligar, ela balançou sozinha." E ele disse: "Eu acredito." Eu perguntei: "O que o senhor pode fazer? Dá para chamar o pessoal para negociar?" "Me dê dois dias." Eu concordei: "Está bom." No final de dois dias, ele me ligou e falou: "Hugo, vamos negociar!" Eu falei: "Onde?" "Onde você quiser". Falei: "Aqui na Federação." "Está bom." "Quem vem?" Ele falou: "Todos! Todos. Cada empresa mandará um diretor." "Ah, é? Depois de amanhã, está bom." Desliguei o telefone e disse: "Muito obrigado, Doutor Carlos Eduardo Moreira Ferreira." Ele depois veio a ser o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo [Fiesp], deputado federal e agora é o presidente da Confederação Nacional da Indústria [CNI]. É o presidente em exercício da CNI. Ele realmente trouxe o pessoal. A gente tem que falar a verdade. História é história. Ele trouxe o pessoal.

No dia 15 de setembro, na hora, chamei o DIEESE para me assessorar. O técnico foi o José Maurício Soares. Foi feito o acordo, o primeiro desde 64. No dia 15 de setembro de 1978, saiu o primeiro aumento salarial dos eletricitários do Estado de São Paulo. A coisa foi caminhando. 79, greve de novo, 80, aquela bruta greve outra vez. Quando foi em 81, e eu tenho esses documentos, houve uma reunião em São Bernardo e o Lula veio conversar comigo e disse: "Ou a gente faz a CONCLAT ou então pára de falar disso!". Porque aquilo virou bandeira de movimento de oposição sindical, de situação: "E a nossa chapa vai fazer a CONCLAT" ou "vai participar". Neste encontro decidimos também fazer uma grande reunião para eleição das comissões já. Essa reunião aconteceu no Sindicato dos Químicos da Tamandaré. Estava lotado o plenário. E ali foram eleitas as Comissões de Imprensa, etc. E a mim coube a Secretaria de Organização, que foi montada na federação, na Rua Machado de Assis. Dessa comissão, me lembro bem de quem participava, Edson Campos, que hoje é assessor da Central Única de Trabalhadores (CUT) e está em Brasília. Ele era bancário em São Paulo. A Sílvia Portela, mais alguns companheiros e eu. A gente organizou a CONCLAT. E ela foi realizada nos dias 21, 22 e 23 de agosto de 81. Compareceram 5036 delegados. Nós estávamos preparados para 2500 delegados. Na colônia de férias, tudo pronto pra 2500. Muitos companheiros não quiseram ceder a colônia para gente fazer o congresso. Receio da ditadura, aquela coisa toda. Mas Deus não é só brasileiro. Deus também é sindicalista. Em agosto fez um calor, rapaz. Um calor na praia. Aqueles que não tinham acomodações, dormiram na praia. De manhã cedo, estava aquela turma assim parada, olhando o mar. Solzinho ainda fraquinho. Aí, de repente um pega a água do mar, põe na boca: "Salgado". Não conheciam o mar! Veio gente dos mais distantes rincões desse país. Delegados da CONCLAT. Grande momento! Grande. Ali houve o famoso racha. Só soldado e consolidado com a eleição da Comissão Nacional Pró-CUT e os companheiros não queriam de forma nenhuma que o Joaquinzão fizesse parte. E se vocês olharem a delegação, a representação de São Paulo, na Comissão Nacional Pró-CUT, não está o Joaquinzão. Somos, acho, que em cinco lá, cinco. Isso foi em 83. Eu saí da Federação. Fui, na verdade, derrubado, da Federação. No que eu saio de lá, saio também do DIEESE. Claro, não podia ficar aqui. Hoje eu faço um balanço positivo. É evidente. Com todos os problemas que possam ter ocorrido, mesmo eu não achando que fossem problemas. É uma luta política. Você tinha duas grandes vertentes na época. Você tinha os dirigentes que eram próximos, simpáticos, filiados ou dirigentes do próprio Partido Comunista Brasileiro. Que tinha lá uma proposta de condução da luta sindical dentro de um governo ditatorial etc. Havia outros companheiros, que tinham uma outra visão, que achavam que tinha que bater mais, tensionar mais, que devia fazer greve, mesmo. E se a greve era de dez dias, se pudesse esticavam mais um dia. E existia a terceira que eu digo dos independentes ou indiferentes, sei lá como podemos chamar melhor isso. E isso foi desaguar dentro da CONCLAT. Um racha que não se conseguiu colar até hoje. E qual foi o ponto? A CONCLAT virou Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, e não congresso. É conferência. Por quê? Porque chegamos à conclusão que a gente não tinha competência para convocar ninguém. Tinham federações, confederações. Resolvemos fazer um convite. Aí virou uma Conferência Nacional da Classe Trabalhadora. Durante a conferência, com 5.036 delegados, aprova-se a realização de um congresso ano seguinte. Foi quando nasceu a Comissão Nacional pró-CUT.

Passados 20 anos da CONCLAT, era necessária uma comemoração, o DIEESE topou essa tarefa, que se realizou. Eu ajudei procurando companheiros por esse Brasil afora, por telefone, aqui, ali. Uns não puderam vir, outros eu não consegui localizar. O DIEESE localizou um monte. Mas, o importante disso é que você veja a importância que teve. Mesmo que não tenha vindo todo mundo, mas estava lá o companheiro Lula. Foi na Assembléia Legislativa aqui em São Paulo. Olívio Dutra era, Governador do Rio Grande do Sul e se abalou do Rio Grande até aqui naquele dia, para se confraternizar com os velhos companheiros.

 

Centrais Sindicais
 

Quando chegou em 1982, naquelas reuniões que a gente fazia sempre, lá na Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), em Brasília, um dia vem à baila: "Bom, o seguinte, vamos fazer o congresso esse ano?" "Ahn, ahn, vamos não." E eu fui um dos que fui contrário à realização. Porque naquele ano muitos saíram candidatos, inclusive eu, candidato a deputado. Então, decidiu-se adiar para 83. Ah, mas foram discussões infindas na base, de tudo quanto é lugar. Porque a Conferência tinha aprovado 82. E nós, Comissão Nacional pró-CUT, por maioria, aprovamos que fosse adiado para 83. Bem, uns avaliam que: "Ah, não, se tivesse feito em 82, não tinha dado o racha". Isso é bobagem. Ia dar o racha de qualquer jeito, porque a questão era de concepções diferentes. Determinado momento não dá para eu ficar junto de você. Ou não dá para você ficar junto de mim. Ficou esse mal-estar por um ano. Quando chegou em 83, a organização, eu já estou olhando de longe que é a época que eu estou saindo da Federação. Já não estou mais participando nem da organização. Via de fora a coisa pegar. Rachou mesmo, dividiu. A CUT, os companheiros que tinham essa visão sindical realizaram o congresso em São Bernardo do Campo no estúdio da Companhia Cinematográfica Vera Cruz e fundaram a CUT. A outra parte não realizou nada naqueles meses, parece que foram realizar em novembro de 83, a segunda CONCLAT. Não sei se deram esse nome, mas ficou conhecida como CONCLAT. Quando foi em 86, eles novamente fizeram outra CONCLAT. A Central Geral dos Trabalhadores. E quando foi em 89, outro congresso da CGT muda o nome para Confederação Geral dos Trabalhadores.

 

 

Trajetória no Dieese

 

 

Antes de passar pelo DIEESE eu já conhecia porque via num jornal, eu não me lembro o nome. Um jornal pequeno, mas de circulação diária, tinha uma coluna do DIEESE, todo dia ou toda a semana, mas eu acompanhava, eu pegava aquilo. E eu trabalhava na Paula Souza. A Rua das Carmelitas, onde ficava o DIEESE era tão perto e vou fazer uma confidência aqui que é chato para mim. Um dia eu peguei aqueles dados, olhei: "Puxa, que legal." Aí, liguei para o DIEESE e atendeu o Barelli. "É Barelli." "Ô, Barelli, tudo bem? O que você é aí?" "Eu sou Diretor Técnico. E você?" Falei: "Ah, eu sou da Light, sou empregado, sou um técnico, estou olhando aqui a coluna ...” E ele: “Interessante, mas você é dirigente?" Eu disse: "Não, eu não sou dirigente, sou da base, e sou técnico." E o Barelli falou: "Ah, Paula Souza, por que você não passa por aqui?" Eu vim, cheguei na porta, olhei, peguei e fui embora. Não subi. Não foi ali que eu conheci o Barelli. Peguei e fui embora. Não sei o que me deu, eu fiquei meio assim, sem jeito. É um órgão intersindical, “Vou lá, vai me perguntar coisas da minha categoria, eu nem sei se meu sindicato é filiado ao DIEESE”. E era fundador. Meu sindicato está entre as 21 entidades que fundou o DIEESE. Na época, se chamava Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Hidroelétrica de São Paulo.

Uma coisa importante que eu aprendi no DIEESE e que foi para mim uma lição de vida que eu levei para minha vida política, profissional é o não envolvimento político dos técnicos da instituição. Os trabalhos são elaborados levando em conta apenas a questão técnica e o dirigente faz o uso político que quiser.. O DIEESE não se mistura nisso. Eu me lembro que no meu sindicato, havia um diretor que não tinha esse tipo de experiência, um dia vai um técnico do DIEESE numa assembléia lotada da nossa categoria e ele fez uma pergunta sobre algum encaminhamento. E o técnico respondeu: "Olha, o DIEESE não faz esse trabalho. Nós não podemos opinar, não vamos opinar sob hipótese nenhuma, o que vocês devam fazer. A luta é de vocês. O DIEESE só auxilia nas negociações. Vocês querem as perdas, querem os ganhos, nós fazemos tudo. Agora, a decisão da luta política é de vocês."

O DIEESE sempre teve um papel importante. O que precisa é o movimento sindical saber usar o DIEESE. Saber consultar, saber perguntar, lembrar que tem o DIEESE. O sujeito é filiado, está lá com um problema e se esquece de dar um telefonema às vezes. Se esquece de pedir um técnico para dar um palpite. E o pessoal daqui faz isso com a maior satisfação, sempre, quando requisitado, quando solicitado. Se quiser fazer um negócio abrangente, põe o DIEESE na organização. Às vezes, até mesmo na condução. Porque daí você, você agrega. O DIEESE é agregador.

Na época que estive aqui eram feitas as pesquisas sobre o Índice de Custo de Vida. Se fazia como um censo. Um grande censo. Eu peguei isso. Dificuldades infindas até para fazer. No meu ano, acho que a gente demorou três anos para fazer porque não tinha dinheiro. Acabava o dinheiro, parava. Aí começava de novo. Essa é uma bruta dificuldade. O DIEESE devia chegar para o sindicato que não é filiado, ir à direção nacional e falar: “Vamos convidar o companheiro para ser diretor”. É um diretor ouvinte, um diretor qualquer coisa. Para participar. Isso não precisa ser toda a reunião, mas em uma reunião ou outra. Para ele conhecer, porque se ele não respirar esse ar aqui, ele não fica aquele defensor intransigente do DIEESE. Vem, conhece e aí não sai falando contra ou depreciando o DIEESE.

E por falar em depreciando, quando houve a luta pela reposição salarial, lá atrás, em 1977 – eu gosto de citar esse fato porque me marcou – o governo dizia: "Não temos nada que repor, nada." O Veloso era o ministro do planejamento, Reis Veloso: "Não, porque já foi reposto." Fazia aqueles números complicados de estatística, mas todos nós sabíamos que não tinha reposto nada. E ficou essa discussão. Logo no comecinho da luta pela reposição salarial, quando o DIEESE por uma razão ou por outra, acabou provando. Aí, vem um deputado, dono do Banco América e dono da Gazeta Mercantil, deputado federal, Herbert Levy. E dá uma entrevista depreciativa, altamente depreciativa. Mas pegou o DIEESE e colocou onde ele merecia. Primeiro, na primeira página da Folha e depois em todo o mundo... Ele disse assim: "Quer dizer que esse tal de DIEESE tinha razão?" Emocionante ver isso. Ele veio de forma depreciativa, mas deu razão ao DIEESE. A experiência do DIEESE é única no mundo. É uma instituição única no mundo. Agora, você veja, com os números, com os estudos, com os dados que o DIEESE produz. O que seria do movimento sindical sem o DIEESE. E é fundamental para nós. Uma das coisas importantes que o DIEESE fez foi o Programa de Capacitação para Dirigentes e Assessores Sindicais (PCDA). Você não imagina como isso repercutiu. Porque são cursos de nível elevado. É uma preparação sindical mais científica e, eu diria, mais refinada. Acho que o DIEESE deve continuar estes cursos, ou naquelas bases que existiam propostas ou em novas bases, mas continuar o curso de capacitação, pois faz com que essa direção sinta a importância do DIEESE, sinta que ele é realmente necessário. Porque você precisa estar sempre motivando.

 

Avaliação/Dieese
 

Embora, a sociedade seja beneficiada com isso tudo, não tem a mínima idéia de onde vem essa ajuda. Indo fora do movimento sindical, fora do meio acadêmico, pouco se conhece do DIEESE. E o movimento sindical também é culpado por causa disso. Sabem quais os jornais sindicais que falam do DIEESE? A maior imprensa do Brasil é a sindical. São milhares e milhares de jornais e boletins. Porque que não cria lá uma coluna do DIEESE? Cada um se obriga, sou filiado. E muitos colocam lá: filiado à Central tal. Porque que não bota lá: sócio do DIEESE? Isso aqui tinha que ser como - suprapartidário, supra centrais, supra correntes ideológicas. É para ser um órgão unânime. Para ser uma unanimidade inteligente.

 

 

Desafios

 

 

Dinheiro, sempre. Dinheiro. Vamos começar falando assim, existe uma coisa que só quem passou por aqui sabe: quem se preocupa com as finanças do DIEESE são os funcionários do DIEESE. Quem não dorme à noite, que tem conta para pagar, é o funcionário do DIEESE. Não é o dirigente sindical. E para vencê-lo, é preciso que o movimento sindical contribua. Pague o DIEESE. Pague a sua mensalidade, se filie e pague. Depois, daí, é que nós vamos ver quais os desafios que vamos criar. Os desafios da sociedade como um todo estão aí, políticos, econômicos. A gente sabe como enfrentá-los. Agora, o que é preciso é que o movimento sindical crie desafios. Mas, o DIEESE não se mexe se não tiver um mínimo de condições.

 

 

Futuro do Dieese

 

 

E eu tenho boas perspectivas para o DIEESE. Estou sabendo aí de novos projetos que começaram a discutir quando eu ainda estava por aqui. O DIEESE volta novamente a ter uma razoável tranqüilidade. Nós precisávamos ter aqui uma comissão permanente de relações públicas. Mudam seus elementos, mas a comissão existirá permanentemente para conversar com candidatos e tentar se inserir na pauta, na preocupação do candidato. Tentar ser uma preocupação.

 

 

Avaliação/Trajetória de Vida

 

 

Foi a minha vida. Foi e está sendo até hoje. Se cheguei em algum lugar, foi por conta do DIEESE. Claro que ser presidente de uma Federação é uma coisa. Ser presidente da Federação e presidente do DIEESE é outra. É evidente. Isso eu devo ao DIEESE. Inegavelmente. Mudou minha vida. Eu já falei: aprendi aqui e usei na minha vida profissional lá fora. E continua me influenciando. Continua influenciando pela questão da retidão, da ética, da moral. E, sobretudo pela eqüidistância que eu procuro manter nas discussões. Eu ser de uma Central não significa em absoluto que eu não converse com outras, sempre conversei. Graças a Deus, acho, penso que se me conhecem em qualquer Central, se têm um pouquinho de respeito por mim, foi pelo DIEESE, porque passei por aqui. Porque aprendi a manter essa eqüidistância. Houve uma época, que até o Barelli dizia: "Cara, você é o fiel da balança". A gente tem que ser grato a essas coisas. A gente não pode esquecer as coisas.

E eu tenho um sonho. É ver o movimento sindical fazer uma grande concentração. O país chegou num ponto em que não se agüenta mais esse estado de coisas. Eu acho que é possível. Eu acho que as Centrais poderiam dar o exemplo disso. Já deram um bom exemplo no Fórum Nacional do Trabalho, quando pelo menos três Centrais estavam lá... Eu falo de três porque eu estava na Comissão de Sistematização. E lá eram só três que se acertavam. E nas outras Comissões todas. Eu acho que elas deram bom exemplo nesse sentido. Eu acho que vale a pena caminhar nesse sentido. Assim, desprovido de vaidade pessoal. De uma querer engolir a outra. É um respeito mesmo, aquilo sendo respeitado do fundo da alma. Ter essas discussões, a partir daí a gente extrapola, conversar com partidos, porque, por incrível que pareça, pelo menos na ponta do iceberg que aparece, nós temos gente decente. Temos gente decente. Seja em qualquer setor da sociedade. Precisava buscar essa gente. Grandes juristas, grandes sindicalistas, políticos decentes, nós temos, para fazer um grande conserto nacional. É utópico, não? A gente é utópico quando é muito jovem. E a gente vai ficando mais velho, a gente volta a ser utópico, volta a sonhar com as coisas outra vez.

 

 

Família

 

 

Sou casado. Tenho cinco filhos. O mais velho, 39, jornalista. Depois, tem uma menina formada em Direito, mas é dona de casa só, 38. Tem a outra que é biomédica, trabalha em laboratório, é gestora de laboratório, 37. E tem um outro que só trabalha, não é formado em nada. E o caçula de 28 agora, que é jornalista também. Nenhum veio para o movimento sindical. Nenhum veio para luta política. Mas, paciência. Eles estão contribuindo com a sociedade. Cada um do seu jeito, na sua profissão.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Estou muito feliz de ter participado. Participei dos 25. (RISO) Eu era presidente quando se comemoraram os 25. Bodas de prata. E agora, participo dos 50, bodas de ouro. Atravesso dois séculos, participo de duas grandes comemorações de um órgão único no mundo, no planeta. Que maravilha, que honra, gente. Que honra ter sido lembrado para dar um depoimento, enfim ter sido lembrado.

 

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