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Sirlei Márcia de Oliveira

sirlei_marcia_de_oliveiraHistória temática

Identificação

Meu nome é Sirlei Márcia de Oliveira, nasci em Douradoquara, Minas Gerais, em 10 de agosto de 1964.

 

 

Formação Acadêmica

 

 

Eu sou socióloga. Terminei o meu curso em 1992. Entrei na universidade com 24 anos e depois segui carreira, fiz mestrado, doutorado na FFLCH [Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – Universidade de São Paulo]. Eu demorei um pouco para decidir qual carreira seguir, eu passei por um curso de Matemática antes do curso de sociologia e depois fui para Sociologia, influenciada pelas amigas sociólogas do DIEESE, Solange Sanches e Suzana Sochackewski.

Eu abandonei o curso de Matemática que eu iniciei na PUC [Pontífice Universidade Católica], em 1987, e fui fazer vestibular novamente. Ingressei na USP em 1989 para o curso que realmente eu queria.

 

 

Trajetória Profissional

 

 

O meu primeiro trabalho foi numa padaria no bairro em que eu morava. Eu morava na zona norte de São Paulo e com 16 anos de idade comecei a trabalhar. Trabalhei sem carteira durante uns sete meses nessa padaria. Depois, trabalhei em uma imobiliária também no bairro. Passei para uma empresa de processamento de dados durante dois anos, na área de Recursos Humanos. Foi um período que havia um interesse muito grande por informática, e daí meu interesse em fazer Matemática, porque tinha a ilusão que ia ganhar dinheiro trabalhando na área de Tecnologia. Fiquei durante muito tempo insistindo, fazendo vestibular para a área de Tecnologia, que era muito concorrida, e eu não conseguia entrar. Acabei entrando no curso de Matemática, mas aí percebi que, integral, diferencial, cálculo, não era mesmo o que me interessava.. Desisti e fui fazer vestibular para outra área. Fiquei um tempo tentando descobrir o que era essa área mesmo e aí acabei me achando na área de Humanas. Fui fazer o curso de Sociologia.

 

Trajetória no Dieese

Foi uma padaria, uma imobiliária, depois a empresa de processamento de dados, depois o Bradesco [Banco Brasileiro de Descontos], uma corretora de valores e aí eu tinha um amigo no DIEESE, que trabalha, inclusive, na área de informática. Foi através dessa pessoa que eu vim trabalhar no DIEESE. Mas na área de digitação, eu não tinha formação para a área de tecnologia. Em 1982, 83, o DIEESE estava fazendo a pesquisa de padrão de vida e emprego, que foi a pesquisa que deu origem a PED e tinha um trabalho de digitação grande e eles me contrataram. Foi quando entrei no DIEESE. Eu não estava na universidade nessa época! Eu comecei a conviver com as sociólogas dentro do DIEESE e conversando, conhecendo um pouco a pesquisa que eu estava fazendo, a digitação, começou o interesse por uma outra área que não era a área de tecnologia, mas isso só se deu com a minha entrada no DIEESE mesmo.

Posso dizer que quando eu entrei no DIEESE, não fazia a menor noção do que era o DIEESE. Na verdade, o DIEESE só era um outro trabalho para mim. Tinha, mais ou menos, noção do trabalho que fazia, mas não em profundidade. Não sabia que era uma entidade, que tinha sido fundada por trabalhadores que, fazia todo um trabalho voltado para organizar e dar subsídios para os trabalhadores; que tinha um trabalho que era - a defesa de uma classe mesmo; não tinha a menor noção. Pela origem que eu tinha e também pelas convivências todas. Só fui descobrindo mesmo o que a instituição fazia, o papel que ela tinha depois da minha entrada.

Toda a minha formação se deu dentro do DIEESE, do ponto de vista de cidadania. Sou uma pessoa que tem uma origem muito simples. A minha mãe trabalhou o tempo inteiro como auxiliar de serviços e eu fui a primeira filha a entrar na universidade. O DIEESE acaba sendo uma emancipação para mim, pensando no ponto de vista de oportunidade. Ali dentro foi a descoberta de um mundo. Não que se eu não tivesse entrado no DIEESE, talvez eu não tivesse ido para a universidade; eu acho que sim, porque já tinha isso como uma meta, mas eu acho que tem um papel que é de uma emancipação mesmo. Do ponto de vista de oportunidade também, porque depois fiz toda uma carreira dentro da instituição. Eu entrei em novembro de 1985, estou completando 21 anos de DIEESE agora. Foi muito bom porque o ambiente de trabalho no DIEESE é excelente. É um ambiente familiar, as pessoas são acolhidas, não interessa como são, de onde vem, o que elas pensam. Acho que por ser uma instituição plural tem essa facilidade de acolher as pessoas, mesmo que sejam pessoas sem uma visão do que é o papel do DIEESE. Não tem o tratamento para uma pessoa que trabalha na área de serviços gerais ou o tratamento do presidente. É o mesmo. De um cidadão; de uma pessoa. Eu me senti muito bem acolhida, eu fiz amizade logo, eu era muito nova e o tratamento era de “alguém que está chegando, vamos acolher com muito carinho”. É até emocionante lembrar porque é mesmo de se sentir... Você percebe que tem um lugar para você que é um lugar especial nesse mundo, uma vontade de ajudar as pessoas. Para uma pessoa que passou pelo Bradesco entrar no DIEESE, você percebe que é uma diferença brutal. Nunca mais quis sair do DIEESE e acho que não vou querer nunca.

 

 

Avaliação/Dieese

 

 

A entrada no Bradesco era uma coisa muito opressora. Eles olham o tamanho da sua unha, a forma como você se senta, a forma como você se veste, a forma como você fala. É um controle muito grande. Você não é uma pessoa, não é um indivíduo, você é um posto de trabalho. Você é um pedacinho daquela engrenagem do banco. Eu não sei isso hoje, mas pensando na minha experiência de seis meses, ali no Bradesco em 1984, era isso. Não era Sirlei Márcia de Oliveira, com uma identidade, com uma vontade, com pensamentos e com visões do mundo. Eu era um pedacinho daquela engrenagem e todo o treinamento, todas as noções que você recebe, são para você cumprir bem aquele papel e nada mais além disso. Agora a entrada no DIEESE não. As pessoas se interessam por você, querem saber o que você gosta, o que você faz, como é que você faz e te dão oportunidades. Eu entrei para fazer digitação, que era o mesmo trabalho que eu fazia no Bradesco, mas eu não fui só digitar. Desde o momento que o trabalho é apresentado para você, ele não é apresentado assim: “Olha, é isso que você tem que fazer. Pronto e acabou!” Era um questionário complexo, a entrada se deu com a apresentação daquilo: “É uma pesquisa que tem essa finalidade.” Você se sente importante no processo, você entende o processo. Eu acho que isso foi muito marcante. Acho que até por isso, acabei mudando a minha área de interesse, por ter vontade até de conhecer mais. Lembro-me que fui muito nervosa para a minha entrevista no DIEESE; o Luis Hirano, que não está mais no DIEESE, fico lembrando a forma como ele me tratou. Falei: “Puxa vida! É aqui mesmo que eu quero trabalhar. É aqui que eu quero ficar!”

 

Trajetória no Dieese

A entrevista de emprego para a minha contratação no DIEESE não foi uma entrevista focada somente no que eu ia fazer, foi uma entrevista ampla. A preocupação era sobre quem eu era,, o que você gostaria de fazer. Foi muito mais o olhar para a pessoa, nãosó para o que ela poderia dar de resposta em relação aquele trabalho que estava sendo oferecido. Acho que para mim, a diferença foi aí: te olhar do ponto de vista de indivíduo. Não foi uma entrevista, foi mais uma conversa e foi muito prazerosa. É óbvio que falamos de trabalho também, mas foi uma coisa mais, “olha, não estou aqui só para checar se você sabe ou se você não sabe”, até porque eu acho que o olhar é um olhar assim, ”bom, de repente, você pode não ter essa habilidade aqui, mas você pode ter outras habilidades, você pode ter outras experiências, outros conhecimentos”, e que isso eu tenho que levar em consideração, que isso é importante, você olhando do ponto de vista de um trabalhador que está buscando uma vaga, você sabe o quanto ele está ansioso, está nervoso, então você precisa também dar esta oportunidade para ele poder relaxar e poder contar as coisas que ele pode ou não ter oferecer. Eu acho que essa diferença foi marcante para mim.

Comecei como digitadora. Trabalhei quatro anos como digitadora no DIEESE. Depois, fui para a área de pesquisa de preços, fiquei um longo período, durante sete anos. Trabalhei com o Maurício [José Maurício Soares]. Entrei como auxiliar técnico, e depois assumi a função de supervisora da pesquisa de campo, do índice de custo de vida. Fiquei um longo tempo até me formar.

Participei em 94 e 95 da Pesquisa de Orçamento Familiar - POF fazendo a supervisão do campo. Nesse momento achei que já tinha dado a minha contribuição para a área de preço do DIEESE e fiz uma solicitação para sair da área de preços e me incorporar em outras atividades, queria poder fazer outras coisas, conhecer outras áreas do DIEESE.

Eu, na verdade, acho que passei por quase todas as áreas dentro do DIEESE, na área de pesquisa. Na área de assessoria, fiquei um tempo no escritório de São Paulo, depois trabalhei na área de educação do DIEESE, durante dois anos. Trabalhei com o Wilson Amorim e com o Reginaldo Muniz, que foram supervisores de escritórios regionais e de subseções, fazendo uma assessoria para eles. Trabalhei durante um ano e meio numa subseção da CUT [Central Única dos Trabalhadores], fazendo assessoria a um programa de formação profissional e depois, em 2001, eu assumi a Secretaria de Projetos.

 

 

Secretaria de Projetos

 

 

A Secretaria de Projetos foi criada entre 95, 96. Eu lembro que eu estava trabalhando nos resultados finais da pesquisa de orçamento familiar. Fizemos um relatório sobre as mulheres chefes de família com os resultados dessa pesquisa e eu fui a responsável pela elaboração do relatório.. A secretaria estava sendo criada e fui pedir para o Prado [Antonio José Corrêa do Prado], que era o coordenador de produção técnica, para trabalhar na Secretaria de Projetos. Essa era uma área que ia cuidar no DIEESE, de toda a produção, fazer a articulação das áreas de pesquisa, de assessoria e de educação, pensando no ponto de vista de resultados de relatório de pesquisas e de outras produções resultantes de projetos. Foi uma área criada pensando na ampliação do trabalho do DIEESE, na área de projetos. Até o início da década de 90, o financiamento do DIEESE vinha prioritariamente de receita sindical, das mensalidades que são pagas pelos sindicatos, depois como resultante de todo o processo de reestruturação, da mudança que aconteceu no país, acabamos tendo uma redução da contribuição sindical. Houve necessidade de o DIEESE buscar outras formas de financiamento através de projetos. E mbora o DIEESE sempre tenha trabalhado com projetos, houve a necessidade de criar uma área que fosse especialista nisso, que pudesse elaborar os projetos, acompanhar o processo de negociação e de execução desses projetos. Conhecer os possíveis financiadores, as regras estabelecidas por cada financiadora, ter um acompanhamento fino, ,ter preocupação com datas de entregas de produtos, qualidade dos produtos. Quando a Secretaria foi criada, a Solange Sanches e a Rosana de Freitas eram as responsáveis. A Solange tinha o papel que eu tenho hoje e a Rosana cuidava mais da parte administrativa, financeira, prestação de contas, mas também cuidava da execução dos projetos. A Secretaria nasce com a necessidade de ter um acompanhamento mais preciso em relação à qualidade dos produtos que o DIEESE realizava. E, especificamente, para cuidar da parte do financiamento mesmo, de elaborar projeto, de assessorar a produção técnica nesse processo de busca de novos financiamentos. Isso foi crescendo de meados da década de 90 até agora. A participação dos projetos no financiamento da instituição só tem crescido. Lá atrás, trabalhávamos com quatro, cinco projetos. Hoje, temos uma carteira de cerca de 30 projetos nas diversas áreas. Hoje, quase 50% do orçamento do DIEESE vêm de projetos.

Fazemos projetos variados, mas a preocupação é que esses projetos possam ter como resultado produtos que sejam de interesse para os trabalhadores. Não é qualquer projeto, Nossos projetos são dentro das áreas temáticas desenvolvidas pelo DIEESE: negociação, emprego e renda. Ou assessoria ou pesquisa ou educação. Ou dentro dos eixos temáticos ou nas três áreas de especialidade do DIEESE.

Nós temos como financiadores o Ministério do Trabalho e Emprego, então é Governo Federal, Estadual e alguns Municipais; e algumas instituições, tipo Fundação Ford, BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento], OIT [Organização Internacional do Trabalho]. São várias instituições. Se realizamos um projeto que é de pesquisa,vamos fazer com que os temas desses projetos sejam aqueles que temos familiaridade. Fazemos projeto de pesquisa na área de mercado de trabalho, porque temos a Pesquisa de Emprego e Desemprego, temos uma metodologia, uma equipe com capacidade de análise de formulação que pode estar desenvolvendo produtos nessa área. O tema emprego é um dos que desenvolvemos. Os temas correlatos são -- emprego e geração, emprego e raça, emprego do ponto de vista setorial. Então, nos projetos que desenvolvemos, procuramos fazer com que eles resultem em um produto para o nosso financiador, mas que possamos usar a capacidade que temos e que os resultados também possam ser utilizados pelo movimento sindical.

Embora tenhamos a necessidade de trabalhar com os recursos que vem dos projetos, pois dependemos desse financiamento, traçamos uma estratégia de não aceitar qualquer projeto para não descaracterizar a instituição. Na verdade, o próprio movimento sindical tem um papel de ser um articulador com os possíveis financiadores, de buscar projetos, de incentivar e avaliar o interesse e o papel da instituição ao participar ou executar um projeto. Todo projeto que fazemos, passa pelo crivo da direção executiva do DIEESE.

Recentemente desenvolvemos um levantamento com base nos resultados das pesquisas de emprego-desemprego sobre os trabalhadores da saúde. Nós fizemos uma tabulação especial das pesquisas: São Paulo, Minas Gerais, Recife, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Traçamos um amplo perfil do trabalhador da saúde, investigando remuneração, jornada, tempo de trabalho, escolaridade, o quesito cor e fizemos um grande relatório. Desse relatório, elaboramos um release pequeno para distribuir para todos os sócios do DIEESE. Também desenvolvemos com os sócios da área de saúde de São Paulo, dois seminários para apresentar o resultado desse projeto. Às vezes, não conseguimos fazer isso rapidamente, porque entregamos o produto ao financiador e é necessário ter capacidade interna de re-trabalhar o relatório e oferecer atividades a partir dos resultados do projeto para o movimento sindical e organizar subprodutos de interesse dos trabalhadores. No caso deste relatório com informações dos trabalhadores da área de saúde, terminamos em dezembro de 2005 e, em março desse ano [2006] conseguimos realizar essas atividades. O projeto envolveu toda a equipe de emprego e desemprego; envolveu também os técnicos do DIEESE que trabalhavam nas subseções da área de servidores públicos e, especificamente, aqueles que atuavam com a área de saúde. Esse é um exemplo de pensar num projeto que foi financiado pelo Ministério e que conseguimos, dele, extrair produtos e outras atividades para uso interno de outras áreas. Por exemplo, a área de assessoria. Reunimos e disseminamos um conjunto de informações que serão utilizadas pelos vários sindicatos no momento de negociar. Produzimos informações sobre o tempo de trabalho, jornada, remuneração, condições de trabalho, e dos aspectos gerais desse trabalhador. E também conseguimos realizar atividades de formação para o movimento sindical.

Não é de todo o projeto que conseguimos imediatamente fazer isso ou que do resultado seja possível transformar em atividade direta para o trabalhador, mas ele pode subsidiar, por exemplo, o trabalho de reflexão da equipe técnica que está elaborando diferentes estudos e prospecções. Vamos pensar no exemplo de um trabalho técnico que fizemos para OIT, cujo tema era a questão da informalidade, e do trabalho doméstico. Dos resultados desse projeto houve desdobramentos, fizemos seminário, discutimos com o Ministério do Trabalho e Emprego, políticas específicas para o emprego doméstico. Às vezes o resultado do projeto não é direto na negociação, mas nos espaços em que o DIEESE está participando ou atuando e também, de alguma forma, terá desdobramentossobre as ações gerais do DIEESE para o movimento sindical.

 

Formação Sindical

Hoje você tem a área de relações sindicais e a educação é uma atividade que é muito importante,.. Nós fazemos muitas palestras, seminários, cursos de longa duração voltados para os dirigentes sindicais, cujos temas são a preparação para negociação coletiva, ou a discussão de um tema específico da agenda de negociação. Ou você faz um seminário para preparar o dirigente para negociar, conhecer todas as etapas do processo de negociação, ou então fazemos um seminário, por exemplo, sobre terceirização, que é um tema de negociação, sobre cláusulas de gênero, sobre PLR [Participação nos Lucros ou Resultados]. Também realizamos só palestras para aqueles cujo interesse é conhecer um pouco o que está acontecendo, por exemplo, na conjuntura nacional. Esse conjunto de atividades chamamos de atividade de educação.

 

 

Secretaria de Projetos

 

 

Fizemos um projeto com o BID que teve a duração de quatro anos. O Clemente [Ganz Lúcio] foi, inclusive, o coordenador geral desse projeto. O BID financia projetos que depois de finalizados devem dar capacidade para a instituição que recebeu os recursos se manter e através dos resultados, desenvolver outras atividades ou produtos , vender e conseguir recursos para se financiar. Esse projeto teve duração de quatro anos e o eixo era negociação. Ficou conhecido como projeto de negociação coletiva e, na verdade, ele financiou várias áreas do DIEESE. Financiou a elaboração de 16 kits de formação que foram criados com a finalidade de organizare sistematizar alguns seminários. Fizemos umas maletinhas e sistematizamos dois cadernos, que chamamos de caderno do formador e caderno do participante e todo o material que poderia ser utilizado durante uma atividade de formação. Alguns Kits foram, por exemplo. sobre: Estrutura e Processo de Negociação Coletiva, PLR, Terceirização, Negociação no Setor Público, Mercado de Trabalho. Esses são alguns dos temas que desenvolvemos. Organizamos durante quatro anos, várias equipes de trabalho e formulamos esses kits. Isso já está disponível para o movimento sindical. Então, para um técnico que entra no DIEESE e tem uma demanda de uma instituição sindical para fazer um seminário, para fazer uma palestra ou para fazer discussão sobre aquele tema, temos tudo organizado. Para a elaboração desses kits foram envolvidas várias áreas do DIEESE, constituídas muitas equipes de trabalho, que se organizavam segundo o tema de interesse, o que tivemos foi um resultado muito importante. Um exemplo de outro projeto, agora financiado pela AFL-CIO que nos permitiu elaborar um livro sobre a situação do trabalho no Brasil. Foi um trabalho longo, de dois anos, e nos possibilitou fazer uma ampla reflexão sobre questões de mercado de trabalho. O livro está disponível no DIEESE e se constitui em uma importante referência sobre o comportamento do mercado de trabalho na década de 90. O resultado desse projeto foi permitir ao DIEESE sistematizar, refletir, ponderar sobre as coisas que a instituição formula sobre mercado de trabalho.. O livro produzido pode ser considerado como uma importante contribuição para o movimento sindical, para a própria instituição, para a comunidade acadêmica. Os projetos que o DIEESE desenvolve, de uma forma geral, têm essa preocupação de deixar um legado para a instituição e para o movimento sindical.

Não é qualquer projeto que aceitamos desenvolver. Começamos o contato com alguma possível financiadora e a discussão de quais seriam os tipos de projetos que ela teria ou não interesse de financiar. Você já tem aí um momento que é de triagem. Quem está à frente, fazendo esses contatos com os financiadores, é a direção técnica do DIEESE. Eu faço contato, mas depois dessa primeira conversa, discutimos e, antes mesmo de formular o projeto, fazemos um pouco essa avaliação e podemos chegar a conclusão de que, “olha, acho que não tem sentido!”

Vamos agora fazer um projeto para o Sebrae, por exemplo, que é um Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa. Começamos os contatos, avaliamos se era interesse do DIEESE. Discutimos: “Bom, reúne informações sobre o trabalho nas micro e pequenas empresas , as características das ocupações das microempresas. É um tema de interesse.” Passada essa primeira etapa, geralmente, reúne-se dentro da instituição pessoas com maior familiaridade com o tema, maior capacidade de formulação e decide-se o escopo do projeto. Não vem para a equipe elaborar um projeto que não tenha relação com os temas do DIEESE. Isso acaba ficando na triagem que a própria Direção Técnica faz ou na discussão entre a Direção Técnica e a Direção Sindical.

Estamos, agora, fazendo o planejamento do DIEESE. Temos os nossos três temas: emprego, renda e negociação. Começamos a discutir o tema do desenvolvimento. É um tema importante. Você abre dentro da instituição a discussão para ver o que as pessoas acham: “Então o tema desenvolvimento é importante? Será que a gente não pode apresentar um projeto cujo tema Desenvolvimento Regional seja um eixo?” Acho que até por isso, as decisões demoram um pouco mais, porque elas precisam de todo esse acerto entre Direção Técnica e Direção Sindical, para que não haja nenhum problema nessa relação. Resolvido, fazemos a discussão mais interna para ver se, realmente, tem sentido; de que maneira isso pode ser feito.

De qualquer forma, a equipe que está mais próxima da Direção Técnica, que faz assessoria mais direta, como a Secretaria de Projetos, acaba trabalhando mais na discussão e na formulação desses projetos. Como temos o papel de acompanhar todo o processo, nessas primeiras discussões e impressões, estamos juntos no processo todo, desde a formulação até a execução e finalização do projeto.

Trabalhávamos com quatro ou cinco projetos. Hoje, trabalhamos com 30, e já tem uma carteira de mais ou menos 20 discussões e negociações. Até porque, projetos têm um tempo de duração; varia de seis meses a dois anos; não vai além disso. Você acaba um projeto e já tem que estar elaborando outro.

A Secretaria de Projetos tem um papel importante porque 50% do financiamento do DIEESE vêm de projetos. Isso demonstra o quanto essa área cresceu. Todo o nosso movimento está sendo no sentido de fazer com que as receitas sindicais cresçam dentro do DIEESE, porque desenvolver projetos é importante dentro da instituição, permite essa formulação, pesquisar novos temas, mas não é fácil porque as receitas não são fixas. Você está sempre correndo atrás. Eu acho que vamos continuar trabalhando com projetos, mas não ampliar mais do que temos hoje. A nossa briga está para ampliar as receitas sindicais e tentar fazer o máximo de otimização possível dos resultados dos projetos que formulamos.

Acho que ficar nessa faixa dos 50% pode permitir ter um fundo; nos permitir, de repente, comprar uma sede e não ficar só correndo atrás porque o trabalho é muito pesado. Não é fácil você conseguir 50% de financiamento só através de projetos.

Desde que a secretaria foi criada, em 96, eu já tinha manifestado meu interesse por trabalhar na Secretaria de Projetos. Eu talvez não tivesse a dimensão do que viria se tornar a secretaria. Eu entrei em 2001. Sempre trabalhei assessorando a Coordenação de Relações Sindicais, de escritórios e subseções. Meu contato era sempre muito próximo. Eu acompanhava e isso, inclusive, me ajudou a conhecer a instituição, conhecer todas as áreas, já ter passado pela área de pesquisa e tudo mais. Foi isso que foi me capacitando para depois assumir a Secretaria de Projetos. Porque eu acho que essa também é uma exigência. A Solange era uma pessoa muito experiente, conhecia todas as áreas. A Rosana também. Quando eu assumi, o que eu ouvi no momento do convite é que para eles era importante justamente essa minha experiência dentro da instituição, conhecer todas as áreas. Eu não tinha dimensão do que era, mas era instigante participar de absolutamente tudo que está acontecendo na instituição. Os projetos atuam dentro das várias áreas. Então se tem projeto na área de assessoria, eu estou lá discutindo; se tem na área de pesquisa, eu estou lá discutindo e acompanhando. Isso me permite, embora não possa estar desenvolvendo, porque o trabalho de gestão é muito pesado, me permite participar, me permite qualificar e contribuir com a experiência que eu tenho. Uma experiência adquirida dentro do DIEESE, adquirida na academia. Fazer mestrado, doutorado, não era porque eu queria ser professora.

Está sendo uma experiência muito boa, trabalhar na Secretaria de Projetos. Eu acho que é um trabalho muito exigente, porque tem que ter uma memória muito boa; todos os projetos têm muitos detalhes, muitos desdobramentos, muitos produtos e eu sou uma pessoa que tenho, como responsabilidade, organizar todas essas informações, acompanhar o que está acontecendo em cada projeto: se está dando errado, se está dando certo e informar o Diretor Técnico.

A secretaria é um staff da Direção Técnica. Estou muito próxima e gosto muito do trabalho que eu faço. Eu me realizo nesse trabalho. Às vezes, é estressante, às vezes eu me canso e falo: “Aí! Por que eu não fui ser dona de casa?” No momento seguinte, eu já esqueço isso.

 

Cotidiano de Trabalho

 

 

Fazemos um trabalho de acompanhamento que chamamos de monitoramento de projeto. Trata-se de uma “planilhona”, onde temos registrado todos os projetos que estão em execução; quem é o financiador, quando começou, até onde vai, cada um dos produtos. Acompanhamos isso mensalmente; é um dos instrumentos de gestão que utilizamos e apresentamos para a Direção Técnica. Cada projeto dentro do DIEESE tem um coordenador. Ele que organiza as equipes de trabalho, é o responsável por aquele projeto. Meu contato é também direto com esse coordenador. Tudo que ele precisa, tudo que ele vai fazer, decisões a respeito de execução orçamentária, qualidade do produto, estrutura dos relatórios, como ele tem que ser feito. Parte do meu tempo é voltada para isso. Para as reuniões com as coordenações de projeto, para as discussões sobre como os produtos são feitos, e para revisão e acompanhamento de todos esses produtos que são elaborados. Porque tudo que é feito, participamos das discussões. Dependendo do tema, às vezes, até participamos da execução. Todo resultado final temos que dizer: “É isso mesmo, está dentro do padrão.” Depois, encaminho isso para o financiador.

Do ponto de vista da negociação do projeto, o Clemente foi lá, discutiu, tem cinco novos projetos que ele quer elaborar. Sentamos, discutimos, sistematizamos tudo o que tem de informação, organizamos as equipes que vão elaborar o projeto para ver se está dentro do padrão de exigência para o nosso financiador. Conversamos com o financiador para ver o que é necessário, o que tem de exigência e aí encaminha esse projeto, acompanha o processo de contratação. Depois de o financiador analisar, e fechar o projeto, elaboramos o orçamento . Chegou o contrato, olho, vejo se está dentro do que foi combinado: prazo, valor, produtos. Documentamos isso tudo e depois tem o coordenador. Você vai acompanhar todo o processo de desenvolvimento dele, até o processo de prestação de contas. A Secretaria de Projetos está envolvida desde o processo de discussão, negociação, elaboração do projeto, contratação, execução e prestação de contas. Nós acompanhamos todo esse processo. A minha rotina de trabalho está dividida nessas atividades.

Minha jornada é de oito horas, às vezes dez, às vezes 12. Às vezes, é um momento que está mais tranqüilo, eu posso trabalhar até um pouco menos; nos momentos de finalização de projeto, já viramos noite. Já ficamos 36 horas dentro do DIEESE. A jornada, eu posso dizer, é intensa.

Na verdade, como temos uma responsabilidade grande dentro do DIEESE, não tem tempo. O tempo é o tempo necessário, a jornada contratual é de oito horas, temos flexibilidade, não preciso estar dentro do DIEESE às oito da manhã, mas também se precisar sair às dez da noite, a gente nunca diz que não. São 30 projetos em execução! Envolvemos cerca de 100 técnicos, se você for pensar só do ponto de vista do corpo técnico do DIEESE. Tem mais a equipe administrativa e de apoio. Isso vai subir, sei lá, para 120 pessoas, que são pessoas que temos contato o tempo inteiro. Embora a relação mais direta seja com o coordenador de projetos e ele faz o vínculo com as equipes, mas a minha relação, pelo menos, com todos os supervisores e com todos esses coordenadores dá cerca de 60 pessoas. Então, o número de e-mails, de telefonemas, de reuniões que a gente faz ao longo do mês é considerável. Mas eu acho que para uma instituição como o DIEESE, isso não se dimensiona a partir da quantidade de horas. Acho que se dimensiona a partir do resultado que esperamos que tenha, do alcance e da permanência desta instituição por, pelo menos, mais 50 anos.

 

Direção Técnica

Eu tive o privilégio de conviver com quatro diretores técnicos do DIEESE. A Heloísa Martins foi a minha professora, durante vários anos na USP. Depois o Barelli [Walter Barelli], o Sérgio Mendonça e hoje o Clemente. São pessoas que têm características diferentes na forma de conduzir e de fazer as coisas. Para mim, foi ímpar ter contato com essas pessoas todas e aprender com cada um deles, a valorizar e a amar essa instituição por tudo que ela representou, que ela representa e que, tenho certeza, ainda vai representar para os trabalhadores.

 

 

Importância do Dieese

 

 

Eu acho que do ponto de vista da sociedade tem muito reconhecimento. Eu acho que do ponto de vista do movimento sindical, podemos ter um alcance muito maior. Acho que é o exercício que estamos tentando fazer no momento, de chegar mais perto, de poder levar para eles toda a produção que temos de uma maneira que eles possam compreender, que possam trabalhar e que isso possa, de verdade, ser instrumento na luta que eles travam diariamente.

Eu acho que a instituição passou por momentos, nos últimos anos, difíceis. Óbvio, também afeta o trabalho que fazemos dentro da instituição, de certa forma te fragiliza, mas eu acho que estamos num momento que é muito bom hoje. Estamos conseguindo fazer esse trabalho e chegar mais próximo do movimento sindical. A atividade de educação é uma atividade importante. Temos conseguido financiamento para fazer essas atividades, porque se o movimento sindical não pode financiar, então a gente tem que buscar isso fora, porque as atividades de formação são uma das formas de podermos levar para os trabalhadores tudo aquilo que produzimos de informação. A informação, por si, não é absolutamente nada. A instituição foi criada justamente para isso. Eu acho que estamos buscando isso de novo, os instrumentos da tecnologia para fazer com que a produção que fazemos chegue até os trabalhadores. Estamos buscando novos instrumentos para poder chegar mais próximo do trabalhador. O que é o DIEESE? O DIEESE é um instrumento da classe trabalhadora, uma instituição produtora de informação. Sabemos o quanto a informação é importante, quanto a produção de conhecimento é importante e o quanto os trabalhadores são tolhidos no acesso à informação e ao conhecimento. O DIEESE busca isso, fazendo com que ele possa se emancipar a partir do conhecimento e possa tomar decisões, possa saber o que é bom, o que é ruim para a classe trabalhadora. É uma instituição que busca levar informação tal qual ela é, é isso que disponibilizamos, informação. Acho que não só para os trabalhadores, para a sociedade de maneira geral, embora o nosso vínculo direto seja com os trabalhadores.

 

 

Avaliação/Projeto de Memória

 

 

Eu acho que a história de uma pessoa, a história de uma instituição, a história da classe trabalhadora é extremamente importante porque você consegue retomar aquilo que você fez, consegue olhar para as coisas que você fez certo, que você fez errado, consegue dar para as pessoas a possibilidade de conhecer coisas que elas não sabiam que existia, que estavam lá, coisas importantes que, de repente você não deu valor, coisas simples que você valorizou demais. Eu acho que é essa possibilidade de resgatar toda essa história, para nós, uma história extremamente importante, é uma maneira de colocar na mesa de quem não conhece essa história dos trabalhadores. Essa instituição é o resultado da atuação deles, da construção deles e de várias pessoas que tinham interesse de estar contribuindo para essa história. Eu acho que é um pouco dessa possibilidade, desse resgate, para as pessoas que participaram de olhar para coisas que elas não tinham olhado, para as pessoas que não conhecem poderem conhecer. Eu acho que é essa possibilidade é extremamente importante. Sinto-me, de verdade, fazendo parte da história.

 

 

Avaliação/Dieese

 

 

Foi poder participar da construção de uma história, da construção dessa instituição. Por um lado foi isso. Por outro, foi poder me emancipar enquanto pessoa, poder conhecer coisas, olhar para o mundo tal como ele é, sem ficar, dizendo: “Não tem classe, não tem diferença, não tem desigualdade, todo mundo é igual”. Na verdade não é isso. Tem classe, diferença, desigualdade, pobreza, riqueza. E mostrar para as pessoas que, independente do lugar que elas estão, elas têm valor, elas podem contribuir, podem acreditar. São tantas as coisas que significaram para mim. A possibilidade de fazer amizades, de conhecer pessoas, de participar de momentos difíceis, que foram as crises que o DIEESE passou, mas, com isso, aprender, acreditar, buscar se fortalecer.

 
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