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Cláudia Fragozo dos Santos

claudia_fragoso_dos_santosHistória temática

Identificação
 

Chamo-me Cláudia Fragozo dos Santos, nasci em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no dia 6 de abril de 1973.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Formei-me em Letras, Português e Espanhol.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

A primeira vez que eu trabalhei foi como office-girl, aos 14 anos, numa gráfica muito pequena, em Porto Alegre [RS]. Eles não tinham nem telefone e eu tinha que ir até o orelhão com um monte de fichas telefônicas fazer as ligações para os fornecedores. Meu pai, desde jovem, militou na esquerda brasileira e, obviamente, influenciou muito na minha formação pessoal e política. Cheguei a militar no movimento estudantil secundarista e fui presidente do grêmio estudantil na escola. Meu segundo emprego foi no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, em várias áreas, e a última era o que eles chamavam de CPD [Centro de Processamento de Dados]. Era responsável pelo cadastro dos associados, das empresas, dos bancos. O sistema, o software usado para controle da arrecadação do sindicato que comecei a operar era de uma empresa de São Paulo. Chamei a empresa para me dar um treinamento.

Fiz esse treinamento e conheci a Pandora, que por sua vez, me deu um conhecimento maior do DIEESE, mas eu já tinha algum contato porquê no Sindicato dos Bancários também havia uma subseção e nós trabalhávamos bem próximos. Quando saí dos Bancários, virei funcionária da Pandora. É uma software-house voltada para sindicatos, foi fundada por ex-funcionários do DIEESE e funciona na cidade de São Paulo, em Pinheiros.

Eu fazia uma representação na região sul, nos sindicatos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, dos programas da Pandora. Como a Pandora também fazia Organização e Métodos, o DIEESE a contratou, em 98, para fazer um trabalho de análise da parte administrativa e financeira de organização, de métodos e de sistemas. O pessoal da Pandora avaliou que por todos eles já terem trabalhado no DIEESE talvez fosse bom alguém de fora fazer esse trabalho. Vim prestar uma consultoria pela Pandora no DIEESE. Quando vim fazer esse trabalho, conheci o DIEESE por dentro, fiquei fazendo entrevistas para saber como acessavam a área administrativa. A minha permanência em São Paulo era para ser apenas seis meses, mas eu nunca mais fui embora, já estou aqui há oito anos. Terminou esse trabalho em 98, eu voltei para prestar serviço em outros clientes da Pandora, ainda aqui em São Paulo, alocada como Organização e Métodos na CUT Nacional, ficava lá quatro dias por semana, mais ou menos, e atendia outros sindicatos. Tínhamos uma relação muito próxima, nós da equipe da Pandora. O pessoal até falou: “Vem, fica aqui em casa até achar um lugar.” Isso porque eu ia ficar só seis meses. Vim, e fiquei na casa do Mauro Kohan e da companheira dele. Eu falei: “Achei um apartamento mobiliado, dá para ficar uns três meses”. Aí eles: “Ah, não. Fica aqui com a gente.” Fiquei morando com eles e, até hoje, eu agradeço muito. Até que a Pandora propôs que eu ficasse em definitivo. Fui procurar lugar para morar e eles sempre me ajudaram em tudo.

 

Trajetória no Dieese
 

Entrei no DIEESE em 2000 para uma vaga como responsável administrativa e financeira de um projeto que o DIEESE fazia em convênio com o BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento. Foi um projeto grande, durou quatro anos, de 2000 a 2004. Era um recurso significativo e cabia a mim além do monitoramento financeiro, a execução de uma parte do orçamento desse projeto. O BID exigia que contratasse alguém, que não poderia usar alguém que fosse dos quadros internos. Um dos produtos desse projeto era a reformulação administrativa e financeira do DIEESE. Só que exatamente entre 2002 e 2004 foi difícil fazer uma reformulação administrativa e financeira porque houve uma crise em 2003. Houve cortes e mudança de diretoria. Desde 2004, sou a coordenadora administrativa e financeira.

Quando eu fiquei em São Paulo, definitivamente, ainda na Pandora, resolvi estudar. Eu tinha parado no primeiro semestre lá na Federal do RS, que tinha entrado em greve, quando eu vim, não dava nem para fazer transferência. Fiz FUVEST para poder estudar, me virar e fiquei os quatro anos. Fiz USP, trabalhando e foi legal.

Quando entrei no DIEESE, estava fazendo Letras e, naquele momento cheguei a pensar em mudar de curso, mas dado o avançado da idade, eu achava que eu devia terminar logo alguma coisa que estava fazendo. Mais ainda: mudar de curso, de área, para Administração, por exemplo, também significaria um investimento de tempo para estudar e o trabalho não estava me possibilitando isso. Por outro lado, na USP você pode fazer metade do curso na unidade que você está estudando e - não chega a ser metade -, mas pode fazer disciplinas em outras unidades quaisquer. Eu fiz, em cada semestre, uma disciplina no curso de administração. Eu sinto falta de fato, acho que ainda está nos meus planos alguma formação mais acadêmica na área de Administração, mas o que me forjou mais, foi a experiência de ter trabalhado com sindicatos, sempre nessa área administrativa.

Aqui no DIEESE, fui vendo o que precisava ser feito. Eu acho que necessidade de ter informação de uma forma sistematizada sempre existiu; sempre se deu algum jeito desde quando era fichário, para conseguir ter dados armazenados. A informatização veio para ajudar no acesso e também para agilizar a organização dessas informações. Nesse meio sindical talvez tenha havido um pouco mais de dificuldade, porque as pessoas estão se vendo como gestores de uma entidade de repente. Há pouco tempo estava no torno mecânico e virou um tesoureiro do sindicato. Não é uma coisa que a pessoa se preparou. Ser um dirigente sindical, pelo menos logo que surgiu a informática, eu acho que devia ser mais difícil do que uma empresa, um executivo dizendo que quer adquirir esse conhecimento. Com a rotatividade também, isso vai se agravando, porque em torno de três em três anos muda a direção. Eu sempre usei uma máquina de escrever que depois era uma máquina melhorzinha, depois era uma máquina elétrica, agora um XT, tinha que colocar disquete para dar boot, cursos de Dbase, curso de DOS, enfim. Difícil acho que sempre é, acho que sempre tem uma resistência, que é uma mudança cultural mesmo. O DIEESE tem cerca de 30 funcionários administrativos, dos 230 funcionários que ele tem no Brasil. A área administrativa e a nossa gestão administrativa são centralizadas, mas mantemos em alguns escritórios, dentre os 16, funcionários com trabalho administrativo. Não são todos os que têm, mas alguns têm secretárias, outros têm assistente administrativo, outros têm um auxiliar de pesquisa que é o responsável por coletar os dados da cesta e aproveita dá uma força no trabalho administrativo. Mas a grande maioria da área administrativa está em São Paulo. Temos uma área financeira que cuida de contas a pagar, contas a receber, contabilidade, tesouraria, compras e uma área propriamente administrativa que é a área de serviços: copa, limpeza, manutenção, xerox, expedição, telefonia, recepção. Temos a área de pessoal que, basicamente, trabalha com a folha de pagamento, uma área de cadastro, que cuida do cadastro de pessoas e a secretaria geral. Tem também uma área de eventos com quatro pessoas que ajudam a organizar, comprar passagem, hospedagem, organizar sala, cuidar do apoio durante a atividade; fazer relatório depois. Tem também na área técnica, especificamente na secretaria de projetos, uma funcionária administrativa que é responsável pela gestão administrativa dos projetos. Cuidar da prestação de contas, esse tipo de coisa. Como todo DIEESE, pouquíssima rotatividade. A média de tempo de casa dos funcionários do DIEESE é de oito anos considerando que muita gente entrou recentemente, ou seja, também tem muita gente há muitos anos no DIEESE. Na área administrativa se concentram as pessoas com mais tempo de casa. A média está em torno de 14 anos. Têm desde o Bartolomeu [Romcy Costa] que é o funcionário administrativo mais antigo do DIEESE, que tem 28 anos de casa e contratamos duas pessoas, ano passado. Tem pouca rotatividade.

O fato de ser nacional e de ter uma administração centralizada, por um lado facilita, porque obriga que as informações de uma maneira geral cheguem para que circulem depois. Por outro lado, dificulta porque você não tem nunca visão realmente geral se você está conseguindo fazer com que todo mundo saiba do que tem que saber. Tem uma diferença cultural na verdade. O jeito que a pessoa que está te demandando determinada tarefa em Salvador não é o mesmo jeito que a pessoa de Santa Catarina vai fazer, enfim, são perfis às vezes regionais, culturais diferentes, mais a questão pessoal. Contamos muito com os supervisores dos escritórios. São eles os responsáveis pela gestão e também pela gestão administrativa em cada estado e eu diria que o fato de estarmos distantes, hoje tenho consciência disso, imagino que tenha sido bem pior quando não tínhamos tantos recursos. De informática e de comunicação, hoje não é um dos problemas mais graves. Tudo bem estar todo mundo espalhado pelo Brasil. As dificuldades são de outra ordem. Temos tentado. Sinto que temos avanços no sentido de sabermos o que está sendo produzido, circular, transformar em publicação, fazer um trabalho com o que acontece no Brasil.

Temos escritórios há 20 anos, 15 anos, há muito tempo e dos 493 sócios que temos, 100 devem ser de São Paulo. De fato, as nossas demandas estão muito espalhadas. O que acontece é que as maiores entidades sindicais estão em São Paulo, entidades sindicais de caráter nacional ou estão em São Paulo ou estão em Brasília, acabam tendo maior visibilidade das tarefas, as maiores subseções e mais importantes subseções estão em São Paulo. Mas, a vida nos escritórios, em cada um, o DIEESE tem uma vida à parte, tem determinados lugares que você vê que o DIEESE tem uma importância, todo mundo chama para tudo, a imprensa aciona o DIEESE para tudo. Em outros lugares talvez não tenha tanta relevância por uma questão, um conjunto estrutural. Inclusive hoje, com nossa política de projetos, temos engajado muito a equipe. Determinado projeto tem nessa equipe um membro do Rio de Janeiro, um de Minas, um de São Paulo, a possibilidade de fazê-los se comunicar, de se deslocar, de se ter recursos para isso, com certeza ajudou. Faz com que se tenha essa interação. Temos conseguido manter certa tradição de, duas vezes por ano, reunir durante uma semana, as atividades nacionais. Fazemos a reunião da direção sindical nacional, reunião de todo mundo que trabalha com PED’s no Brasil inteiro, que é a Pesquisa de Emprego e Desemprego; reunião com os supervisores de escritório, eles constituem o Fórum Nacional de Supervisores.

Eu acho que o DIEESE é muito diversificado. Se você for pensar, a direção técnica hoje, é formada pelo Clemente que foi supervisor do escritório do Paraná; pelo Karam que foi supervisor do escritório do Paraná; pelo Ademir que foi supervisor do Rio de Janeiro, o supervisor de Brasília era de uma unidade do DIEESE que existia em Santa Catarina. As pessoas circularam muito pelo DIEESE.

Concordo que os pilares do DIEESE são o seu corpo técnico e a relação que o DIEESE conseguiu estabelecer com o movimento sindical e manter essa relação viva e tudo. Para o corpo técnico poder trabalhar, precisa ter bastidores, ter retaguarda, precisa ter esse trabalho administrativo. Para que o trabalho que o movimento sindical adquire do DIEESE comprando ou não, mas quando for comprando pelo menos, para que ele pague, precisa ter alguém cobrando e esse é nosso trabalho. 86% da despesa do DIEESE é folha, quer dizer que nós não temos muito mais por onde, nosso patrimônio é a equipe que temos. Se não existir gente do lado administrativo cuidando para que essas pessoas estejam sendo atendidas, remuneradas, pensando em políticas para isso, seria um desperdício e eu diria que, de 2004 para cá, quando eu comecei nesse trabalho da coordenação administrativa, temos tentado matar um leão todo dia e muitas e muitas vezes não conseguimos pensar na política. Você está construindo o avião com ele voando. Você tem, ao menos, que suar para garantir que vai ter recurso para pagar o salário no final do mês. Você deveria estar pensando num novo benefício, em como se implementa um plano de saúde, um plano odontológico, pensando em proporcionar melhores condições de trabalho para equipe, melhor infra-estrutura. A sede do DIEESE, a todo o momento estamos ameaçados de sair daquela sede porque ela foi cedida em comodato, em 86, pelo então governador Franco Montoro por cinco anos e estamos lá há 20. Ela foi cedida por cinco anos com a condição de que começaria a contar o tempo quando nos cedessem o andar de cima. Há 20 anos não nos cederam o andar de cima, as pessoas continuam lá por isso nós alugamos essa casa. Manter uma casa é muito difícil. Não instalamos a equipe com todos os computadores porque precisaria ter segurança, grades, manter um esquema de segurança nessa casa, que não dá mais para fazer. Se eu estou falando em problemas de infra-estrutura, de sede, aqui multiplica por 15 porque aqui onde está instalado cada escritório, que condição que tem para estar funcionando lá? Você tem um monte de trabalho que é detalhe, que dá trabalho mesmo fazer para que o corpo técnico consiga produzir o que ele precisa.

Em 2000, foi engraçado, me disseram: “Tem assembléia de sócios.” Eu fiz questão de ir, seria a primeira assembléia que eu ia participar. Era num salão de um sindicato, aqui de São Paulo e o que me chamou a atenção era que a senhora que fazia o café no DIEESE, ia para lá fazer o café. Todo mundo na assembléia conhecia o café da Dona Nenê. Era uma coisa essencial! Eu pensei: “Nossa, ela sai de lá do DIEESE, vem para cá.” Acho que foi logo depois disso que começaram a acontecer essas reuniões, assembléias, que são duas vezes por ano, junto com outras atividades. Acabaram tendo um outro espaço, em um hotel, coffee break. Mudou daquele trabalho que era uma coisa mais pessoal. Você contrata uma empresa que vem e faz. Ou seja, houve uma mudança considerável.

 

Desfios
 

Uma entidade com o caráter do DIEESE, que é um órgão de assessoria técnica para o movimento sindical, que pretende ser a referência em estudos, pesquisas, assessoria, educação, precisa, a todo o momento, provar. Por mais que tenha 50 anos. Precisa provar a credibilidade que tem. O movimento sindical tem muita rotatividade, as direções são eleitas de três em três anos. Muitas pessoas históricas do movimento sindical não estão mais nos sindicatos, estão em órgãos públicos, vivendo outros momentos. Quem está dirigindo são, muitas vezes, jovens que não viveram essa história. Além de ser um órgão de assessoria técnica, ser intersindical é ainda mais desafiante, porque o fato das centrais sindicais recorrerem ao DIEESE para fazer discussão entre elas, elas acharem que esse é um espaço que permite que elas conversem sem necessariamente estar brigando, disputando alguma coisa, também é um grande desafio.

Agora tudo isso, toda essa importância se traduzir em financiamento, não é difícil, é impossível, é complicado porque algumas pessoas fazem uma avaliação de o que o movimento sindical investe no DIEESE é seu limite. Outras pessoas acham que não, teria mais espaço para fazer isso. Com certeza, hoje, os responsáveis pelo financiamento sindical do DIEESE são muito menos entidades sindicais do que existem no Brasil. Tem muito mais para onde crescer e por que não cresce? Porque temos algumas coisas muito simples, muito modestas. A parte de comunicação do DIEESE talvez tenha sido excessivamente contida. Tínhamos um boletim lá atrás, era o único instrumento de divulgação. Não tinha uma regularidade, era trimestral mas também não conseguia ser. A questão de serviços que você presta, às vezes, não tem toda essa visibilidade, por isso não se traduz num financiamento.

O DIEESE tem reconhecimento público, acabou de receber o título de Utilidade Pública Federal, ficamos cinco anos lutando para ter isso. Esse reconhecimento público que é o fato do DIEESE ter o espaço que ele tem na mídia, os minutos que o DIEESE ocupa no Jornal Nacional, nenhuma entidade sindical vai conseguir. Se o movimento sindical entender que é ele que está tendo esse espaço, que o que está sendo dito é uma oportunidade para o movimento sindical, isso é um trabalho que temos que construir o tempo todo. Que eles se reconheçam na fala do DIEESE, que cada vez que o DIEESE tem uma inserção na mídia eles percebam, mas não necessariamente essa história toda se traduziu em financiamento. Por isso e por outros problemas de gestão, de opções que foram feitas para gerir o DIEESE, culminaram em crises. Talvez seja fácil fazer uma avaliação porque o problema já passou e alguém teve que solucionar.

Isso é refletido em salários atrasados, por meses. Sempre foi uma coisa que teve que chamar a equipe e fazer e refazer quantas vezes fossem necessárias um pacto. Eu acho que tem uma coisa, a instituição que você trabalha, ela acaba sendo um pedaço do seu nome. É a Cláudia do DIEESE. Você acaba ficando muito ligado a isso e em momentos de crise, você se sente também atingido. Eu acho que as crises do DIEESE nunca foram leves, sempre foram iminências de fechar. Era uma situação sem saída. Eu diria que há muito pouco tempo atrás, saímos de uma situação e não tem nenhuma segurança de que aqui na frente não vá mudar. Toda a nossa receita é de alguma forma instável, ela pode ser regular, mas se os sindicatos vão continuar se associando ao DIEESE, vão continuar pagando, vão continuar em dia, se vai ter mais sócio, tudo isso é desejo. Trabalhamos para isso, é nossa meta, mas não há como assegurar que isso vai continuar acontecendo.

 

 

Mulheres no Dieese

 

 

Eu até comentei que em número, nós superamos. Somos em 128 para 92 homens. Isso poderia ser comum, dependendo da área em que você está trabalhando. Temos a pesquisa de campo. Eu ouvia falar que certa época, na pesquisa de cesta básica se optou por contratar donas-de-casa. Até pela relação: ir ao supermercado, na feira, fazer esse levantamento. Não vou dizer que hoje não se traduza numa equipe exclusivamente feminina na pesquisa, mas acho que houve um pensamento voltado, na época, por causa disso. Não por quantidade, não é por esse mote de ser dona-de-casa, no caso da pesquisa, e eu acho que não é à toa, porque as mulheres, geralmente se destacam, assim.

Não sei se têm mais mulheres do que homens contando a história do DIEESE, talvez até não tenha hoje para ficar registrado, mas, se você olhar as áreas da direção técnica, do escritório nacional, a maioria está cercada de mulheres. Meu Deus, só tem mulheres! A secretaria de projetos, as relações institucionais, pesquisas sindicais, TI, administrativo, comunicação, algumas supervisoras de escritório. Por exemplo, a coordenação de relações sindicais é feita por um homem, mas a secretaria de educação que está ligada a ele é uma mulher; a secretaria de planejamento que está ligada a ele é uma mulher. A equipe de imprensa totalmente feminina, a equipe de projetos é totalmente feminina e eu não sei exatamente o que é que pode explicar isso, mas, enfim as mulheres acho que são mais bem recebidas, reconhecidas e desenvolvem um trabalho interessante no DIEESE. Eu de fato te confesso que nunca percebi ou senti no DIEESE qualquer tipo de discriminação.

 

Importância do Dieese
 

Tem uma questão científica, é a ciência sobre o que é feito. E isso é uma coisa que qualquer entidade sindical que queira ter esse conhecimento teria dois caminhos ou mais, poderia pelo menos contratar e desenvolver. Vou contratar um economista que vai me dar uma assessoria, me ajudar a ter um perfil de intervenção nessa área ou um sociólogo, enfim, ou provavelmente um economista para uma determinada parte, um sociólogo para uma outra parte, se quisesse trabalhar com formação e com negociação, provavelmente precisaria de dois profissionais ou ser sócio do DIEESE e contratar o DIEESE. Acho que esses são os dois caminhos que eu veria. O fato de ter um conhecimento que é da instituição, que está apropriado já, que não é questão de você ter uma pessoa, é de você ter um conhecimento que se traduz num acúmulo que vai se somando, que vai se especializando.

Dentro do DIEESE, você tem conhecimentos especializados, sempre vai ter um técnico que entende mais de determinado tema. Quando o DIEESE não sabe, geralmente ele tem um parceiro que pode vir para fazer uma consultoria. Trazer conhecimento e, de novo, nós vamos formar alguém. Ter a possibilidade de aportarmos para o movimento sindical um conhecimento com ciência é impagável. É muito importante. Vide a relação do DIEESE, na época da Ditadura, com a denúncia de inflação, dos indicadores oficiais. Isso foi muito importante.

O DIEESE é fundamental para sociedade. Não imagino a sociedade sem o DIEESE. Isso é muito, muito importante porque aquela idéia inicial que os fundadores tinham, em 1955, um grupo de sindicalistas pensando nisso “precisamos ter também argumentos técnicos, teóricos, embasados para poder discutir”, não se perdeu nunca. O movimento sindical continua tendo por melhor que sejam os órgãos oficiais. Os oficiais, por melhor que sejam, podem passar porque dependendo de quem está governando pode dar uma outra linha para isso. Os órgãos da iniciativa privada que podem se propor a fazer o trabalho que o DIEESE faz, trabalho técnico, inevitavelmente estão sujeitos ao mercado. O fato de o DIEESE atender ao movimento sindical quer dizer que vai representar o que eles pensarem. É isso que tem que estar assegurado, que vai representar e pensar políticas para o movimento sindical, pela demanda deles. Agora, o fato de ser intersindical não tem quem faça. Ninguém vai conseguir fazer tudo isso, reunir todas as centrais sindicais e isso significa dialogar, representar, subsidiar um ator importantíssimo para a sociedade que são os trabalhadores, toda a classe trabalhadora, esteja na tendência A, B ou C, D. O DIEESE trabalha para sindicatos e nunca, nunca sindicatos patronais, só sindicatos ou entidades representativas de trabalhadores, e isso é essencial.

Eu acho que tem essa coisa, você pergunta: “Você já ouviu falar do DIEESE?” O público fala: “Ah, na televisão, ah, o índice.” Pensam que o DIEESE é público e muitas e muitas vezes associam e acham que o DIEESE é um órgão público. Eu acho que é contraditório até porque nada que o DIEESE faça tem outro objetivo senão representar a classe trabalhadora através de seus órgãos ou de suas necessidades, solicitações. Por outro lado, o DIEESE não é visto como uma entidade sindical pela população em geral. Nós sempre falamos que se o sindicato não sabe que o DIEESE é sindical, é porque não estamos conseguindo nos comunicar com nosso público alvo. Pode acontecer. Infelizmente, ainda acontece e por essa coisa de entrar muita gente nova mesmo, mas tem determinadas entidades sindicais que podem não conhecer o potencial de assessoria do DIEESE. A sociedade, em geral, não nos vincula ao movimento sindical ou a uma ou a outra central. Inclusive fazem uma confusão achando que o DIEESE é público. Adquirimos um excelente grau de credibilidade. Fizemos uma auditoria de mídia, em 2001, que apontava que o DIEESE era citado inúmeras vezes em vários veículos. Sempre de uma forma positiva, que a imagem do DIEESE estava aparecendo. Eu acho que isso é reconhecimento. Além desses certificados de Utilidade Pública.

 

 

Avaliação/Dieese

 

 

Eu acho que cada vez mais tendemos a ser uma referência. Por ser mais consolidado, digamos assim, essa idéia de ter 50 anos e de ainda manter seu foco, de ter mantido princípios e valores. Isso é uma referência para o movimento sindical. Acho que vamos continuar com essa relação com o movimento sindical e acho que ele vai mudar muito. Realmente, acho que tende a mudar muito e que o DIEESE sempre soube disso, que ele precisa estar atento a essas mudanças, para poder continuar a ser importante. Enquanto a sociedade achar que é importante saber como os trabalhadores se qualificam, como os trabalhadores se organizam, como defendem seus interesses, o DIEESE continua sendo muito importante. O dia que se acontecer isso que muitas pessoas falam: “Não vai mais ter sindicatos daqui a pouco”. Eu até poderia te dizer, “vai virar outra coisa”, uma consultoria, vai para o mercado financeiro ascender, mas eu acho que não seria, fecharia o DIEESE, o objetivo, a característica maior do DIEESE é ser uma assessoria técnica do movimento sindical, agora, eu acho que temos que diversificar. Tem coisas que estão apontando agora. Está discutindo a possibilidade de ter uma faculdade DIEESE. Tudo isso aponta que vamos continuar fazendo aquilo que interessa ao movimento sindical, mas em várias áreas. Talvez a questão editorial, nossas publicações, possam ter uma outra cara, uma outra importância. Acho que, pelo menos, mais 50 anos estão assegurados.

O nosso maior desafio é não ter essas iminências de crise. É criarmos mecanismos que nos dêem segurança. Tem alternativa, coisas que estão sendo cogitadas que podem levar o DIEESE para uma situação um pouco mais estável, uma garantia de receita mais estável. Esse é um desafio importante. O outro desafio é manter, cumprir o que é meu desejo: o DIEESE, no futuro, continuar sendo importante para sociedade, para o movimento sindical, a sociedade entender que o movimento sindical é importante. É conseguir se manter intersindical porque eu acho que a pluralidade também vai aumentar. É muito desafiador, com certeza, porque as posições que vêm são muito diferentes.

 

Avaliação/Trajetória de Vida
 

Eu acho que administrativamente o DIEESE é a possibilidade mais próxima de uma coisa que eu sempre vislumbrei. Poder trabalhar em um ambiente agradável e produtivo, que as pessoas façam o que tem que fazer, que isso não signifique uma tortura. Ter uma relação, um ambiente de trabalho que é muito legal. E constatar que isso foi uma lição porque muitas vezes você se choca, você pensa: “Não, mas não era para ser assim, não costuma ser assim.” Mas aqui é assim e você vai se surpreendendo positivamente muitas vezes e vai aprendendo. Eu acho que o fundamental, a minha maior lição talvez tenha sido isso, a capacidade de relacionamento que as pessoas têm para o trabalho. Eu acho que é fundamental isso.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

O DIEESE comemorou o aniversário talvez com uma situação financeira um pouco melhor e com muito menos impacto. A comemoração teve muito menos impacto e agora fazemos questão de comemorar muito bem comemorado esses 50 anos e de usá-los como um momento de reflexão, inclusive. Assim, o ano passado inteiro nós ficamos fazendo seminários sobre o tema da distribuição de renda e desenvolvimento, um dos principais temas para agenda futura. Além de fazer esse seminário organizamos outro internacional, com uma festa, com uma solenidade de comemoração dos 50 anos que aconteceu em abril desse ano e propusemos esse projeto, e conseguimos financiamento porque achávamos fundamental ter um resgate da memória e poder ter um registro disso. Tudo isso porque para poder sair de uma crise financeira, para poder melhorar financeiramente, ao invés de pedir, ou de mostrar a nossa fragilidade, apostamos em mostrar o nosso potencial. Fazer um grande barulho e dizer: “Movimento sindical, olha o que o DIEESE tem para oferecer. Olha o que vocês têm na mão. O DIEESE é de vocês e podemos lhes fazer muitas coisas.” Foi um momento de divulgar produto. No final de 2005, fizemos uma atividade muito importante, que foi o café da manhã com as principais entidades sindicais. Chamamos vários sindicalistas. Estavam lá várias pessoas fundamentais de cada central e falamos: “Estamos em crise. Vejam o que está sendo feito.” Mostramos o Projeto Meu Salário, que é um convênio internacional, mostramos as nossas publicações, as coisas que estávamos fazendo. Foi uma opção. Inclusive, o Projeto Memória estava sendo uma opção de valorizar o que temos. Claro que nunca dissemos que estávamos ótimos, só não queríamos ficar nos expondo sempre, somente com as nossas fragilidades.

Estamos, hoje, usufruindo daquilo que a equipe topou. Quando estávamos em crise, passando por dificuldade, os salários e muitas medidas precisando de alguma melhoria, a equipe ainda assim continuou trabalhando. Ainda assim estamos produzindo muito e acho que a instituição está fazendo uma opção em mostrar isso. Tentar com isso ganhar mais fundos, ter mais sócios, ter mais visibilidade, conseguir fechar mais projetos. Este ano temos muito mais projetos do que tínhamos no ano passado e se tudo der certo, ano que vem nós teremos mais do que temos este ano, e sócios também. Tínhamos 430 sócios, no ano passado, estamos com 493 esse ano. Está valendo a pena o esforço.

Eu acho muito importante que fique guardado que estamos batalhando, o que estamos fazendo. Têm várias coisas que tentamos fazer. Na minha área, coisas novas que não dá uma semana para descobrir que alguém já tinha tentado fazer antes, então se eu sei que na história do DIEESE tem muita coisa que já foi pensada, que já foi tentada e que a pessoa sofreu e que não conseguiu fazer, por um lado isso me tranqüiliza: “Está bem, não é nada absurdo, alguém já tinha pensado nisso, faz sentido.” É só questão de você propor num momento diferente e quem sabe dá certo. Acho importante que fique registrado. Não sei se exatamente evoluções em termos de qualidade, mas pelo menos em vontade de fazer e mostrar como as coisas vão acontecendo.

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