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João Carlos Gonçalves

joao_carlos_goncalvesHistória de Vida

Identificação

Meu nome é João Carlos Gonçalves, meu apelido é Juruna, eu nasci em São Vicente, São Paulo, na Baixada Santista, no dia 7 de abril de 1953.

 

 

Família

 

 

O nome do meu pai é João Flórido Gonçalves, o nome da minha mãe é Benedita Nóbrega Gonçalves. Meu pai foi ferroviário, já se aposentou e minha mãe sempre foi doméstica, trabalhava em casa. Eu acho que é o sobrenome é português (Gonçalves) mas tem uma mistura de português, índio e negro. Estamos até num conflito de terras lá na região de Miracatu que nosso pessoal mais velho teve descendência, teve locais, assim, que como os índios, tão presentes na nossa vida lá. E depois o apelido que vem por outros motivos que não tem nada a ver com isso também, mais pela fisionomia mesmo e pela tradição né? Uma mistura, a minha família é da região do Vale da Ribeira e a origem, pelo que os livros falam da época, é uma mistura dos índios daquela região com os portugueses.

 

 

Infância

 

 

Eu nasci em São Vicente, meu pai mudou de Miracatu para São Vicente e ali ele teve um primeiro emprego, que foi num frigorífico de pesca. Logo depois, em 1950, ele começou a trabalhar na Sorocabana, na estrada de ferro Sorocabana. Então, nossa diversão qual que era? Nós brincávamos na rua, de pipa, de bola e íamos muito onde meu pai trabalhava, que era a ponte dos Barreiros, a ponte onde passava o trem, da ferrovia onde meu pai trabalhava, na manutenção. Então, nossos primos, eu, minha mãe, a gente ia pescar e nadar naquela beira de mar, braço de mar. Essa era a nossa vida, catar coquinho, catar lata, catar coisas, assim, também para arranjar um dinheiro para ir num cinema, era nossa vida.

 

 

Estudos

 

 

Eu fiz o primário, comecei com sete anos, numa escola do bairro. Depois que eu acabei o primário, nós somos em oito, nove irmãos, e meu pai, minha mãe são muito católicos e bem próximos da igreja, e aí eu fui fazer o ginásio no seminário de padres. Naquele momento queria ser padre, eu e meu primo, e acabei indo fazer o seminário. Fiz o ginásio no Seminário São José, em São Vicente, estudei até a terceira série do ginásio e depois acabei o quarto ano no Instituto de Educação Martim Afonso, uma escola pública lá de São Vicente. Era uma época de mudanças, estava mudando o Ginásio e o Científico para Normal e Clássico. Eu peguei essa época de mudança que foi muito confusa também para as minhas decisões, porque comecei a fazer o básico, que chamava, primeiro básico, segundo básico, terceiro básico, aí, eu me perdi um pouco. Comecei a trabalhar com 16 anos, trabalhar registrado e acabei abandonando este curso e fui fazer escola técnica de Contabilidade, que equivalia ao Colegial. Era uma escola paga, chamada Instituto de Educação Brasília, ficava ao lado do segundo BCE, onde o Zé Dirceu ficou preso, coisa que eu não sabia.

Terminei o Colegial, fiz teste na Petrobrás, passei e acabei me inscrevendo pra faculdade lá de Santos, Faculdade São Leopoldo. Fiz um primeiro ano de Economia, isso foi no início da década de 70. Parei a faculdade por um período, porque fiz uma coisa que ninguém acredita: pedi demissão da Petrobrás. Eu trabalhei na Petrobrás três anos, nessa época já participava do movimento, da Juventude Operária Católica e fazia, assim, atividades no nosso bairro, no trabalho onde a gente podia fazer, e comecei a participar do movimento. Entrei para a JOC – Juventude Operária Católica – para ajudar em uma pesquisa sobre “o jovem que estuda e trabalha” que estava sendo feita em todo Estado de São Paulo. Eu comecei a participar, fazendo tabulação da pesquisa na cidade e depois participando de encontros de tabulação da pesquisa com as demais cidades. Fui, então, eleito para a direção estadual do movimento e, em 1975 eu já fazia parte da direção nacional da Juventude Operária Católica. Foi quando eu pedi demissão da Petrobrás para andar o Brasil.

Trajetória Profissional

Eu comecei a trabalhar cedo. Eu ajudava em casa vendendo cocada. Isso com seis, sete anos, no ponto do ônibus. Depois, ajudava em casa também, fazendo carreto na feira, essas coisas. Éramos muitos irmãos, depois comecei a trabalhar numa fábrica de doces, aos 12 anos. Não era tão legal, porque era perto da praia, entendeu? Então era horrível, todo mundo indo para a praia e você trabalhando. Depois eu acabei conseguindo trabalhar num escritório, de office-boy, e como office-boy fui aprendendo coisas internas, comecei a gostar daquele trabalho e acabei até mudando de curso pra fazer escola técnica de Contabilidade. Aí, teve o concurso da Petrobrás e eu passei. Passei e fui trabalhar na Petrobrás, lá em Cubatão. Entrei no dia dois de maio de 1973.

 

 

Militância Política

 

 

QFui pedir demissão, o pessoal não entendia, “mas por que pedir demissão”? Eu gostava de trabalhar lá, participava das atividades, era uma época de atividades sindicais ainda muito fechadas, porque estávamos no período de repressão. Mas mesmo assim a gente ía. Foi aí que eu comecei a participar do movimento. Tinha o pessoal do partidão na época, tinha o cine-clube, tinha coisas assim, que atraía a gente e nós começamos a participar mais diretamente do movimento sindical. Antes eu já participava da Juventude Operária Católica, mas de atividade sindical comecei a me aproximar nessa época.

Eu acho que eu fui despertado mais pela parte da igreja, porque era uma efervescência à época . Nós tínhamos, no nosso bairro, os chamados padres operários, os chamados irmãos da caridade, eram franceses e eles tinham uma atividade na paróquia. Tinha também um padre que tinha sido assistente da Juventude Operária Católica. Isso me despertou um pouco mais para esse lado social da igreja. E, depois, a pesquisa do jovem que estuda e trabalha, que foi fundamental na minha vida. E com essa aproximação desses padres operários, que trabalhavam em fábrica também, trabalhavam na fábrica de vidro lá de São Vicente, acabei me aproximando do Sindicato dos Metalúrgicos. Conheci o Arnaldo Gonçalves, o Marcelo Gato que, inclusive era presidente do DIEESE na época, , depois foi Deputado Federal e foi cassado. Essas pessoas tinham atividades na igreja, então, as organizações de esquerda atuavam também dentro das igrejas com palestras, debates à noite. Foi por aí que eu comecei a participar da vida sindical.

Meu primeiro contato foi a partir da igreja, mas o primeiro sindicato que eu participei foi quando eu estava no escritório de Contabilidade. Através da pesquisa que foi feita pela JOC, houve todo o incentivo da gente se sindicalizar, então minha primeira sindicalização foi com o pessoal que trabalhava em escritório, era uma coisa sem muita atuação, assim, porque, escritório era pequeno e não tinha muita atuação. Agora, na Petrobrás era diferente. Lá, íamos às assembléias. Eu acompanhava direitinho.

Era mais organizado, tinha muito mais participação, mas já era época da repressão, não tão forte como se tornou depois, porque tiveram as cassações em 64, prisões, então, o sindicato fazia aquela atividade normal das assembléias de campanha salarial, de debates, cine-clubes. E foi assim que eu participei daquelas atividades sindicais.

De 1976 até 1979 eu fiquei coordenando a Juventude Operária Católica no Brasil. Fiquei andando pelo nosso país, articulando a Juventude Operária Católica e, fundamentalmente, aqui na região do triângulo, que a gente chamava de triângulo, São Paulo, Rio [de Janeiro] e Minas [Gerais].Em 1979, quando eu terminei meu tempo de direção nacional da JOC, discutimos para onde era importante que eu fosse morar. A minha mulher, a mãe dos meus filhos (a gente já era casado), ela participava do movimento também. Decidimos juntos com o pessoal da JOC, que eu iria mudar aqui para São Paulo. Vim morar na região do Campo Limpo, lá na zona Sul.

 

Trajetória Profissional

Mudei para cá em março de 1979, comecei a trabalhar no mês de junho. Comecei a trabalhar na Semicrom, uma empresa próxima da Avenida João Dias, na zona Sul de São Paulo. Comecei a trabalhar como inspetor de qualidade, como auxiliar de contabilidade. Foi totalmente diferente, quando eu mudei pra cá. Antes eu estava próximo do escritório, era office-boy, entrei na Petrobrás como auxiliar de escritório, então, aqui tive que refazer quase tudo. Fiz Senai correndo, desenho, trigonometria e, aí, comecei a trabalhar na Semicrom, uma empresa alemã de semicondutores. Eu tinha que trabalhar, tinha que sustentar a família. Mas, morar em São Paulo foi uma decisão pensada. São Paulo, categoria Metalúrgica. É legal falar assim, É como que se a gente, às vezes, previsse certas coisas e, depois, visse como deu certo, graças a Deus. Então, entrei nos metalúrgicos, comecei a participar aí.

Eu tinha que trabalhar, sustentar a família. Mas morar em São Paulo foi uma decisão pensada. São Paulo, categoria metalúrgica. É legal falar como que, às vezes, a gente prevê certas coisas e depois vê como deu certo, graças a Deus. Entrei nos metalúrgicos, comecei a participar aí.

Pra mim foi uma dificuldade, porque quando eu vim para São Paulo, eu não tinha muita habilidade com coisas manuais, tive dificuldades, mas fazendo o curso no Senai... Inspetor de qualidade já é uma coisa mais tranqüila, cálculos, medições, relatórios. Quem me colocou nessa empresa foi uma inspetora de qualidade que participava do movimento também. Benedita, o nome todo dela eu não lembro, uma pessoa interessante, na época era um pessoal ligado à oposição sindical metalúrgica Então, ela trabalhava lá e me apresentou. Passei no teste e comecei a aprender. Fazia curso no Senai e, aí, fui me aprimorando.

 

 

Trajetória Sindical

 

 

Tinha o foco na oposição sindical metalúrgica. Eu não era organizado, porque, na época, o sindicato aqui de São Paulo, ainda era muito conservador. Tinha o Joaquinzão na época. O sindicato tinha passado por muita repressão também, muita gente tinha sido presa, mas começava a ter uma atuação maior, por causa das greves que aconteceram naquela época.

E nessa fábrica tinha uma pessoa que era da oposição sindical metalúrgica e eu comecei a me aproximar deles. Claro que eu já conhecia várias pessoas aqui de São Paulo, mas do ponto de vista da ação sindical, eu comecei nessa fábrica e a primeira coisa que nós fizemos foi, como diria, animar o pessoal a estudar, a ir para o Senai. Ao mesmo tempo, nós tínhamos perto ali da fábrica uma sala da oposição sindical e, naquela época, a TV Cultura estava fazendo cursos por televisão, de desenho mecânico. Então a turma começou a achar que era legal ir, e eu levei dez pessoas da fábrica pra fazer o curso. Eu nunca me apresentei como líder sindical, como gente do sindicato, mas sempre a partir daquilo que era necessário dentro da fábrica pra se fazer. Então, comecei a fazer amizade com a turma, e a turma foi comigo fazer o curso. Comecei aí a minha atividade sindical.

 

Família

Eu comecei a namorar em 1974, ela também já era da organização, do movimento. Participava, trabalhava, sempre trabalhou. Pra nós foi um choque mudar para São Paulo, porque nós éramos da Baixada Santista. Mudei para cá numa época de frio, então, para nós foi muito difícil. Morava no Campo Limpo, para nós é uma distância assim, horrível, a gente costumava andar a pé na Baixada Santista. Aqui, a distância do trabalho e da escola era uma coisa difícil. Foi muito difícil o início para nós aqui e eu acho que ela (minha companheira) acabou aceitando aquela situação, assim, me dando condições para que eu pudesse estudar, pudesse fazer os cursos. Nós temos um garoto, que hoje está com 28 anos, o Cássio. Quando mudou com a gente pra São Paulo tinha um ano. Foi uma situação que ela teve que assumir mais, inclusive ela trabalhava na área de escritório de contabilidade numa empresa química, acabou mudando de profissão, começou a trabalhar numa área de creches, administração de creches, no bairro do município, até para ficar mais próximo de casa. Aí, eu pude me lançar mais na área sindical.

 

 

Greves

 

 

Comecei a ir ao Sindicato dos Metalúrgicos, na época da Semicrom, em 1979. Eu tinha pouco tempo de fábrica, pouco tempo de cidade. Então, comecei a participar, a participar das assembléias do sindicato. Tentava levar algumas pessoas lá nas assembléias, mas nós estamos falando de 79, que é um momento difícil ainda, então, pouca gente ía.

Em 1979 teve uma greve importantíssima aqui na cidade, nossa fábrica não era organizada para parar naquela época. Foi uma greve de piquete, e eu lembro que eu tinha começado a trabalhar em junho ou julho. A greve foi em novembro, então, eu pensava comigo “eu não vou me arriscar tanto, porque como eu tô pensando no longo prazo, não tenho responsabilidade de assumir essa coisa de frente, afinal eu era novo na cidade. Mas não deixei de participar, fui nas assembléias, participei de reuniões do comando de greve lá da região, cheguei a fazer piquete à noite. É uma coisa que eu não gosto de lembrar. Mas, uma noite, em 1979, nós fomos fazer piquete na Semicrom. Aí, fiquei no piquete até 11 horas, na empresa Silvânia.

E, no outro dia, eu fui trabalhar, fui para a fábrica, porque na nossa não estava tendo greve, não estava tendo um piquete pra cobrir, porque não era uma fábrica tão importante na região. Era importante, mas do ponto de vista da organização não era. Então, eu fui pra fábrica nesse dia, depois de fazer piquete no dia anterior à noite. Então, soubemos da notícia do assassinato do Santos Dias na Silvânia, na parte da tarde. Fomos pra assembléia, passou um piquete lá em frente da fábrica, o pessoal parou obrigado. Então eu participei. A primeira greve que eu participei foi a de 1979, e era uma coisa difícil, porque naquele momento havia um conflito muito forte entre a direção do sindicato e a oposição sindical metalúrgica, que liderava a greve, que era quem tinha mais peso. Então, não era uma coisa fácil você ir ao sindicato para ficar sócio e ser um ativista sindical, porque havia uma posição conservadora dentro do sindicato, que acabava até prejudicando a vida pessoal, no sentido de você ser “dedado”. Tinha coisas assim na época, e talvez até permaneça um pouco hoje, no conflito que existe entre posturas ideológicas de pensamento. Foi aí que eu entrei nas atividades sindicais, na Semicrom, a minha primeira greve foi essa.

 

Trajetória Sindical

Continuei trabalhando depois que passou a greve, com atividades da oposição e, nessa época, nós tínhamos também participação na Pastoral Operária. Como eu era ligado à igreja, comecei a me aproximar também da Pastoral Operária da minha região. Até tem uma pessoa, João Carlos Alves, que foi vereador da cidade, ele trabalhava na Massey Ferguson, era um forte ativista da região que me ajudou muito, porque eu era novo na cidade. Eu sou uma pessoa tímida, vim da Baixada Santista, então, essa pessoa me ajudou muito a conhecer a cidade, a me levar nas coisas. O João Carlos Alves foi vereador da cidade pelo PT. Participei da Pastoral Operária da região, e era ativista do Sindicato como associado.

Em 80, eu fiz teste na Villares, a principal empresa da região Sul. Fui trabalhar na Villares como controlador de qualidade. Era uma firma tradicional, com muita presença do movimento sindical. Uma firma que fazia parte da base do sindicato nos anos iniciais. Era uma empresa que tinha seis mil trabalhadores, era num local estratégico da região, na ponta da Marginal Pinheiros. Quando tinha greve, se a Villares parava, fazia passeata e ia fechando tudo. Nesta empresa a oposição sindical tinha tradição. Era uma empresa muito forte, nós tínhamos mil e 500 associados no Sindicato dos Metalúrgicos.

Mesmo tendo divergência com a diretoria do sindicato, nós achávamos que era o nosso sindicato. Uma coisa é a diretoria, outra coisa é a instituição. Então, eu comecei a me aproximar bastante do sindicato, me aproximei bastante do diretor do sindicato lá da fábrica, que era o Toninho. O Toninho foi, inclusive, vereador da cidade, Antonio Campanha, Toninho Cabeleira, é o apelido dele. Ele era uma pessoa muito aberta, filho de espanhol, muito ativo, muito legal. Mesmo sabendo que a gente era da oposição, dava as fichas para a gente fazer novas filiações. Sempre fui uma pessoa tranqüila na minha ação sindical, sempre atuei a partir das necessidades dos trabalhadores, tradição que eu aprendi com a Juventude Operária Católica. Ver, julgar e agir, sempre a partir daquilo que você está convivendo com as pessoas. Nada ideológico de já querer ganhar as pessoas para o sindicato, para o partido, nunca fui assim, não sou assim. Sempre partia dos interesses da turma.

 

 

Fato Marcante

 

 

Uma das coisas que pegavam era a questão do transporte, nós não tínhamos ônibus da fábrica antiga para a região Sul. Antes de se mudar para a zona Sul, a Villares ficava na região do Cambuci. Pelas enchentes, pelas mudanças da cidade, a área industrial acabou mudando pra zona Sul. E então, a Villares também mudou para a região Sul e, aí, para levar o pessoal do Cambuci, as pessoas que moravam naquela região, ou em São Bernardo, São Caetano, muita gente, eles acabaram colocando ônibus para levar e trazer o pessoal. Tinha ônibus para alguns, mas para o pessoal da zona Sul não tinha, e nós morávamos longe também. Eu morava lá no Campo Limpo, pegava dois ônibus. Aí falei, “esse é um negócio legal”, comecei a mexer com esse assunto dos ônibus. Eu pegava ônibus e falava: “oi, você trabalha onde?” – “Ah, trabalho na seção tal”. -“Você mora onde?” – aí, comecei a listar. E pelo fato de ser inspetor de qualidade, eu conseguia andar a fábrica nos diversos pontos,eu era inspetor da área de recebimento. Então, quando uma peça, só pra entender melhor, quando a peça chegava, eu fazia as medições da peça. Estava fora das medições, eu podia fazer o teste prático e, aí, a gente utilizava dessa artimanha para ir nas seções, entendeu? De onde que é essa peça? Então, era uma maneira de você ir às seções. Então, fui descobrindo as pessoas através do ônibus que a gente pegava e, aí, fomos fazendo uma listagem das pessoas para “encher” um ônibus. Foi legal que a chefia também tinha interesse em ter um ônibus na região Sul e, aí, conseguimos uma listagem de 45 pessoas para aquela região da zona Sul, o Campo Limpo, e apresentamos para a empresa. A empresa topou colocar o ônibus. Para nós foi uma vitória e, aí, criou condições de outros bairros começarem a pedir. Esse é o orgulho de ter feito essas ações, eu e meus companheiros.

 

Trajetória Sindical

Em 81 teve eleição da CIPA e eu me candidatei. O pessoal falou: “se candidata” – e, aí, já tinha aparecido um personagem na política, o cacique Juruna. Que saía usando um gravador e gravando tudo por aí. Foi candidato do PDT, ganhou as eleições de deputado federal no Rio de Janeiro pelo PDT. Aí, um amigo meu me deu o apelido de “Juruna”. Você parece com o tal Juruna – aí, pegou o apelido. O apelido também que me ajudou a ficar mais próximo das pessoas. Aí, fui eleito para a CIPA, fui candidato pela primeira vez. Fui eleito em segundo lugar, até por causa dessa atividade dos ônibus que eu contei antes, daquela conquista. Com isso consegui estabilidade no emprego e pude me soltar mais. Comecei a fazer sindicalização na empresa, começamos a montar um grupo de estudos. Nós não tínhamos sub-sede na região Sul, e começamos a conversar com o sindicato para montar uma sub-sede lá. Estava em andamento uma mudança política no sindicato. O que aconteceu? Nas eleições de 81, na minha opinião, aproximaram-se do sindicato setores progressistas. Pessoal ligado ao Partido Comunista Brasileiro, principalmente do MR8. Esse pessoal já fazia parte da diretoria, eles eram setores da oposição, mas após a eleição de 1978 resolveram percorrer outro caminho, ao invés de ficar só na oposição, eles decidiram entrar por dentro da entidade. Então se candidataram, foram eleitos em 1978, em 1981 fizeram uma composição com o Joaquinzão.

Eu não tinha tanta proximidade ainda do sindicato, eu era da oposição. Minhas reuniões eram na oposição e na pastoral. Quando eles ganharam a eleição em 81, com o Joaquinzão na cabeça, Luis Antonio de Medeiros, que todo mundo chama de Medeiros, para nós na época era o Luís Antonio, o Valter Eschiavon, Magela, Nair Goulart, João Paulo, Bigode, que hoje assessora o Lula lá no Governo, esse pessoal todo fazia parte da diretoria e o partidão ficou responsável por setores importantes da base metalúrgica na cidade. Por exemplo, o Bigode, João Paulo e Nair ficaram com a zona Oeste e com a zona Sudeste, onde ficavam as principais empresas. Na região Sul ficou o pessoal do partidão, liderados pelo Medeiros, Valter Eschiavon e Magela. Na época o pessoal brincou – “não, vamos colocar esse pessoal do partidão nessas regiões que tem mais oposição” – porque eles eram oposição também, mas a oposição na zona Sul era uma oposição mais radical, ligada ao Momsp, depois ligada ao PT, quando do surgimento do PT.,Então o pessoal do partidão teria dificuldades, iam se matar, né? Mas não foi o que aconteceu. O Medeiros, o Magela, o Valter Eschiavon, começaram a aceitar a oposição, aceitar no sentido do debate, no sentido da participação política. Então, nós começamos a falar “se os caras tão abrindo para gente participar, porque nós vamos ser contra?” – então, começamos a fazer atividades conjuntas. Por exemplo, não esqueço isso: nós não tínhamos sub-sede e eles chegaram a fazer reunião com a gente na sede da oposição. Então falamos: “os caras estão demonstrando abertura política ”. E começamos a desenvolver lutas importantes em termos sindicais. Em 1982 e 1983 ocorreram muitas demissões. Nós começamos a partir para enfrentamentos, greves, pois nessa época só se recebia o Fundo de Garantia, aviso prévio e pronto. Então, começou toda uma luta para pegar uma indenização a mais. Foi um período de recessão, e já que íam demitir, lutávamos por uma indenização a mais. Então, começamos a participar das ações com eles. Eu trabalhava na Villares, era cipeiro, mas saía com eles distribuindo material, fazendo atividades, porque eu já estava protegido pela estabilidade no emprego pelo fato de fazer parte da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA.

E, aí, logo depois, o quê eles fizeram? Inauguraram a sub-sede na zona Sul, num local ali no largo Treze (zona Sul – Santo Amaro) e começamos a participar cada vez mais. Participava mais porque era perto da região. Em vez de pegar o ônibus, ir até a rua do Carmo, na praça da Sé, era ali do lado . A gente pegava um “onibuzinho”, em dez minutos estava na sub-sede. Aí, o que aconteceu? Como é que se deu essa abertura? Por pressão da oposição, que já participava das comissões de salário, tinha a diretoria que negociava e tinha as comissões de salário. Eu comecei a ficar conhecido da região Sul, trabalhava na melhor empresa da região do ponto de vista de organização, já tinha essa atividade da pastoral operária, tinha participado de encontros, não só da Villares mas de outras empresas da região, da MWM, da Walita, da Caterpillar, da Metal Leve. Nós tínhamos o companheiro Vital Nolasco, do PC do B, que era da Metal Leve, que também foi vereador da cidade. Quer dizer, era um orgulho pra nós, tantas pessoas que depois se destacaram na política mais geral, que começamos a ver que era possível compor com essas pessoas que estavam dentro do sindicato.

Nós começamos, dentro da oposição, a defender uma aproximação com a diretoria do sindicato, para entrar, né? E eu fui eleito duas vezes para a comissão de salário do sindicato, pela região Sul. Então, mesmo não sendo da diretoria, eu já comecei a participar das atividades oficiais e institucionais do sindicato. Eu fui eleito duas vezes para a comissão de salários representando a região Sul, em 1982 e 1983. Foi a primeira vez que eu falei nas assembléias do sindicato e nas assembléias de porta de fábrica, para um monte de gente.

Nessa época o sindicato começou a se organizar, comprar carro de som, ainda eram aquelas cornetinhas de vender laranja, que a gente brincava: “pô, isso aí é só para vender laranja, tem que comprar som pra valer” – uma pressão danada. Mas, de qualquer maneira, era o que a gente tinha como instrumento. Daí, o sindicato começou a ter ativistas nas portas de fábrica, tinha o diretor e nós, como trabalhadores, éramos desligados da produção para ir ajudar o sindicato, com a função de distribuir material nas portas de empresa. Quando eu trabalhava na Villares o sindicato mandava uma carta para a empresa, e como eu tinha sido eleito para a Comissão de Salário eu ficava, no período de julho a novembro, desligado da produção, fazendo atividade sindical de convocação para a campanha salarial. Esta foi uma maneira de ficar conhecido nas outras empresas.

Quando fui eleito ocorreram três greves na Villares. Eu participei das negociações de greve, era um momento também de mudança da economia. A empresa começou a diminuir o número de trabalhadores, a introduzir novas máquinas. Eu vi cenas horríveis. Antigamente era assim: tinha a furadeira, o torno, a fresa, cada máquina tinha um operador. Aí começam a chegar as máquinas que fazem mais coisas. Uma única máquina furava, fresava e torneava a peça. Eram as famosas CNC’s que a gente chamava de comando numérico. Eu nunca esqueço um amigo nosso, o Carcaça, que trabalhava nessa máquina chorando, assim, porque sabia que já não era mais para ele. Isso foi em 1983, foi horrível porque, sabe, eram greves defensivas, não eram greves de conquistas. Eram greves para conseguir maiores indenizações, porque o seguro desemprego só apareceu em 1986. Em 1983 uma indenização a mais era uma coisa muito positiva, além das denúncias, das demissões, a greve não era só uma questão de pegar alguma coisa a mais, era também uma denúncia da situação da economia, das mudanças que estavam acontecendo. Foram momentos muito difíceis para mim. Em 1983, eu participei da campanha salarial, em setembro, outubro e novembro. Fizemos greve lá na Villares por demissões, mas eu, que tinha sido eleito na CIPA em 1981/82 e reeleito em 1982/83, não podia ser reeleito novamente por causa da legislação. Quando acabou meu mandato, eu também recebi meu aviso prévio. Daí o pessoal quis reagir, mas nós tínhamos saído de uma greve em setembro e achamos melhor não fazer outra greve por conta disso. Seria frustrante fazer uma greve apenas para me defender quando 100, 200, 300, já tinham sido demitidos por motivos econômicos. Aí, ficamos devagar, o pessoal do sindicato falou “não, você está na campanha salarial, fica aí com a gente”. Mas eu, pessoalmente, não incentivei a greve, porque achei que não valeria a pena, já que tínhamos acabado de sair de uma, e seria um enfrentamento, naquele momento, desnecessário.

Então, terminada a campanha salarial de 1983, eu fui demitido da empresa. Foi uma coisa difícil, porque eu já era conhecido na região. Em 1984 era ano de eleição no sindicato. Começou toda uma articulação para definir a nova eleição. E eu tinha que estar empregado numa fábrica. E eu estava desempregado. Vou dizer assim, com toda a honra, que eu era conhecido na zona Sul pelo fato de ser da Villares. Eu falava nas assembléias, tinha atividade na zona Sul e a zona Sul tinha um conjunto de empresas importantes. Eu tinha um nome até para assumir a cabeça de chapa da oposição. E, aí, nós tivemos uma reunião na casa do Chico Gordo, nós fomos lá na casa dele. Ele fazia parte da oposição sindical metalúrgica, participava do PT. Eu também participava. Ele falou assim: “amanhã nós vamos ter uma reunião lá em casa, fechada, pouca gente e o Lula virá” – o Lula na época estava em outras atividades, mas para nós era importante que ganhássemos as eleições. Estavam lá o Lula , eu, o Dentinho, o Reni, o pessoal mais próximo,do nosso grupo, umas dez pessoas e, aí, eu defendi a composição para a eleição do sindicato. Falei “não, acho que nós devíamos ir para dentro do sindicato, compor com esse pessoal que está na diretoria, que é do partidão, e está fazendo um bom trabalho. Não pensam como a gente, mas todas as ações sindicais são desenvolvidas de forma unitária, e eu acho que nós devíamos ir lá para dentro”. O Chico Gordo, para ter um parâmetro, era próximo do pessoal da democracia socialista - DS.

Esse pessoal também estava defendendo composição no Rio de Janeiro, na eleição dos bancários, com o partidão. Nas eleições dos bancários do Rio de Janeiro, a convergência socialista saiu com uma chapa pura e acabou ganhando do Ivan Pinheiro, dirigente sindical que do Partidão. A DS compôs com eles, mas eles acabaram perdendo as eleições. Então, isso foi uma ducha de água fria pra nós para uma possível composição. Mas eu já estava nessa de me aproximar do sindicato, de trabalhar com os diretores. Eu falei “não, eu vou nisso aí”. Aí, nessa época tinha o Lúcio Belantani, da Ford, tinha o companheiro Pereirinha, o Zico, que hoje é deputado estadual em São Paulo, que defendiam a composição também. Mas, como aconteceu aquela derrota lá no Rio de Janeiro, o pessoal aqui se sentiu pressionado pela pastoral operária, pelo próprio PT, a não fazer a composição. Mas eu tinha sido formado com uma visão de autonomia, de pluralidade, pela não interferência do partido no sindicato. Eu falei “ah, eu vou levar isso às últimas conseqüências, eu vou para o sindicato, entendeu?” E eu não fui sozinho, veio junto o pessoal do PC do B, o Neleu, que era da região Norte, do PC do B, o Vital, que era do PC do B também, lá da Metal Leve, e o pessoal do MR8 conseguiu colocar mais gente também. Foi uma mescla assim meio de esquerda. Na época todo mundo achava que essa turma era de direita. O pessoal do PT também achava, mas eu fui. Bom, foi horrível, cara.

Cortei as relações com todo mundo. Com a pastoral operária, com o PT, foi queimação, entendeu, direto. Horrível, não foi fácil. Só que nós apostamos na política. Em 1984 fizemos o sexto congresso dos metalúrgicos de São Paulo, com a participação da oposição. Nós participamos do movimento das “Diretas Já” com o sindicato, fizemos coisas belíssimas, que às vezes a história não registra. Fazendo um parênteses, por isso que eu acho que o papel de vocês (o registro histórico) é importante. Fizemos muitas atividades das “Diretas Já” nas fábricas, assembléias incentivando a participação no movimento das “Diretas”, o sindicato colocou ônibus para as pessoas poderem vir para a Praça da Sé, depois no comício do Anhangabaú. Lembro que nós, em vez de virmos com os ônibus direto para a praça da Sé, fomos para o metrô no Jabaquara, invadimos a estação do metrô, e eles tiveram que abrir as catracas todas.

Na campanha pelas “Diretas” o sindicato participou ativamente. Em 1984 era um momento de eleição no sindicato dos metalúrgicos de São Paulo,,em julho, mas nós já tínhamos começado a participar das “Diretas” em 1983. Teve aquele comício no Pacaembu, realizado só pelo PT, mas depois outras entidades começaram a participar. A campanha das “Diretas Já” não era defendida só pelo pessoal do Partidão. Era defendida também pelo Joaquinzão. Então, esse caldo de política que eles começaram a implementar começou a surtir efeito na participação dos trabalhadores. Fizemos o congresso dos metalúrgicos e, nas eleições de 1984, fizemos várias greves que depois eu poderia até enunciar. Mas, na eleição do sindicato em 1984 foi horrível, porque a nossa chapa ainda precisou demasiadamente dos votos dos aposentados. Nas empresas da zona Sul, onde eu tinha uma grande atuação, nós acabamos perdendo. Perdemos na Villares, perdemos na Frigor, onde eu entrei depois, perdemos na Metal Leve, foi uma lavada. Nunca esqueço isso, aquela votação.

Eu participava da chapa 1, nós saímos junto com o Joaquim, nós fizemos a composição. A chapa 1 perdeu na zona Sul, mas ganhou as eleições. Aí os conservadores falaram “É, vocês que são os bons, não eram vocês que queriam abrir para a oposição? Olha aí, vocês não tem voto, quem tem voto somos nós”. – nas pequenas empresas e nos aposentados. Apesar dessa derrota na zona sul, nós ganhamos as eleições. Eu nunca esqueço que no dia da apuração, no Ginásio do Ibirapuera, nós estávamos arrasados, assim, sentados pelo chão. Oposição maluca. Bons companheiros, fizeram um bom trabalho.

 

Greves

No dia da apuração das eleições de 1984 eu lembro que recebemos um telefonema de um companheiro, da Tormec - uma empresa da zona Sul que já fechou - ele falou: “Olha, o pessoal aqui está maluco, porque querem fazer greve por aumento” e era uma empresa da qual nós já estávamos nos aproximando. O pessoal do partidão já estava se aproximando. Eu falei “vamos, vamos fazer”, aí, saímos ali da apuração direto para essa fábrica. Aí, começamos a radicalizar mais o movimento, nós ocupamos a empresa, dormimos dentro da empresa e lembro que um repórter da Globo, ele estava iniciando lá na TV Globo, foi com a gente até lá: “Pô, mas vocês são malucos, vocês vão ficar aqui?” – “Vamos, vamos ficar aqui dentro.” – o patrão teve que dar a chave da empresa para nós, porque ela trabalhava à noite. Ficamos lá a noite toda e conquistamos aumento real, conquistamos equiparação de salário.

Começamos a aumentar o número de sindicalizados, compreende? Empresa por empresa, nós fomos aumentando o número de sindicalizados na base. E era uma dificuldade para ficar sócio, porque você tinha que levar a fotografia no sindicato. Não era só preencher o papel, tinha que trazer a fotografia e isso já era mais difícil, porque, você convencia a pessoa, mas ficava dependendo da foto. Aí, o que nós fizemos? - “Vamos fazer o seguinte, vamos levar um fotógrafo na fábrica”. – Essa foi uma iniciativa legal que eu criei junto com o Miguel e com outros companheiros. Aí, foi astronômico, assim, por Deus do céu, nós conseguimos quase 60% de associados, entendeu, de uma fábrica. Então, vimos que aquilo foi uma iniciativa positiva. Falei, “é por aqui o caminho”. Então, aquela notícia da greve da Tormec desencadeou um processo de aumento já, de uma campanha de “Aumento Já”. Fomos fazendo empresa por empresa e sindicalizando, né? E sindicalizando a turma. O período de 1984 a 1987 foi um período muito forte de participação sindical, conseguimos aumentar o número de sindicalizados.

 

 

Trajetória Sindical

 

 

Em 1984 o Sindicato dos Metalúrgicos tinha 44 mil sócios. Três anos depois, em 1987, nós tínhamos 150 mil sócios. Porque conforme esse processo foi desencadeado na zona Sul, na região da Nair, na região do João Paulo, do Bigode, do Magela, do Medeiros, começou a ampliar isso, a ganhar corpo. Os conservadores também falaram, “Não, porque não sindicalizar?” – começaram também a implementar isso. Então foi um trabalho bem feito. E no outro congresso, no sétimo, foi retirada essa exigência da fotografia na carteirinha do sindicato. Coisas pequenas, mas de grande importância. Na carteirinha do sindicato hoje não precisa de fotografia. Facilita demasiadamente a associação. Hoje é muito mais fácil, mas na época, ter sócio era um perigo, porque voto é voto. Então, havia todo um cerceamento na época. Aí, começou a abrir. Por isso é que o sindicato chega a 150 mil sócios em 1987. Foi um período bom de participação, porque se abriu sub-sedes do sindicato nas quatro regiões da cidade, começaram os cursos de formação de cipeiros, cursos de delegados sindicais, começamos a ganhar pessoas da oposição para o nosso time, entendeu, e fomos trabalhando.

 

Trajetória no Dieese

Eu já conhecia o DIEESE, por outras histórias. Nós tínhamos, os principais sindicatos tinham, a chamada subseção do DIEESE. Então, lá no sindicato dos metalúrgicos de São Paulo nós tínhamos uma subseção. Na época o Pedro Paulo era o técnico do DIEESE. Depois veio o Alex. No início da subseção eles foram os primeiros economistas da nossa subseção . Eles iam às sub-sedes dar cursos, explicar o negócio da inflação, cursos de delegados sindicais e, na época da campanha salarial, explicar o porquê que era importante pedir tanto, não pedir tanto, explicar o funcionamento da economia. Então, o DIEESE atuava com a gente assim, nessas discussões. E no trabalho que nós optamos de fazer por empresa, as grandes empresas. Tirando as grandes empresas como Villares e Metal Leve, que tinham tradição sindical e que tinham muitos sócios, as demais empresas não tinham associados. Então, nós fomos fazendo ações, pequenas ações, facilitando a questão da fotografia e depois tirando a fotografia como exigência. Isso facilitou o aumento da sindicalização e, ao mesmo tempo, as lutas por empresas.

E a gente incorporava o DIEESE na discussão, para o pessoal entender a produção, quanto era o faturamento, quanto a empresa ganhou. Nós não utilizávamos o DIEESE só para fazer os boletins, mas também para participarem das reuniões com o pessoal de fábrica. E eu lembro assim de coisas fantásticas que foram feitas na época das “Diretas Já”. O Cleodon Silva, que era um cara da oposição sindical, radical para caramba, mas muito legal, assim, do ponto de vista da ação, dos piquetes, da luta, falou: “Pô Juruna, em vez de pensar só em ‘Diretas Já’, de eleger gente da burguesia, vamos pensar em ‘Diretas Já’ na fábrica”. – “Como assim Cleodon?” – “Pô, vamos fazer assim, ó, a gente reúne com um pequeno grupo de uma empresa, Caterpillar, dez pessoas, por exemplo. Eles vão nos contar quais são as reivindicações da empresa, pelo menos as principais, e aí, a gente faz uma listagem e coloca ‘Diretas Já na Fábrica’ – companheiros, o sindicato está preocupado com as condições de vida nessa empresa e quer saber quais são as questões mais importantes que vocês acham que devam ser discutidas com a empresa.” Então, colocávamos assim: “aumento real, voto, equiparação de salário, condições de trabalho, cesta básica”, se, fazia um elenco de reivindicações e pedíamos para eles votarem. Uma bela idéia. Aí o pessoal acabava se comprometendo, porque não era fácil. Hoje você chega e você responde a pesquisa, mas antes? Nessa época? Filmagem? Tinha gente que entregava abertamente, tinham outros que entregavam escondido. Mas o pessoal dava a sua contribuição. Então, com isso aí, o pessoal se sentia participante. E a gente falava no carro de som: “Hoje à noite estaremos fazendo a tabulação da pesquisa”. Então, essas idéias foram legais, pois você acaba levando o pessoal para participar por aquilo que lhe interessa. Se na primeira você tinha dez pessoas, nas posteriores tinha 30, 40. Aí o que nós fazíamos? Devolvíamos a pesquisa respondida, dizendo: ganhou em primeiro lugar - aumento real, segundo - reajuste trimestral, na época tinha que lutar por isso, 40 horas semanais. A partir daquilo anexávamos a carta oficial do sindicato sobre as reivindicações. Depois, começavam as assembléias e as negociações a partir dos interesses dos trabalhadores, coisas pequenas, mas o fato de você trazê-los para discutir as questões é que era o mote. Porque todo mundo se sentia como se o sindicato fosse dele, não era do diretor, não era de quem estava na presidência, não era do secretário geral, era dele. E eles faziam isso sem ser sócio. Começava a participação, “esse sindicato dá para confiar, dá para trabalhar” – “então, mais forte com você”. Essas atividades ajudaram o sindicato a se fortalecer.

Em 1987 teve eleições no sindicato. Eu saí da direção, voltei para a fábrica, depois, em 1990 eu voltei para o sindicato. Aí, voltou mais gente da oposição, o Lúcio Belantani, o João Feio, o Ortiz, que hoje [2006] é Presidente do DIEESE. Aí, nós voltamos como assessores do sindicato. Não conseguimos, naquela época, não tivemos força política para a gente conseguir voltar como diretor, voltamos como assessores e começamos a fazer o trabalho novamente. Em 93 eu voltei para a diretoria do sindicato. O nosso sindicato era sócio do DIEESE, mas começou a atrasar pagamento, porque havia toda uma guerra, assim, de achar que o DIEESE era muito petista, que o DIEESE era da CUT, para que a gente vai participar do DIEESE? Quando nós voltamos, o pessoal do DIEESE foi conversar com a gente, comigo, com o Lúcio, principalmente com o Lúcio que na época era uma figura de liderança geral, assim, do movimento. O Lúcio achou que era importante fortalecer o DIEESE, conversamos com o Medeiros na época. O Lúcio perguntou se eu não gostaria de me integrar. Começar a participar do DIEESE. Comecei a participar da direção executiva do DIEESE representando os metalúrgicos de São Paulo. Fazia o meu trabalho sindical e participava da direção do DIEESE. Esse foi um trato, um acordo. Porque o DIEESE nasceu em 55, ele nasceu sem ter a experiência do movimento com as centrais sindicais, então, tudo era chamado unicidade. O DIEESE nasce disso, os principais sindicatos foram os metalúrgicos de São Paulo, não nessa ordem, mas como é o meu sindicato, estou citando em primeiro lugar, os metalúrgicos de São Bernardo e os bancários de São Paulo. Esses eram os três principais sindicatos. Então, houve um acordo de rodízio. Um ano seria presidente um bancário de São Paulo, o outro ano um metalúrgico de São Paulo e, no outro, um metalúrgico de São Bernardo. Eu entrei nesse rodízio também como presidente, para garantir a unidade do movimento, e eu participei disso, ajudando nessa unidade. Aprendi muito aqui, porque você convivendo assim com o pessoal de outras tendências da CUT e do PT, com conservadores, isso faz com que você também acabe convivendo com pessoas e idéias e trabalhando pela unidade. Isso me ajudou muito a abrir pontes com canais de diversas tendências e eu também acabei abandonando uma posição um pouco radical. Isso me ajudou a ter uma visão mais global do movimento, da sociedade, de ser tolerante com as pessoas que pensam diferente. Eu acho que o DIEESE me ajudou muito nesse aspecto. Isso foi em 1993 e eu ingressei no DIEESE numa época em que nós estávamos passando por um período de mudanças também. Mudanças na produção, introdução de novas tecnologias, outras categorias nascendo, então, nós tínhamos dificuldades. Era diferente da época dos dirigentes sindicais que pegaram um período de inflação alta, onde a discussão era mais em termos da inflação. No momento em que a inflação diminui,, você tem que abrir outras pautas, tais como, discutir o local de trabalho , conhecer as novas tecnologias, conhecer relações de produção.

 

Educação/Formação

Lembro que foi uma coisa em que o DIEESE nos ajudou muito, foram os cursos de capacitação de dirigentes e assessores sindicais. Montamos, junto com o governo do Fernando Henrique Cardoso, por meio do ministério de Ciência e Tecnologia cursos de capacitação, que já eram dados para os empresários e ainda não existiam para os trabalhadores. Mais do que isso, o governo levava empresários para outros países para conhecerem a realidade técnica e econômica dos novos sistemas de produção e os operários não. Então nós reivindicamos isso. Então, através do FAT, do Fundo de Amparo ao Trabalhador, do ministério de Ciência e Tecnologia e do ministério do Trabalho, abriu-se a possibilidade de capacitação dos nossos dirigentes. Para fazer isso, nós montamos, aqui no DIEESE, uma missão exploratória. Eu fiz parte dessa equipe, senão me engano foi em 1995, composta por dez pessoas, da Força Sindical, da CUT e da CGT, e tive a chance de viajar para os Estados Unidos, para o Japão, para a Coréia, pra conhecer o sistema de produção, conhecer os sindicatos, as relações de trabalho e institucionais. Uma outra equipe foi para a Europa. Isso foi feito na época do Fernando Henrique Cardoso, quer dizer, foi uma coisa positiva que aquele governo fez para o fortalecimento dos sindicatos. Porque, na época, nós só discutíamos inflação. Quando começaram as negociações, a abertura que se deu na vida política, institucional, ela também começou pelas lutas operárias, forçou os empresários a buscarem negociações com o sindicato. Na hora que você era chamado à negociação, você também tinha que ter o que falar. No momento em que o governo começa a abrir a participação institucional do movimento sindical, você não vai mandar lá só um técnico, pois os sindicalistas também são capacitados. Então os cursos de qualificação, de capacitação dos nossos dirigentes, nos ajudaram muito. Hoje nós temos representantes no FAT, no Fundo de Amparo ao Trabalhador, no Conselho Curador do Fundo de Garantia, no Conselho do BNDES e nas comissões de emprego, nos estados e municípios. Eu creio que o DIEESE ajudou muito ao propor essa pauta para o movimento sindical. O PCDA – Programa de Capacitação foi realizado em Atibaínha, por vários meses, gente do Brasil todo. Isso foi um grande incentivo à formação dos dirigentes e assessores sindicais. Nesse período foi muito forte no DIEESE, além do trabalho de pesquisa, o investimento na formação dos dirigentes sindicais. E não é à toa que esse ano nós já estamos falando da faculdade do DIEESE, que também é fruto desse trabalho.

 

 

Manipulação de Índices

 

 

É uma instituição que vem lá de 1955 e a gente sempre ouvia, quando eu estava trabalhando na fábrica, sobre as pesquisas do DIEESE. A gente pegava o noticiário, e todo mês estavam as pesquisas do DIEESE. E o DIEESE teve um papel importantíssimo em 1976, 1977, porque a pesquisa do DIEESE foi utilizada como referência numa discussão no Banco Mundial. E o Paulo Francis colocou isso numa reportagem da Folha de São Paulo, que eles tomavam como referência a pesquisa do DIEESE e não a pesquisa do governo. Não que não soubéssemos, já sabíamos disso, que a pesquisa de inflação era manipulada, mas isso veio à tona com os dados do DIEESE. Então os metalúrgicos do ABC, São Bernardo, começaram a divulgar mais amplamente que os dados oficiais eram fajutos e não foi à toa que em 1978 eclodiram as greves, as greves por empresa lá em São Bernardo. Eu não estou dizendo que é só por causa disso, mas as denúncias também foram um instrumento. Então, o DIEESE virou uma referência importante na sociedade do ponto de vista das pesquisas, por esse momento histórico que eu estou citando, e pelas pesquisas que são do movimento sindical, mas que servem às diversas instituições.

 

 

Pesquisa/PED

 

 

Para nós foi importante a pesquisa de emprego e desemprego, a PED. Ela foi instituída no governo Franco Montoro, junto com o José Serra e o Paulo Renato, que foram pessoas que ajudaram o DIEESE a fazer esta parceria com o Governo Estadual aqui em São Paulo. Isso foi um fato importante para o movimento sindical. É fundamental dizer que a primeira pesquisa foi feita em São Paulo, no governo do PMDB, com o Fernando Henrique, com o Franco Montoro, José Serra, Paulo Renato, entre outros. O Serra era o Secretário de Planejamento de São Paulo. O Paulo Renato era o reitor da UNICAMP, que foi fundamental na parceria, logo no início da PED. Depois é que a PED se estende para outros estados. O DIEESE não ficou só prestando um serviço ao movimento sindical, mas abriu canais institucionais com governos e outros parceiros, sem perder a sua identidade, sem alterar o seu papel. Acabou também ampliando sua ação junto ao movimento sindical. Aqui no DIEESE a direção sempre foi dos sindicalistas, mas as parcerias que a instituição mantém são ecléticas. Aqui não tem acordo somente com o governo do PT, do PSDB ou do PDT. Nós prestamos serviços para diversas instituições.

 

Futuro do Dieese

Nós ainda temos espaço no sentido da negociação direta com o empresariado. Hoje ainda estamos nos marcos dos conflitos estarem sendo julgados nos tribunais, Tribunal Regional do Trabalho, Tribunal Superior do Trabalho. À medida que a democracia avança, o movimento sindical vai ser chamado ao diálogo, ou porque nós pressionamos para dialogar, ou porque a sociedade caminha cada vez mais para abertura de negociações, quer seja com empresários, quer seja com governos. Então, cada vez mais será fundamental que o dirigente tenha maior conhecimento das coisas. Existe uma necessidade de qualificação do dirigente. O que eu afirmo é que a qualificação não vem só da escola, vem dos círculos de estudo que foram montados neste país, dos incentivos à leitura, aquilo que eu falei de um técnico do DIEESE ir debater com os operários, quer dizer, são instrumentos de conhecimento a partir da realidade dos trabalhadores. Então, eu sinto que o DIEESE, cada vez mais, terá um papel importantíssimo na apuração das pesquisas. E mais do que isso, eu acho que a pesquisa já não é tão fundamental para fiscalizar os dados produzidos por institutos governamentais porque a sociedade, atualmente, controla mais os institutos de pesquisas do governo. Não estamos numa época de ditadura. Então, o IBGE, a Fundação Getúlio Vargas, já fazem pesquisas. Acho que cada vez mais o DIEESE vai ter que ter um foco ligado às questões dos trabalhadores, da qualificação profissional, da apuração das questões do local do trabalho. Será chamado mais para essa referência e, principalmente, para ser um espaço de conhecimento , de capacitação de dirigentes sindicais, se aproximando cada vez mais dos sindicatos, no sentido da formação dos trabalhadores. Por quê eu digo dos trabalhadores? Porque hoje, quando você vai discutir participação nos lucros e resultados, não é só o dirigente do sindicato ou o técnico do DIEESE que discute o assunto. É formada uma comissão de trabalhadores. Então, se o trabalhador não tem conhecimento do seu local de trabalho, não basta apenas reivindicar um valor, ele tem que saber o que aconteceu na produção, para onde a empresa está exportando, o que pode melhorar aqui, melhorar acolá, então, cada vez mais os trabalhadores terão necessidade da apropriação do conhecimento e nós temos certeza que o DIEESE pode ser esse instrumento, com certeza.

 

 

Família

 

 

Eu fui casado, casei em 1977, meu filho nasceu em 1978. A minha mulher, a Maria Helena, mudou-se comigo para São Paulo. Nós tivemos uma filha, a Carolina, que nasceu em 1981. Trabalhava na Villares, distribuí bombom para a turma, não esqueço desse negócio, não era um costume lá em Santos. Os “bombons” cara, não esqueço disso, e nós moramos juntos até 1985. Depois eu casei de novo, casei com a Nair Goulart, que foi dirigente do sindicato também, uma bela dirigente. Hoje é nossa representante na OIT – Organização Internacional do Trabalho, morei com ela por 15 anos, até 1999, e hoje eu estou solteiro.

Meus filhos estudaram. Graças a Deus. Também com nosso esforço, fizeram escola técnica, o meu filho fez escola técnica lá em São Bernardo. Eles moravam lá em Ribeirão Pires, fez escola técnica de processamento de dados, fez faculdade estudando e trabalhando, hoje trabalha na área de informática e presta serviço para a Vivo através de uma empresa portuguesa, a Global. Minha filha fez escola técnica, fez eletrônica, lá em São Bernardo também. Meu filho fez estágio na Itautec e minha filha fez estágio na Telefônica. Com o salário que ela recebia, e a ajuda que nós pudemos dar, está acabando a Faculdade de Engenharia de Telecomunicações. Essa semana me deu uma notícia boa dizendo que foi chamada para ser engenheira da Telefônica.

 

Avaliação/Trajetória de Vida

A principal coisa que eu aprendi na vida foi o seguinte: eu tive algumas chances diferentes dos outros. Afirmo que foi diferente, porque eu fui para o primário junto com todos os meus primos até o quarto ano. Naquela época tinha a chamada admissão ao Ginásio, isso foi no ano de 1965. Enquanto eu fui fazer admissão ao Ginásio, os meus primos, os meus amigos, foram trabalhar. E eu tive a chance de estudar numa escola boa, o seminário dos padres. Não pagava nada, a alimentação era de graça, então eu tive chances boas. E isso me ajudou a ter uma dívida com as pessoas também. E nesse aspecto, o fato de ter ido para o seminário, e depois voltar para o bairro, ali comecei a participar com a pesquisa que falei, então, isso me ajudou muito a ter um certo conhecimento. Às vezes, eu brinco com as pessoas – “você sabe latim?” – “é sei um pouco” – então, quero dizer, um certo conhecimento, Mas nunca me afastei da turma e depois a outra experiência foi essa que eu falei do trabalho na Petrobrás, poderia ter ficado lá, tinha entrado na faculdade, mas resolvi sair e fui andar o Brasil. Depois vim pra cá trabalhar, mudei totalmente, fui trabalhar na mecânica, na produção, então... Desculpa a emoção, é que nós estamos às vésperas do segundo turno, então eu estou misturando um pouco as coisas... Às vezes penso que o que eu aprendi mais, não foi tanto no seminário, foi na convivência com as pessoas, isso é que foi legal. As pessoas te dando dicas, as pessoas dizendo para você fazer desse jeito, fazer daquele e pessoas humildes, pessoas que você nunca esperaria aquela opinião. Nunca esqueço uma lição: em 1982, eu estava na Villares, e o Franco Montoro foi fazer um comício lá, fazendo campanha para . Eu era radical, era do PT, distribuía estrelinha para todo lado. Hoje eu não sou do PT, mas na época eu era, e nós tínhamos um grupo forte dentro da Villares. Era tradicional ser oposição lá e eu era cipeiro, entendeu, da CIPA. Aí, a nossa turma falou - “Ah, esse cara nunca veio aqui, agora é que vem aqui, não, aqui não, vamos aprontar.” – eu vou contar isso, acho que não tem problema. Nós almoçamos naquele dia, e teve laranja de sobremesa. Nós pegamos as laranjas todas, juntamos uma turma, na hora que o Franco Montoro estava lá, nós jogamos casca de laranja nos caras e gritávamos - “Vocês nunca vêm aqui, vêm agora para que?” – fizemos aquela arruaça. “Puxa vida”, ah, para que, cara? Olhando assim, foi uma coisa bonita, os petistas contra os democratas cristãos. Quando eu entrei para a fábrica um trabalhador me chamou e falou: “Vem cá, assim é que você é o nosso representante?” – “Como assim?” – “Como assim o que rapaz, se ele veio aqui como candidato a governador do estado é porque nós temos importância, se ele vem aqui é porque ele quer o nosso apoio, entendeu, ele quer que nós o apoiemos. Você pode fazer isso por ser do PT, mas você não é do PT cara, você é nosso representante, você é da CIPA, da comissão interna em que todo mundo votou”. Foi uma lição. Então, isso me ajudou muito a não ser tão radical nas coisas, sabe? Às vezes você tem seu pensamento, mas tem que levar em conta que você está representando todo mundo, que é apenas a sua posição política que conta. Isso também me ajudou muito, uma dura dessa fez com que eu maneirasse em certas coisas.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Acho importantíssimo. Eu gosto de ler muito, eu leio muito sobre a história do movimento sindical e sempre observo os pesquisadores falando: “Ah, resgatar a memória sindical é muito ruim, difícil de pesquisar, porque os trabalhadores, muitas vezes, não tem o seu arquivo porque a enchente levou, não sei mais o que....” eu já li isso em alguns livros, sabe? Eu senti isso na pele, minha casa pegou dois metros d’água e aquelas coisinhas, eu tinha muita coisa do movimento, coisinhas pequenas, por exemplo, a primeira pesquisa, eu tinha tudo arquivado. Então, às vezes, a sociedade não consegue reproduzir a história do seu povo, porque também os trabalhadores perdem as suas, os seus regalos, as suas coisas, da sua vida. E é por conta disso que acho que fazer essa atividade é muito legal, porque ela dá uma dimensão muito maior, da vida na cidade, da vida da sociedade, com a possibilidade das pessoas contarem as coisas. Hoje eu estou contando minha história para vocês. Eu dei muito incentivo também ao centro de memória sindical. E eu acho que é importantíssimo para nós deixar gravado as coisas que a gente viveu, que a gente enxergou. Talvez aqui eu tenha falado coisas que as pessoas não concordem, que pensem diferente, mas é uma experiência da nossa pequena vida.

 

 

 

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