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Vera Lúcia Mattar Gebrim

Vera_Lucia_Mattar_Gebrim História temática

Identificação

Meu nome é Vera Lúcia Mattar Gebrim. Eu nasci em São Paulo, vinte e seis de maio de 57.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Eu sou socióloga, formada pela USP, Universidade de São Paulo.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

Meu primeiro trabalho foi dando aula de História do Brasil em um cursinho, na zona leste de São Paulo, mas foi temporário, por apenas um semestre. Depois eu trabalhei em uma butique, por mais ou menos seis meses também. Aliás, foi paralelo: a butique e o cursinho que eu dava aula, levei os dois juntos por um tempo. Eu tinha acabado de entrar na faculdade em 77, aí fiz esses trabalhos. Logo em seguida, eu vim para o DIEESE.

 

 

Trajetória no Dieese

 

 

Eu não conhecia o DIEESE. Entrei na faculdade e conheci uma menina – ficamos amigas – que chamava Rita de Cássia Braglia. É uma pessoa fantástica. Ela trabalhava no DIEESE. Apareceu um estágio, um trabalho temporário por um mês, levantamento de preços no município de São Bernardo. O DIEESE estava fazendo a pesquisa e precisava de duas pessoas para fazer a tabulação das informações. Essa menina me falou: “Você não quer ver?” Aí eu e Solange Sanches viemos fazer esse trabalho. Coincidiu de uma pesquisadora de preços sair do DIEESE nesse período e vagou um trabalho na coleta de preços do índice de custo de vida, na parte de vestuário. Tinha por norma que as pesquisadoras de preço do DIEESE, o perfil que eles gostavam era que fosse dona de casa, porque tinha toda a experiência de fazer compras de produtos de alimentação e conheciam bem como procurar, que produtos usar. A pessoa que saiu era uma dona de casa. Mas aí o [Walter] Barelli teve a idéia de contratar alguém que fosse universitário para fazer a pesquisa de vestuário. Era vestuário, utensílios domésticos, papelaria, algumas coisas assim.

Eram cinco centros comerciais onde fazíamos essa pesquisa. A pessoa faria a pesquisa de preços nesses cinco centros e nos outros dias trabalharia internamente, dando apoio ao trabalho dos técnicos, uma auxiliar técnica. Ele falou: “Vamos aproveitar alguém que já esteja aqui.” Gostou do meu trabalho e fiquei fazendo o trabalho de pesquisa e de auxiliar técnica. Fiquei um ano na pesquisa e passei para auxiliar técnica em tempo integral. Isto foi em 78. Eu levei algum tempo para me formar, me formei em 84; até lá, eu fiquei como auxiliar técnica. Quando eu me formei, depois de um ano, passei a técnica.

Quando cheguei no DIEESE eu senti... “É isso que eu quero para o resto da minha vida.” Tanto no conteúdo do trabalho, nos objetivos, quanto na convivência com pessoas muito diferentes uma das outras, mas que tinham mais ou menos a mesma forma de pensar a sociedade, as mesmas preocupações. O DIEESE está voltado para a assessoria técnica ao movimento sindical o que me encantou muito. Sempre tivemos muita clareza disso, toda uma preocupação em acumular um conhecimento, em pensar questões ligadas às necessidades da sociedade, mas colocar esse conhecimento que adquirimos na universidade a serviço da classe trabalhadora. Quando eu entrei isso para mim um encanto. Como uma pessoa que tinha uma preocupação em transformar a sociedade, em atuar de uma forma a procurar a igualdade, a justiça, entrar fazendo um trabalho de apoio, um trabalho que fosse servir de instrumento para a ação da classe trabalhadora, era um sonho. Até meus colegas de faculdade falavam: “Nossa, você é paga para militar!”

Eu tinha entrado na faculdade em 77, na retomada do movimento estudantil, as primeiras passeatas. Era uma coisa de você ter a sensação de que estava vivendo um período importantíssimo da história e nos locais mais vibrantes. Imagina ver aquilo tudo de dentro mesmo. Eu tinha a sensação de estar assistindo a um filme. Alguma coisa de muito importante está acontecendo. Não tinha essa consciência toda, mas de ver a atuação do Barelli, da Annez Andraus Troyano, que estava no DIEESE nessa época, que já era uma grande profissional, uma socióloga super conceituada, eu me sentia uma espectadora de um momento muito importante da história.

Lembro do meu primeiro dia, da minha amiga me contando como fazia para chegar lá. Como chegava no centro da cidade. Lembro, na hora que eu entrei, da sala, ela me explicando o trabalho. Aí chegou o Barelli. Lembro de mim, dela e da Solange (Sanches), na sala, trabalhando. Lembro também do dia que eu fui contratada realmente. Esse eu me lembro muito bem, por que foi dia 2 de janeiro de 78. Fui contratada pelo DIEESE, como auxiliar técnica. Lembro-me do Barelli falando que íamos começar o ano bem: “Estamos contratando a Vera” e do apoio dos colegas da época.

O DIEESE é um projeto da classe trabalhadora, um projeto do movimento sindical brasileiro. É uma instituição que foi pensada para ser um instrumento de ação da classe trabalhadora. As convicções que temos enquanto cidadãos, conseguimos realizar enquanto profissionais no DIEESE. Sabemos que o trabalho que estamos fazendo é um trabalho que está sendo utilizado para uma maior igualdade dentro da sociedade. Tanto pessoal como profissionalmente fica-se voltado para aquilo. A grande importância do DIEESE na história toda que temos, é ser um espaço em que você não tem a disputa política. O trabalho que nós fazemos é absolutamente técnico e é colocado a serviço dos dirigentes sindicais, do movimento sindical; dos dirigentes sindicais que foram eleitos pelas suas categorias profissionais para se contrapor na disputa de classes dentro da sociedade. Nosso trabalho é técnico, não temos mandato, não fomos eleitos, somos pessoas que fomos contratadas para fazer um determinado trabalho, da perspectiva da classe trabalhadora e colocá-lo a serviço dos representantes da classe trabalhadora. Se tem uma satisfação pessoal e profissional, ao mesmo tempo, trabalhando no DIEESE.

 

Pesquisa

As Pesquisas Sindicais são compostas por três sistemas de acompanhamento de indicadores que resultam da ação sindical: greves, acordos e convenções coletivas de trabalho e salários. Temos o Sistema de Acompanhamento de Contratações Coletivas, que armazena as informações que constam dos acordos e convenções coletivas de trabalho, que são contratos firmados por patrões e empregados através das suas representações e determinam as condições para a realização do trabalho de determinada categoria profissional. Dessas condições de trabalhos negociadas, uma delas é a questão da remuneração. Outro banco de dados que temos, dentro da Pesquisa Sindical, é o Sistema de Acompanhamento de Salários, que acompanha os resultados destas negociações no que se refere à remuneração dos trabalhadores, ou seja, os reajustes salariais que são negociados nesse processo e os pisos salariais, que são as remunerações mínimas para cada categoria profissional. E um terceiro banco de dados, que é a própria ação sindical, é o Sistema de Acompanhamento de Greves, que é um sistema em que coletamos, sistematizamos, organizamos as informações sobre as greves realizadas pelos trabalhadores em todo o território nacional. Esses sistemas foram desenvolvidos pelo DIEESE ao longo da sua história.

Ainda durante a ditadura, em 1978, o movimento sindical retoma a sua ação efetivamente e aparece como um ator importantíssimo no cenário nacional, com as greves. Na realidade, o marco da retomada se dá nesse momento: o movimento sindical estava vivo, estava ali, estava ativo. Apesar de toda repressão política, as entidades sindicais tinham um trabalho de organização. Em 12 de maio de 78, temos a primeira greve após os anos mais difíceis, a da Scania. A última greve de que se tinha notícias até então, era a de Contagem e Osasco, de 1968, que ocorreu em plena ditadura. Esta greve (da Scania, em 1978) se alastra e resulta em um processo de negociação coletiva, na composição de acordos coletivos de trabalho; e a partir daí a ação sindical se volta para consolidar um espaço de negociação coletiva que visa regulamentar as condições de trabalho, avançar em relação à legislação. Daí, o DIEESE começa a fazer o acompanhamento (das greves e dos acordos) sistematicamente.

Esses sistemas, na verdade, armazenam informações que são o resultado da ação sindical, o resultado do trabalho dos dirigentes sindicais, e essas informações voltam aos dirigentes como instrumento para a avaliação dessa ação e para dar continuidade à ação, como subsídio. Por exemplo, as negociações coletivas de trabalho, quando analisamos os resultados das negociações salariais, de reajustes salariais, de pisos salariais... O que estamos dizendo? Olha, o movimento sindical organizado conseguiu que as negociações se dessem dessa forma, a maioria das categorias consegue repor o INPC [INPC – Índice Nacional de Preço ao Consumidor], os pisos salariais se mantêm em um determinado patamar ... e o próprio resultado da ação dos dirigentes vira um instrumento para a continuidade dessa ação. Acho que esse é um bom exemplo da integração entre técnicos e sindicalistas... Nós analisamos o resultado das greves e subsidiamos o cara para ele dizer: “A maioria das greves, no decorrer da história, foi por atraso de salário, foi por descumprimento de lei. Como vamos discutir uma lei de greve que obrigue ao cumprimento de um determinado ritual quando ela acontece para pressionar os patrões que estão descumprindo a lei? ... Se não cumpriram o que tinham que cumprir, a greve não precisa de pré-requisitos pra ser convocada”. É a ação que vira informação e subsidia a própria ação. O DIEESE é freqüentemente, recorrentemente, chamado para várias discussões, com organismos internacionais, institutos de pesquisa internacionais, com entidades sindicais do mundo inteiro,,, Eu me lembro, por exemplo, da visita da OLP [Organização pela Libertação da Palestina] ao DIEESE, conversando conosco sobre essa experiência que somos... Temos o reconhecimento tanto de entidades sindicais como de institutos de pesquisa e de governos de diversos países.

 

Pesquisa/Questão de Gênero

O objeto maior do meu trabalho é o resultado das negociações coletivas, através dos acordos e convenções. Levantamos dentro dos acordos e convenções coletivas as cláusulas que se referiam ao trabalho da mulher. Lembro-me o seguinte, a primeira vez que fizemos um trabalho sobre gênero, foi exatamente sobre as cláusulas que constavam dos acordos e convenções coletivas em 1987. Fizemos o primeiro trabalho sobre isso, considerando os acordos de 85 e 86. Na época, a Nair Goulart que é uma dirigente sindical – hoje ela está na Força Sindical, ela é de origem dos Metalúrgicos de São Paulo –chegou, via Metalúrgicos de São Paulo, pedindo para fazermos um levantamento, dessas cláusulas, que ela tinha tido um contato com o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Essa questão começava a aflorar nesse momento, em meados dos anos 80. Nós fizemos. Era um trabalho monstruoso porque não tínhamos sistemas informatizados, íamos aos arquivos físicos. Um acordo coletivo de trabalho é um documento que tem em média 80 cláusulas. Íamos ao arquivo físico, procurávamos onde tinha cláusula de mulher, deixava marcado na página, tirava xerox, recortava, colava, e analisava. Fazia levantamento do que tinha, quantas cláusulas, o que diziam, etc. Esse foi o primeiro levantamento que fizemos. Foi um super sucesso. Adoraram (as mulheres do movimento sindical). Usaram muito esse trabalho.

Nós fizemos mais dois levantamentos, já com sistema informatizado, de negociação coletiva sobre cláusula de gênero. Um por solicitação do Fundo de Eqüidade de Gênero Canadense, outro por solicitação da Organização Internacional do Trabalho, OIT. Sempre trabalhamos junto com as sindicalistas e por solicitação das entidades sindicais sócias do DIEESE. Procuramos levantar informações sobre as questões que são de interesse e transformar essas informações em instrumento para subsidiar o trabalho dos dirigentes. No caso da questão de gênero, nosso procedimento é exatamente esse: levantamos as informações, mostramos o que tem, como a coisa aparece, e cada dirigente utiliza de acordo com a sua estratégia. A questão de gênero, dentro do movimento sindical, é uma das questões que cria unidade entre as centrais. Nós trabalhamos com as cinco centrais sindicais principais, juntas, fazendo seminários para levantamento de quais as questões que íamos abordar, como íamos tratar isso, que blocos achávamos importante serem tratados. Até o agrupamento das questões que iam ser trabalhadas, discutimos com elas: a saúde da mulher; as condições de trabalho da mulher, a maternidade. Hoje esses trabalhos são referências muito fortes nas negociações coletivas de uma forma geral.

Na questão de gênero tem alguns temas que são os que agrupam todas as questões que estão envolvidas que dizem respeito aos diversos aspectos do trabalho da mulher, desde seu papel como mãe até suas especificidades enquanto trabalhadora. Estamos até hoje aprimorando as pesquisas, existe um sistema de classificação dos temas tratados que permite abordar qualquer tema e re-classificar, reagrupar de acordo com o que você está analisando naquele momento. No caso das questões de gênero, quando o Fundo de Gênero Canadense solicitou que fizéssemos, em 97, um levantamento das cláusulas de gênero, nós fizemos esse seminário com as sindicalistas, fizemos o agrupamento, o desenho do que queríamos procurar, o que considerávamos como gênero. Por exemplo, a definição do que era questão de gênero (nos acordos e convenções coletivas foi dada pelas sindicalistas ali: é o trabalho da mulher, são as questões de eqüidade. As próprias sindicalistas em conjunto conosco, fizeram o esboço do tipo de classificação das cláusulas. Fizemos um levantamento do que existia, em que categoria, como tinham evoluído no período de 1993 a 1996, esses direitos, ou tinham involuído, se tinha um retrocesso. E a abordagem, o que essas cláusulas abordavam, como elas vinham sendo tratadas, etc. Nessa época, a Laís Abramo, que hoje é diretora da OIT [Organização Internacional do Trabalho] do Brasil, estava na OIT Chile. Viu esse trabalho, ela trabalhava gênero, e ficou encantada. Falou: “É isso que eu quero, quero reproduzir o que vocês fizeram, em outros países da América Latina.” Nós usamos exatamente a mesma metodologia que nós utilizamos no Brasil. Nós tivemos um seminário, em Lima [Peru], com outras entidades de pesquisa da Argentina, Venezuela, México, Uruguai, Chile, Paraguai. Replicamos esse tipo de classificação que tínhamos feito. Na verdade, fizemos um seminário para que elas conhecessem como era o nosso sistema de classificação e esse trabalho foi reproduzido nesses países.

E as trabalhadoras ficam muito empolgadas quando vêem o resultado desta pesquisa. É, porque é um drama cotidiano, o que as mulheres vivem nos seus locais de trabalho. É um problema dramático mesmo, no dia a dia das trabalhadoras. Já apresentei em vários lugares. Serve como uma referência para elas fazerem as reivindicações nas categorias que elas estão; serve como um incentivo para trabalhar, para participar de uma mesa de negociação e lutar pelos direitos das mulheres. Tem uma série de coisas que você até se emociona: eu me lembro uma vez que nós fomos para um seminário com uma moça do Rio Grande do Norte, quando eu apresentei o trabalho ela falou: “Eu já conhecia esse trabalho de vocês, e nós conseguimos colocar no nosso acordo uma cláusula que a gente nem sabia que existia, porque a gente viu no trabalho de vocês”. É um negócio que você começa a perceber, a disseminação de direitos que, muitas vezes, estão localizados nas maiores categorias, nos maiores centros urbanos.

 

Assessoria

Dentro do DIEESE você tem uma multidisciplinaridade, sociólogo, economista, geógrafo, tecnólogo; já tivemos engenheiro de produção, hoje em dia acho que não tem mais nenhum. Ah, estatístico, tem. Eu acho que é muito legal a troca, os focos que temos. Complementamos-nos nas discussões que fazemos, nas análises.

Chegamos num ponto legal de trazer a teoria, colocar a teoria como um instrumental de ação para os sindicalistas. Acho que nós conseguimos. Os sindicalistas sabem usar o DIEESE de uma forma bastante proveitosa. Acostumamo-nos, estamos afinados, antenados sobre o que eles estão precisando; sobre o que o movimento sindical está precisando para a sua ação. Temos uma diversidade muito grande de correntes políticas dentro do movimento sindical. O DIEESE funciona de uma forma positiva, como um ponto de encontro entre os sindicalistas.

O DIEESE tinha que ser uma fonte com a maior credibilidade. Nós já tínhamos problemas demais por ser um departamento de assessoria ao movimento sindical no meio de uma ditadura. O critério, o cuidado com a qualidade das informações, com a fidedignidade do que você está afirmando, tinha que ser redobrado, triplicado. Todos somos muito paranóicos com esta coisa de “tem certeza absoluta, o dado é esse mesmo, vamos ver de novo, vamos processar de novo, ver se é isso mesmo”. Porque tem que sair o mais refinado e, ainda mais, em cima de um dado como esse. Se cresceu o número de greves, se diminuiu o número de greves, se melhoraram as negociações ou se pioraram. Você tem que ter muito cuidado nas afirmações. É uma equipe daquelas chatas, mesmo. Tem que ter tudo direitinho, tanto que nós já tivemos questionamentos (de um empresário): “Mas eu não tive (greve) na minha empresa.” “Ah, você não teve, espera só um pouquinho.” Vai lá, o recorte está lá: “Olha, está aqui, jornal tal, dia tal, dizendo isso, aquilo, aquilo, você quer que eu mande por correio uma cópia da matéria?”

 

 

Banco de Dados

 

 

Estamos atualizando os bancos de dados. Temos uma equipe montada para isso, para atualizar. Temos as divulgações semestrais dos três bancos. Uma vez por semestre, divulgamos as greves no primeiro semestre, as greves no ano; os reajustes no semestre, os reajustes no ano; os pisos no semestre, os pisos no ano; cláusulas sobre terceirização, sobre gênero, sobre qualificação da mão-de-obra. Uma série de trabalhos que saem desses bancos.

A coleta destes dados foi evoluindo também de acordo com a evolução tecnológica, que é um negócio que temos que considerar. As fontes do SACC-DIEESE são acordos e convenções coletivas mesmo, trabalhamos com documentos. A fonte de salários, além dos acordos e convenções coletivas, são notícias de jornal. A fonte das greves são notícias de jornal, tanto imprensa sindical, quanto imprensa comum. Sempre a escrita. Com o avanço da tecnologia, conseguimos, por exemplo, pegar os acordos nos sites. Muito mais fácil. Antigamente, você tinha que ligar para Manaus,, quando conseguia contato, para pedir os acordos, para mandar para o DIEESE. Agora temos sites em que procuramos. Para as greves, contratamos serviços de clipping, que mandam informações e sistematizamos, mas agora também, com a internet, os meninos praticamente, diariamente entram em sites e acham notícias. A mesma coisa com os salários. Trabalhamos com informação registrada. Mesmo que seja informação da imprensa, é do jornal do dia tal, temos toda essa preocupação em ter a fonte coletada específica ali.

Hoje em dia ainda é muito mais tranqüilo do que já foi. Você não tem idéia do que era pegar coisinha por coisinha, datilografar. Corrigia datilografia, porque a datilógrafa datilografava, mas a datilógrafa só datilografava, você tem que ver se ela transcreveu certinho, se não falta um pedaço, se a palavra está correta.

Eu lembro de um trabalho que fizemos, um estudo para os Metalúrgicos de Manaus. Peguei a pauta dos Metalúrgicos de Manaus, o acordo dos Metalúrgicos de São Paulo, os acordos dos Metalúrgicos de São Bernardo. Era uma planilha desse tamanho [indica com as mãos o tamanho da planilha]. Eu colei várias páginas quadriculadas com durex e fiz as colunas com régua. Transcrevi a pauta, o acordo de Manaus e os outros acordos, cláusula por cláusula com lápis. O acordo tal dizia isso, a cláusula um diz isso, isso e isso; nesse acordo diz isso, isso e isso. Hoje, os meninos reclamam porque o computador é lerdo.

 

Avaliação/Dieese

Eu acho que é importante para o DIEESE ser um espaço de convivência entre as diversas correntes. A possibilidade de ser um projeto único, um espaço de discussão de questões importantes para o movimento sindical sem a contaminação das divergências naturais que existem entre as correntes, que muitas vezes impedem o diálogo. Dentro do DIEESE isso não existe. Depois eu acho que é essa produção que fazemos. Essa produção técnica do DIEESE, que é um instrumento que, acho,, é a única instituição do mundo que conseguiu ter. E uma instituição como o DIEESE ter sobrevivido a tudo e a todos, numa história tão difícil quanto a História do Brasil, nesses 50 anos. Ter sobrevivido e com qualidade e com dignidade.

E é a análise da sociedade brasileira pela perspectiva da classe trabalhadora. Isso, acho que nunca vai deixar de ter importância: é a classe que produz, a maioria da população, a classe mais lesada. È a produção de conhecimento procurando captar a realidade pela perspectiva da classe trabalhadora, eu não vejo como não ter uma importância decisiva um trabalho do DIEESE dentro dessa sociedade.

Passamos tempos muito difíceis. Passamos momentos de crise nestes últimos tempos. Sinto que estamos conseguindo sair e nos consolidar. Conseguimos consolidar uma base de dados bastante rica, bastante interessante. Temos que aprofundar a análise destas bases de dados. Estamos preparados para isso. Já estamos razoavelmente preparados, mas precisamos investir em metodologia. Eu vejo boas perspectivas. O que credencia o trabalho do DIEESE é o movimento sindical. E o que nos dá a credibilidade é a qualidade da nossa produção. Eu acho que consolidamos isso, acho que a tendência é de crescimento, de aprofundarmos o que estamos fazendo até agora.

 

 

Avaliação/Trajetória de Vida

 

 

Avaliar a trajetória é difícil. São 28 anos, é a vida inteira. Eu entrei com 21 anos, estou com quase 50, então, qual a maior lição? É a convivência com todas as diversidades, a aceitação dessas diversidades. Tem uma música que eu gosto, acho maravilhosa, que parece meio boba, mas eu a acho maravilhosa. Ela diz que “vai ter festa no gueto, misturando o mundo inteiro, vamos ver no que dá.” Eu acho que o DIEESE é um pouco isso: “tem gente de toda cor, tem raça de toda fé, guitarra de rock’n’roll, batuque de candomblé”. Tem de tudo e conseguimos transformar isso numa coisa muito produtiva. Eu lembro de um dirigente sindical, o Pereira, de Guarulhos, foi presidente do DIEESE quando o DIEESE fez 40 anos. Ele falou: “Olha, o DIEESE me impressiona muito.” Eu acho que tinha até que resgatar essa fala, ela está gravado nos 40 anos do DIEESE. Ele dizia que o DIEESE é uma coisa muito especial, você entra aqui você vê de tudo, você vê todo tipo de gente, de tudo quanto é jeito, de tudo quanto é tipo, ninguém implica com ninguém e todo mundo trabalha muito. É essa coisa que temos, e que é muito legal, de valorizar muito o trabalho. Valorizar de verdade, tanto o trabalho no sentido mais conceitual, quanto no cotidiano da gente. Nosso tema é o trabalho. Essa valorização do trabalho ao máximo possível, é um perfil da equipe. É um perfil da equipe tornar as coisas mais agradáveis, mais leves, de fazer caber tudo. As pessoas cabem, dentro das suas diferenças, quando você tem um projeto maior, baseado na solidariedade, na justiça, na igualdade, na integridade... quando as coisas estão assentadas nessas bases e estão sendo trabalhadas de uma forma coletiva... aliás, eu acho que, na verdade, eu ressaltaria isso como a coisa mais importante que eu aprendi: o coletivo, coletivo de verdade, de você priorizar, em detrimento de vaidades, de posições pessoais, de você priorizar a participação das pessoas na construção de um objetivo maior, de uma sociedade mais justa.

 

 

Desafios

 

 

Os desafios que temos em perspectiva são os de avançar, a partir dessa consolidação que temos do nosso trabalho, com qualidade e com credibilidade. Eu acho que o DIEESE é um desafio em si. Por todas as características que ele tem. Por ser do movimento sindical, por analisar pela perspectiva da classe trabalhadora, por ter sido o tempo inteiro muito reto e muito firme na sua conduta. O desafio é esse. É continuar no passo que a gente vem vindo há 50 anos.

 

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