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Página Inicial Navegação Nossas Histórias Mônica de Oliveira Lourenço Veloso

Mônica de Oliveira Lourenço Veloso

monica_de_oliveira_lourenco_veloso  História de Vida 

 

Identificação

Meu nome é Mônica Lourenço Veloso, nasci em Osasco, no dia 29 de março de 1968.

O nome da minha mãe é Josefa e do meu pai, já falecido, Mário Antônio. Meu pai era de Presidente Prudente, em São Paulo e minha mãe veio de Alagoas. Eles vieram para Osasco, se conheceram e formaram a nossa família nesse bairro chamado Piratininga, que é onde eu vivi toda a minha vida. Meus pais tiveram três meninas e dois meninos. Eu sou a mais velha. Um é metalúrgico, como eu, uma irmã é cabeleireira, outra não trabalha e outro mais jovem ainda está escolhendo o que vai fazer da vida.

Tanto meu pai quanto minha mãe eram metalúrgicos. Meu pai era ferramenteiro e técnico em metalurgia e minha mãe trabalhava na produção. Os meus avós paternos eram Maria e Dionísio. A gente conviveu bastante. E dos meus avós maternos, só lembro-me da minha avó Olívia. Ela veio do Nordeste e trabalhou numa empresa de tintas até aposentar. Já a minha avó paterna, não trabalhava. E o meu avô foi funcionário público, do setor de manutenção. Ele morava num bairro chamado IAPI. Era um bairro de funcionários públicos que tem ali em Osasco.

 

Infância

Quando eu era criança, o Piratininga era um bairro residencial. Ele tem ligação com a Rodovia Castello Branco, que divide o bairro, em dois. Então a gente morava de um lado e meus avós do outro. Eu lembro que para ir até a casa deles, a gente tinha que fazer uma travessia, onde tinha um matinho. Depois, esse bairro se tornou meio centro logístico com muitas empresas. Aí, a gente se mudou para o outro lado que é do IAPI. Ali, é extremamente residencial e continua até hoje. Lá existem muitos condomínios, casas e é arborizado. O bairro cresceu para cima. Acho que na penúltima gestão da prefeitura asfaltaram as ruas, porque eram todas com cascalho.

Meu pai sempre foi muito inventivo. Então, se ele fazia carrinho de rolimã para o meu irmão, tinha que fazer para as meninas também. E a gente brincava com carrinho de rolimã, de piques. Eu tinha muita amizade e havia uma molecada, naquela época, e a gente brincava na rua mesmo. A gente inventava as brincadeiras. Lá no IAPI tinha, e tem, muita praça e a gente se beneficiava de algumas para brincar.

Esse nosso bairro é bem próximo do Rio Tietê e antes de fazerem a famosa passarela, que também já é antiga, a passagem para o outro lado do rio era por uma pontezinha de madeira sobre um monte de barril. Todo mundo passava por ali. Meu pai era metalúrgico e trabalhou a vida toda na Cobrasma, que era uma empresa grande, ali do outro lado do rio. Ele trabalhou lá muitos anos e me lembro dele atravessando aquela pontinha. E quando a gente ia visitar alguns irmãos do meu pai que moravam aqui em São Paulo, na Zona Sul, também tinha que atravessar a pontinha para poder pegar a condução no terminal rodoviário.

Dessa época, o que mais me marcou foi a amizade. Tenho um grupo de amigos, até hoje, que se formou desde o parquinho, prézinho, passamos pela escola, formatura do ginásio, alguns se casaram, perdemos alguns amigos, sofremos juntos. O grupo era chamado de a turma da Rua do Piratininga, que era a rua que a gente comandava. Hoje esse grupo está menorzinho.

 

Formação Acadêmica

Eu estudei numa escola pública, ali do bairro, chamada Escola Professor Eloy Lacerda. Estudei até terminar o ensino fundamental, ou seja, até a oitava série. Como não tinha colégio nesta escola, tive que estudar em outro bairro, não muito longe, chamado Rochdale, numa escola chamada Júlia Lopes. A gente ia a pé. Ali fiz o colegial. E foi aquele período que eu também namorei. Namorei sério, engravidei e casei. Aí, interrompi os meus estudos no colégio por um bom tempo até começar a minha formação profissional.

 

Juventude

Quando adolescente, havia trabalhado em umas duas lojas. Uma era na José Paulino, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Foi uma experiência terrível, eu não vendia nada. Os donos eram coreanos. Tinha uma senhora que era até muito boazinha, mas eu tinha que ficar dando comida para ela. Aquilo me perturbava demais. Eu falei para minha mãe: "Mãe, é assim, assim..." E aí, minha mãe: "Não, tudo bem, então vamos lá". Eu pedi a conta junto com a minha mãe, e saí desse emprego. Depois, trabalhei numa outra loja. Era uma coisa informal. Loja pequena, de bairro.

Naquela época, com 14 anos, a gente já trabalhava. Então, esses trabalhos informais foram nessa faixa de idade. Eu tinha 14, 15 anos. Terminei o ginásio e aí eu estava fazendo o colégio e consegui um curso de secretariado na Fundação Bradesco, que era só de um ano. Então, eu estudava no colégio e fazia o curso. Aí não trabalhei mais até que eu terminei o curso na Fundação Bradesco. Mas aí conheci meu namorado, que é pai do meu filho, na escola, na Fundação Bradesco. E depois que eu engravidei, me casei. Mas não vivi muito tempo com o meu marido.

 

Família

Mais tarde, eu me casei novamente. O meu filho mais velho, o Tiago, tem 20 anos, trabalha na Net e faz Faculdade de Engenharia da Computação. E agora está vindo mais outro.

Eu me considero uma pessoa de sorte, porque eu tive apoio muito grande da minha família quando decidi enveredar para esse caminho (sindical). E tenho uma família que se orgulha muito de eu estar no sindicato, das coisas que eu pude participar. Pôxa! Fui a primeira mulher presidente do DIEESE. Eu me orgulho também.

A militância sindical exige muita dedicação, então, internamente, você vive um conflito muito grande. Acho que a mulher, um pouco por conta dessa coisa da maternidade, tem muita responsabilidade com os filhos como se fossem só dela. Então você sofre o conflito da distância, de não poder conviver todo o tempo perto deles. E o meu filho, eu não posso dizer que ele não tenha sofrido com minhas ausências, mas graças a Deus, nada que tenha influenciado na sua personalidade, muito pelo contrário. Então, eu posso dizer que o sacrifício valeu por que ele tem esse entendimento e se orgulha do meu trabalho. Mas não foi tão fácil. Eu tive apoio. E, esse apoio foi fundamental para que eu pudesse fazer tudo o que eu fiz, pudesse me dedicar como eu me dediquei ao movimento sindical.

Teve um ano, eu fiz as contas, que eu tinha ficado 156 dias fora da minha casa. Ou seja, metade do ano nem dormi em casa. Viagem para cá, para lá. Não é todo mundo que consegue isso. E quando consegue, você tem de pôr na balança. Consegui não me desviar muito dos propósitos? Então acabou valendo a pena. Mas, sei que teve algumas festinhas da escola que não fui e algumas atividades da família em que não estava.

 

Trajetória Profissional

Em fevereiro de 1986, entrei na empresa Meridional, no bairro do Piratininga. Minha mãe trabalhava nessa empresa. Era uma empresa que fazia produtos de aço inox, panela, baixelas, essas coisas.

Foi o meu primeiro emprego formal. Entrei na área de controle de qualidade, mas eu não tinha nenhum tipo de experiência profissional. Naquele período, eles não pediam experiência, então fiz uns testes, fui bem e me contrataram.

Lembro que tudo era muito novo para mim. Eu nunca tinha entrado em uma empresa. E a Meridional era uma empresa de médio porte. Tinha uns 500 funcionários. A porta de entrada dava no setor de prensas. As prensas eram enormes. E aquele negócio grande, baixava e já saía aquela panela pronta. As pessoas usavam uniformes. Os homens com calça, blusa e botas. E as meninas usavam uma capa bem verde. Não era um serviço muito limpo, então, as pessoas ficavam sujas, especialmente quem trabalhava na Usinagem, na Estamparia. As peças, depois de prontas, iam para as esteiras. A Meridional já estava se modernizando e tinha essas esteiras. Ficava aquela fila de meninas ao lado das esteiras limpando as peças com um algodão que era mergulhado numa mistura, que inclusive cheirava muito mal. E outras meninas iam olhando, verificando os defeitos. Depois outras iam embalando. Quem trabalhava na linha de produção, tinha que ter agilidade, rapidez. As meninas mais lentas, ou que estavam iniciando, como era meu caso, ficavam no final da linha. Quanto mais rápida ia ficando, você ia passando para frente na linha.

Eu trabalhava das sete da manhã às três da tarde, inclusive aos sábados e a minha função era verificar os defeitos depois da peça limpa. Era um trabalho só visual. Tinha outro grupo que fazia uma ação mais técnica, usava paquímetro, manômetro, um instrumento para verificar a densidade do metal. Eu queria alcançar este grupo, mas eu ainda estava naquelas verificações mais simples. Quando tinha problema, a gente tirava a peça da esteira.

Na Meridional, havia, mais ou menos, 55% de homens e 45% de mulheres. O número de mulheres era bastante grande, pois a parte da esteira, embalagem, limpeza era feita só por mulheres. Depois, instalaram algumas máquinas, completamente automatizadas, que faziam umas tampas e as mulheres também passaram a trabalhar ali. Chegaram a contratar muitas meninas para esse trabalho.

A fábrica era dividida em duas partes, no formato de um “L”. Os homens ficavam do lado direito e as mulheres do lado esquerdo da fábrica. Tinha um miolo, em que ficava essa máquina das tampas, depois vinham as esteiras e, ao fundo, a embalagem. E mais ao fundo, à esquerda, era o setor de estoque já na saída. As mulheres ficavam naquele miolo e os homens na circunferência.

Um dia, o gerente falou para mim: "Acho que para você poder evoluir, precisa fazer um curso". Ali tinha uma área de meu interesse que era a de Assistência Técnica. Aquilo me chamou a atenção, então, terminei o colégio e procurei um curso técnico. Encontrei um curso em uma escola técnica antiga, lá de Osasco, chamada Argos. Fui, e fiz o curso de Controle de Qualidade. Lembro que meu filho, o Tiago, era novinho. Foram dois anos de curso.

Então consegui ir para área de Inspeção Técnica. Esta área era responsável por refazer ou verificar, no setor de produção, qual era o problema ou defeito das peças que eram devolvidas pelos clientes. Aí, passei a me relacionar mais com os companheiros dos outros setores.

A Meridional era uma empresa boa, tinha produtos de excelente qualidade. Atendia as classes B e A. No entanto, tinha um ambiente extremamente insalubre. Tinha um setor chamado Polimento, que era onde as baixelas ficavam brilhando, bonitas. O polimento era dado com duas lixas especiais. Uma grossa, que primeiro deixava a peça fosca, depois, passavam a outra que dava aquele brilho e ficava aquela coisa bonita. Isso tudo era feito à mão. Então ficava aquele monte de homem sentado ali e você só via os olhos, ou os dentes quando abriam a boca. Era um negrume. Tudo muito sujo. E ocorriam muitos acidentes de trabalho, especialmente com os homens no setor das prensas da estamparia e da usinagem. As peças, às vezes, escapavam, e batiam no rosto, nos braços. Tinha um problema sério de perda de membros e dos dedos, nas prensas.

Comecei a me aproximar do sindicato por conta da ação que faziam na Meridional em razão do alto índice de acidentes de trabalho. Mais tarde, quando a Meridional, acho que por questões administrativas, começou a atrasar o pagamento e não dar as férias aos empregados, teve uma ação forte e constante do sindicato. Foi montada uma comissão de trabalhadores para discutir a situação da empresa, porque ela havia feito um comunicado de possível fechamento. Eu era uma daquelas 450 pessoas que iriam ficar sem receber nenhum centavo porque a empresa fechou. Para garantir que ela não tirasse as máquinas, a gente ficou lá acampando, fazendo rodízio por alguns meses, até o fechamento em 89. Foi a minha primeira participação organizada e eu me sindicalizei nessa época.

Depois, desempregada, sem pagamento e sem nada, comecei a militância. Fui a um seminário de mulheres, organizado pela Oboré e pelo Centro de Memória Sindical. Já tinha ido a muitos seminários, de campanha salarial, de saúde ou para tratar do problema da Meridional. Mas, nunca em um temático, como esse, sobre mulheres no movimento sindical. Gostei e foi ali que meu interesse se tornou maior. A gente assistiu ao filme “Norma Rae”, que conta a história de uma mulher que luta numa empresa americana. E aí, eu passei a ficar lá, enfiada dentro do sindicato participando das coisas. A participação comunitária sempre foi uma coisa presente na minha vida, desde a comunidade de jovens, centro comunitário e acho que isso me estimulou a não me sentir inibida em participar das coisas no Sindicato dos Metalúrgicos, já que ali a maioria era de homens.

Foi então que a Mecano Fabril abriu vagas e muitos dos contratados tinham sido da Meridional, o que foi muito legal, porque você já entra numa empresa em que tem pelo menos 200 pessoas conhecidas e que já tinham uma ligação boa com o sindicato. Eu entrei dia 6 de junho de 89, na mesma função que exercia na Meridional, inspetora de qualidade. Mas lá já era outro nível. Era uma empresa de autopeças com duas plantas e 1.600 funcionários. O meu setor era chamado DBC, a gente trabalhava com aquelas bombas para carburador. E lá também tinha o problema de muita insalubridade. A empresa estava se adequando. Tinha muita gente e pouco treinamento. O pessoal se machucava, o cabelo das meninas enrolava nas furadeiras. Era um negócio. Então, ali também tinha uma ação muito forte do sindicato.

E, por conta das relações que eu já tinha com o sindicato, de participar de atividades de saúde, entrei para CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) nessa empresa e fui eleita vice-presidente da CIPA.

Mas naquele mesmo ano, ia ter eleições para a diretoria do sindicato e eles me convidaram para fazer parte da chapa. Eu não entendi muito bem qual era o meu papel, mas eu falei que podia colaborar. O sindicato estava com uma base de mais de 50 mil trabalhadores e a Mecano Fabril era uma empresa nova. O sindicato viu a importância de se ter uma representação lá dentro. Eu me senti uma vitoriosa, afinal tinha acabado de chegar à empresa e logo fui escolhida para ser vice-presidente na CIPA. Claro que contei com o apoio de outros companheiros. O delegado sindical, na época, o Gilberto, apelidado de Ratinho, ajudou muito. Ele foi meio que meu fiador. Ele já era um funcionário de 15 anos da empresa, enquanto eu tinha chegado há poucos meses.

Éramos um grupo de 16 cipeiros na Mecano Fabril, por conta do número de empregados. Naquele período, o presidente da CIPA era indicado pela empresa e eu era responsável pelo meu setor e, como vice-presidente, também estava numa esfera de representação do conjunto dos trabalhadores nas questões da CIPA. O nosso trabalho era identificar o que a gente entendia como problemas inerentes à saúde e se eles estavam iminentes. Então, a gente começou a ser “uma pedra grande no sapato” da Mecano Fabril, porque o sindicato tinha feito um treinamento muito bom com a gente e nós já vínhamos de uma ação em uma empresa [na Meridional] que tinha muitos problemas. Foi fácil para mim me familiarizar com equipamentos e máquinas que eu nunca tinha visto na minha vida. Além disso, eu tinha que desempenhar a minha função produtiva como em toda empresa. E nisso, na maioria das vezes, sempre tinha conflito. Ou com o chefe, ou com o gerente. A CIPA é um instrumento importante dos trabalhadores, mas as empresas veem isso como um empecilho para produtividade. Essa era a postura do meu patrão na época, o alemão, Walter Strobel. Ele era terrível, tivemos muitos conflitos. Foi difícil, por exemplo, para o pessoal que veio da Meridional se adaptar a isso, porque ficamos quase um ano inteiro envolvidos em mobilizações, em razão do fechamento da fábrica. Nem todo mundo conseguiu se adaptar ao esquema na Mecano Fabril. O salário era menor do que o que a gente ganhava na Meridional. Eu fiquei, no princípio, pela necessidade: eu tinha filho e responsabilidades.

 

Trajetória Sindical

Na época em que estava na Mecano Fabril, o sindicato dos metalúrgicos de Osasco convidou o Gilberto (Ratinho) e eu para compor a chapa na próxima eleição do sindicato. Era uma chapa gigante, tinha 75 pessoas. Eram 71 homens e 4 mulheres. Uma desproporção terrível. Eu tinha estabilidade, porque eu era da CIPA, mas o Gilberto, ainda que fosse um delegado sindical reconhecido, não tinha nenhum tipo de garantia e ele não era da CIPA. Então, a gente precisava ter todo um jogo de cintura, especialmente com o tipo de patrão que nós tínhamos.

O sindicato tinha marcado uma assembleia e estavam em frente à fabrica com o carro de som ligado. Deram a palavra para mim e para o Gilberto fazermos a campanha da nossa chapa 1. Foi a primeira vez que eu falei com um grupo tão grande de trabalhadores. Estava todo mundo no pátio para ouvir. Pensei: "Meu Deus, e agora, o que eu vou falar para essa turma?" E falei o quanto eu achava importante o sindicato, porque ele teve um papel fundamental para que a gente garantisse os direitos na Meridional. Eu só podia falar aquilo que eu conhecia. Então falei também dos 400 e tantos trabalhadores que estavam com processo e que ali tinha mais de 200. E minha turma que estava ali me deu força, me deu apoio.

Então, a primeira vez que eu tive que falar publicamente foi para o pessoal votar em mim. O sindicato ajudou, fez uns mosquitinhos. A empresa ficou muito brava. Eles acharam que eu tinha sido infiltrada, porque ninguém entra numa empresa em junho e no final do ano já se tornou um dirigente sindical.

Quando entrei no sindicato, havia vários departamentos. Tinha o departamento da mulher, departamento de saúde, departamento disso e daquilo. Então, eu participava em três: de educação, de saúde e da mulher. Éramos um grupo de quatro meninas e tínhamos que cuidar dessa parte. A gente fazia planejamento do que ia fazer. Então, os seminários, os encontros, eram da nossa responsabilidade. Por outro lado, o sindicato iniciou uma ação de formação conosco. Fizemos muitos cursos com a Oboré Comunicação. Fizemos oratória e outros. O Sindicato das Costureiras fazia uma ação formativa com a CLAT [Central Latinoamericana de Trabalhadores] e convidou todas as diretoras do Sindicato dos Metalúrgicos para fazer o curso. Aí, fui me familiarizando também com outras ações fora do sindicato.

Eu ficava dentro da fábrica e quando tinha que fazer um curso, ou atividade, ligado ao sindicato, era desligada da produção para desenvolver essas ações. A maioria das atividades do sindicato era à noite ou nos finais de semana. Então, quase todo fim de semana eu estava envolvida com esse tipo de atividade. Acho que eu tive muita sorte porque minha família sempre me apoiou. Eu já era mãe. Mas tinha uma família que me dava suporte para eu poder ficar tanto tempo fora. E eu fui ansiando muito por aquilo, me envolvi.

Meu trabalho era levar questões internas da Mecano Fabril para o sindicato e participar das atividades do sindicato, dos departamentos de educação, saúde e das mulheres.

Acho importante dizer que lá em Osasco, antes da discussão de central sindical, no nosso sindicato sempre teve uma peculiaridade de buscar uma articulação que contemplasse todo mundo. Então, tive a oportunidade de participar de alguns eventos que colocaram na mesa o Medeiros [da Força Sindical] com o Vicentinho [da CUT]. Quer dizer, todas as tendências ali sentadas juntas para discutir um tema que estava olhando para todos os trabalhadores e não para as divergências ideológicas. Tanto é que a composição da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, em 1990, apontou para outro direcionamento. Teve um acordo – vamos dizer assim – tinha uma chapa chamada Alternativa [oposição], que depois fez composição com o sindicato. E hoje, o Jorge, que encabeçou essa chapa, é o presidente do Sindicato.

Eu tinha uma atuação forte na questão das mulheres, desde que eu cheguei ao sindicato, quando fui participar do Conselho Estadual da Condição Feminina. Naquela época, as mulheres ligadas a alguns sindicatos também estavam se reunindo. E eu fazia parte desse grupo de mulheres, que também estava pensando e discutindo alternativas para a criação de uma nova Central.

Eu não tenho curso superior, mas acho que meu processo de formação nessa vida foi tão rico, que nenhuma faculdade me daria. No sindicato, saí do conselho consultivo para suplente da diretoria. De suplente da diretoria, fui para o conselho fiscal. De conselho fiscal, eu fui para primeira secretária. E hoje, estou como secretária geral. Já é o meu quarto mandato. Quando foi minha primeira posse, foi uma semana antes de eu completar 22 anos. E com a Central foi a mesma coisa.

Eu estava dentro da fábrica, até que houve um momento, em final de 91, em que as minhas atividades sindicais eram tantas que eu fui desligada da produção e fiquei no sindicato por tempo indeterminado. Nunca mais voltei para minha atividade produtiva de profissão. E aí, também, isso possibilitou obviamente um crescimento.

 

Central Sindical

A Força Sindical foi fundada em março de 1991 e a gente [Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco] fazia parte da composição dessa construção. O Magrão, que na época era o nosso presidente, foi o indicado como secretário de formação da Central. Nós não tínhamos cargo, a gente participava das ações no grupo de mulheres. Havia outros diretores nossos, mas que estavam envolvidos em outras áreas como formação.

A minha militância na Central veio com essa direção, eu fui participando desses conselhos, e tendo um trabalho que conseguiu ter um reconhecimento. A gente conseguiu fazer algumas coisas muito legais. Fiquei sem nenhum cargo formal dentro da Central, ainda que a representasse em muitos lugares. Fui ter esse cargo de representação em 97, por uma ação em que me envolvi com a juventude. Eu fui eleita secretária nacional para as questões da juventude na Central e fiquei nesse cargo quase até 2000. E veio toda uma evolução, não só interna de participação na Central. O meu sindicato tem uma influência grande lá dentro da Força Sindical, ocupando quatro cargos, todos da executiva.

Na medida em que fui conquistando meu espaço no Sindicato, também fui conquistando meu espaço fora, na ação sindical, no movimento sindical. Então, eu comecei no conselho, no sindicato. E na Força Sindical, eu fazia parte de uma coordenação de mulheres que estava ali atuando. A gente procurava participar de tudo que fosse possível da vida da Central, e não só em questões específicas das mulheres. Então, era viver mesmo a construção da Central, participar das idéias, debater tudo aquilo que a gente entendia que também podia estar contribuindo. Isso não se restringia a temas específicos. E é claro que na medida em que você vai tendo essa experiência, você vai agregando, vai crescendo.

E a Central vinha num franco crescimento de filiações, de expansão no território nacional, num processo de reconhecimento do movimento sindical.

Então, tinha ligações na Central com essas áreas, mulheres e juventude. E essas participações nos conselhos estaduais consolidaram a ratificação na Central. E em alguns momentos, meu nome era indicado para representar a Força em algumas coisas. Um dos trabalhos foi com a juventude, ao longo de dez anos e me dediquei bastante a esse grupo. Então, essa ação fez parte da minha vida sindical por muito tempo, que era trabalhar com a formação dos novos quadros, buscar meios de atrair a juventude para o movimento sindical. E nesse trabalho, houve uma ação aliada com a CUT e com a CGT. Eu conheço muitas pessoas dessas centrais que eu posso chamar de companheiros de trabalho, porque trabalhamos juntos e temos uma organização sindical internacional comum, a CIOSL (Confederación Internacional de Organizaciones Sindicales Libres) que faz uma ação muito concreta de investimento no mundo inteiro e, particularmente na América Latina, com a juventude.

Minha ação sindical internacional se deu através da representação da juventude. E fiz parte do comitê mundial da juventude, como grupo e depois como vice-presidente eleita. Neste comitê é permitida a representação de dirigentes até 35 anos de idade.

Com a oportunidade de fazer essa representação, minha participação extrapolou. Porque aí já não era só da Força, mas de toda a juventude brasileira. Foi uma experiência muito boa de ver como é que os outros países trabalham naquilo que a gente, no Brasil, é extremamente avançado e naquilo que o Brasil é extremamente atrasado, do ponto de vista da organização mesmo. Então, eu participei de muitos eventos fora do país. O primeiro foi na Noruega, em Oslo, num encontro com as representações nacionais das três centrais. Foi uma coisa de louco, pois nosso grupo ainda estava se articulando enquanto representação em nível mundial.

Eu nunca tinha saído do Brasil, só tinha ido para Rio de Janeiro e Paraná. Meu inglês era péssimo, aquele do colégio. Fomos em quatro pessoas. As línguas oficiais na CIOSL são inglês, francês e espanhol. Então, tinha que me virar no espanhol. Mas o interessante nessa primeira viagem é que fui parada na alfândega. E eles têm uma língua própria que é uma coisa que você não consegue nem identificar, porque é consoante com consoante, não tem explicação. Mas é um povo muito caloroso. Nós tínhamos apoio da ORIT (Organización Regional Interamericana de Trabajadores), que é a nossa regional aqui, que também estava lá. Então, fui parada e eu fui tentar me explicar. Aí, eu consegui compreender que eles queriam saber para onde é que estava indo. Pensei: "Agora, danou-se, como vou explicar?" Então, eu vi também um casal, com um filho, vietnamita, se dirigindo para mesma portinha que eu. E pensei: "vou ser presa, não vão deixar eu entrar." Fiquei bastante apavorada. A gente tinha uma pasta e aí eu mostrei o convite. Eu estava com um monte de papel e fui tirando tudo que eu achava que podia explicar a razão de eu estar ali. Acho que os papéis deram conta de dizer o que eu estava fazendo lá e ele foi gentil.

Já no segundo congresso da CIOSL, nós conseguimos consolidar o comitê mundial da juventude conforme os outros comitês. Então, é um comitê mundial e depois ele se ramifica pela Europa, Ásia, África e América Latina. E aí, eu fui escolhida para a vice-presidência do comitê mundial, para o continente latino americano, por um mandato.

Acho que foi de uma importância muito grande para nós do Brasil, especialmente, nesse último governo. Porque o Brasil não tinha uma política de juventude, não tinha nem um ministério para isso. Em todas as conferências mundiais que aconteceram para tratar do assunto, o Brasil nunca tinha uma representação oficial, governamental que representasse as políticas brasileiras. E aí, a gente procurou se articular muito com a CUT, com a CGT, nesse trabalho. E programamos um rodízio entre nós, que é uma prática em algumas instituições que possuem uma única representação.

 

Fato Marcante

Lembro de uma ação do meu sindicato em relação à empresa Mecano Fabril em que eu trabalhava. Chamamos uma greve, no período do Plano Collor. Foi logo quando o Collor bloqueou as contas. Nós tínhamos uma pauta de reivindicação específica da fábrica. Conseguimos um êxito muito grande após 17 dias de greve. Mas, houve 56 demissões por justa causa. Eu e o Ratinho, o Gilberto, fomos demitidos. E aí, houve um movimento para o nosso retorno. A empresa aceitou o meu retorno, mas não o do Gilberto.

E logo depois que eu voltei para fábrica, certo dia fui até à sala do engenheiro de segurança para tratar do evento da SIPAT [Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho]. Conversamos e quando voltava para o meu setor, o dono da empresa, me encontrou no corredor e então me perguntou o que eu estava fazendo fora do trabalho e porque que eu não estava trabalhando. Fui tentar explicar, mas ele não estava para muita explicação e começou a me xingar. Eu fui andando e ele atrás de mim. Ele, extremamente nervoso, era um alemão bem altão e eu, baixinha. Ele foi me xingando de "Baderneira", disse que eu tinha feito tudo aquilo de propósito, perguntava quanto eu queria para ficar fora da fábrica. Daí, eu falei: "Eu não quero nada. E pare de gritar, porque você não é meu pai. Não grita comigo." Eu fui pedindo e voltando ao meu setor e ele indo atrás. Os empregados começaram a parar porque ele ficou tão descontrolado que deu a impressão que ia me pegar pelos colarinhos. Ele pegou o meu chefe e disse: "Não deixa ela sair do setor". Eu já estava chegando no meu posto, virei para ele e falei: "Olha, eu sou diretora do sindicato, sou vice-presidente da CIPA, o senhor querendo ou não querendo. Eu sou de direito. Tenho que executar o meu trabalho, nunca deixei de fazer o meu trabalho, então não admito que o senhor grite e nem fale assim comigo. Portanto, estou voltando para o meu setor, vou sentar na minha cadeira e daqui você não me tira." Ele falou: "Eu vou tirar você". Falei: "Não, você não vai. A não ser que você me pegue pelo braço." Nessas alturas, a fábrica estava toda parada vendo a discussão. Aquilo foi terrível. Mas eu acho que eu aguentei bem. Fiquei muito nervosa, mas esse momento me marcou porque os trabalhadores foram solidários comigo. Consegui ter os trabalhadores do meu lado, mesmo depois de sair de uma greve que resultou em 56 demissões por justa causa.

 

Assessoria do DIEESE

A gente fazia muitas atividades e quem fornecia parte das informações nos seminários era o DIEESE. Especialmente nas campanhas salariais com o Alex, ex-técnico da subseção do DIEESE no sindicato. O DIEESE fazia toda a argumentação econômica que era apresentada não só nas negociações, mas nos seminários e a gente ia e explicava para os trabalhadores como eram aquelas composições.

Nesse período de alta inflação, teve um momento marcante que foi quando a gente conseguiu 113% de reposição. Tudo bem, que no mês seguinte, aqueles 113% já representavam menos que 70%, mas conseguir uma reposição de mais de 100% e anunciar numa assembléia com mais de 15 mil trabalhadores dentro do nosso clube – foi marcante! Temos uma foto de cima da caixa d'água que mostra aquele mar de gente.

O DIEESE, nesse período, tinha um papel diário na vida dos sindicatos. Nós tínhamos uma subseção do DIEESE no nosso sindicato. Então havia uma familiaridade muito grande com o DIEESE. Aonde a gente ia, tinha pessoas do DIEESE e eram muitas, o Prado, o Alex, o próprio Barelli.

Do ponto de vista da ação no campo da negociação coletiva podemos dizer que é o âmago do DIEESE, porque dá o instrumento de uma forma coerente para trabalho que a gente executa. E eu remeteria isso, por exemplo, à RAN que é a Rede de Apoio às Negociações, um sistema novo, moderno, virtual, onde os dirigentes trocam informações com sindicatos das mais diversas categorias, em vários tipos de negociação. Na RAN é possível acessar as informações que integram um banco de dados. Você está on-line com as pessoas.

E isso foi uma capacidade legal do DIEESE, em transformar o apoio que eles dão à negociação propriamente dita, para outro suporte que é importante para você ir buscando um conhecimento, uma troca.

 

Educação/PCDA

Acho que um dos programas de maior importância foi o PCDA [Programa de Capacitação de Dirigentes e Assessores] pela qualidade, pelo tempo, pelo método e pelo desafio de colocar diferentes correntes num programa de formação. Você podia chegar ali “armado até os dentes”, mas você saia dali com a clareza de ter agregado, do ponto de vista da ação sindical, aquilo que você iria desenvolver no seu sindicato.

Foi uma formação com mais de mil e tantos dirigentes e assessores sindicais, multiplicadores. No meu sindicato, 99% fez o PCDA. E quando a gente estava fazendo a campanha de associação ao DIEESE, na maioria das entidades e estados em que fui, o pessoal colocava a questão do PCDA como uma coisa importante que o DIEESE desenvolveu. Tudo bem que foi em parceria, na época, com o Ministério do Trabalho, mas foi o DIEESE que desenvolveu.

Com isso, o DIEESE possibilitou um processo de formação pesado, que permitiu dar um salto de qualidade no trabalho, na intervenção sindical. Não só na sua atividade local, mas naquilo que as pessoas faziam para o desenvolvimento nacional também. Houve a participação de homens, mulheres, rural, urbano, todo mundo discutindo. Eu tive a possibilidade de conhecer a ação rural. E a rural, de conhecer a ação urbana. Houve troca de experiências. E isso é de uma riqueza tão grande que justificaria que o programa não devia ter sido interrompido. Não foi por questão do DIEESE, a gente sabe disso. Mas, é um programa que devia consolidar-se e existir e o DIEESE devia fazer parte disso.

 

Importância do DIEESE

Acho que de um modo geral, a sociedade, as pessoas, não conhecem a história dos trabalhadores, do movimento sindical. Então, quem são as pessoas que sabem que o DIEESE é uma organização que é mantida, que é gerida e que foi pensada pelo movimento sindical, prestando o tipo de trabalho que presta hoje para sociedade? Muito poucos. Então, acho que o DIEESE tem que ter essa essência sindical, para poder se manter, para poder continuar se consolidando sempre. E, ao mesmo tempo, acho que ele pode contribuir muito mais para essa sociedade, nesse sentido de apresentar também uma verdade.

E o DIEESE é a única organização que tem essa capacidade, e acho que a sociedade assimila bem, porque tem uma identidade própria. Ele não é uma identidade da ideologia A, B, C ou D ou da posição A, B, C ou D.

 

Desafios

O desafio é o fortalecimento do DIEESE e o reconhecimento que o movimento sindical deve à instituição. E isso é uma tarefa que não devia ser árdua, mas é. As pessoas nem sabem o que o DIEESE faz. As diretorias dos sindicatos se renovaram e não conhecem o trabalho do DIEESE. Acham que o DIEESE é só um órgão de estatísticas econômicas, quando ele tem muito mais a oferecer. Por outro lado, o DIEESE trabalha muito mal a sua comunicação e não consegue chegar até todo mundo para que as pessoas saibam o tanto de coisa que pode oferecer. Então, acho que esse fortalecimento é necessário. Esse, para mim, é o grande desafio, agilizar essa comunicação, tornar ela até mais didática para as pessoas entenderem essa importância. Acho que isso fortaleceria demais o departamento.

 

Futuro do DIEESE

Eu olho para o DIEESE da mesma forma que eu tento olhar e vislumbrar o movimento sindical brasileiro. Ou seja, o próprio movimento sindical brasileiro tem que sofrer mudanças muito grandes. E eu defendo essas mudanças. Eu defendo que é necessário um movimento que se fortaleça pela sua representatividade. Eu acredito na representatividade. E ela se dá por um caminho, pelo trabalho que faz com que as pessoas te reconheçam, te vejam como uma liderança ou como uma referência.

Então, o movimento sindical vai passar por essas mudanças, querendo ou não. E acho que, no caso do DIEESE, é isso, é manter essa habilidade de passar por esse processo de mutação que vai haver com o movimento, sem sofrer alteração na sua identidade. Acho que ele tem que crescer, tem que buscar também fazer parte dessa representatividade.

No caso do DIEESE, não pode haver mudança da essência. No movimento sindical, não. No movimento sindical, acho que está precisando mudar um pouquinho, inclusive a essência. Está precisando um ar novo que possibilite aos trabalhadores realmente se identificar com essa organização.

 

Avaliação/Trajetória de Vida

Uma vez, no PCDA, a gente fez uma atividade onde você tinha que pegar alguma coisa que simbolizasse a importância do seu trabalho, da atividade sindical. E, para mim, as lições são o que eu disse naquele dia: “A atividade sindical lida muito com a necessidade das pessoas, no meu entendimento, você está falando do direito da pessoa todo o tempo. Então, você está lidando com pessoas. E o que você faz, influi na vida das pessoas. E exatamente pelo fato de essa atividade dar oportunidade de, realmente, mudar a vida das pessoas, é que traz essa importância para mim”.

Então se não fosse um instrumento para ajudar, eu acho que eu não estaria nele. Nas nossas lutas, nem sempre se consegue tudo. Mas, quando você consegue, é indescritível o que se sente. Se um dia você fala: "Poxa, eu participei disso aqui. Eu estava ali também. Eu ajudei a construir." Então, não fui uma mera espectadora, fiz alguma coisa. Acho que o sindicato permite isso, como outros espaços também. E hoje, também trabalho com organização não governamental e trabalho comunitário, que é outra coisa que eu adoro. Então, eu acumulo essas duas coisas.

Do ponto de vista pessoal, o meu maior sonho é, agora, o meu bebê - Gabriel, que vai chegar [daqui a três meses]. Esse é, no momento, meu projeto principal. Adiei bastante. Agora chegou o momento da maturidade do meu trabalho e da capacidade de eu conseguir fazer tudo e, ao mesmo tempo, ter tempo para tomar a decisão de ter outro filho. Do ponto de vista profissional eu quero só continuar o que eu já faço. E hoje desenvolvo uma ação comunitária também. E é a isso, do ponto de vista profissional e político, que eu estou dedicada. Um trabalho com uma área livre lá no Jardim Rochdale, do qual o nosso sindicato é mantenedor. Então, há as ações que se articulam com o sindicato, ONG e o poder público. Depois de tantos anos, o sindicato está tendo a possibilidade de transformar algumas coisas que eram de ação privada, numa ação pública. E meu sonho é consolidar esse trabalho, conseguir fazer dessa ação com as famílias, uma ação de transformação, de desenvolvimento humano. Eu vivo um sonho de cada vez.

 

Avaliação/DIEESE

Eu fiz vários cursos e o meu sindicato tinha representação na direção do DIEESE. O Dinacir [Dinacir Francisco de Oliveira]. Ele foi diretor aqui. Fez parte da direção e passou à executiva. Foi a primeira vez que o meu sindicato foi para executiva do DIEESE. Só que o Dinacir se aposentou. Coincidiu com a eleição do sindicato e aposentadoria do Dinacir e ele resolveu também “aposentar a chuteira”. Então, ele saiu do sindicato, do movimento sindical. E aí, precisavam indicar uma outra pessoa do nosso sindicato e me indicaram. Eu já tinha participado muito das atividades, conhecia muita gente do DIEESE.

Na época, eu já tinha uma grande (relação) com o Serginho [diretor técnico Sérgio Mendonça] e também a Solange, a Suzana, o Wilson e algumas pessoas da direção executiva. Conhecia a maior parte dos sindicatos filiados à Força Sindical que faziam parte da direção do DIEESE e também parte do pessoal que era da CUT. Então, eu era uma pessoa que tinha condições, pois conhecia o trabalho e uma boa parte das pessoas, além de ter facilidade para poder fazer a representação.

Mas havia um acordo entre os sindicatos de que, para se assumir a presidência, era necessário que a pessoa passasse pelo menos um período de mandato na executiva. Isso coincidiu com a saída do Dinacir e minha vinda para a direção do DIEESE. Outro fato que levou à minha indicação foi que, naquele ano, a presidência do DIEESE que funciona em esquema de rodízio entre as centrais sindicais, seria da Força Sindical e o Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, também da Força, já tinha sido da presidência por duas vezes, e o de São Paulo também, algumas vezes. Osasco nunca tinha sido da presidência do DIEESE, nem da executiva, a não ser naquele exato momento.

Houve a indicação da minha diretoria, do sindicato dos metalúrgicos de Osasco que, em havendo pleito no DIEESE, Osasco gostaria de poder indicar a representação. E foi um consenso na nossa Central. Aí, chegou ao final do ano, com a mudança na direção executiva, no caso, a presidência e a indicação de que eu a assumisse. Mas num primeiro momento, a minha indicação não foi aceita pelo conjunto da direção.

Naquele momento, o grupo ligado à CUT não aceitou a minha indicação. Não pela minha pessoa ou por achar que eu não tinha competência. Muito pelo contrário, ali tinham muitos amigos meus inclusive de PCDA [Programa de Capacitação a Dirigentes e Assessores]. Eu os respeito muito e sei que o respeito é recíproco. O problema era o acordo antigo que dizia que qualquer pessoa indicada teria que ter ficado pelo menos um ano na direção para depois ter condições de ser presidente.

Embora o meu sindicato tivesse participação na direção há muitos e muitos anos e ter assumido no ano anterior um cargo executivo, eles não acharam isso válido. Se tivesse sido indicado o Dinacir, não haveria problema. Mas, consideravam diferente o fato de eu estar assumindo no lugar dele. Ficou uma coisa um pouco fechada naquele acordo anterior. Quer dizer, o cargo era da Força, era do sindicato, mas não podia ser eu. Então, o DIEESE ficou sem presidência por alguns meses. O Paulo Paixão que é um excelente amigo, acho que um dos melhores presidentes que o DIEESE já teve, com todo o respeito a todos os meus colegas, ficou um tempo como vice-presidente e acumulando a presidência porque o cargo ficou vago. E nós batemos o pé, falamos: "Então, vai ficar sem presidente. Não tem outra indicação. A indicação é a Mônica, mesmo. E não vai mudar isso." E, ficou um tempo sem presidente e foi se conversando até chegar a um denominador comum. E o pessoal acabou aceitando a minha indicação.

Já haviam se passado quase seis meses, quando eu assumi a presidência do DIEESE. De qualquer forma, assumimos e houve também uma alteração no período de mandato que deixou de ser de um ano para ser de dois. Então, eu pude ficar no DIEESE por mais um ano.

Foi um período maravilhoso para mim, não só do ponto de vista político, mas também do ponto de vista pessoal, porque a equipe de trabalho aqui é muito boa. É difícil encontrar uma equipe com essa equivalência profissional e também de entendimento. Porque aqui tem uma peculiaridade: a gente consegue deixar as divergências e as diferenças políticas e ideológicas não interferirem no próprio DIEESE, seja no processo administrativo, de gestão e no político. Tratamos a coisa como ela deveria ser tratada, revimos o acordo para atualizá-lo.

Eu fiquei por um ano e seis meses e quando você está aqui, você é DIEESE. Não é CUT, não é a Força, não é CGT, não é SDS (Social Democracia Sindical). São dirigentes dos sindicatos que têm todo um apreço e, um respeito pela entidade.

E eu também, peguei um período do DIEESE de uma discussão bastante profunda sobre a busca do fortalecimento associativo. O DIEESE já teve mais de mil associados. Quando eu cheguei aqui era um pouco mais de 400, então havia dificuldades internas a enfrentar. Ao mesmo tempo, tinha que dar conta de toda a demanda da própria sociedade, que hoje olha para o DIEESE como instrumento importante de informação. E, sobretudo, demanda do próprio movimento sindical que deposita nele uma expectativa de formação e de suporte técnico.

Desde que o DIEESE foi criado, há 50 anos, se formos olhar a trajetória do movimento sindical, houve um crescimento em todos os aspectos. É claro que o movimento sindical teve seus períodos de altos e baixos com a questão do desemprego, por exemplo. Tudo fez com que as receitas caíssem e, quando isso acontece, infelizmente, o DIEESE, ainda que cumpra essa missão de atender a demanda do movimento sindical, às vezes deixa de ser a prioridade em muitos casos. Então, nosso trabalho foi tentar resgatar a importância do DIEESE. Foi também uma experiência rica, poder presidir uma entidade com característica de ser nacional e com peculiaridades, em função dos escritórios regionais que eu também tive a oportunidade de visitar.

E conviver com a diferença é a principal lição. Claro que eu tive outras oportunidades de convivência, mas não numa envergadura como essa. É um exercício de extremo crescimento para gente. Como sou uma pessoa de temperamento bastante forte, isso foi um aprendizado para mim. Para eu conseguir rever inclusive coisas minhas, por ter essa convivência.

Não ter sido aceita, depois ser aceita para a direção e ter uma convivência boa. Viver o que era ruim, o que era bom e tudo de uma forma com qualidade, com nível. E a gente não se identifica de outra forma que não seja por aqui.

A gente, no sindicato, também tem um rodízio na direção. Então, outro companheiro está vindo aqui porque também tem que ter a oportunidade de ter essa experiência de convivência. Assim como vai ser lá na Central [Força Sindical] e como vai ser nas outras coisas. Eu acho que o crescimento da gente é exatamente isso. Você fez, participou, agora você vai para outra etapa e assim vai...

E aqui, no DIEESE, eu só fiz amigos. Quando eu terminei meu mandato, posso até não ter começado bem, mas eu terminei de uma forma que as pessoas reconhecem que dei minha contribuição. Saí com o carinho, não só da direção, mas dos próprios funcionários, dos colaboradores, da equipe. Toda a vez que eu venho aqui sou muito bem recebida. Então, para mim, é isso que motiva que faz seguir em frente.

 

Avaliação/Projeto Memória

Acho que deixar essa nossa experiência para que outras pessoas possam ver isso de alguma forma é importante. Acho que o DIEESE é uma organização que, pelo que fez e pelo que faz e como se constituiu é merecedora de um trabalho e de um investimento de juntar as memórias.

Eu gosto de história, mas não tem muito lugar aonde você vai e consegue ver ela num conjunto. Piorou no que diz respeito ao movimento sindical. Às vezes, podemos ver em uma tendência aqui, outra lá. Mas, não é algo que mostre o que esse trabalho vai possibilitar.

Mostrar uma ação que é uma vida. Cinquenta anos é uma vida inteira de uma pessoa. E essa é uma vida de uma instituição de várias pessoas e cada figura extraordinária que passou por aqui. Tem o Tenorinho, o Paixão, a Ofélia, o Bartô, Porque o Bartolomeu, eu acho que é parte do patrimônio. É uma pessoa muito especial que gosta muito daqui. E tantos outros. É o resgate vivo que, tomara, depois a gente possa se beneficiar da boa leitura, do ver, de poder lembrar. 

 

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