Ferramentas Pessoais
Seções

Ir para o conteúdo. | Ir para a navegação





Página Inicial nossas_historias_menu Ana Yara Dania Paulino Lopes

Ana Yara Dania Paulino Lopes

Ana_yara_dania_paulino_lopesHistória temática

Identificação

Todo mundo me conhece como Ana Yara Paulino, mas na verdade meu nome completo é Ana Yara Dania Paulino Lopes. N nasci em São Paulo capital, no dia 30 de abril de 1950. Por parte da família da minha mãe, descendo de gaúchos; do meu pai, da Bahia.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Eu me formei, em 72, em Ciências Sociais na PUC-São Paulo [Pontifícia Universidade Católica]. Depois, fiz mestrado em Ciência Política na USP [Universidade de São Paulo] e sou doutoranda da PUC, atualmente, em História Social.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

Quando eu prestei [vestibular] para Ciências Sociais, eu não tinha certeza se gostava disso; podia ser Arquitetura, podia ser Teatro. Quando eu entrei em Ciências Sociais [1969], logo que começou o curso, em final de abril, eu já estava trabalhando na área, estava fazendo entrevista para um laboratório, trabalhando com entrevista qualitativa. Eu passei o curso inteiro trabalhando com pesquisa. Depois, durante ainda o período do curso, eu trabalhei com educação de adultos no Experimental da Lapa. Usávamos o método Paulo Freire. Depois, fui para o Projeto Mobral [Movimento Brasileiro de Alfabetização] municipal. Tanto no Mobral quanto no Experimental da Lapa, tinha sempre essa questão dos trabalhadores, de um lado, o que era o ensino acadêmico, de outro, e como se cruzavam essas duas coisas: em linguagem, comunicação, foi uma busca de ultrapassar esses limites.. Na verdade, acho que eu continuo fazendo isso até hoje, tentando estabelecer esse diálogo entre a experiência, entre o conhecimento que vem dos próprios trabalhadores e o diálogo com um conhecimento mais sistematizado, mais específico, mais acadêmico. Pensando bem, acho que é o que eu tenho feito da minha vida profissional.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Na época de minha adolescência, vivíamos o Golpe de 64. Todo o movimento político de resistência levava-nos a olhar com um pensamento mais crítico e um dos locais que podíamos exercer esse pensamento mais crítico, era justamente no curso de Ciências Sociais. Quer dizer, eu entro na faculdade em 69, exatamente depois do Ato Institucional número 5 [de dezembro 1968]. Muitos dos meus professores, que eu vou reencontrar depois da Anistia, eles começavam a dar aula, quando chegava no meio do ano a pessoa ia embora, porque estava sendo perseguida, exilada. Foi um período muito conturbado. A própria questão do currículo de Ciências Sociais, queríamos sempre uma perspectiva mais crítica. Era muito difícil. Fazíamos muitos grupos de estudos, grupo de estudo sobre “O Capital”, ler a obra do Lênin etc, mas não encontrávamos, normalmente, esses livros em português. Sei um pouco de espanhol porque muitas vezes, líamos nessa língua. Vinha livro da Argentina, do Chile, da Espanha, México. Porque estava praticamente proibido você ter edições marxistas em português, inclusive sempre em sala de aula ou no ônibus, sempre tinha um olheiro da repressão. Era complicado. Vivíamos com o livro encapado. Se eles fossem muito espertos, claro que veriam, mas encapando o livro, nos sentíamos mais seguros para circular com esse tipo de material, que era proibido mesmo.

 

 

Família

 

 

Tinha a Teologia da Libertação. Eu estudei em escola católica, então claro que tem sempre uma busca pelos pobres. A minha mãe, especialmente, era muito pela justiça, independente de religião, foi uma pessoa também que me marcou. Ela era sempre pela justiça, acontecesse o que acontecesse. Isso eu acho que é um tipo das minhas duas famílias, as heranças materna e paterna, a dignidade humana, esses valores mais gerais. E aí eu acho que continuei nesse tipo de busca.

Trajetória no Dieese

Eu tinha um amigo na graduação, o Alair Molina, que a mulher dele na época, a Ana Clara, trabalhava no DIEESE. Ela fazia pesquisa, não me lembro exatamente do que, talvez de custo de vida, não sei mais, e, como a gente se encontrava bastante, eu fui ao DIEESE, que ainda era na Rua Marcolina, lá no Gasômetro. E achei interessantíssimo o primeiro impacto, de ter toda aquela produção e o empenho das pessoas, na questão dos trabalhadores. Aquela primeira visita foi bem marcante. Foi ali que encontrei a Annez [Andrauss], eu não lembro se era a Heloísa Martins a diretora na época. Sempre fiquei atenta para a existência do DIEESE. Depois a luta pela democratização foi um momento muito propício para uma série de movimentos intelectuais e movimentos sociais. Entre sindicalistas e movimento estudantil, cruzávamos com essas pessoas em muitos locais, tinham muitos seminários ou a luta pela democratização propriamente dita, os abaixo-assinados, as demonstrações, a luta pela Anistia. Em todos os momentos você está cruzando com pessoas diretamente envolvidas na democratização.

Especialmente, nesse caso, o que me leva a vir ao DIEESE é principalmente o contato com o [Walter] Barelli e com a Annez. Encontrávamos-nos por aí até que ele me faz uma proposta para ir trabalhar no DIEESE. Nesse momento eu estou trabalhando no Cebrap [Centro Brasileiro de Análise e Planejamento] em 78. Em 77, foi a luta maior da Anistia, inclusive da questão das mulheres, também trazíamos isso no jornal Em Tempo, esse tipo de coisa. A idéia do Barelli e da Annez de me trazerem para o DIEESE, é que eu trabalhava com temas rurais e eles estavam querendo expandir a filiação dos sindicatos rurais. Como eu já trabalhava no Cebrap, então eu fizuma proposta de trabalhar nos dois, de continuar nos dois. Eu trabalhava no DIEESE das sete horas às 13 e entrava no Cebrap às 14, ia acho que até às oito da noite, uma coisa assim, combinava as duas coisas.

Eu já tinha três filhos na época. É claro que era muito trabalho, mas eu era muito jovem, tinha muita energia. Foi uma época muito interessante porque no DIEESE eu estava em contato com o movimento sindical e com os técnicos que estavam construindo esse trabalho, então na época era o Barelli, era o César Concone, era o Maurício [José Maurício Soares] e foi lá que eu conheci o Antônio Prado, que somos amigos até hoje. E no Cebrap eu trabalhava mais com o Paul Singer, que agora está no Economia Solidária e trabalhava também com o grupo do Rural, do Agrário, ou seja, com Juarez Rubens Brandão Lopes, Vinícius Caldeira Brant o Geraldo Müller e Teresa Sales.

 

 

Contag

 

 

Eu estava juntando este lado mais rural com uma perspectiva do DIEESE, só o que de imediato não tinha muitos sindicatos de trabalhadores rurais associados ao DIEESE e então foi assim uma tentativa de abertura. Até eu participei dos congressos da CONTAG, financiada pelo próprio DIEESE e justamente com esta perspectiva, que para mim foi muito interessante pessoalmente.

 

 

Pesquisa/Salário Mínimo

 

 

Aí eu comecei a fazer dois trabalhos no DIEESE. Um que era montar uma cartilha sobre o salário mínimo e que eram cinco páginas de explicação sobre: como aparece o salário mínimo, como está na época, quais são as perspectivas, como é a negociação. Foi um desafio tremendo, porque era justamente sistematizar um conhecimento que era de longa data, de uma forma muito simples, muito clara e muito precisa. Achei interessantíssimo, o desafio que o Barelli me propôs.

 

 

Assessoria/Negociação

 

 

E o outro era fazer um acompanhamento das negociações coletivas. Esse banco que é o SACC [Sistema de Acompanhamento das Convenções Coletivas] atualmente, era o embrião do SACC, que comecei a fazer. Foi muito legal porque na época, imagina, não se tinha computador, eram aquelas maquininhas de calcular. Eu pegava os jornais porque, praticamente, na época da repressão, só tinha dissídio, eu acompanhava, recortava, eram umas tirinhas desse tamanhinho que apareciam no Diário Oficial ou nos jornais, algumas notícias de jornais tanto de greves, em que setor que estão parados e eu tentava fazer uma sistematização. Isso virou uma seção dentro do boletim mensal do DIEESE, que era mimeografado, uma página ou duas. Era da minha responsabilidade colocar o que tínhamos em termos de categoria, data-base, o que tinha sido conquistado em termos de salário, de tanto para tanto, qual era o piso e alguma informação adicional. Uma das coisas que é por lei, mas na época não era a situação regular, era pedir o comprovante de um pagamento, especificando tudo, então isso entrava muitas vezes na pauta da negociação e no próprio dissídio que o trabalhador tinha direito a ter declarado todos os descontos, qual o valor e tal. Isso é de legislação, então a luta estava muito atrás e isso que se colocava. Aí o produto final desse um ano, um ano e pouco que eu fiquei no DIEESE, foi um texto que se chama: Reajustes Salariais no Brasil, de 77 a 78.

Naquela comemoração dos 50 anos, eu fiquei muito emocionada quando o Clemente citou que o primeiro texto que tinha sobre reajuste era um texto sobre “reajustes salariais de negociações coletivas” e que é de 77/78, exatamente. Fui eu que escrevi. E também fiquei muito emocionada de ser convidada para participar lá da festa. Eu falei sobre o projeto “Emprego e Desenvolvimento Tecnológico”, suas diferentes fases, projeto de pesquisa e formação técnica DIEESE/CESIT/CNPq. Fizemos aquele lançamento das publicações, então foi ótimo.

Contag

Apareceu no congresso de 79 que o DIEESE estava presente, mas não que a gente estivesse efetivamente desenvolvendo um trabalho do DIEESE. A gente estava acompanhando a luta dos trabalhadores rurais, por isso, eu também estive na Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de São Paulo [FETAESP], levantando material também, mas não exatamente uma assessoria, porque não eram afiliados ao DIEESE. Essa questão de filiação ou não-filiação também, ela é relativa porque se há sindicatos interessados no trabalho do DIEESE, muitas vezes o DIEESE desenvolve esse trabalho de aproximação, independente de ser filiado ou não, isso fazíamos muito na época, também. Teve uma aproximação, não é dizer que fomos fazer uma assessoria, isso não.

 

 

SindicatosRurais

 

 

Os sindicatos rurais tinham passado por uma repressão muito grande e todas aquelas lideranças camponesas foram praticamente silenciadas. Existia, e tem até hoje, mas existia muito mais na época, essa complexidade do que é rural. Qual a contradição? O que é considerado o próprio trabalhador rural? A partir de 75, temos o surgimento da figura do trabalhador volante, o que hoje se chama bóia-fria; chamávamos de trabalhador volante; ele estava sempre gerenciado por um gato, temporário, mas não tinha nenhuma legislação para eles. Ao mesmo tempo em que tinha o pequeno produtor; hoje, chamaríamos de produtor familiar, mas esse pequeno produtor muitas vezes não estava filiado ao sindicato patronal, muito pelo contrário, ele estava filiado ao sindicato dos trabalhadores rurais. Até hoje existem produtores rurais ou agricultores familiares que são filiados ao sindicato dos trabalhadores rurais. É recente a organização dos agricultores familiares em entidades próprias Quando começa essa coisa mais administrativa, uma coisa mais burocrática, do que inclusive era a cédula, do que é rural, como é que precisa apresentar o imposto de renda, etc. e tal, que eles vão procurar, muitas vezes, o sindicato patronal rural justamente para facilitar essa prestação de contas do imposto de renda, mas não propriamente da identidade deles. Escrevi um texto com a Teresa Sales que explora essa identidade do produtor familiar, em termos da sindicalização. Eles estavam muitas vezes no patronal e, na maioria das vezes, no dos trabalhadores rurais. A partir desse ano [2006] temos a figura mesmo do produtor familiar e isso eu acho que é uma grande conquista, uma conquista que não é um ato de lei, de uma assinatura. Foi todo um amadurecimento desse setor que tem características diferenciadas.

 

 

Organizações e Estudos Ruralistas

 

 

Já existia a CONTAG e FEATAESP, em São Paulo. Na CONTAG estavam todos eles: o pequeno produtor que já tinha técnica, do Sul, de São Paulo, você encontrava o pessoal que era praticamente produtores de subsistência do Nordeste, os trabalhadores rurais, os trabalhadores volantes etc. Era muito complexo mesmo. Tanto que depois de um determinado momento vai existir nos sindicatos certa divisão no estado de São Paulo. O sindicato dos empregados rurais, que aí é bem dos empregados (e isso foi colocado muito pelos trabalhadores da cana), mas que continua ainda com essa identidade. Em alguns momentos eles se juntam, em outro momento separam, e assim vai. E agora inclusive tem esse projeto do DIEESE com o NEADE, Núcleo de Estudos de Desenvolvimento Agrário, que é ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, que resultou nesse projeto que começou em 2004: escrevi o primeiro projeto para fazer essa ligação com o NEADE e a proposta era fazer um levantamento das fontes existentes sobre as estatísticas rurais, quer dizer, os dados do rural, como é que estão.

A partir de 2005 eu já não estava mais nesse projeto. Mas se você quisesse saber um dado sobre agricultura familiar, por exemplo, então você conseguia entrar para a agricultura familiar e chegava onde está, qual é a fonte, qual a informação que existia. Você conseguia fazer esse recorte.

Agora, acho que na semana passada, se não me engano, tiveram dois relançamentos, um daquele volume de estatísticas rurais e o outro que é virtual, que é o acesso às fontes do rural, que é muito legal.

Trajetória no Dieese

Eu fiquei no DIEESE em 78 e 79 e aí eu era bolsista de uma agência alemã [o ILDES – Instituto Latinoamericano de Desenvolvimento Econômico e Social]. Gostaria muito de continuar no DIEESE, mas o Barelli me fez a proposta de continuar como bolsista. Eu queria era ser internalizada, queria ser funcionária do DIEESE e com carteira assinada, esse tipo de coisa, mas, como não foi possível naquele momento, optei por continuar no Cebrap. Volto em 96, para um estudo sobre o perfil profissional dos metalúrgicos de Guarulhos e região. Deste trabalho, com a Marina Teixeira, que foi um estudo de um ano, praticamente, os dirigentes de Guarulhos queriam fazer um livro, mas não fizeram até hoje. Fizemos alguns artigos, que estão, inclusive, na página de internet do DIEESE. A partir de 1997, fui coordenadora executiva de três projetos em parceria com o CESIT [Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ligado ao Instituto de Economia da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas] e que contavam com a apoio do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico].

 

 

Avaliação/Dieese

 

 

Quando eu trabalhei no DIEESE, estávamos na sede do Sindicato dos Marceneiros, na rua Tabatinguera. Além de mim como pesquisadora, tinha uma outra socióloga, que é a Elizabete Silva, e em 79 havia a idéia de se formar um escritório regional no Rio de Janeiro, que foi o primeiro que surgiu. A Beth até estava nessa interlocução entre Rio e São Paulo, esse tipo de coisa. Algumas subseções do DIEESE começavam a surgir também, não eram só os quadros da sede do DIEESE, ele começava a se expandir. Mesmo o Serginho [Sergio Mendonça] estava começando, naquela época, mais ou menos, junto com os Bancários. Tinha o Mario Salerno que dava todo o apoio, que também trabalhava lá. São todas as pessoas que continuam de alguma forma ligadas ao DIEESE independente do espaço em que eles estejam. Também era muito interessante o contato com os próprios sindicalistas, porque o DIEESE era uma grande porta aberta. Com toda a luta do ABC em 77, se intensificou em 78, então você tinha lá transitando, o Lula, o Joaquinzão, todo mundo trabalhando e ocupando e discutindo num ambiente democrático, porque se você fosse acompanhar pela imprensa alguns comentários seria impossível. Então essa diversidade do DIEESE, essa questão do intersindical, que se mantém até hoje, eu acho uma coisa fantástica, tinha na época e continua tendo hoje. Se a gente vai estabelecendo contatos internacionais, que tínhamos quase nenhum na época, então você repara o quão diferente é de outros países. Quer dizer, é uma experiência muito diferenciada, muito única, e eu acho que isso em termos de diálogo com a sociedade é uma das conquistas que temos através do DIEESE.

Quando eu voltei para o DIEESE em 96, tinha quase 15 escritórios regionais, agora estamos indo para 17. E a estrutura estava muito mais definida: pesquisa, assessoria, formação/ educação. As coisas começaram a se entrecruzar. Antes era ainda muito restrito. Existia essa proposta, mas ela não tinha amadurecido tanto, embora a proposta do aparecimento do DIEESE fosse isso: conhecimento científico de boa qualidade para subsidiar a luta dos trabalhadores, isso se mantém o tempo inteiro, desde 55.

 

 

Pesquisa/Metalúrgicos

 

 

A grande questão deste perfil que fizemos dos Metalúrgicos de Guarulhos, era a entrada da tecnologia. Fizemos essa pesquisa em 96 e uma das grandes questões daquele momento era a reestruturação produtiva, que começa em 80. Em princípio é para a própria organização da produção. Depois entra mesmo na questão da máquina, que é um pouco posterior no Brasil. A questão de eles estarem registrados, que existe até hoje, toda pesquisa que você vai levar à frente de uma categoria. Você tem que reparar que, muitas vezes, uma pessoa está contratada para uma função e você tem que pedir quais são as atividades que ela desenvolve, para entender o que ela efetivamente faz. Não significa que uma função, na outra indústria, será igual porque o rol de atividades muda muito. A questão da terceirização ainda não era tão flagrante nessa época de 96; a grande discussão, hoje, talvez já não seja tanto a questão da reestruturação produtiva, mas a questão da terceirização, dos trabalhadores terceiros. Isso está em todo lugar, tanto no setor de serviços quanto no setor da indústria.

Pesquisa/PED

A outra questão que tínhamos em 96, era questão do desemprego. O desemprego mesmo começa a ser muito estrutural no Brasil a partir de 89. São Paulo é um dos espaços em que isso vai acontecer com mais força e tem todos os registros da PED [Pesquisa de Emprego e Desemprego], que é a série mais longa na pesquisa de emprego e desemprego que dão conta disso. Tem sempre essa busca da conquista pelo movimento sindical de abrir a questão das pautas seja para o tema das mulheres, seja para a saúde e segurança no trabalho, jornada de trabalho, dos turnos, ou seja, tudo isso está entrando junto com a questão da reestruturação produtiva, onde o grande vilão é o desemprego. O limite dessa negociação é o fato de ter sempre alguém que pode ocupar a sua vaga, eu acho que isso continua sendo um dos grandes desafios do movimento sindical atualmente. Aí já não estamos falando somente do Brasil. Em outros países pode ter até legislações diferentes, mas isso se recoloca tranqüilamente.

 

 

Assessoria

 

 

Se surge um interesse pela redução da jornada de trabalho e que é pautado pelo movimento sindical, o que o DIEESE faz é assessorar nessa organização, como é que se utiliza tecnicamente esse trabalho e tentando sempre juntar todas as diferentes tendências, as diferentes centrais e trazer o movimento sindical como um todo para essa grande questão. Eu acho que essa questão do emprego e desemprego é uma e a questão da redução da jornada de trabalho é outra campanha. Os temas vêm por aí. Atualmente a terceirização também está sendo preocupante, então passa a ser também uma pauta internalizada pela equipe técnica, a equipe técnica trabalha junto com o movimento sindical na verdade.

 

 

Pesquisa/Metalúrgicos

 

 

Era uma pesquisa quantitativa. Foram amostrados 400 empregados, construímos um questionário junto com os próprios diretores do sindicato e com os delegados sindicais. Nós propúnhamos e havia uma reunião de discussão desse questionário. E a pesquisa só aconteceu porque os delegados se empenharam. A área de abrangência desse sindicato vai até Arujá, vai lá para frente. Não é que significa só a Guarulhos urbana. Entra por fábricas que você vai encontrando lá pela frente, Mairiporã, Terra Rica. Essa área é muito grande e os próprios sindicalistas e os delegados sindicais levavam muitas vezes os entrevistadores. Os trabalhadores que não conseguiam ser entrevistados vinham no sindicato para ser entrevistados. Então foi assim uma grande pesquisa de campo que a gente fez assim em três meses, acredito.

Os entrevistadores se apresentavam como DIEESE, porque tem todo um trabalho de sensibilização da própria empresa para essa pesquisa. Preparamos uma carta que foi enviada, assinada tanto pelo Sérgio Mendonça, que era o diretor técnico do DIEESE, quanto pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, falando que estávamos desenvolvendo essa pesquisa, que foi bancada pelo sindicato e que no período certo, enviaríamos entrevistadores para lá. Na maioria das fábricas, eles deixavam a gente chamar os trabalhadores que haviam sido sorteados na amostra. Não tinha uma lista anterior, o entrevistador ia lá e falava: “Agora chama fulano de tal”, “Não está”, “Então substitui pelo outro”. Em alguns lugares onde foi mais difícil ou que o trabalhador não estava, pedíamos para o trabalhador ir até o sindicato. A maioria foi feita dentro da própria empresa, mas existiram alguns trabalhadores que vieram até o Sindicato dos Metalúrgicos em Guarulhos para fazer entrevista e depois a gente deu um retorno para a diretoria e fez uma apresentação para a imprensa e os convidados deles também, tudo lá em Guarulhos. Depois, apresentamos na ABET [Associação Brasileira de Estudos do Trabalho]. Fomos participar de um encontro no Rio com o financiamento da ABET. O nosso trabalho foi bastante elogiado, foi muito bem recebido. A pesquisa foi em 96. Eu acredito que a reunião da ABET foi em 97, se não me engano, que deve ter sido posterior, quando já se tinha o relatório pronto.

Acho que era bem marcante a questão da função dos trabalhadores, que a gente colocou no questionário e realmente chamar o nome de determinada função não quer dizer o que as pessoas faziam na época, e a gente sabe que isso só piorou daquele tempo para cá. A correspondência entre o nome da função e a descrição das atividades realizadas variava muito. A gente teve alguns encontros com o Luís Paulo Bresciani, que trabalhava na época na subseção dos metalúrgicos do ABC e foi muito interessante a ajuda dele justamente para a gente montar um bom questionário, que a gente estava querendo saber essa questão da mudança da reestruturação produtiva, então isso foi muito bom.

Parcerias/Dieese/Cesit

Em 97 eu fui convidada pelo DIEESE, pelo Anronio Prado, para ser a coordenadora executiva de um projeto que o DIEESE estaria começando com o CNPq. O primeiro projeto se chamou: “Emprego e Desenvolvimento Tecnológico: projeto de pesquisa e formação técnica DIEESE/CESIT”. Esse projeto estava querendo ver como é que estava a questão do desenvolvimento tecnológico e a questão do emprego. Fazia essas duas ligações, o coordenador-geral era o Antônio Prado. A gente que acompanha a universidade, a academia, esse tipo de coisa, acha que foi um grande passo de reconhecimento do DIEESE pelo próprio CNPq. Existia gente na diretoria do CNPq que era capaz de ver que existiam organizações de trabalhadores que produziam conhecimento científico, que tinha todo um sentido em termos de formação técnica dos pesquisadores voltado para o mundo do trabalho e aí a ligação estreita é que trabalhava gente do DIEESE e os professores da Unicamp, do Instituto de Economia e desse núcleo do CESIT, que é Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, uma coisa assim.

O Prado era professor da Universidade São Judas, , mas tinha gente que foi do DIEESE que já estava na Unicamp, por exemplo, o Marcio Pochmann. O Marcio já integrou os quadros do DIEESE e foi inclusive supervisor do escritório do Rio Grande do Sul, do DIEESE. O Prado, mais ou menos nessa época, ou um pouquinho mais tarde, foi ser professor da PUC de São Paulo.

O grande desafio era formar nova gente, novos pesquisadores ao mesmo tempo em que você se envolvia em um projeto de interlocução com os trabalhadores, então teve muitos momentos, que eu acho que no primeiro projeto a gente teve talvez umas 40 bolsas, isso está escrito em algum lugar, tem o relatório de tudo isso. Então a gente teve contato com os 40 pesquisadores e, em princípio, eles ficavam alocados em dois lugares: aqui no Escritório Nacional e os outros no próprio CESIT na Unicamp. O Prado era o coordenador-geral, responsável geral pelo projeto, era o responsável para fazer funcionar esse projeto e aí tinha as diferentes contribuições e conforme os temas que cada bolsista do CNPq, então era indicado seja pelo DIEESE ou pelo CESIT, eles tinham planos de trabalho individuais, mas integrados ao grande projeto, ou seja, na estrutura também conhecida como “guarda-chuva”.

Nesse primeiro projeto, iniciado no ano de 97, tinham bolsistas que eram graduandos e tinham bolsistas que já eram graduados, porque era uma linha de projetos que chamava RHAE, recursos humanos..., não lembro agora, uma linha do CNPq, que significava que a bolsa era do tipo Desenvolvimento Tecnológico Industrial (DTI), o que permitia que em relação a instituições como DIEESE não fossem simplesmente bolsas de mestrado ou doutorado. Era um outro programa e tinha várias categorias. Então os bolsistas graduados entravam na categoria menor e conforme você ia selecionando, então se classificava esses bolsistas nos diferentes níveis do CNPq. Era uma equipe interdisciplinar, então a gente tinha economista, sociólogo, a gente teve gente que trabalhava como engenheiro agrônomo, historiador, geógrafo, gente formada em Educação e que estavam com essa grande questão: Emprego e Desenvolvimento Tecnológico.

Realizamos ainda em 97/98, um grande seminário, era um seminário maior em São Paulo, com convidados internacionais e nacionais, quase lançamento do próprio projeto que começou em fevereiro ou março e essa série de seminários aconteceu em novembro.

Realizamos ainda em 97/98, um grande seminário, era um seminário maior em São Paulo, com convidados internacionais e nacionais, quase lançamento do próprio projeto que começou em fevereiro ou março e essa série de seminários aconteceu em novembro. Fizemos um grande seminário em São Paulo, que representava também possibilidades de seminários regionais. Então o mesmo grupo de convidados que veio para São Paulo, uma parte foi para Brasília, outra parte foi para Recife, outra parte para Porto Alegre, com os diferentes temas do projeto e a gente teve como produto aquele primeiro livro; que a gente fez oito publicações ao todo -, de 97 até 2005. O primeiro se chamou “Emprego e desenvolvimento tecnológico: Brasil e contexto internacional”, aí eu acho que tem alguns autores ali presentes que ainda são marcantes tanto dentro do trabalho DIEESE quanto do trabalho do Instituto Observatório Social [IOS]. Mais tarde, de 2003 a 2005, desenvolvemos um projeto do DIEESE, do Observatório Social com a Universidade de Provence lá na França, que é um núcleo de análise pluridisciplinar da situação de trabalho, que significa um novo olhar sobre a atividade do trabalho. O interessante do projeto era que a gente foi construindo diálogo com os próprios trabalhadores. Tinham pessoas das universidades, professores, que vinham falar nas atividades e os sindicalistas, dirigentes sindicais também tinham assentos nessas mesas. Um deles que, por exemplo, também está presente nesse debate é o Paulo Paixão, não sei se vocês já o entrevistaram, nesse projeto Memória DIEESE . O Paixão é um dirigente sindical que foi presidente do DIEESE, que também fez toda essa interlocução junto com os projetos que desenvolvemos junto com o CNPq e o CESIT, inclusive dentro de um espaço do Ministério da Ciência e Tecnologia de novas experiências que foram surgindo, juntando iniciativas dos trabalhadores e dos sindicatos. Têm muitas conexões, o projeto não foi fechado. Outra coisa interessante que aconteceu nesses primeiros anos do projeto foi que parte do público consistia em alunos daquele curso do PCDA, que era um curso de longa duração que estava sob a coordenação do próprio Clemente e da Suzanna. Fazia parte do currículo, os alunos participarem das atividades desse projeto. Aí teve vários momentos nas próprias oficinas do projeto em que os debatedores dos trabalhos apresentados pelos bolsistas, fossem dos DIEESE fossem do próprio CESIT, que eram convidados de outras universidades. A gente teve gente da Universidade de São Carlos, pessoal da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da PUC de São Paulo, um monte de gente aí, da Universidade Federal do Pernambuco, Federal da Bahia, ou de institutos de pesquisa nesses locais, porque a gente também fez vários seminários regionais, na Universidade Federal do Paraná, Santa Catarina e tal. Vinham professores debaterem e sempre sentavam do lado, no debate, de um dirigente sindical. E isso então significou assim uma interlocução muito rica. Muitos desses trabalhos subsidiaram, como assessoria, os próprios sindicatos e muitos desses ex-bolsistas se tornaram funcionários do DIEESE. Tem a Ana Margaret Simões, que é a atual coordenadora da PED em Salvador, tem o Cid, o Cid não, o rapaz que trabalha com ele que, agora esqueci o nome [Sandro], que também está no escritório do Paraná. No próprio Observatório Social, quer dizer, a gente tem a Lilian Arruda que também foi bolsista. A gente montou, a gente tem uma rede, vamos dizer, espalhada de gente que a gente conseguiu formar dentro desses oito, quase 10 anos, de projeto, que era de pesquisa e formação técnica no CESIT e no DIEESE que depois muitos deles foram também absorvidos pelo próprio DIEESE ou pelo próprio CESIT ou estão em lugares-chave por aí, sempre voltados para questões do mundo do trabalho, então tem gente especializada boa por aí.

A gente desenvolveu três projetos, então o primeiro que é esse emprego e desenvolvimento tecnológico, que se entendeu de de 97 até o final de 99; aí de 99, meio assim que inclusive se sobrepondo, de 99 até mais ou menos 2001, 2002, não lembro bem, então a gente teve um outro projeto que se chamava “Desenvolvimento Tecnológico e Atividades Econômicas nos Espaços Regionais Brasileiros”, de novo projeto de pesquisa e formação técnica DIESSE/CESIT, aí a gente regionalizou o projeto e tivemos bolsistas em vários escritórios regionais do DIEESE. Já não era só em dois locais, mas a gente teve bolsista no Rio Grande do Sul, o Eduardo Schneider é funcionário do DIEESE hoje, esse rapaz; teve gente em Santa Catarina, teve gente no escritório regional do Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais e Pará também, a Rai, então a Rai hoje é funcionária do Observatório, está fazendo hoje uma pesquisa sobre o alumínio que é uma pesquisa do Observatório, naquele momento ela fez sobre a cadeia do açaí, então a gente tem assim, a gente teve possibilidade de estar em vários, em várias regiões; aí o último projeto, aí o interesse era questões setoriais e regionais, aí o último projeto começou em 2003 e foi voltado ao setor terciário, então era mercado de trabalho e modernização do setor terciário brasileiro.

Talvez o que foi de novidade foi justamente essa parceria que se montou para fazer um estudo sobre os trabalhadores do Carrefour, que o Carrefour é uma multinacional e foi por conta disso que o Observatório entrou na parceria, então na verdade nesse projeto, a gente teve várias sub-parcerias, porque o projeto como um todo continua sendo do DIEESE/CESIT, mas regionalizado também em grande parte, mas que ao mesmo tempo a gente estabeleceu um contato com o CNPq, um sub-contrato, portanto, para desenvolver um projeto sob condições de trabalho na Rede Carrefour e isso junto com os próprios sindicatos, então nesse outro projeto, além do DIEESE/CESIT e CNPq, a gente teve entrada do parceria do Observatório Social, porque ele trabalhava com multinacionais só, hoje ele trabalha com empresas em geral, a parceria da Universidade de Provence, do Departamento de Ergologia, análise disciplinar das condições de trabalho. O Yves Schwarz, que foi um dos fundadores, quando ele fez a primeira visita ao Brasil e ao DIEESE, a gente recebeu o Yves Schwarz no DIEESE, ele ficou também bastante envolvido e identificado com esse projeto que a gente tinha na época e a gente então desenvolve a amizade com esse pessoal desde lá e aí, além da universidade, então eles eram um grupo de trabalho e viraram um departamento dentro da universidade nesse período, então eles estiveram uma inserção dentro da universidade muito maior do que eles tinham em 97 e a Federação dos Trabalhadores, dos Empregados do Comércio na Argentina [FAECYS], também, porque a gente fez uma pesquisa então na França-Carrefour, Brasil-Carrefour e Argentina-Carrefour e no Brasil a gente teve tanto a a presença da CUT quanto da própria Força Sindical e que depois resultou também, foi multiplicado em outros projetos na seção dos comerciários, tanto a Cátia que agora está nos comerciais de São Paulo, o Rodrigo também, então aconteceram outros trabalhos a partir daí, inclusive aquele trabalho do perfil dos comerciários que foi feito pela Andréa [Muchão], estava sendo coordenado pela Andréa.

Observatório Social

O Observatório Social surgiu em 97. A idéia é compartilhada por quatro instituições: uma é o DIEESE, a outra é a CUT, outro é o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC), e a outra é a Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (Rede UNITRABALHO). Essas diferentes instituições tiveram uma presença maior sempre no Observatório variando de época para época. Agora o DIEESE sempre esteve presente no Observatório. Uma das pessoas que dirigiram o Observatório foi o Clemente [Ganz Lucio]e depois o Clóvis Scherer, que continuou fazendo a supervisão técnica dos trabalhos. Com a ida do Clóvis para a supervisão do Escritório Regional de Brasília (ER-DF), nesse ano de 2006, eu estou no Observatório Social pelo DIEESE.

A idéia era, em primeiro lugar, olhar os trabalhadores nas empresas multinacionais, como é que estava o trabalho dessas multinacionais em relação aos direitos fundamentais de trabalho da OIT. A questão da discriminação, seja de gênero, raça, a questão do trabalho das crianças, do trabalho escravo ou trabalho forçado, a questão da liberdade sindical, da negociação coletiva, da saúde e segurança no trabalho, das questões voltadas ao meio ambiente. Esses eram e continuam sendo os principais temas do Observatório. Todos esses temas estão mais presentes hoje na agenda da OIT sobre o Trabalho Decente, então a gente está fazendo certa transição também no Observatório da passagem desses direitos fundamentais do trabalho para se olhar também a pauta dos indicadores do trabalho decente.

O Observatório no começo só fazia pesquisa em multinacionais, mas agora está fazendo pesquisa em empresas, inclusive estatais. Também no princípio fazia mais com empresas, vamos dizer, indústrias, por exemplo, com o trabalho do Carrefour, estendeu-se para os serviços, comerciários etc. Numa das últimas revistas [Observatório Social em Revista] denuncia a questão do trabalho forçado na rede da C e A. É bastante interessante. Estamos, agora, com um projeto com as papeleiras, mais esse grande projeto da cadeia do alumínio.

O Observatório trabalha com pesquisa e tem também o setor de comunicação. A pesquisa é sempre feita tentando escutar todos os atores sócias – dirigentes sindicais, trabalhadores, representantes da empresa, outros, como ONGs ambientalistas, dependendo do estudo. Temos um questionário voltado para os trabalhadores, oficinas sindicais que você faz com os representantes sindicais e você tem também que escutar a empresa. Você escuta o representante da empresa e os documentos em todos os setores, os trabalhadores dos próprios sindicatos e da empresa também, então essa seria a pesquisa ideal, vamos dizer assim. Agora em muitos casos você não tem a aceitação da empresa, o Carrefour foi um exemplo disso, a gente não contou com a colaboração da empresa, então a gente fez com a força dos próprios sindicatos na figura do DIEESE e do Observatório Social no Brasil e com essas parcerias internacionais todas que a gente tinha. Então a pesquisa acontece dessa forma e o que foi diferente desta vez então, por exemplo, no Carrefour, é que foi muita pesquisa qualitativa, foram entrevistas com sindicalistas, foram entrevistas com os trabalhadores, foi essa nova forma de olhar a partir do ponto de vista da ergologia, essa metodologia lá da Universidade de Provence, do Departamento de Ergologia, que também a gente viu que a observação dos pesquisadores no próprio trabalho, porque eles também são uma equipe interdisciplinar, então eles têm ergônomos, sociólogos, filósofos, médicos, engenheiros, então é um novo olhar também sobre trabalho e a gente está sempre aberta para essas questões da metodologia, quer dizer, quais as metodologias que mais aproximam, que mais otimizem a formação desse conhecimento, que vai voltar de novo a subsidiar a luta dos trabalhadores.

O setor de comunicação do Observatório produz uma revista e também o site. Então através da revista a gente faz reportagem de impacto, de denúncia, como, por exemplo, o trabalho infantil em algumas minas, que estão juntos de uma cadeia das multinacionais, inclusive isso está na Justiça porque teve uma denúncia. Essa reportagem foi premiada agora pelo prêmio Vladimir Herzog, dia 25 a equipe do Observatório vai receber esse prêmio, por essa reportagem. A última revista que saiu foi sobre a denúncia de trabalho forçado na rede da C e A, que é em São Paulo mesmo, as pessoas costurando em lugares fechados, sem ventilação, trancadas, cumprindo jornadas de trabalho imensas...

A partir dessa questão da C e A, dessa denúncia, a C e A, por ter repercussão internacional e ser uma multinacional holandesa, o próprio Observatório Social, foi chamado para um reunião na C e A daqui, por causa daquela denúncia etalvez comece a negociação de uma pesquisa, com o aval da empresa. Essas empresas multinacionais ou transnacionais assinam os tais dos pactos globais, e quando ela assina um pacto global, ela não está respondendo só por aquela unidade, vamos dizer, da União Européia, ela está respondendo por todos as suas subsidiárias no mundo inteiro e pela cadeia produtiva. Então se tem uma oficina que está ligada, mesmo sendo terceirizada, mas que está ligada à C e A ou que está ligado ao Carrefour, está constando do pacto global que a empresa assinou. Então você pode mobilizar, inclusive, têm ações jurídicas, têm tribunais de denúncias sobre isso também e pode-se acionar por aí. Um outro caso que eu estou acompanhando mais de perto é o caso da Veracel.

A Veracel é 50% Aracruz, que a gente acompanha pelos jornais, a questão do Espírito Santo e dos indígenas está muito forte nos dias de hoje e ela é 50% é a junção de duas papeleiras, de indústria de papel, uma é sueca e a outra é finlandesa – Stora Enso - e também assinaram todos esses pactos globais. Aí você vê então qual é a situação dos empregados da Veracel, porque a Veracel é em Eunápolis na Bahia, só que os empregados não são só os trabalhadores diretos, têm os trabalhadores terceirizados e que hoje são praticamente dois terços dos trabalhadores da Veracel. Eles estão terceirizados, é meio uma prática. Por isso que eu coloco que uma das pautas foi a reestruturação produtiva, continua sendo. Mas uma outra questão que a gente tem que ir atrás e dominar, inclusive para a luta dos trabalhadores e por conta de representação sindical e tudo dos próprios contratos coletivos, é a questão da terceirização, quer dizer: em quantas pautas dá para ser incluídos os terceiros ou como se dá a representação sindical desses terceiros? No caso da Veracel, por exemplo, tem a parte tanto industrial quanto a agrícola, porque começa no plantio, no viveiro da planta do eucalipto, depois você vai acompanhando pela formação da floresta, depois você acompanha pelo corte das árvores. Inclusive hoje os trabalhadores que estão no corte estão sendo redefinidos como da cadeia de suprimento da madeira da fábrica e então antes eles participavam do sindicato rural e eles estão fazendo uma petição para entrar no sindicato dos papeleiros para mudar de categoria justamente por conta da identificação que eles estão tendo em termo da luta que está sendo levada, então você tem essa complexidade por aí afora.

Tem a questão da própria relação de trabalho, que não está legalizada, as condições são que as pessoas dormem, vivem em lugares fechados e extremamente mal para as questões das condições da saúde e que não são assumidos pela própria C e A... Tem de tudo, tem de tudo porque a C e A terceiriza, ela tem contratos com empresas justamente para fazer a costura, para fazer o corte, esse tipo de coisa, normalmente é para fazer costura, o corte já vem feito e aí essas pessoas, quer dizer, essas empresas têm que estar cumprindo toda uma legislação trabalhista e há empresas que não cumprem essa legislação trabalhista, então as pessoas às vezes não estão recebendo salário ou estão recebendo um menor valor muito menor, elas não estão no circuito do trabalho formal como deveriam estar de alguma forma, mesmo que fosse por contrato temporário junto com essas empresas prestadores de serviço para a própria C e A, porque eles são fornecedores, no caso.

É, tipo assim, porque se a C e A terceiriza alguma etapa, então o que ela vai responder para você? Qualquer multinacional pode responder para você: “Não, a gente cumpre no mínimo a legislação local” isso significa que se ela contratou uma firma tem que fiscalizar se aquela firma está cumprindo realmente a legislação local, e isso muitas vezes é falho.

O Observatório Social é ligado, foi ligado inicialmente com a questão das multinacionais, mas a questão da identidade do Observatório Social em relação os trabalhadores, porque o Observatório Social é da própria CUT também, a CUT tem assento na direção. Então, assim como o DIEESE é do movimento sindical, eu poderia dizer que o Observatório Social também é do movimento sindical, então em primeiro lugar se está querendo do ponto de vista dos trabalhadores, certo, então levar de uma forma melhor esse diálogo e ampliar, garantir melhores condições de trabalho para os trabalhadores, não só os empregados diretos dessas multinacionais ou dessas grandes empresas como, por exemplo, os trabalhadores terceirizados e também essa questão de negociação coletiva, representação no local de trabalho, como é que se dão essas relações dessas empresas com o sindicato para abrir cada vez mais o diálogo para que novos contratos coletivos de trabalho sejam feitos de uma forma em que os interesses dos trabalhadores sejam melhorados, então a presença do DIEESE, na verdade, como qualquer outro subseção do DIEESE, vamos dizer assim, então de uma forma mais umbilical no caso do Observatório, porque o DIEESE pertence ao próprio corpo, ele forma o Observatório também, então é levar as mesmas questões que o DIEESE leva a todo lugar, mas de uma forma mais geral voltado para os interesses do Observatório, que, no caso, o objetivo do Observatório são as grandes empresas, foram as multinacionais, mas já está trabalhando com a Petrobras, já tem outras empresas brasileiras e grandes em que se faz pesquisa no Observatório.

Então, é assim, na metodologia de pesquisa do Observatório: você escuta todos os envolvidos, então, por exemplo, você tem uma pesquisa com a Philips, vai escolher que unidades da Philips ou da Unilever. A Unilever é muito fácil porque foi um dos primeiros trabalhos que o Observatório fez e continua acompanhando até hoje, pelo projeto monitor de Empresas, que começou somente com as multinacionais holandesas. Então nesse tipo de caso, quais as unidades que você vai desenvolver essa pesquisa, tem às vezes financiamento de entidades estrangeiras sindicais nesse tipo de trabalho também. Porque elas também estão interessadas em ver o que está acontecendo, se, por exemplo, no caso de entidades finlandesas, os sindicatos está querendo acompanhar os investimentos das empresas finlandesas no mundo para garantir também a dignidade do trabalho. Muitas vezes você tem esse tipo de financiamento e aí cabe ao Observatório fazer esses contatos locais e otimizar esse tipo de trabalho, escutando o máximo de pessoas que estejam relacionadas com aquela empresa. Então você não fala só com os trabalhadores, com sindicalistas e com as empresas, há casos em que você precisa visitar as próprias ONGs, entidade ambientalista, pessoal do governo municipal, o pessoal da DRT, pessoal dos conselhos de saúde. A partir da pesquisa que está contratada, que normalmente é por empresa, ou por um bloco de empresas de setor, cabe ao Observatório montar esse campo de pesquisa em que a interlocução é múltipla sempre, a busca é por uma interlocução múltipla.

A gente também fez uma pesquisa em que as unidades que estavam sendo vistas do Carrefour, eram tanto da Força Sindical quanto da CUT. Mesmo agora, lá na questão do alumínio, de novo tem Força Sindical e tem CUT, nessa pesquisa grande que está se fazendo na Amazônia. Muitas vezes a Força Sindical tem colaborado com o Observatório Social, entra na pesquisa, colabora com as pesquisas do Observatório com certeza.

Trajetória no Dieese

Foi um desafio muito grande (ir para o Observatório), porque a minha trajetória maior foi dentro do DIEESE, no Escritório Nacional, e eu estive muito ligada nesses últimos tempos aos projetos de pesquisa e formação técnica ligados ao CNPq, ao CESIT que também significavam publicações. Então a gente conseguia acompanhar desde o início da elaboração do plano de trabalho do bolsista, do desenvolvimento desse plano de trabalho do bolsista, dessa interlocução entre os sindicalistas e os professores universitários, vamos dizer assim, os pesquisadores, os especialistas, inclusive de uma forma internacional porque nunca foi só fechada ao grupo da Unicamp, de jeito nenhum, e ao mesmo tempo elaborando esses produtos: oficinas com os pesquisadores coordenadores e bolsistas, seminários regionais e internacionais, entre outros. Tem coisa que ainda estão nos site, que são frutos desse projeto. Então a gente sempre tentava colocar no site do DIEESE os trabalhos que estavam sendo discutidos. A gente fazia publicações em forma de livro, em forma de CD, a gente fazia seminários e oficinas, então isso era bastante movimentado e em alguns momentos eu trabalhava em outras pesquisas específicas do DIEESE, seja na questão de gênero, por exemplo, eu tenho uma participação no livro ”A Situação do Trabalho no Brasil”, naquele capítulo das mulheres com a Solange Sanches, a questão de formação principalmente no ano de 2005, porque eu estava à frente desse projeto de capacitação de conselheiros sindicais no estado de São Paulo, com o MTE e DRT. Tem essa certificação deles e que também foi interessante porque abriu muito o campo de interlocução. Aí você está fazendo uma interlocução que não é só dos sindicalistas, dos trabalhadores, mas eles como conselheiros...

Quando você está trabalhando em uma pesquisa do Observatório Social, ela pode ser iniciativa dos trabalhadores, das redes e comitês sindicais, da empresa, ou pela cadeia produtiva, da CUT, de outras centrais. Normalmente elas colaboram, então a identificação é realmente pela questão das condições de trabalho e relações sindicais dos trabalhadores.

Foi um grande desafio, porque eu estava mais acostumada a só pensar do lado dos trabalhadores, então meu ponto de vista viciado, vamos dizer assim, é olhar da perspectiva dos trabalhadores e no Observatório Social eu sou obrigada a fazer assim, a pensar também a perspectiva empresarial, quer dizer, eu estou aprendendo muito nessa leitura de o que a empresa se propõe, do que é uma empresa multinacional, eu acho que eu não tinha tão presente, quer dizer, a gente tem assim de leitura, mas demora em cair a ficha que a grande luta sindical, inclusive de maior emancipação, esteja nessa discussão das multinacionais, porque são as multinacionais ou as grandes empresas que vão dando muitas vezes os paradigmas das negociações. Por exemplo, a Veracel, que eu tenha talvez mais familiaridade porque eu estou acompanhando esse caso e tal, ela tem uma perspectiva muito forte dos outros sindicatos internacionais e tem sempre essa questão dos pactos globais, quer dizer, as empresas, têm pactos globais, eu comecei a chegar mais perto disso pelo Carrefour, que era serviços e comércio, e aí com essa questão da Veracel que é indústria, então você repara que a empresa assume uma série de compromissos nesses pactos globais e por aí, se você domina realmente, se você entende o que ela se comprometeu, você consegue cobrar que ela efetivamente realize isso até no fim da cadeia que pode ser a casa da costureira da C e A ou do produtor rural que fornece para o Carrefour, então essa visão mais completa, apesar de ser velhinha, que eu sou, então eu acho que tive agora no trabalho do Observatório que eu tive essa dimensão e que quando a gente luta por trabalho decente, por condições dignas para os trabalhadores e tudo, quer dizer, principalmente na União Européia, o papel do representante sindical é muito legitimado, coisa que a gente ainda está aprendendo no Brasil, claro que já tem um reconhecimento muito maior, por exemplo, da época que eu comecei a trabalhar no DIEESE em 78, sem dúvida, mas têm essas diferenças ainda de como os sindicalistas são vistos pela sociedade, vamos ver o nosso presidente, está certo? E o quanto à elite está batalhando porque, no fundo ficam irritados porque não é um deles, entendeu? Aquela questão de identificação, independente de qualquer outra discussão que a gente queira levar. O representante sindical é respeitado e tem representação sindical também dentro do local de trabalho; na Europa ele tem acesso aos locais de trabalho, no Brasil, raramente isso acontece. É muito comum, a coisa acontece muito do portão da fábrica para fora, é claro que existe toda uma penetração maior dos sindicalistas levarem o panfleto, levarem uma notícia, um jornal do sindicato no local de trabalho, mas você fica dependendo da gerência, se ela é mais permissiva ou se não é. Pela empresa mesmo, isso não seria possível. Acho que isso pode levar a gente a um nível de dignidade e de uma luta pelo movimento sindical muito maior e ela pode ser muito multiplicadora e essa visão eu não tinha, sinceramente. Muito legal.

 

 

Cotidiano no Dieese

 

 

Indo para o Observatório, mudou meu cotidiano de trabalho, mas em relação ao DIEESE, eu fico com pena de às vezes não poder estar mais aqui em atividades no escritório nacional, de acompanhar, porque aí a minha agenda também é bem cheia e agora tem essa questão da faculdade do DIEESE, tudo isso, então eu queria estar mais próxima, mas é mais difícil pela questão mesmo da nossa agenda. Agora eu acho assim importante, eu me sinto bem estando lá justamente, e talvez aí seja o começo, um nucleozinho da sua pergunta lá do que significava o DIEESE no Observatório Social, eu acho que é um dos pontos do Observatório Social como tal, quer dizer, a minha presença ou de qualquer outro técnico do DIEESE lá é essa chamada do que é a identificação do Observatório Social, que ele faz uma produção que pode ser multidisciplinar, pode escutar todas as pessoas interessadas, todos que estão envolvidos com aquela empresa, mas que você tem o olhar, a preocupação, quer dizer, o sentido desse trabalho é dado para você trazer subsídios para o movimento sindical, em prol dos trabalhadores, então eu acho que isso é o máximo.

Importância do Dieese

Eu acho que ele é muito bem visto pela sociedade brasileira, pelo movimento sindical, inclusive internacional, porque em qualquer lugar que você vai, você fala: “Eu sou do DIEESE”, então muitas vezes a pessoa não escuta direito do DIEESE, daí você fala: “Do índice do custo de vida”, esse índice do custo de vida todo mundo sabe. Quando também você fala assim: “Da pesquisa de emprego e desemprego”, “Ah, o emprego melhorou, piorou?”, então eu acho que o pessoal está sempre acompanhando essas duas grandes questões, em primeiro lugar, eu acho que a identidade vem por aí e a questão da legitimidade, eu acho que ela é dada porque tanto os empresários quanto o próprio governo, quanto os institutos de pesquisas. Por exemplo, a questão do CNPq, porque o CNPq é a nossa principal agência financiadora de projetos de pesquisa e a gente sabe que pesquisa é difícil a gente ter financiamento e tal e, no mínimo, o DIEESE teve 8 anos essa possibilidade e eu acho que não continuou porque mudaram muito os comitês assessores e, claro, vem gente nova para o comitê assessor não tem a obrigação dentro de toda aquele mar de projetos que chegam de entender toda a importância histórica de construção do que tinha sido esse projeto, porque inclusive isso a gente foi convidado pelo próprio CNPq a participar de estandes deles como um dos projetos grandes que eles tinham e que eram super bem avaliados, então nas primeiras feiras de inovação tecnológica, que a gente está na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, então o CNPq é quem realiza isso, inclusive com as entidades regionais, tipo a FAPESP etc e tal e cada vez elas estão ficando maiores, porque elas estão envolvendo municípios, estão envolvendo escolas de nível fundamental, de nível médio, tudo nessa programação que dura umas duas semanas no máximo sobre Ciência e Tecnologia e Inovação (CTI), e aí em dois momentos a gente participou pelo CNPq mesmo, então eles selecionavam tipo cinco ou dez projetos e a gente estava incluído. Então a gente levava cartazes, a gente levava publicações, então durante o tempo daquela feira, daquela conferência, a gente estava lá presente a convite deles e isso foi muito importante. Então eu acho assim, não continuou porque os comitês mudaram, o próprio CNPq se reestruturou muito e é difícil você manter toda essa história e as pessoas que estão avaliando perceberem essa importância, entendeu, porque eu acho que deveria ter continuado, sim.

Começou com a primeira Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que foi em Brasília, então no primeiro ano a gente participou, acho que no segundo, terceiro ano, até aí a gente participou, só que, a partir do segundo ano, ele já começou a ter, além da Conferência Nacional, existirem conferências regionais, aí no terceiro ano já não era mais só Conferência Nacional, seminários regionais, mas aí atividades para a sociedade em geral, então está se ramificando realmente, então se você vai ao município de Camanducaia em Minas Gerais está tendo alguma atividade local, mas se você for ver está ligada à tal Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação, que, em primeiro lugar, é o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e o CNPq que estão a frente.

 

 

Futuro do Dieese

 

 

Eu acho que a demanda social por trabalho digno aumenta cada vez mais. Não só o trabalho do DIEESE, mas de outras instituições. Essa questão da popularização da ciência, a questão de você ver que o cientista não é aquele sujeito intocável, mas que você pode entender a linguagem, que, na verdade, o cientista também entende que ele tem interlocução com a sociedade, está produzindo na verdade para aquela sociedade, então eu acho que essas coisas estão cada vez mais se desenvolvendo. No Brasil, em particular, acho que a figura do professor já não é “aquele professor” , mas uma figura que está mais próxima, se a gente for olhar qualquer pedagogia, as mais valorizadas atualmente são aquelas que te levam a refletir sobre a realidade daquelas pessoas que você está tendo interlocução. Então eu acho que está assim um momento cada vez mais frutífero para a produção do DIEESE efetivamente tanto ser absorvida pelo movimento sindical quanto pela sociedade em geral e ao mesmo tempo ela vai sendo pautada justamente pela sociedade e pelo movimento sindical. Acho, então, que a perspectiva é muito boa, cada vez de uma influência maior. Um conhecimento de boa qualidade científica, não significa que é de gaveta. Ele pode ser apropriado e ser apropriado de diferentes maneiras, às vezes é uma pauta de negociação, mas o que já significou de trabalho, de relatório, de pesquisa lá atrás para aparecer como uma pauta da negociação, mas que isso já é suficiente para as coisas irem para frente e para a gente estar numa luta por uma sociedade mais democrática, mais aberta, onde as pessoas possam dialogar de maneira mais civilizada, e as condições de trabalho sejam mais dignas.

Desafios

A gente tem uma luta financeira imensa, então eu acho que a questão da sustentação financeira do DIEESE é uma questão que a gente não pode esquecer, porque a gente está praticamente frente a uma reforma sindical, a gente não sabe, a partir da situação de desemprego, os sindicatos começaram a ter uma renda menor em termos de serem associados do DIEESE, às vezes pode parecer que o valor é pequeno, mas significa uma negociação, muitas vezes os sindicatos querem participar do DIEESE, mas as diretorias avaliam que ainda não dá esse tipo de coisa, que qualificam e gostam da produção e gostariam muito de ter assessoria, então eu acho que tem esse lado que é complicado. Então se o DIEESE é financiado pelos sindicatos e foi exatamente só por eles nos primeiros tempos, então a pauta dos projetos tem aumentado, com certeza, e a pauta dos projetos então você tem que sempre pensar e avaliar que projetos eles podem redundar nos conhecimentos que ele quer e isso eu acho que o DIEESE tem feito habilmente, não tem embarcado em nenhuma aventura somente por uma questão financeira, então existe essa responsabilidade de uma avaliação do que se propõe em termos de projeto e que tenham sempre a ver com a questão dos trabalhadores, do movimento sindical, muitas vezes é dos trabalhadores nem é tanto movimento sindical, então isso é uma coisa. A outra questão é também essa questão da formação, então eu acho que também se abre um grande campo para o DIEESE, que se ele estava produzindo conhecimento e fazendo assessoria, quer dizer, quando se pensa essa questão da formação ela está sempre vinculada à questão da assessoria e a questão da própria pesquisa, então seja nos próprios cursos de capacitação seja na faculdade do DIEESE que está se pensando, então é uma nova forma, é um novo espaço em que o DIEESE pode intervir muito positivamente, quer dizer, isso sim, aí é o contrário, tem experiências internacionais muito positivas, inclusive quando a gente falou da Universidade de Provence, eles têm um curso em nível de mestrado, em nível de especialização, inclusive, que é voltado dentro da estrutura francesa, do pessoal que é desempregado, deles fazerem um ensino formal, então eles fazem uma passagem do conhecimento de experiência de um trabalhador para o ensino formal e obtêm um certificado. Porque a gente está montando a faculdade do DIEESE. Nos Estados Unidos também existem dois locais que é a questão de existir uma universidade, um centro de estudos voltado a certificar os trabalhadores, então assim como tem, não têm as tais faculdades corporativas, universidades das empresas? Então você tem também um espaço que é dos trabalhadores, porque você pode usar a técnica que for, mas o sentido dela é diferente, te leva a reflexões diferentes mesmo, esses percursos formativos que se têm, eu acho que isso daí é um outro campo muito bom. A questão de cada vez mais estar ligado o DIEESE, estou falando do Observatório especificamente, com o movimento sindical internacional, também coloca novas alianças e novas possibilidades de cooperação, porque você tem tanto esse olhar que a gente tem para o movimento sindical da União Européia, mas aí também você tem o que é o movimento sindical na África, o que é o movimento sindical na Austrália, na Nova Zelândia, nos próprios países do Mercosul, dos andinos, então com essa interlocução você aprende e você ensina, então é um constante enriquecimento que se tem e que, se você for pensar, em cooperações que o DIEESE já tem e o Observatório também tem com a OIT, então você é levado a pensar em nível internacional, assim como a gente fala que o conselheiro sindical ele tem que sair do seu lugar, do seu olhar corporativo, do seu olhar sobre ele, somente a sua categoria, ele está chamado a responder e pensar os trabalhadores, então nesse sentido também a gente é levado, é desafiado a sair do local, do regional e pensar as questões mais gerais, as questão, não digo universais, mas internacionais com certeza e isso eu acho que o DIEESE tem muito a trocar e, em alguns casos, sempre é olhado de uma forma muito positiva e de uma forma muito instigante de como o DIEESE permanece por mais de 50 anos, agora já está com 51, desenvolvendo esse trabalho, o objetivo dele continua mesmo que vão mudando as direções, as ênfases, os trabalhos, que também são tirados juntos do movimento sindical e de uma forma inter-sindical. Várias centrais juntas, a campanha da redução da jornada é uma delas, mas é um exemplo porque vocês já repararam que em muitas das pesquisas também diferentes centrais estão trabalhando juntas, o que significa também, por exemplo, a negociação dos comerciários de agora, vocês tiveram a oportunidade de ver, a campanha unificada da Força Sindical e CUT, que está ainda em negociação, mas não é só os comerciários, têm outros, então eu acho que é isso.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Eu acho fantástico, eu acho fantástico porque eu sou aquela pessoa que guarda muito documento, o que não é muito moda, porque cada vez mais com esse sistema de documentação: “Ah, vamos digitalizar, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo”, mas eu ainda sou da velha guarda, então eu acho que o papel segura mais ter possibilidade, porque dá uma pane no computador você perde tudo, então eu sempre sou meio apavorada com essas coisas e aí a gente, claro, você vai mudando, você tem um acervo, aí você tem que claro, otimizar aquele acervo, você tem que fazer uma limpeza, um momento em que eu me apavoro são as limpezas, porque me dá sempre a impressão que quem sabe exista um documento que eu não devia ter jogado fora, então eu acho assim que esse Projeto Memória para mim, pessoalmente, e não só institucionalmente, eu acho que ele vem a responder ao anseio não só meu, mas como de outras pessoas que têm essa preocupação de que o DIEESE não pode perder a sua história de forma alguma, porque perder a sua história é perder também não só a luta dos trabalhadores no Brasil como perder a luta dos trabalhadores em nível internacional, entendeu? Então é muito importante que vocês gravem, tirem muita cópia de tudo porque eu acho que essas situações a gente não pode perder, elas nos ensinam, elas nos dão esperança, porque sempre existirão avaliações muito negativas e destrutivas: “Ah, já não existe mais movimento sindical, ele não é combativo”, aí você percebe que mesmo diante de tantas limitações, conquistas vêm sendo feitas, propostas vêm sendo construídas, as propostas continuam em luta, então eu acho que esse Projeto Memória é assim nota dez, maravilhoso.

Eu fiquei muito orgulhosa de me chamarem, eu me senti muito valorizada, entendeu, de poder contar um pouquinho dessa história, eu acho que a gente podia ficar aqui horas que têm muito mais coisas para a gente conversar.

Ações do documento