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Iara Heger

iara_hegerHistória Temática

Identificação
 

Meu nome é Iara Heger, eu nasci em São Paulo, em 7 de janeiro de 1953.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Sou formada em Jornalismo e depois fiz Ciências Sociais. Na verdade, eu achava que o curso de Jornalismo não bastava. Fui fazer Ciências Sociais para ter um conhecimento que me oferecesse base além do técnico do Jornalismo. Em Jornalismo, entrei quando tinha 18 anos, em 71. Terminei em 75. E a Ciências Sociais eu entrei em 78, terminei em 84, já com a Licenciatura.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

Eu fui contratada como estagiária. Repórter estagiária no jornal chamado Popular da Tarde, que não existe mais. Fiquei como repórter pouco tempo. O jornal era de esportes, mas tinha uma parte geral. Mas entrou uma coisa que chamaram de crise do papel. O papel ficou muito caro e os jornais começaram a diminuir seu tamanho. Eles não conseguiam comprar papel suficiente. Na época, o papel imprensa não era nacional; era importado. Isso foi em 73, quando comecei a trabalhar.

Os jornais encolheram e deixamos de fazer matérias especiais. Colocaram-me para trabalhar à noite, numa função que hoje não existe mais, de copy desk. Refazíamos matérias do jornal-mãe. O Popular da Tarde pertencia a um jornal chamado Diário Popular. Pegávamos as matérias do Diário Popular e reescrevíamos. Transformávamos em outras matérias para não parecer que era da mesma fonte.

Fiquei um ano e um mês no Popular da Tarde. Saí em 74, e como o Estágio era obrigatório para quem estava no último ano de Jornalismo, fui fazer um esquema oficial de estágio na Editora Abril. Era uma coisa muito maluca, parece que existe até hoje. Passávamos dois meses em cada redação, fazendo matéria ou outra coisa que precisava ser feita. Fiquei um ano no estágio. Algumas pessoas foram contratadas. Eu não fui. Fiquei mais uns três meses fazendo "freela" (free –lancer) numa ou outra revista. A Abril tinha umas revistas técnicas. Eu fiz alguns ”freelas” para as técnicas e fiz para revistas de fotonovela. Era uma equipe mais aberta, mais tranqüila para lidar. O resto do pessoal era meio vedete demais para o meu gosto.

 

 

Trajetória no Dieese

 

 

CConheci o DIEESE trabalhando no Diário do Grande ABC. Foi um lugar onde eu fiquei quase três anos. No Diário, ouvíamos falar bastante do DIEESE, inclusive porque o pessoal das entidades sindicais tinha relação com ele. Enquanto eu estava no Diário do Grande ABC, não fiz matéria com o DIEESE porque tinha uma pessoa específica que fazia sindical e o jornal tinha mania de ser regional. O DIEESE não tinha subseção no ABC e não podíamos sair muito de lá para fazer matéria. Quando eu saí do Diário, fiquei um tempo em Santo André [SP] “freelando” para uma assessoria. Uma das contas dessa assessoria era da Cooperativa de Funcionários da Mercedes. Eles tinham uma revista, e para essa revista eu tive que fazer matéria com o DIEESE. Entrevistei o Maurício [José Maurício Soares] porque a matéria era sobre preços. A cooperativa tinha também a parte de venda.

 

Pesquisa/ICV
 

O Maurício é aquele tipo de pessoa que fala pelos cotovelos. Detalhista. Acabou me ajudando. Ainda que estivesse um pouco reticente porque, como eu estava falando de preços, de ponderação de preços, e na época se começava a pensar em atualizar o índice do custo de vida do DIEESE, ele estava um pouco reticente de falar sobre ponderação do ICV, na época. Ele achava que ia ser superado logo em seguida. Mas é aquela história. Você está fazendo uma matéria que não vai esperar sair um outro resultado, que só foi ficar pronto muito tempo depois.

 

 

Trajetória no Dieese

 

 

Fui fazer Ciências Sociais onde a ponte com o DIEESE era muito mais direta. O DIEESE era uma fonte importante para as Ciências Sociais. Em 79, comecei a estudar com a Vera [Gebrim], que é do DIEESE, até hoje. Fomos colegas. Ela entrara à tarde e eu, à noite. Depois ela passou para a noite; estudamos juntas. Através dela, eu ouvia falar direto no DIEESE. Ficou mais presente. Foi por causa dela que eu acabei vindo parar aqui.

 

 

Importância do Dieese

 

 

O DIEESE era uma fonte de referência. Fazia estudo em uma área que sempre interessou ao pessoal das Ciências Sociais: sindicalismo. Era uma área que estava em efervescência, começando a se reestruturar. O DIEESE tinha importância por ser ligado ao movimento sindical. Nessa época não estava atenta à história dos índices. Era mais à questão sindical.

 

 

Militância Política

 

 

Eu tinha relações com o movimento estudantil. O pessoal do movimento estudantil tinha vínculos com parte do movimento sindical. Tínhamos esse contato. Eu era mais ou menos ligada à Liberdade e Luta [Libelu], mas não era participante ativa dentro do movimento estudantil. Atuava um pouco na área sindical, no Sindicato dos Jornalistas, que era sócio do DIEESE. Eu participava das assembléias, mas nunca fui destaque no movimento sindical.

 

 

Trajetória no Dieese

 

 

Quando eu entrei no DIEESE, eu fazia Ciências Sociais. Não tinha emprego, estava fora do Jornalismo. O DIEESE ia fazer o projeto-piloto da PPVE [Pesquisa de Padrão de Vida e Emprego], em 81. A Vera era minha amiga e falou: "O DIEESE vai contratar pesquisadores.” Através dela, fui me inscrever para ser pesquisadora, em 81. Fui pesquisadora de campo no piloto da PPVE. Trabalhei entre março e junho.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

Em junho ainda tinha algumas coisas para serem feitas de campo, mas como eu tinha feito o censo do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], em 80 e 81, eles me chamaram para fazer o censo econômico. Fui fazer treinamento do IBGE e me desliguei do DIEESE.

 

Trajetória no Dieese
 

Em novembro ou dezembro de 81, o DIEESE estava selecionando pesquisadores para trabalhar numa pesquisa de perfil. que eles fizeram para o Sindicato dos Psicólogos e o Conselho Regional de Psicologia. Daí, voltei. Fui pesquisadora e codificadora de dados. Fiz entrevista com os psicólogos e depois fizemos a codificação dos dados. Trabalhei ainda um tempo, em novembro, dezembro, janeiro; talvez tenha sobrado um pouquinho para fevereiro de 82. Depois, trabalhei também numa outra pesquisa. Não foi para o DIEESE, mas a Vera teve a ver com isso, porque quem estava recrutando pessoas para trabalhar nessa pesquisa - era uma pesquisa de mercado - morava com uma técnica do DIEESE, que não tinha contato com pesquisadores. A moça falou com a Vera que me indicou para trabalhar. Foi coisa de dois, três meses. Quando acabou, a Vera falou assim: "Iara, vai voltar agora a pesquisa, a PPVE. Vai voltar em agosto." A PPVE funcionava no Sindicato dos Químicos. Eu já tinha trabalhado lá em 81. Dessa vez, no entanto, me chamaram não para ser pesquisadora, mas para ficar como codificadora de dados, registrada. Assim, comecei a trabalhar no DIEESE em agosto de 82, como codificadora de dados.

 

 

Dieese na Imprensa

 

 

Eu fiquei como codificadora e crítica nessa área, até em 85, 86, começarmos a movimentação sobre uma assessoria de imprensa no DIEESE, já que na época, algumas pessoas que trabalhavam no DIEESE eram jornalistas: o Álvaro que trabalhava também na PPVE, que estava acabando a faculdade de Jornalismo; o Emílio estava fazendo Jornalismo. Esses todos eram da PPVE. No escritório do DIEESE, lá nas Carmelitas, tinha a Janete - acho que ela era datilógrafa - também estava prestando vestibular para Jornalismo. E um diretor da Executiva do DIEESE era jornalista. Ele me conhecia da época da militância no sindicato. O Paulão me encontrava, falava: "Você nunca pensou em fazer uma assessoria de imprensa no DIEESE? O DIEESE já tem nome suficiente. Tem importância suficiente para ter alguém que faça isso.” Dessa conversa, começamos a nos interessar. O [Walter] Barelli dizia: "Cabe a vocês, que gostam da área, me provar que é importante ter uma assessoria de imprensa no DIEESE.”

Na verdade, foi um trabalho que de dois lados. O Paulão era diretor do Sindicato dos Jornalistas, trabalhava em assessoria e achava que o DIEESE comportava uma assessoria de imprensa. Ele dava todo o estímulo. Internamente, fomos nos convencendo. Éramos eu, o Emílio, a Janete e mais uma pessoa que foi muito importante no movimento sindical, que era o Nunes. Ele não era fixo no DIEESE, tinha um contrato por duas horas diárias, mas fazia jornal para vários sindicatos.

Nosso primeiro trabalho foi a primeira divulgação da PPVE, dos resultados do índice do custo de vida, com a ponderação tirada da PPVE, em fevereiro de 87. Com a assessoria, o Barelli passou a achar que outras pessoas também poderiam falar pelo DIEESE para sair um pouco da responsabilidade dele. Para isso, precisava alguém que fizesse essa triagem, e com o trabalho de uma equipe de jornalistas essa triagem era possível.

Naquela época, o DIEESE já divulgava dados regulares: o índice do custo de vida e a cesta básica. Alguém fazia um textinho rápido e os office-boys saiam entregando em cada redação de São Paulo. Não tínhamos telex, não existia o sistema de computador e o pessoal saía entregando nas redações, que por sorte, eram quase todas no Centro e o DIEESE estava na Tabatingüera.

Para nossas divulgações, inicialmente, fazíamos entrevistas coletivas. Organizávamos a entrevista coletiva, a divulgação. Chamávamos a imprensa por telefone. Organizamos um cadastro, com todos os dados que precisávamos para os contatos. Havia também o atendimento às pessoas (jornalistas) que ligavam para o DIEESE, pois o DIEESE sempre teve a característica de atender a demanda, muito mais do que impor seu interesse, suas notícias. Tudo isso foi centralizado na assessoria de imprensa e, ao mesmo tempo, foi possível diversificar quem dava a informação.

INão era só mais o Barelli dando a entrevista. O Maurício passou a dar entrevista do custo de vida. Outros técnicos davam entrevistas, dependendo dos assuntos que eles eventualmente estivessem tocando.

O Boletim do DIEESE também passou a ser nossa responsabilidade, assim como mais alguma publicação. Até então, técnicos eram responsáveis pela elaboração do boletim: juntar o material do boletim para ele ser divulgado, publicado, impresso. Vários técnicos tinham sido responsáveis. Dentre eles, acho que só a Suzana [Sochaczewski] continua no DIEESE. Com a assessoria, essa responsabilidade passou para a assessoria e fazíamos o boletim inteiro.

 

Trajetória no Dieese
 

O DIEESE hoje, não tem uma publicação impressa regular. Editamos textos e publicamos eletronicamente. Poucas coisas hoje são impressas. O Boletim do DIEESE existiu até 2001. Sua elaboração era difícil, demandava muito trabalho. As pessoas não respeitavam prazo de entrega e não conseguíamos fazer os boletins no prazo. O ritmo de trabalho do DIEESE não é um ritmo de publicação, que eu estava acostumada lá fora, de fazer tudo muito rapidamente. O ritmo de trabalho do DIEESE era um ritmo mais técnico, um trabalho mais detalhista. As coisas demoravam a chegar; pouca gente conseguia entregar no prazo. O boletim tinha uma série de sessões: conjuntura, estudos e pesquisa, linha de produção, documentos sindicais, internacional. De fixo havia a divulgação do índice do custo de vida, da cesta básica e do mercado de trabalho. Essas três eram responsabilidades da imprensa. Primeiro, porque no caso da cesta básica e do ICV, fazíamos o release e um texto para divulgação. No mais, dependíamos daquilo que os técnicos produziam e encaminhavam. Internacional, eu acabava traduzindo; quase todos os textos de inglês, de francês, de espanhol. Não falo nenhuma dessas línguas, mas leio, razoavelmente todas elas, dava para fazer a tradução. E o resto dependia de quando alguém conseguia entregar o material. Nós cobrávamos muito, mas sempre parava aqui ou ali. Também existia a publicação, no boletim, do levantamento de acordos e de greves. O Emílio fazia o levantamento de greves e a Janete era responsável pelo levantamento dos acordos. Era escolher cláusulas e divulgar a greve, no boletim. Houve época em que foi um horror fazer o levantamento das greves. Mais de 300 greves em um único mês. Você precisava reproduzir os dados: nome da categoria, nome da empresa ou a data base, todas as informações. A publicação trazia todas essas informações de cada uma das greves. Quando eram 20, 30, 40 greves, tudo bem. Mas quando eram 300, era complicado fazer esse levantamento.

 

 

Cotidiano no Dieese

 

 

Ser jornalista no DIEESE é muito diferente do que ser jornalista em outra assessoria de imprensa. O assessor de imprensa, em geral, é mal visto no jornal porque ele é visto como um chato que está querendo obrigar ao jornal ou o meio de comunicação a divulgar aquele produto ou aquela empresa que ele representa. E daí você sempre tem um interesse conflitante. Agora, ser assessor de imprensa no DIEESE é diferente porque o DIEESE é fonte. A imprensa trata o DIEESE como uma fonte de informação, não como alguém que está vendendo produto. É uma vantagem ser assessor de imprensa no DIEESE porque nosso produto é a informação. Fazer divulgar indicadores, dados de mercado de trabalho, ou nossos trabalhos sobre piso salariais, sobre balanços de negociações, é uma coisa que tem grande receptividade na imprensa. Eles querem essa informação. A gente responde àquilo que a imprensa quer. E o nosso produto também é aquilo que a imprensa quer, que é a informação. Mas também teve gente que virou: "Ah, vocês só servem para atrapalhar." O DIEESE é um órgão do movimento sindical e, muitas vezes, ele tem que se equilibrar entre as diferentes posições do movimento. Se, por acaso, um jornalista quer colocar em cheque uma dessas posições, nos procura, não deixamos a história ir além para não gerar nenhum mal estar interno. Essa coisa existe, mas é pouco. Pouquíssimas vezes eu deparei com isso. Tivemos saias justas por outros motivos, porque um resolveu dizer uma bobagem a respeito do DIEESE; isso já aconteceu.

Uma vez, publicamos um trabalho e um jornalista publicou outros dados como sendo do DIEESE. Ele pegou uma tabela que não era a correta, daí toda a imprensa queria aqueles dados que tinham sido publicados no Jornal da Tarde. Mas os dados oficiais do DIEESE tinham sido publicados em artigo assinado na Folha de São Paulo. Tinha quem insistisse “o do Jornal da Tarde está mais interessante." Só que não era o que estávamos dizendo. “Está mais interessante para quem? Para quem está a fim de falar a verdade ou de quem está querendo usar uma informação de uma forma inadequada." Eu me lembro disso ter acontecido uma vez.

 

Importância da Comunicação
 

O Clemente [Ganz Lúcio] investiu muito na área de comunicação. Depois que instalamos a assessoria, passamos a ter importância dentro do DIEESE porque todo material a ser divulgado passa por lá. Todo material do escritório nacional, não das subseções. O material das subseções tem um canal próprio para divulgação. E, às vezes, gera saias justas porque o material chega à imprensa e jornalistas nos procuram atrás de dados que não temos, que chegaram por outro caminho, porque o sindicato tem uma forte presença na mídia, ou coisa que o valha. Mas o resto, todas as publicações de alguma forma passam na nossa mão, livros ou outras publicações que o DIEESE faz. Hoje, não temos uma publicação da assessoria do DIEESE, e publicamos notas técnicas, dados das pesquisas na internet. Não temos um canal para dizer: "Aqui vamos editar um texto de conjuntura, um texto de debate sobre um assunto qualquer do interesse do movimento sindical.” Uma coisa assim, não temos. É o que a gente se recente um pouco. O grande problema é que publicar custa muito mais caro, mas é um sonho. Quando tínhamos o boletim, avaliávamos que ele não dava conta do recado porque o movimento sindical não é muito de ler um texto técnico. Sentíamos isso. Chegamos a fazer algumas experiências de folheto, de tablóide, para tratar de assuntos específicos. Nunca tivemos fôlego para tocar um projeto real de revista que implicasse em ter ilustração... Em temos de uma publicação interna, a primeira idéia foi da equipe da assessoria, ainda em 87, 88. E o Barelli comprou porque fazia, principalmente, as subseções e os escritórios prestarem contas do que estavam fazendo. Fazíamos de forma amadora, usando a máquina de escrever, não era no computador. Usava a máquina, calculava o tamanho de coluna para reduzir ou ampliar no xerox (risos) para dar diferença de corpo, de box, essas coisas. Quer dizer, coisa de jornalzinho de estudante, de centro acadêmico.

O Clemente já tinha sido da coordenação antes de ser diretor técnico. Ele instituiu um negócio chamado 2000. Começou em meados da década de 90, apontando para o DIEESE no ano 2000. Foi todo um processo que não foi só na imprensa. O projeto DIEESE 2000. E ele estava integrado nisso. Quando o Clemente voltou à coordenação, o 2000 no COMseqüência, que tem esse nome justamente por ser conseqüência do 2000. Trata-se de uma divulgação interna que vai para a equipe e para a direção sindical do DIEESE. Antigamente, ele era só para a equipe. Agora ele vai para a direção sindical do DIEESE. Tentamos fecha-lo às quintas-feiras. É semanal, exceto em períodos como dezembro, janeiro, porque tem pouca coisa acontecendo. Ele tem essa flexibilidade. Mas é semanal na maior parte do ano. Só o dia que às vezes varia.

 

 

Cotidiano de Trabalho

 

 

Costumo chegar ao meio-dia, exceto quando temos entrevista coletiva marcada. Por exemplo, essa semana agora, dia 26 [de setembro de 2006], tem a entrevista coletiva da divulgação da PED [Pesquisa de Emprego e Desemprego]. Ela não é aqui no DIEESE, é na Fundação Seade, que é nossa parceira nessa pesquisa.

A minha opção é entrar por volta do meio-dia e ficar trabalhando até oito e meia, nove da noite. Eu prefiro, eu gosto de trabalhar até mais tarde. Acho que eu aprendi isso sendo jornalista. Eu me habituei com a idéia de trabalhar mais à noite, inclusive porque fica muito mais tranqüilo para atividade que não depende da demanda externa. Os jornalistas nos procuram mais no período da tarde. Só corre atrás do material no período da tarde. No começo, inclusive, fazíamos as coletivas à tarde porque não adiantava fazer de manhã. Jornalista não aparecia. Agora, aos poucos é que eles foram mudando. Mesmo assim, existem publicações que não comparecem pela manhã. Quando você tem jornalistas setorizados, eles cobrem a divulgação de manhã. Hoje com a internet, as coisas mudaram. Um dia, numa coletiva, um jornalista chegou dizendo: "Ai, eu levei um furo." "Como, um furo? A coletiva está começando." "Mas é on-line. Eu já tinha que ter passado os dados." Aí é que eu acordei. Porque dentro da assessoria você não se toca tanto por isso. É on-line. Uma matéria que vai ao ar simultaneamente, se passou cinco minutos, já perdeu a atualidade para quem está na internet, com todos os portais da internet informando. Essa é a urgência que hoje tem no jornalismo.

Um dia, tivemos uma coletiva, um jornalista chegou dizendo: "Ai, eu levei um furo." "Como, um furo? A coletiva está começando." "Mas é on-line. Eu já tinha que ter passado os dados." Aí é que eu acordei. Porque dentro da assessoria você não se toca tanto por isso. É on-line. Uma matéria que vai ao ar simultaneamente, se passou cinco minutos, já perdeu a atualidade para quem está com todos os meios da internet. Todos os portais da internet informando. Essa urgência que hoje tem no jornalismo.

Os nossos indicadores, infelizmente, não são mais tão fundamentais quanto eram há alguns anos. Tem muito mais indicadores. Por exemplo, o custo de vida, infelizmente, hoje está com uma ponderação antiga, não reflete tanto a realidade atual de consumo, não dos preços. Porque o comportamento dos preços acaba sendo parecido, independente da idade da ponderação. Mas de consumo, existem coisas que nossa pesquisa não tem. Celular, por exemplo, não é uma coisa que a gente acompanha. Então isso tira um pouco da importância do indicador.

 

Importância do Dieese
 

Hoje o DIEESE continua sendo respeitado. As divulgações, as publicações do DIEESE continuam sendo respeitadas. Aquilo que a gente fala é respeitado. O que ele perdeu, talvez, tenha sido em alguns aspectos junto à própria mídia. Porque a mídia tem os seus próprios critérios de valorização. Tem momentos em que eles [os jornalistas] voltam correndo. Na semana passada, lançamos um estudo sobre jovens. Todo mundo veio correndo atrás da informação, dos dados. No dia seguinte, estava em manchete na Folha de São Paulo. Quem não fez no dia, saiu correndo no dia seguinte. Porque o dado foi super importante. Continuamos com a capacidade de fazer coisas desse tipo, e de dar esse destaque.

Com relação aos indicadores, a imprensa acaba priorizando um ou outro. O DIEESE tem um índice do custo de vida, por exemplo, que é de São Paulo. Hoje existem vários indicadores que abarcam mais localidades. Isso deixa o do DIEESE um pouco menos importante. Outro indicador que é só de São Paulo, no caso do custo de vida, é da Fipe [Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas], que lança dados toda semana. Nós não. Lançamos dados uma vez por mês. Hoje, para revitalizar o índice, teria que mudar muita coisa. Porque ele está com uma ponderação antiga, de 94, 95.

 

 

Futuro do Dieese

 

 

O DIEESE sempre tem áreas para atuar, onde se desenvolver. Mesmo com o movimento sindical numa maré não tão alta, digamos assim, como formador de opinião. Eu sinto que os jornais eliminaram as editorias específicas, ou os jornalistas especialistas em área de sindical, de trabalho. Eles estão fazendo uma coisa mais geral na Economia, menos direcionado. Houve uma época em que tudo era muito direcionado, e hoje não mais. Poucos jornais, raríssimos, têm algum jornalista que trata especificamente desse tema, mas em geral porque tratava antes, e hoje faz junto com outras coisas. Não tem esse direcionamento. Pelo menos, até onde eu estou vendo. Não sei, pode ser que eu esteja meio vesga para o que está acontecendo.

Mesmo assim, as informações do DIEESE saem muito na mídia. Os clippings que temos sempre mostram a repercussão do que fazemos principalmente em questões com características regionais. As regiões costumam fazer algumas divulgações específicas, com coisas mais voltadas para aquela região. Acho que a penetração do técnico do DIEESE nas regiões talvez seja até maior do que aqui [em São Paulo]. Estamos em 16 estados. Boa parte desses estados não tem um plantel de formadores de opinião. Um técnico do DIEESE é um formador de opinião. Aqui em São Paulo, tem ocasiões em que é muito procurado e ocasiões em que é menos procurado. Assuntos em que eles continuam correndo atrás e assuntos que eles esquecem. Tem essas coisas. Mas é que nós somos a sede. Tem alguns jornalistas que ligam para você, querendo falar com o Clemente. Mesmo se o Clemente não está, se o Clemente não pode falar, tem aqueles que torcem um pouquinho o nariz. Tem outros que aceitam tranquilamente, principalmente, se você dá um status para o técnico que vai falar: "Ah, ele é supervisor” “Ele é coordenador da pesquisa". Se ele é coordenador já dá um peso maior e a pessoa acha legal falar. Não faz muito tempo, tivemos uma experiência dessa. A pessoa queria falar com o Clemente. Mas o assunto: "Olha, tem uma pessoa que está coordenando uma pesquisa. Ainda não temos resultados, o resultado vai sair mais para frente." Daí não queria mais o Clemente. Queria o coordenador.

 

Avaliação/Dieese
 

O fato de você ter uma instituição onde grande parte da equipe está há 20, há 15, há 30 anos, não é uma coisa tão comum, hoje em dia. E no jornalismo, particularmente, isso é muito raro. Muitos jornalistas até defendem a rotatividade. Eu nunca gostei. Nem pelo meu lado pessoal, porque pessoalmente eu odeio me imaginar sem emprego; nem pelo lado da constante transformação. Eu acho que as transformações podem ocorrer dentro do mesmo ambiente. Se eu for pensar hoje, esses 24 anos, com certeza a transformação que houve dentro do DIEESE foi muito grande. Inclusive eu mudei de função. No começo, a gente levava trabalho para casa; vira a noite trabalhando, se for necessário. Eu me lembro de uma vez que houve um pacote econômico. Eu entrei no DIEESE, no domingo, às cinco horas da tarde para finalizar o trabalho que tinha sido discutido no fim de semana. Éramos eu e o Emílio. Nós saímos do DIEESE na segunda-feira, às seis horas da tarde, depois de ter trabalhado a noite inteira com trabalho, corrigido dados, acompanhamento de coletiva. Isso já aconteceu muito no DIEESE. Ainda tem gente que faz coisas parecidas em determinados momentos. Então, a gente faz, a gente leva serviço, se for necessário, dobra a jornada. Eu sou contratada por seis horas. Raro é o dia em que eu faço seis horas. E sempre foi assim. O dia que eu entro às nove horas da manhã, porque tem coletiva, eu continuo trabalhando até as oito, nove horas da noite. E o DIEESE reconhece isso, tem a sensibilidade.

O DIEESE viveu algumas crises. É um lugar onde ninguém tem grandes esperanças de ter uma ascensão salarial, as pessoas têm que se empenhar porque se identificam com ele. É por isso que tem tanta gente com mais de 20 anos de casa. Ninguém ficou rico dentro do DIEESE. E não vai ficar rico, em hipótese alguma. Só se ganhar na loteria lá fora. Não dentro do DIEESE. Então é só mesmo com identificação com aquilo que está fazendo. Não sei se as novas pessoas que estão entrando têm a mesma perspectiva. Eu tinha. Eu era uma pessoa de esquerda, que atuou na esquerda. Mesmo que não tenha sido nenhuma ponta de lança nessa área, tive militância. Para essas pessoas, o DIEESE era uma militância remunerada. Mesmo que a remuneração fosse inferior àquilo que a gente achasse o ideal em algum momento. Para quem tem essa trajetória de vida é difícil não ter essa identificação com o DIEESE. A minha dúvida é realmente com relação à turma mais nova, que já entra em uma outra realidade democrática. Nós passamos pela Ditadura. Tivemos todo um outro tipo de percurso antes de chegar no DIEESE.

 

 

Avaliação/Trajetória de Vida

 

 

Eu não sei se eu já tirei alguma lição de vida. Eu acho que ela vai se somando no dia-a-dia. E eu ainda não quis parar. Aprendi, claro, a lidar com certas técnicas dentro do DIEESE. Algumas até superadas. Eu aprendi a operar telex, que é coisa que não existe mais. Quando o DIEESE arrumou um telex eu operava. Não sei se eu já pensei em fazer esse balanço. Porque eu acho que as coisas vão acontecendo a cada dia. Já houve um momento em que eu tive vontade de pegar o meu boné e ir embora. Acho que todo mundo passa por certos momentos em que cansa. Que quer uma coisa diferente. Mas, por outro lado, eu era tolhida pelo meu pavor pessoal de desemprego. Daí passa essa fase, você volta a fazer todo o esforço possível para tocar o serviço da melhor forma. Eu, pelo menos, sou assim.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Acho que sou remanescente de uma parte da história do DIEESE. Isso não dá para negar. Se assessoria existe no DIEESE, eu participei desde a criação dela, sou a única que continua. Tenho uma parte nessa história, com certeza. A relevância dela é que eu não sei se é tão grande assim. Mas é legal pensar que a gente pode, de alguma forma, tocar a bola para frente. Porque a memória é o passado, mas ela também deve trazer coisas para o futuro. Eu acho que aprendemos no passado, com o passado, para ir para frente, para seguir adiante. Nesse sentido, eu acho que é legal estar participando disso. Muito legal. Eu quero ver mais tarde como é que está isso.

 

 

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