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Laerte Teixeira da Costa

laerte_teixeira_da_costaHistória de Vida

Identificação

Meu nome é Laerte Teixeira da Costa, nasci em José Bonifácio, uma cidade próxima de São José do Rio Preto, estado de São Paulo, em 25 de abril de 45.

 

 

Família

 

 

Meu pai é Sebastião Teixeira da Costa e minha mãe, Olívia Domingues Costa. Lembro dos avós paternos e de minha avó materna. Quando eu nasci, meu avô materno já havia falecido. Meus avós paternos eram mineiros e vieram para desbravar o chamado sertão paulista. Eles trabalhavam na roça. Todos eles compararam terras naquela região de São José do Rio Preto. Derrubaram mato e plantaram café, no começo do século passado, 1920, 1930. E depois foi feita uma inversão, vieram para a cidade a partir do êxodo rural, na década de 60.

Tenho quatro irmãos. Uma irmã que é administradora de empresas e já está aposentada. Tenho um irmão que é gerente de uma indústria de reciclagem em São José do Rio Preto e outro pensionista do INSS. E a minha mãe, com 80 anos, está aposentada. Tenho uma irmã ainda, que está em Campinas, e é advogada.

 

 

Infância

 

 

Passe minha na região de São José do Rio Preto. Só uma vez que eu saí de Rio Preto, fui a Curitiba gerenciar uma indústria de fertilizantes. Fiquei três, quatro anos e voltei para São José do Rio Preto. Acho que tive uma infância muito boa. Primeiro, eu nasci na roça. Então, os primeiros sete anos de vida, eu fiquei no sítio com meus pais. Meus pais eram proprietários rurais e nosso sítio era na divisa de José Bonifácio. Depois quando eu fiz sete anos, meu pai disse o seguinte: “esses meninos precisam estudar”. E aí mudamos para Mirassol, que é uma cidade muito próxima de Rio Preto, 12 quilômetros. Mas depois tivemos uma fatalidade na família: meu pai morreu assassinado. Foi o primeiro crime que existiu no interior do estado de São Paulo contra motorista de táxi, que naquele tempo chamava-se chofer de praça. E aí a vida se transformou. Mudamos para São José do Rio Preto. Passei a trabalhar com 14 anos de idade e não parei mais.

Meu pai era um homem muito ativo e a casa era sempre cheia de parentes. Nos reuníamos nos natais. Eu me lembro claramente disso, que eram momentos muito felizes, muito agradáveis junto com os primos. Havia uma convivência familiar muito intensa.

 

 

Estudos

 

 

Em Mirassol, fiz o Grupo Escolar - naquele tempo o Primeiro Grau chamava-se Grupo Escolar - a gente estudava, caçava passarinho, jogava futebol. Essas coisas que todas as crianças fazem. Talvez hoje com mais dificuldades, porque antigamente a gente podia ficar na rua, jogar futebol e hoje talvez já não seja tão fácil fazer isso.

Não me recordo bem, mas me lembro dos amigos, dos colegas, que nadavam e caçavam juntos. Não tenho muitas lembranças da escola. Acho que eu não era muito bom aluno.

 

Família

O meu pai tinha um agudo sentido político. Apesar de ser motorista de praça, de ter nascido na roça e sido sitiante, ele tinha um agudo sentido político, participava da política.

Eu me lembro que na eleição do Getúlio, acho que foi 1950 - tinha quatro ou cinco anos, mas me lembro claramente disso – ele foi ver o comício do Getúlio em São José do Rio Preto. Nós morávamos no sítio, e eu me lembro de estar de cavalinho nas costas dele e nós assistirmos ao comício do Getúlio Vargas. Não me esqueci dessa imagem apesar de ser muito criança. Então, ele tinha um agudo sentido político. Já quando morávamos em Mirassol, ele foi muito “anti-ademarista”. Ele foi uma pessoa muito rigorosa e achava que o Ademar tinha envolvimentos ilícitos na política, com corrupção etc. Ele foi “janista” na primeira hora, Jânio Quadros. Depois se decepcionou também, mas enfim, tinha um agudo sentido político. Mas nós não tivemos nenhum sindicalista na família, não tivemos assim nenhuma atividade que indicasse que eu me tornaria sindicalista.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

Na verdade, eu comecei a trabalhar com 11, 12 anos. Mas com 15, eu tive meu primeiro registro, que foi nas Indústrias Matarazzo, já em São José do Rio Preto. Mas antes eu tinha trabalhado em farmácia, em escritório de contabilidade, vendendo fruta na rua, essas coisas que criança faz. Fui engraxate também. A vida ficou muito difícil depois que meu pai faleceu, porque meu pai não pagava a aposentadoria do pessoal de transporte, lá no interior não se pagava isso. Então, minha mãe ficou viúva, com cinco filhos e todo mundo teve que trabalhar. Houve uma transformação do ponto de vista da necessidade, porque meu pai era o provedor, colocava as coisas dentro de casa. No momento em que ele faltou, nós tivemos que fazer isso. Então eu trabalhei, aprendi muito, principalmente em escritório de contabilidade. Eu tenho uma dívida enorme com o escritório de contabilidade onde trabalhei, porque ali aprendi tudo quanto é coisa: fazer livro contábil, escrever, essas coisas. Depois trabalhei nas Indústrias Matarazzo, mas ainda não fui para sindicato nesta época. Depois eu fui para o Banco Comind, Banco Grupo Comércio e Indústria, lá comecei minha trajetória sindical.

 

 

Trajetória Sindical

 

 

Eu tinha um amigo que era presidente do sindicato dos bancários, que acabou me levando para o sindicato. Inicialmente fui militante do sindicato dos bancários em São José do Rio Preto, naquela ocasião o presidente era o Eribelto, que já faleceu, chegou a ser presidente aqui na Federação dos Bancários.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Sempre estudei. Uma das coisas que minha mãe exigiu de todos lá em casa e esse foi talvez o principal talento dela naquele momento de dificuldade, foi exigir que os filhos não parassem de estudar. Fiz o ginásio comercial e depois curso técnico de contabilidade no Senac e me transformei em contador. E, em função disso, sempre estudando e trabalhando, acabei entrando no curso superior e me formando. Fiz Economia e Direito. Sou economista, advogado e contador. Tudo estudando a noite.

 

Trajetória Sindical

Era uma época já um pouco rica, porque coincidiu com 64, 65, com a militarização do Brasil, com a ditadura militar. E nós tínhamos uma militância de estudantes contra o regime militar. Talvez a presença no sindicato tenha sido muito mais em função da necessidade de combater a ditadura, de fazer um trabalho político de redemocratização, porque o sonho da gente era ver o país democrático. Minha primeira atividade de militância sindical foi nos bancários. Depois saí do banco e fui trabalhar numa agência de automóveis, já como contador. E aí pela primeira vez eu tive um cargo sindical: fui diretor suplente do sindicato dos comerciários de São José do Rio Preto, cujo presidente era o Paulo Lucania, que hoje é presidente da Fecesp, a Federação dos Comerciários. O Paulo, que na época era presidente do sindicato dos comerciários me levou pra lá, por conhecer a minha militância no sindicato dos bancários e a minha atuação como estudante, pois fui diretor do grêmio estudantil.

 

 

Formação Sindical

 

 

Em 65, por força dessas circunstâncias todas, eu fui convidado para fazer, aqui em São Paulo, um curso do Instituto Cultural do Trabalho, antigo ICT. Um curso de três meses, muito importante e consistente da época, com professores da USP. E eu aprendi muito nesse curso. Mas nunca tive uma vida inteiramente voltada ao sindicalismo. Fui presidente de diretório acadêmico, quando fiz faculdade de economia, mas em nenhum momento focado na área sindical. Isso veio a acontecer muitos anos depois.

 

 

Trajetória Política

 

 

Eu fui do MDB, antigo Movimento Democrático Brasileiro, e cheguei a ser eleito vereador. Fui eleito vereador em São José do Rio Preto em 1976. Fui vereador por quase 20 anos na minha terra, mas tudo sempre dentro da história da redemocratização, idealismo de ver um país democrático. Naquele tempo só tinha dois partidos: Arena e MDB. E nós entramos todos na oposição, no MDB. Na verdade, não tinha muita escolha. Nunca fui militante de uma organização de esquerda consolidada, com exceção do MDB, mas participei de muitas reuniões na minha terra do Partidão, da AP. Acabei não entrando por circunstância das dificuldades daquela época, havia uma vigilância muito grande, depois veio o AI-5, e tudo ficou mais difícil. E como eu não militava, acabei me elegendo vereador e fui levando, fui tocando.

 

 

Educação/Formação Sindical

 

 

A primeira ocasião em que tive contato com o DIEESE foi nos cursos de formação sindical. Acho que cheguei a fazer algum curso de formação no DIEESE, não me lembro exatamente qual, mas a gente fazia muita reunião no DIEESE. Muitas vezes também o DIEESE realizava palestras lá na minha terra. Passei a ter um contato mais íntimo com o DIEESE quando o Barelli foi o Diretor Técnico. Mas foi mais ou menos acidental, não foi nada programado. Mais pela necessidade. Como o DIEESE atuava no movimento sindical e eu estava no movimento sindical, acabei fazendo parte de seminários, cursos, encontros, palestras. Quando me tornei presidente da CAT (Central Autônoma dos Trabalhadores) minha relação com o DIEESE ficou mais intensa.

 

Trajetória Profissional

Na verdade, tem algumas coincidências na minha vida, alguns acasos, porque a vida também é feita de acasos. Quando o Montoro se elegeu Governador eu estava no PMBD, ele, através do Ministro do Trabalho, Almir Pazzianoto Pinto, me convidou para chefiar a Secretaria do Trabalho da minha terra. E eu promovi um intenso trabalho de revigoramento dos sindicatos locais e também de constituição novas entidades em algumas categorias que não tinham sindicatos. Nessa altura eu já era contador em indústrias de confecção, pois lá em Rio Preto existiam muitas e eu era contador especializado na área financeira. Um dos sindicatos que formamos foi na área da indústria de confecção. Eu iniciei como militante, depois como vice-presidente e posteriormente como presidente.

 

 

Centrais Sindicais

 

 

Nessa altura, o Eribelto, que tinha me levado para o sindicato dos bancários, tinha assumido a federação e também a CAT, que na época não era central, era Coordenação Autônoma de Trabalhadores. A CAT tinha o objetivo de ser uma tendência tanto dentro da CUT, quanto da CGT, que foram as duas centrais que apareceram no CONCLAT. Até então, as centrais brasileiras não tinham filiação internacional. O Eribelto, que foi trazido pelo Rui Brito de Oliveira Pedroza, membro do comitê executivo da CLAT (Confederação Latino Americana de Trabalhadores). E nós tínhamos uma ligação com a CLAT e CMT (Confederação Mundial de Trabalho). A CLAT era uma coordenação. Quando o movimento sindical começou a ficar um pouco mais plural, as centrais brasileiras também se ligaram a outras centrais internacionais. A CUT foi para CIOSL/ORIT e a CGT acabou rachando e também foi para CIOSL/ORIT. Depois surgiu a Força Sindical, talvez como um braço da própria CGT. E a CLAT e a CMT ficaram sem representação, porque todos foram para a CIOSL/ORIT. E aí nós começamos a pensar em transformar a CAT de Coordenação em Central. E isso foi feito em 1995, 8 de dezembro de 1995. A CAT foi fundada com o propósito de se ser uma representação da CLAT e CMT no Brasil. Eu participei da fundação da CAT central, mas já participava quando ela era coordenação, fui seu primeiro presidente.

O IPROS nasceu primeiro do que a CAT. Quando o pessoal que era ligado à Central Latino Americana de Trabalhadores começou a atuar no Brasil, fazer curso, etc., precisava de uma instituição. Em 1981, na época do CONCLAT se criou o IPROS. O IPROS é uma das primeiras ONGs do universo sindical. Foi criado em 81. Quando surgiu a Comissão Pró-CUT e a CGT, se criou o Instituto de Promoção Social. A CAT veio depois do IPROS. O IPROS foi o organismo que recebia recursos de projetos internacionais, de onde vinha o dinheiro da CLAT. O Rui Brito foi presidente por longo período do IPROS e eu vim a substituí-lo. Nossa ONG funciona até hoje, é um Instituto de formação, organização de eventos, já tem 25 anos, e é uma ONG de muito prestígio e tem um leque de convênios com várias organizações internacionais. Tem convênios com a Bélgica, com a Holanda, com o ILACT da América Latina, com o ICASUR da Argentina.

 

 

Parceria

 

 

O primeiro serviço que a CAT contratou do DIEESE foi a elaboração de um livro (cartilha) sobre a Reconversão Produtiva no Brasil. Isso se deu por meio do IPROS. Este trabalho foi muito importante e deu prestígio à CAT e ao IPROS, no sentido de ter feito um trabalho junto ao DIEESE, um trabalho de peso, que foi muito útil ao movimento sindical brasileiro. Independente dos cursos de formação, dos encontros, dos convites que a gente recebia do DIEESE para participar das suas atividades, esse foi o primeiro grande trabalho que a gente fez com o DIEESE. E esta parceria não parou mais.

 

Importância do Dieese

Existem poucas invenções brasileiras bem sucedidas nas áreas institucional e sindical e o DIEESE é uma delas. O DIEESE foi pioneiro, e deu certo. Deu tão certo que hoje a gente vê alguns países querendo imitar, querendo fazer alguma coisa igual ao DIEESE. Acho que essa nossa experiência com o DIEESE, deveria ser reproduzida em outros países.

O DIEESE cresceu, se agigantou, porque foi capaz, em toda a sua história, em todos os seus 50 anos, de separar o que era política sindical da formação sindical. Isso parece pouco, mas não é. É uma coisa difícil no sindicalismo separar o projeto de formação das circunstâncias políticas, dos matizes políticos do movimento sindical. E o DIEESE na sua história conseguiu separar isso. Naturalmente, isso só foi possível pelo conjunto de pessoas que comandaram o DIEESE. E é importante que isso seja bem caracterizado, porque é realmente um dos motivos do sucesso.

 

 

Avaliação/Dieese

 

 

O DIEESE é a inteligência do sindicalismo brasileiro. Acho que o sindicalista brasileiro é o sindicalista de base, que saiu do chão da fábrica. Não são todos, por exemplo, que tiveram oportunidade de fazer curso superior, como eu tive, mesmo à noite, com dificuldades. Então o DIEESE supre essa falha que a maioria de nós temos, quando saímos do chão da fábrica, do escritório, de algum lugar para vir para o sindicato. A gente não tem uma formação adequada para dirigir um sindicato, para fazer uma luta sindical, para fazer um processo reivindicativo com consistência e com qualidade. Aí entra o DIEESE, essa inteligência. O que falta ao movimento sindical, o DIEESE supre. O DIEESE, ao separar a questão política da formação, da informação e da assessoria, juntamente com essa capacidade de se tornar a inteligência sindical do Brasil, acabou sendo muito eficiente. E hoje não dá para pensar mais no sindicalismo brasileiro sem o DIEESE. Tenho a impressão que o sindicalismo hoje, sem o DIEESE, seria um sindicalismo vesgo. Alguma coisa olhando para o lado errado. O DIEESE hoje é imprescindível ao movimento sindical. Acho até que ele tem pouco apoio deste movimento, deveria ter muito mais. O DIEESE é uma instituição que luta pela sobrevivência, dependendo muitas vezes de convênios governamentais, que depende de uma série de circunstâncias, causando em muitas ocasiões, a desestabilização financeira da instituição.

 

 

Desafios

 

 

O movimento sindical tem que ajudar mais o DIEESE. Eu faço parte desse grupo que acha que o DIEESE necessita de um apoio financeiro mais consistente das organizações sindicais. O DIEESE não pode depender de recursos provenientes de convênios com os governos para sobreviver. Isso tem dado certo, mas não sabemos até quando isso funcionará bem, há muita instabilidade. Algumas pesquisas que o DIEESE realiza, como a pesquisa de emprego e desemprego, recebem recursos do FAT. Não sou contra isso, mas acho que a maior parte do financiamento do DIEESE, deveria vir do movimento sindical.

 

Avaliação/Movimento Sindical

Eu vejo o movimento sindical brasileiro como um movimento muito conservador. Em que pese o fato do DIEESE ser uma organização de vanguarda, criada pelo movimento sindical, de resto, na sua maior parte, o movimento sindical é conservador. Hoje grande parte do movimento sindical acha que não se pode mexer na CLT, não se pode mexer na forma de financiamento da atividade sindical, não se podia mexer na justiça do trabalho, não se pode mexer na pirâmide sindical brasileira. E isso é de 1943, da consolidação das leis do trabalho - CLT. E quando chama Consolidação das Leis do Trabalho, significa que a lei foi consolidada em 1943, mas que muita coisa está ali desde o começo do século, desde o início da República, que foi consolidada em 1943. Então, é uma legislação antiga, arcaica, que mereceria uma revisão. Essa opinião não é da maioria dos sindicalistas brasileiros, mas eu acho que mereceria uma revisão, uma modernização. E no caso do próprio sindicalismo brasileiro, ele mereceria estar mais próximo das convenções da Organização Mundial do Trabalho.

 

 

Organizações Sindicais Internacionais

 

 

A CAT estava ligada até novembro de 2006 à Central Latino Americana dos Trabalhadores, em termos continentais e à Confederação Mundial do Trabalho, em termos mundiais. Como houve a união de CIOSL e CMT, Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres se uniu com a Confederação Mundial do Trabalho, surgiu no lugar a Confederação Sindical Internacional, a CSI. Então a CAT, a CUT, a Força Sindical, a CGT e a SDS fazem parte dessa mesma liga. Essa vinculação dos sindicatos brasileiros com organizações mundiais é um pouco recente. É mais antiga a vinculação dos setores com as chamadas “Organizações Setoriais, como por exemplo, a FITIM dos metalúrgicos, UITA da alimentação, entre outras. Há um projeto, um processo de fusão internacional muito grande. Não é só a fusão da CMT e CIOSL, mas também a fusão das setoriais. A filiação das centrais – e as próprias centrais são experiências novas no Brasil, vêm da década de 80, não faz ainda três décadas – a própria filiação das centrais brasileiras com as centrais internacionais são da década de 90, da década passada. Então, é uma coisa muito recente. Agora que nós estamos compreendendo mais e melhor esse jogo. Mas uma verdade tem que ser dita: o sindicalismo internacional vai ser cada vez mais importante. Por quê? Porque hoje as multinacionais, as organizações transnacionais, elas mudam de um país para o outro, elas vão onde a mão-de-obra está mais barata, onde as leis são mais favoráveis. Enfim, para essa economia global, só um sindicalismo global. Então, a globalização da economia exige um sindicalismo cada vez mais internacional, cada vez mais globalizado, senão não teremos como enfrentar essa mobilidade das organizações transnacionais.

 

 

Importância do Dieese

 

 

O DIEESE cumpriu algumas etapas. Eu acho que hoje o DIEESE é uma organização da sociedade brasileira, não é mais só do sindicalismo. Hoje a pesquisa de desemprego, as publicações do DIEESE, os convênios que o DIEESE tem com Universidades, transformaram o DIEESE numa organização brasileira. O DIEESE hoje tem uma atuação que transcende o movimento sindical, que ultrapassa a ação sindical. Acho que o DIEESE deve seguir essa linha, como organização social, da sociedade brasileira, que transcenda o movimento sindical, mas que não se desvincule dele. Que seja sempre uma organização a serviço da sociedade brasileira, em sua maioria, os trabalhadores.

 

Educação/Formação Sindical

Acho que o DIEESE pode aperfeiçoar a questão da formação. Há uma sofisticação do processo de formação sindical no mundo. Aqueles cursinhos em que se aprendia as coisinhas do dia a dia de um sindicato, isso, eu tenho a impressão que ainda é útil, mas nós precisamos dar um salto de qualidade nessa formação sindical. Hoje, o líder sindical precisa ter uma formação de caráter econômico, financeiro, sociológico, que tenha uma amplitude maior, que não seja muito umbilical. Umbilical, no sentido de só olhar a sua categoria. Tem que olhar a sociedade. Eu dou um exemplo: se você é de um sindicato, por exemplo, da área de transporte. E você quer aumento para os seus trabalhadores, mas ao mesmo tempo você admite o aumento no preço da passagem, você é um sindicato que está trabalhando para os seus trabalhadores, mas está trabalhando na contra-mão da sociedade. Quer dizer, não podemos prejudicar os nossos companheiros, os nossos trabalhadores, mas temos que ter responsabilidade na nossa atuação e não deixar a sociedade de lado. Acho que o DIEESE pode prestar um serviço muito grande nessa área, dizer: “isso é possível, aquilo não é”. A formação sindical tem que passar por essa abrangência sindical e enxergar o Brasil e a sociedade como um todo.

 

 

Técnico X Sindicalista

 

 

Esse é um dos motivos do sucesso do DIEESE. A diretoria técnica e seus técnicos ficaram protegidos das interferências políticas-partidárias e das circunstâncias que permeiam esse universo sindical. Então, no momento em que a formação, a assessoria foi fornecida pelos técnicos do DIEESE, eqüidistante das questões político-sindical, isso teve mais eficiência. Teve mais eficiência e menos envolvimento. E o menos envolvimento fortaleceu a eficiência.

 

 

Assessoria/Negociação

 

 

Se você leva um técnico do DIEESE na negociação, os patrões respeitam. Se você chega na negociação, acompanhado de um técnico do DIEESE, o patrão pode levar qualquer assessoria – a Fiesp tem assessorias econômicas de grande talento – mas quando têm diante de si técnicos do DIEESE, o respeito é outro. Acho que são inúmeras as contribuições do DIEESE nas negociações coletivas do país. Esse tipo de assessoria em negociações coletivas foi fundamental para o movimento sindical, sobretudo no período de alta inflação. Hoje não existe mais esse período de alta inflação, mas naquela época ela foi fundamental, porque você tinha um aumento de salário percentualmente muito generoso, entre aspas, e de repente, dois meses depois isso não valia mais nada, porque a inflação já tinha comido seu salário. Por isso, quando a gente conversa sobre essa questão de inflação, “Deus me livre”, nós que somos mais velhos, – a memória da inflação ainda está muito presente. Então, nada substitui a estabilidade da moeda, acho que é muito importante, e essa também é uma das tarefas do DIEESE. Quando o governo estiver começando a entrar no canto daqueles que acham que poderia ter uma inflação um pouquinho maior para ter um crescimento um pouquinho maior, isso está errado. Acho que nós devemos controlar a inflação, acima de qualquer coisa. Controlar a inflação, e fortalecendo o salário mínimo, que foi um dos grandes trabalhos do DIEESE.

 

Salário Mínimo

Eu lembro da atuação do Zaia, que é vice-presidente da CAT. Quando o David Zaia foi presidente do DIEESE, uma das bandeiras foi o salário mínimo. Naquele momento o DIEESE começou a trabalhar mais firmemente essa questão do salário mínimo. O atual governo [Governo Lula] deu uma valorização maior ao salário mínimo, e talvez tenha sido reeleito por isso, por ter aumentado o poder de compara do trabalhador. Isso é muito importante: controlar a inflação, subir o salário mínimo, fazer com que as camadas mais desfavorecidas ou mais pobres possam adentrar à área de consumo. Eu acho que é o ideal. A gente não pode sucumbir ao canto de uma inflação maior.

 

 

Futuro do Dieese

 

 

O DIEESE é uma entidade que cresceu e se consolidou. Como toda entidade que cresce e se consolida, ela tem sobre si os olhares da sociedade e não pode falhar mais. Então, o DIEESE tem agora que se aperfeiçoar. Aperfeiçoar seus serviços e continuar sendo um produto de excelência. Eu acho que essa vai ser umas das maiores dificuldades do DIEESE nas próximas décadas. Eu estou dizendo próximas décadas, porque acredito que o DIEESE é uma instituição perene. E nós todos devemos fazer do DIEESE uma instituição perene, interminável no tempo. Que daqui a 50, 100 anos, o DIEESE exista, cada vez mais forte, cada vez mais pujante e cada vez mais eficiente. Então, a grande tarefa do DIEESE agora é conservar o nível de excelência.

 

 

Família

 

 

Minha esposa chama-se Regina. Eu tenho dois filhos: o Alex e o Marcelo. O Marcelo é o mais velho e é engenheiro. O Alex é o mais novo e é médico. Ambos são solteiros. Tenho uma família feliz, graças a Deus, que só se recente desse sindicalista que viaja muito. Tenho cargo na CLAT, tenho cargo no Conselho de trabalhadores do Cone Sul, tinha cargo na CMT e agora tenho cargo na CSI. Sou do conselho da CSI nessa nova Internacional Sindical. Então tenho muitas atividades dentro do Brasil, fora do Brasil e viajo muito. Mas eu tenho como lema, mesmo que viaje muito, onde eu estou, não sei como faço, mas preciso estar o fim de semana em casa. É um dos contratos que eu tenho com minha mulher. Mesmo que a gente esteja com muitas atividades, passar o fim de semana em casa é sagrado. E eu faço isso com muita alegria.

Minha mulher também tem uma atividade muito intensa. Ela foi funcionária de uma estatal, da Companhia Paulista de Força e Luz, já está aposentada, mas além de ser formada em letras, é jornalista, e produz uma revista. Esta revista está um pouco ligada a área sindical. Mas, evidente que às vezes passa o tempo e quando você vê, seus filhos cresceram. E a gente tem que confessar que muitas vezes a gente falha na educação dos filhos, às vezes por omissão, às vezes por ausência. Mas a gente procura de alguma forma resolver isso. Eu me lembro de uma ocasião, levando ao dentista, ele falou assim: “se já levou teu filho para pescar?” Falei: “já, duas vezes”. “E quantos anos ele tem?” “12”. Na época, tinha 12. Ele disse: “é uma média boa, uma pescaria a cada seis anos”. Eu parei para pensar. Ele me deu uma lição. Não é média nenhuma, se fosse uma a cada seis meses tudo bem, mas não a cada seis anos. Melhorei um pouco depois daquela vez.

 

Avaliação/Trajetória de Vida

O DIEESE serviu se espelho para a minha atuação junto ao IPROS (Instituto de Promoção Social), que é uma ONG da CAT. Procuramos ficar alheios a essas questões de ingerência política, procurando entregá-las aos técnicos de formação do IPROS. E isso deu certo. Eu acho que foi uma lição que o DIEESE deu a nós. Nós nos espelhamos no DIEESE para constituir o IPROS, de forma que ele não tivesse essa contaminação da política sindical. E o IPROS sobrevive bem em função disso. Acho que foi um espelho.

 

 

Avalição/Projeto Memória

 

 

Acho importante que o DIEESE venha resgatar essa memória. Porque toda organização bem sucedida, como é o DIEESE, precisa ter como mostrar às gerações futuras como isso se deu, como se fortaleceu. Então eu acho que o DIEESE faz bem em reavivar essa memória. Ouvir pessoas que ainda estão aí, atuando, como no caso do Tenorinho, por exemplo, que é uma figura extraordinária e um exemplo, por estar atuando numa idade já bastante avançada. Acho que o DIEESE tem que procurar com essas memórias resgatar e preservar o que aconteceu, o que acontece e como se consolida um trabalho sério de assessoria ao movimento sindical, para que as futuras gerações que venham passar por aqui tenham a responsabilidade de manter a excelência e manter o DIEESE perene.

 

 

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