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Eloísa Santana

eloisa_santanaHistória temática

Identificação

Meu nome é Eloísa Santana, eu nasci em Cruzeiro do Oeste, Paraná, no dia 20 de Novembro de 1955.

 

 

Infância

 

 

O meu pai sempre quis que estudássemos. A metade dos meus irmãos trabalhava na lavoura e não tiveram oportunidade de estudar. Os mais novos já tiveram mais oportunidade. Quando o meu pai percebeu que o estudo era importante, ele fez o maior esforço para que todos nós pudéssemos ir à escola. Foi quando ele veio morar na cidade. Era incutido na nossa cabeça que tínhamos que estudar para melhorar, crescer, porque o meu pai era autodidata, aprendeu a estudar sozinho. Alguém veio e deu algumas lições para ele e dali por diante foi aprendendo sozinho. Ele lia livros, jornal, era uma pessoa bem informada.

 

 

Migração

 

 

Nós morávamos em Cruzeiro do Oeste, no Paraná. O meu irmão do meio veio para São Paulo porque se casou e resolveu dar uma guinada na vida. Assim como ele, eu tinha terminado meus estudos lá, não tinha mais para onde se expandir já que a cidade era pequena, por isso eu também vim para São Paulo. Os meus irmãos foram vindo um atrás do outro, por fim toda a família acabou vindo para cá. A gente se adaptou bem, quando chegamos aqui, não precisava de guia para a gente andar em São Paulo, a gente se virava. A única coisa que eu tive problema foi com a poluição, não estava acostumada, então eu me sentia mal. Mas no fim você acostuma com tudo e acabou não sendo mais problema.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Na verdade, o que eu queria antes de fazer “Letras”, era ser poliglota. Eu sempre gostei muito de línguas, por isso queria fazer um curso de Tradutor Intérprete, mas na época não tinha condição. Então, optei por fazer Letras. Como eu tinha feito magistério e havia dado aula, quis vir por esse caminho, mas isso lá no Paraná. Chegando aqui em são Paulo, ficou meio complicado. Todo lugar que eu ia, eram filas e filas. Aí eu pensei: “parece que por aqui, isso não vai dar certo, tenho que dar um jeito”. Foi quando eu optei por ir buscar outras coisas. Nunca fiquei batendo na mesma tecla, sempre gostei de experimentar outras coisas. Então, eu fui para o lado de procurar ser secretária.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

Eu trabalhei em banco, mas não gostei de ser bancária. Depois fui trabalhar com contas médicas na Interclínicas. Lá fiquei um bom tempo, depois fui dar aula num cursinho de inglês. Eu queria partir para esse lado, de estar envolvida com essa coisa de inglês. Foi um pouco complicado para mim, porque eu ia fazer testes nas escolas e por mais que me empenhasse, não era admitida. Depois, fui trabalhar no DCI [Diário do Comércio e da Indústria]. Comecei a fazer revisão, mas também não gostei de trabalhar em jornal. Eu ainda estava no DCI quando surgiu a oportunidade de vir para o DIEESE. Eu nunca tinha ouvido falar no DIEESE, uma amiga da minha irmã que trabalhava aqui falou que o DIEESE estava precisando de uma datilógrafa e na época eu tinha aprendido datilografia no SENAC. Fiz um teste e eles gostaram. Entrei no DIEESE apenas para cobrir as férias de duas ou três pessoas. Imaginava que fosse trabalhar apenas por três meses, mas eles gostaram do meu trabalho e resolveram ficar comigo, e estou aqui até hoje.

 

Trajetória no Dieese

Quando entrei no DIEESE, era na Rua das Carmelitas. Tive contato com a amiga da minha irmã, na área da datilografia, mas tive contato também com o pessoal técnico porque eles passavam os trabalhos para datilografarmos. Fazíamos aquelas tabelas na máquina. Quando era muito grande, tinha que emendar. Era um sacrifício, mas saía tudo caprichadinho. Eles olhavam para ver se estava tudo correto. Se tivesse alguma coisa para acertar, passavam, corrigíamos. Depois passava para frente, encaminhava para o sindicato.

De datilógrafa, aprendi como ser uma secretária, nunca tinha sido. Aprendi a lidar com as pessoas, a atender o público, e fui me envolvendo com outros tipos de trabalho, fiz cursos e treinamentos. Eu aprendi muita coisa aqui no DIEESE, eu me desenvolvi bastante, passei por várias fases, aqui dentro.

Hoje, eu sou Secretária III e trabalho na Central de Atendimento, o que para mim é muito gostoso, porque eu estava trabalhando com Eventos e tinha muito trabalho acumulado. Agora está um pouco mais tranqüilo, porque agora estou lidando mais com as pessoas, dou informações. Por exemplo, as pessoas ligam para saber de alguma coisa, eu tenho que informar ou então passar para quem possa informar. Mas, não sai totalmente da área da secretaria, por que estou secretariando o ER [Escritório Regional] São Paulo.

 

 

Cotidiano de Trabalho

 

 

O DIEESE sempre teve muita demanda, não existe uma rotina, cada dia é uma coisa diferente. Agora, parece que está havendo uma rotina. As coisas, às vezes, estão calmas. De repente, aparece um trabalho para ser feito com rapidez, porque surge aquilo naquele momento. Sempre foi desse jeito.

Quando eu ficava na secretaria, eu lidava muito com o pessoal dos Escritórios Regionais, então tudo que precisavam eles entravam em contato com o ER daqui de São Paulo que era chamado de ER nacional. Minhas tarefas eram, por exemplo, quando eles faziam as reuniões regionais, eu tinha que anotar todos os nomes dos diretores, passar para a secretária fazer a relação de todos. Outro exemplo, foi quando aconteceu o lançamento dos kits. Eu tive que fazer esse trabalho junto com eles, preparar o material aqui e passar para os escritórios.

E eu sempre trabalhava com a Ofélia [Ofélia Aparecida Gomes de Carvalho] nas reuniões de final de ano ou naquelas reuniões nacionais que acontecem no meio do ano. Eles têm duas reuniões desse tipo no ano. Eu só não participava nos momentos de discussão: da eleição dos diretores, do diretor técnico, do presidente.

 

 

Tecnologia

 

 

Quando chegaram os computadores era muito engraçado, porque eu mexia com a máquina de datilografia, mas para mexer com computador, eu falei: “Ai, meu Deus, acho que eu não vou usar esse negócio. Não vou saber mexer nisso.” Eu nunca tinha visto aquilo na minha frente, era muito mais difícil, tinha que usar lá o Word. A primeira vez que eu fui mexer eu ficava com medo de fazer alguma coisa errada, eu tinha medo que aquilo ia sumir tudo. Mas, aos poucos eu fui aprendendo a mexer, a lidar com o computador. A gente se ajudava aqui dentro, quem sabia ia explicando para o outro: “ah fulano como que faz isso?” “como que eu consigo fazer tal coisa?” aí um pessoal do CPD [Centro de processamento de Dados] dava uma explicação e a gente ia fazendo. Depois fizemos um curso aqui, um curso ali, a gente foi se inteirando e logo todo mundo tinha o seu computador. Porque antes, só tinha computador no CPD, aí foi expandindo aos poucos todo mundo já estava com seu computador, todo mundo já sabe mexer sem medo.

 

Crises

Com as crises que o DIEESE tem passado, todos se uniram aqui dentro, colaborando com tudo, fazendo de tudo para que a gente pudesse sair da crise, todo mundo se esforçando, trabalhando bastante mesmo. Como não tinha dinheiro, a gente se virava com família ou com amigos que pudessem ajudar. A gente fez isso por amor que todo mundo tinha aqui, as pessoas entre si, e também pelo DIEESE. O DIEESE sempre tratou bem seus trabalhadores. Mesmo quando houve cortes. A gente via a tristeza estampada no rosto daqueles que tinham que fazer isso. A as pessoas ficavam penalizadas, tanto por aquele que estava saindo como pela pessoa que tinha que mandar embora, foi triste mesmo. Antes do corte houve um PDV [Programa de Desligamento Voluntário], uma demissão voluntária, para evitar os cortes. Quem achasse que deveria sair ou que queria sair, aproveitou essa época e saiu. Mas as pessoas que ficaram é porque precisavam ficar. Foi uma situação difícil.

 

 

Fato Marcante

 

 

Lembro de uma vez que fiquei meio assustada. Tinha que datilografar uma nota à imprensa e o Barelli [Walter Barelli] chegou e falou para a nossa chefe: “Maria José, eu quero uma pessoa que datilografe rápido,” A Maria José olhou para mim e disse: “É a Elo.” Sentei na cadeira e o Barelli ficou ao meu lado, ditando. Meu coração batia mais forte. Tive muito medo de errar, porque já pensou se saísse tudo errado? Ele estava com muita pressa porque era uma coisa que tinha que sair rápido na imprensa. Eu estava datilografando, ele olhando e corrigindo ali. Graças a Deus saiu tudo certinho, mas fiquei com muito medo. O Barelli era uma pessoa sensacional. Eu nunca tive um chefe como ele, uma pessoa muito humanitária, tipo "paizão". O pouco tempo que eu convivi com ele foi o suficiente para perceber que era uma pessoa assim. As pessoas que conviviam com ele também falavam isso. Mesmo depois que saiu do DIEESE, ele chegava aqui, cumprimentava todo mundo, sabia o nome de todo mundo. Ele pode te ver em qualquer lugar que te cumprimenta. O mais interessante é que os outros que vieram depois dele foram tendo a mesma conduta.

 

 

Importância do Dieese

 

 

Uma senhora me ligou e disse: “Escuta, o quê esse rapaz está fazendo aqui?” Eu falei: “Como?” Aí ela disse: “Ele vem aqui atrás de emprego, desemprego, não tem nada a ver, é Lula [Luiz Inácio Lula da Silva], é Fernando Henrique [Fernando Henrique Cardoso], é não sei quem, é tudo a mesma coisa.” Eu expliquei para ela: “Minha senhora, o DIEESE não tem nada a ver com o Governo, a pessoa está aí para fazer uma pesquisa de emprego e desemprego.” Expliquei para ela que a gente fazia essa pesquisa de emprego e desemprego e o pesquisador era do SEADE [Fundação SEADE - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados], só que nós também tínhamos parceria com eles e as perguntas que ele faria era só para ela colaborar com a pesquisa. Mesmo assim, ela disse: “Não, aqui não vai entrar, se ele entrar aqui, eu vou chamar a polícia.”

Outra vez, uma pessoa que foi entrevistada ligou, falando: “Escuta, é verdade que existe essa pesquisa de emprego e desemprego?” Eu falei que sim e que não havia nenhum problema. Em seguida, perguntei se o entrevistador tinha se identificado, se estava com crachá. A pessoa só queria se informar.

Houve outras coisas curiosas. Uma vez perguntaram se o DIEESE dava cesta básica. Quando eu trabalhava com correspondências, lembro de muitas cartinhas de pessoas pedindo ajuda para o DIEESE. Lembro de uma que pedia dinheiro para fazer uma operação, porque não tinha convênio médico. Recebemos muitas cartas de pessoas reclamando que tinha aumentado os preços, como se o DIEESE tivesse alguma coisa a ver com o aumento da cesta básica ou com os aumentos em geral.

Muita gente não tem idéia do que é o DIEESE. Mesmo alguns sindicalistas não entendem o que é o DIEESE. Às vezes, têm uns que nem sabem o que o DIEESE pode fazer por eles. O DIEESE tem vários estudos que eles podiam pegar, dar uma olhada, se inteirar, analisar direitinho, ver como que eles podiam aproveitar. Muitos acham que é um órgão do Governo. Outros acham que é como se fosse uma central sindical. Eu acho que o DIEESE não tem muito reconhecimento da sociedade. Eu não percebo muito isso não, principalmente por parte do Governo; a maioria dos governos não reconhecia muito o DIEESE.

 

Futuro do Dieese

Acho que o DIEESE tem tudo para ser reconhecido, para crescer mais, porque o DIEESE é conhecido até internacionalmente. Várias pessoas que vêm de fora querem conhecer o DIEESE. Eles acham que o DIEESE é um órgão muito importante, porque eles acham que nunca teve igual no mundo. Um órgão que consegue lidar com todos os tipos de tendências, consegue conciliar, juntar todo mundo num lugar só, então acho que o DIEESE é um modelo.

 

 

Avaliação/Trajetória de Vida

 

 

Como eu sou negra, a gente sofre certo preconceito, e aqui foi o único lugar que não sofri isso, que fui aceita do jeito que sou. Em todo lugar que trabalhei a única negra era eu e, quando vim para cá, vi que aqui tinham mais negros trabalhando. Vi que era uma relação diferente. Isso porque eu já fui rejeitada e não pelo fato de não saber fazer o trabalho, a gente percebe quando não é aceita em determinada situação, e aqui não acontece isso.

Aqui é um ambiente de trabalho muito gostoso, como nunca tive. Sabe quando você acorda e sente prazer de vir trabalhar? Você sente prazer. Eu acordo e venho trabalhar, e não me importo se tem que sair mais tarde, depois do meu horário, nunca me importei com isso. Trabalho com gosto de trabalhar. Aqui no DIEESE é com se fosse uma família, você está sempre junto, a maioria do pessoal aqui trabalha junto há bastante tempo.

Aprendi muito no DIEESE, a Eloísa cresceu bastante, muito mesmo, eu era uma pessoa muito tímida, muito quietinha. Aprendi no DIEESE que a gente não deve ter medo de nada. Você tem que seguir em frente e acreditar sempre naquilo que quer, não desistir, porque se estou aqui hoje é porque não desisti. Eu queria trabalhar na área de línguas, queria ser tradutora, e não fui em frente. Mas quando cheguei aqui, encontrei tudo isso, essa porta aberta para mim, foi aqui que me aconcheguei e parti para fazer tudo aqui mesmo, posso dizer que a minha vida é isso aqui.

 

 

Avaliação/Projeto Memória

 

 

Eu acho que é bom documentar tudo o que o DIEESE fez durante todo esse tempo, porque eu acho que é importante a gente ter uma história. Os fatos existem, aconteceram, se a gente não anotar esses fatos eles se perdem, então eu acho que o DIEESE não pode ser perdido, ele tem que ser notado e eu gostei muito de fazer parte da história do DIEESE, gostei mesmo, porque ele faz parte da minha vida também.

 

 

 

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