Ferramentas Pessoais
Seções

Ir para o conteúdo. | Ir para a navegação





Página Inicial Navegação Nossas Histórias Carla Maria Bernaderi Massabki

Carla Maria Bernaderi Massabki

carla_maria_bernaderi_massabkiHistória temática

Identificação
 

Meu nome é Carla Maria Bernaderi Massabki. Eu nasci dia 18 de maio de 1962, em São Paulo, Capital.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Eu sou formada em psicologia.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

Desde criança eu tinha vontade de fazer psicologia, desde os 10 anos eu decidi fazer e acabei entrando, gostei, fiquei até me formar. Logo que eu saí da faculdade, trabalhei dez anos com educação. Eu tinha feito estágio na faculdade só. Mas eu trabalhei com escolas de crianças de 0 a 6 anos por dez anos em diversas funções, concomitantemente a faculdade e depois que eu me formei também. Eu me casei, tive dois filhos. Decidi parar de trabalhar com a escola porque achava a vida deles muito invadida, eu trabalhava nas escolas que eles estavam. Eles não tinham histórias para me contar das escolas deles, e para eles isso era muito chato. Porque as outras crianças vinham contar novidades para as mães e eles não tinham novidades para contar.

Aí eu comecei a trabalhar com pesquisas de mercado em institutos vários. Até que eu fiquei sabendo dessa vaga que tinha no DIEESE num projeto novo. E procurei o DIEESE e comecei a trabalhar aqui em 94.

 

 

Trajetória no Dieese

 

 

Eu sabia que existia o trabalho do DIEESE. Ouvia falar, sabia que era um instituto que trabalhava com pesquisas, ligado aos trabalhadores. Tinha uma noção do que fosse o DIEESE. Entrei em 1994 para trabalhar na Pesquisa de Orçamento Familiar. Fiz um treinamento, antes uma etapa de seleção para saber o que tínhamos feito na vida, se tínhamos perfil para o cargo, etc. Depois eles deram treinamento, contando primeiro o que significava a pesquisa, como ela ia acontecer e como se fazia para chegar aos lugares, que tipo de abordagem que você tinha que ter com as pessoas para conseguir efetivamente a confiança das pessoas. Porque você estava dentro da casa de cada uma delas durante um tempo, elas podiam dizer para você que não queriam que você entrasse, você tinha que saber como abordar.

 

Pesquisa/POF
 

Antes de entrar para o DIEESE, eu fazia pesquisa de produtos de arrolamento de quarteirão. Quando eu comecei a trabalhar, na pesquisa de orçamento familiar aqui, era um trabalho muito dentro dos domicílios, era um trabalho muito diferente do que eu tinha feito antes, você conhecia famílias e permanecia em contato com elas durante um mês inteiro. Você conhecia a história dessas famílias, você ficava sabendo os dados necessários para pesquisa do DIEESE, mas você tinha que ter um contato de confiança com as pessoas. Aí acabava conhecendo várias famílias durante um mês e depois o mês seguinte mudava de domicílios e assim ia. E eu fiquei nessa pesquisa durante 13 meses que é o total dela mesmo.

E essa pesquisa era assim: já existia o projeto do Índice do Custo de Vida aqui no DIEESE sendo praticado já muito tempo. E de tempos em tempos era necessário saber quais os hábitos da população que haviam mudado, por exemplo, de repente foi introduzido o DVD na casa das pessoas, não existia antes, foi introduzido o cd player, isso também não existia. Enfim, esses hábitos vão mudando de tempos em tempos, tem que se fazer essa pesquisa de orçamento familiar para rever os hábitos, se eles ainda são compatíveis com aquela pesquisa do ICV que está em campo, o que é compatível e o que tem que acrescentar, o que precisa ser retirado. Essa pesquisa de 13 meses servia exatamente para isso, um levantamento de hábitos novos. Em artigos de consumo, de tudo que as pessoas consumiam nas suas casas durante um mês fechado. Tudo de alimentação, de vestuário, de prestação de serviços, de reformas, todos os gastos, absolutamente. As pessoas escreviam numa cadernetinha e entregavam a cada semana, guardavam as notas fiscais, o que não tinha nota fiscal, eles escreviam.

Nós dávamos um trabalho para uma família inteira fazer. Todos os membros da família precisavam fazer as suas anotações. Eles tinham que gostar de você para isso, se não você não conseguia que eles fizessem. Era muito importante que as anotações fossem bem feitas e completas, o que não dava para entender, cabia a nós perguntar e esclarecer.

O dia a dia deste trabalho tem vantagens e desvantagens. Muitas pessoas nos vêem trabalhando na rua e acham: "Nossa, esse era o trabalho que eu queria para mim! Você trabalha no horário que você quer.” Não é bem assim. Tem que ter em vista do seu trabalho, o trânsito, os meios de locomoção são muito importantes, você tem que saber direitinho para onde você vai ou não. Tem que ter alternativas de como se locomover, porque São Paulo é caótica. Você pega intempéries de clima, chuva, alagamento, enfim, muito sol, você se cansa mais, tem uma série de coisas para quem trabalha na rua. É complicado, você pega tiroteio no centro da cidade. Eu já fiquei escondida dentro de loja esperando acabar um tumulto de camelô.

Tem uma coisa que é legal também: tem muito contato com gente, você conhece muitos lugares, as pessoas que tem um consumo mais evoluído do que eu, acham ótimo porque vão e comparam um monte de coisa. Você está sempre informado de preço, de coisas novas. Tem todo esse lado que deve ser planejado. Tem que estar sempre atento, você tem que saber se tem greve de ônibus, greve de metrô, se tem um lugar que está tendo um acidente. Se você conversa com um pesquisador ele sempre sabe aonde chegar, ele sempre sabe o que está acontecendo, porque se ele não souber, o dia dele pode se tornar muito difícil. O trabalho dele pode ficar atrasado.

Tinha lugares que tinha muita resistência, outros lugares você se sentia em casa, é muito de cada um. Mesmo que tenha a mesma abordagem simpática, explique, claramente para todo mundo saber de onde você precede, mesmo assim existem pessoas que não querem que você entre na casa. Essa resistência era maior em classes mais altas, era muito mais difícil. Não que fosse impossível, mas era uma resistência mais comum.

Eu precisava, na época que eu entrei no DIEESE, de horário de trabalho flexível. Eu tinha filhos muito pequenos e tinha que levar para escola, trazer da escola, enfim. Esse trabalho de pesquisa fazia com que eu tivesse uma cota certa de trabalho para fazer e eu dependia dos horários que eu combinava com cada morador de domicílio. Podia ajustar o meu trabalho aos horários dos meus filhos e isso para mim nessa época foi de extrema importância. Eu precisava desse trabalho. Não tinha como ser outro. Ainda mais por ter trabalhado com educação e entender uma forma muito clara de educação que eu queria a dar para os meus filhos, que eu já tinha dado para várias pessoas. Nesse sentido, o DIEESE teve uma importância muito grande na minha vida.

Passados os 13 meses da pesquisa, quando acabou esse processo todo fui chamada para implantar o ICV novo. Continuo até hoje aqui, só que mais internamente, com os processamentos, as tabelas, etc. E para mim está sendo muito legal. Está sendo um desafio aprender coisas novas, retomar coisas que eu já sabia, agora ao invés de na prática, nessa parte mais teórica. Está sendo muito interessante. É uma coisa que ainda está muito no comecinho, está um pouco difícil de falar, mas estou aprendendo muita coisa diferente e era isso mesmo que eu queria fazer.

E o ICV é meio o carro-chefe, muita gente conhece essa pesquisa, a pesquisa do Índice de Custo de Vida e da cesta básica. Tem muita divulgação dos meios de comunicação. Quando você fala o ICV do DIEESE, as pessoas lembram que viram na televisão, ouviram no rádio. Tem a cara do DIEESE mesmo, e é um trabalho visto com bastante carinho, pelo DIEESE como um todo. E mesmo tendo uma inflação mais controlada hoje o Índice de Custo de Vida continua sendo importante. Mesmo em países que a inflação é muito pequena a pequena variação tem um peso. Acredito que sempre seja importante.

Começamos como uma equipe muito grande nessa primeira pesquisa, nessa da POF. Algumas pessoas ficaram para trabalhar no Índice de Custo de Vida. Passamos por várias crises no DIEESE. Quando começamos a trabalhar no Índice de Custo de Vida, cada pesquisador tinha uma região bastante clara. Uma pessoa trabalhava com a Zona Sul, outra com a Zona Norte, havia pesquisadores que moravam em todas essas regiões, porque eram muitos. Com as demissões esse quadro mudou bastante porque já não se tinha pesquisadores de todas as áreas. Não foram contratadas pessoas para as que foram embora; alguns trabalhos foram re-divididos, o que significa hoje que ninguém trabalha numa zona só, todo mundo trabalha em praticamente todas. É legal porque você conhece tudo, não é um trabalho monótono e é bem diferente do que era no começo.

 

Avaliação/Dieese
 

Eu acho que o DIEESE é muito importante para o movimento sindical e para a sociedade. E o DIEESE e o movimento sindical, acho que os dois fazem, fizeram uma história e fizeram juntos. Não tem quem imagine o DIEESE sem pensar o movimento sindical hoje. É um instituto de pesquisa que não é do governo, isso é uma coisa que é muito importante, em alguns lugares que a pesquisa vai é muito importante para algumas pessoas que você não seja do governo. Pois existem muitas pessoas que acham que é ligado ao governo. Elas queriam alguma coisa à parte. E ter um instituto de pesquisa. A sociedade que eu falo é de gente mesmo que a gente encontra é assim: parece mais fidedigno o trabalho que você está fazendo. O índice parece mais próximo da realidade. É o que a gente tem de feedback na rua com as pessoas. É um índice que não é manipulado. Pelo menos é o que eu escuto das pessoas com as quais fazemos a pesquisa. O DIEESE ser ligado ao movimento sindical é muito importante. Porque depois que você já está lá dentro tudo bem, você já tem um vínculo de confiança e a coisa vai acontecendo, mas na hora da abertura essa coisa de ser do governo ou não é importante.

Acho que alguns cidadãos têm noção da importância, mas nem todos. Não sei se a grande maioria tem, não saberia te dizer. As pessoas sabem daquilo que elas escutam. Ou de boca a boca, acontecia muito de eu chegar a algum lugar, eu estava numa loja, chegava um cliente, a pessoa que estava me respondendo a pesquisa virava para esse cliente e dizia: "Vocês dizem que pesquisa não existe, ela é do DIEESE, olha o crachá dela!" "Como assim?" "Não, isso acontece mesmo, isso acontece mesmo, eu faço parte dessa pesquisa com orgulho de estar fazendo parte, de estar há tanto tempo". Enfim, e de mostrar. Eu acho que as pessoas ficam sabendo dessa importância quando é divulgado pelos meios de comunicação e dessa forma através de pessoas que vão passando para frente. Nesse sentido, o nosso trabalho é legal porque temos contato em vários estabelecimentos. Na hora em que você está dentro dele, há várias pessoas que estão ali fazendo compras, acaba sendo exponencial.

A palavra DIEESE, a primeira coisa que suscita nas pessoas é: "Ah, você que ajuda o meu salário a aumentar!” É muito gozado porque eles associam aos sindicatos que tem como parâmetro o ICV do DIEESE e aí vão ajustar de acordo com índice que preparamos na rua. Tem uma receptividade muito grande de algumas pessoas exatamente por causa disso. Existem as pessoas descrentes: "Lá vem mais um pessoal de pesquisa, isso não serve para nada, não é verdade!" "Como não é verdade? Estamos aqui, você não está vendo? É pesquisa real." Eu acho o nome DIEESE em poucos lugares muito distantes que não tenham ouvido falar. Mas também não ouviu falar em muita coisa. A maior parte das pessoas escutaram falar no DIEESE e associam o DIEESE ao trabalhador.

 

 

Mulheres no Dieese

 

 

Não vejo nenhum problema, é tranqüilo trabalhar. Acho que não tem nem o que discutir. Uma mulher que tenta abrir – “abrir” é o jeito que chamamos, de abrir o estabelecimento – em alguns lugares como mecânica, revendedora, lugares que são ditos como masculinos, têm alguns problemas. Existem outros que é mais tranqüilo, que depende da pessoa que está lá para te atender. Existem locais extremamente masculinos e que você se sente medida desde a hora que você entra até a hora que você sai. É muito complicado. Eles não conversam com mulheres, "não, essa pesquisa é bobagem!" Enfim, tem alguns lugares, mas isso não tem a ver com o DIEESE, tem a ver com o que se pensa lá fora.

 

Desafios
 

Eu acho que o DIEESE está num momento de reestruturação econômica. Porque tivemos muitas crises. No meu ver, e a meu ver está conseguindo caminhar para solução dessa crise. Quer dizer, o que eu tenho visto dos trabalhos dos meus colegas nesse sentido, dos que trabalham diretamente com isso, é que está tendo um esforço muito grande e consigo ver alguns resultados para melhorar a situação em que estávamos. Nessa situação econômica ela influência também no tipo de projetos que o DIEESE está procurando hoje, quer dizer, acaba extrapolando paras outras áreas. É um movimento de reestruturação. Espero que consigamos caminhar e se superar.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Eu acho muito legal porque aprende muito com a história. Se você não recupera tudo que você, pessoalmente viveu ou uma instituição fez, você perde. Você perde o que você errou para você tentar acertar, e você perde os seus acertos para continuar com eles, a menos que mude o contexto você terá que mudá-los. Eu acho muito interessante.

E acho que é um momento gostoso. É que hoje está um pouco distanciado das crises mais sérias do DIEESE, eu acredito que se fosse há um tempo ia ser um pouco difícil esse trabalho. Mas agora que a gente vê como as coisas estão caminhando para frente é muito importante porque ele é avaliação mesmo. Acaba sendo para cada um que vem aqui dar entrevista, para cada um que vai ler depois, que vai ver as coisas que vocês vão produzir.

 

 

Avaliação/Trajetória de Vida

 

 

Apesar de ser uma área diferente da minha formação superior, ela acabou se juntando de alguma maneira porque trabalhar como pesquisadora e trabalhar com pessoas tão diferentes o tempo todo faz com que cresçamos muito pessoalmente. Se você tem a disponibilidade, se você está disponível para isso. E foi um momento de reestruturação individual, familiar, profissional, enfim. Foi um processo mesmo muito legal.

Ações do documento